segunda-feira, 30 de junho de 2014

Aurora: Capítulo 20 - Medidas improvisadas


AURORA
CAPÍTULO 20: MEDIDAS IMPROVISADAS

Estou morto, foi o primeiro pensamento que Dalan conseguiu formular. Parecia a conclusão mais óbvia para sua situação, não é mesmo?. Havia caído de costas do terceiro andar, e agora não conseguia se mover. Deveria estar morto. Não era possível sobreviver a uma queda daquelas. Mas... e agora? Parte dele quis abrir os olhos para avistar o tal além-vida em que se encontrava, mas ficou com medo e preferiu se refugiar em sua própria escuridão. Poderia aguardar ali algum tempo extra.

 Bem longe de sua percepção, conseguiu ouvir uma voz chamando-o. Oh, deuses, era agora? Não poderia absorver nem mais um pouco o fato de que havia falecido? Lamentar alguns instantes a mais? Alguém segurou seu ombro, balançando-o. Certo, isso parecia um chamado. Hora de ver o que o aguardaria na casa da deusa da morte. 

 Quando abriu os olhos, temeroso, identificou o rosto de Amanda acima dele. Franziu o cenho, tentando entender o que estava acontecendo. - Vou ter que passar toda a minha eternidade com você? - Perguntou finalmente, indignado e decepcionado.

 - O quê? - Perguntou a garota, em uma expressão plástica de confusão. Ela balançou a cabeça, agitada, e tentou puxá-lo pelo ombro. - Escuta, não tenho tempo para suas maluquices. Vamos logo. - Naquele momento Dalan percebeu que estava mergulhado em um mar de feno, com um céu azul acima dele. De todas as suas predições de como seria o além-vida, essa definitivamente corria por fora.

 - Estamos mortos? - Perguntou o garoto abobado, girando o pescoço para ver melhor. Sua companheira, impaciente, deu um novo puxão em seu ombro.

 - Vamos estar se não sairmos daqui agora. Eles devem estar nos procurando. - Declarou, conseguindo levantar o outro. Dalan ficou sentado, observando o ambiente ao redor. Avistou um prédio de três andares ao seu lado, e o identificou como a sede dos Libertadores. Do outro, havia um muro de madeira. Estava em um pátio de terra, dentro de uma carroça de feno, mais uma entre tantas, apoiada desajeitadamente na parede. - Anda. - Ordenou a garota, agitada, puxando a mão dele enquanto saltava para o chão. Ele a seguiu, confuso, e correram até o que parecia ser um estábulo ao lado. 

 O garoto olhou pelo ombro, mirando desde as janelas quebradas no terceiro andar até a carroça de feno, vários metros abaixo. - Como você sabia que estaríamos salvos se pulássemos? - Perguntou assombrado.

 - Dalan, Dalan, Dalan. - Repetiu Amanda, ao abrir as portas do estábulo. Ela se apoiou no batente, olhando para trás para encará-lo. - Você não confia em mim?

 Não, definitivamente não, pensou o garoto, mas seguiu-a de qualquer jeito. Adentraram a estrebaria, fechando a porta com leveza. Diversos canabéis olharam para eles de seus locais de resguardo, mugindo baixo. Pareciam touros de chifres brancos, alguns tão grandes que era difícil virar a cabeça. Amanda seguiu em frente, passando pelos corredores cobertos de feno e caixas de objetos de veterinária, procurando um local para se esconderem. Quando chegou perto do fundo, um vulto negro se adiantou em sua direção.

 - Cuidado! - Exclamou Dalan, e a garota se jogou ao chão. Um Recon abocanhou o espaço em que a cabeça dela havia acabado de estar, gritando de forma aguda em seguida. A membro da Aurora ficou o encarando do chão, com o coração explodindo em seu peito, até que o réptil voltou ao seu espaço. Seu companheiro se adiantou, cuidadosamente se aproximando dela. - Você está bem? - Perguntou. Ela ficou com um olhar arregalado por um tempo, até que o trocou por um sorriso.

 - Melhor impossível. - Ela se virou para o garoto, segurando seu ombro. - Eu tenho um plano. - Antes que Dalan pudesse questionar sua sanidade, Amanda ficou de pé, se afastando alguns passos para trás. Olhou para cima, percebendo que haviam claraboias no teto de madeira. Elas podiam ser fechadas por dentro, o que animou ainda mais a garota. - Pegue duas escovas, Dalan. Rápido.

 O rapaz pensou em perguntar o motivo, mas se lembrou de que estavam sendo perseguidos. Assim, voltou agachado até certeza de que estava cercado pelos doces canabéis, e remexeu em um baú próximo. Amanda pôs as mãos na cintura, observando o lugar. Haviam quatro espaços preenchidos por Recons à sua frente, mas só precisava de um. Estava com a mão no queixo quando o companheiro se aproximou, e usou seus poderes de vento para fechar a claraboia do réptil mais próximo.

 - O que faço com isso agora? - Perguntou o garoto, se mantendo devidamente afastado da área das criaturas ferozes.

 - Congele-os. - Ordenou ela, distraída. Um pouco irritado, Dalan obedeceu, usando seus poderes nos objetos.

 - E agora? - Perguntou incomodado pela outra estar no controle da situação. Amanda se virou, abriu o sorriso e apontou com o dedo por trás do ombro, indicando o Recon que quase a havia abocanhado.

 - Eles tem sangue frio, e você tem blocos de gelo nas mãos. Passe as escovas no pescoço do bicho pra acalmar ele, por favor. - Dalan travou por alguns segundos, estreitando os olhos enquanto tentava compreender algum significado oculto naquela frase. Ele inclinou a cabeça para o lado, como se entendesse melhor naquele ponto de vista.

 - Você quer que eu... - Começou o garoto, girando as mãos lentamente e esperando que a companheira completasse a frase. Ela suspirou e andou até ficar atrás dele, empurrando-o contra o Recon. O rapaz imediatamente travou os pés, aterrorizado. - Espera, espera, espera! - Implorou.

 - Dalan, você prefere encarar esse bicho ou os cinquenta milicianos que estão procurando a gente? - Perguntou ela, tentando empurrá-lo. Era uma pergunta capciosa, pensou o garoto. De fato, não queria nenhum dos dois.

 - Por quê só eu? Você não vai ajudar? - Se indignou ele, apoiando uma das pernas em uma pilastra para travar sua posição.

 - Eu posso te dar dois motivos para eu ficar de fora. - Grunhiu ela, apoiando seu rosto entre as omoplatas do companheiro para fazer mais força. - A primeira é que eu bolei esse plano. A segunda é que... - Ela parou de empurrar de repente, fazendo com que Dalan quase caísse para trás. - ... eu sou uma garota delicada.

 - O quê? - Perguntou ele, se distraindo por um instante com aquela afirmação tão absurda. Foi o suficiente para que Amanda lhe desse mais um empurrão, desta vez o lançando trôpego para o Recon. O animal rugiu com sua aproximação, e o garoto instintivamente pegou as escovas congeladas e as prendeu contra o pescoço da criatura, de olhos quase fechados. O réptil ofegou, e o rapaz esfregou ainda mais os objetos gélidos, procurando esfriar sua circulação.

 - Perfeito. - Disse Amanda, saltando para a cabine do animal. O Recon tentou atacá-la, mas Dalan o manteve quieto com esforço.

 - O que você está fazendo? - Grunhiu o rapaz por entre os dentes, se esticando na ponta dos pés para observá-la. A garota remexeu nos cabides colados à parede, puxando uma sela. Começou a montá-la no animal que o companheiro tentava acalmar, usando seus poderes para fechar a claraboia da cabine à frente. - Depois de eu terminar aqui, você precisa fazer a mesma coisa com aquele outro Recon, tudo bem? - Perguntou, apontando com a cabeça o outro réptil.

 - Você enlouqueceu? - Se indignou o garoto, quase esquecendo de afagar a criatura. - Não íamos nos esconder?

 - No início eu pensei em fazer isso, mas esses bichinhos aqui me deram uma nova ideia. - Amanda subiu no animal de quase um metro e setenta, dando tapinhas em seu pescoço. Olhou para o outro, que a encarava estupefato. - Não se preocupe. - Acrescentou ela, sorrindo e piscando um dos olhos. Estendeu em seguida o polegar para cima com alegria e energia. - Eu tenho um plano.

 Havia um grande grupo de Libertadores do lado de fora, averiguando as carroças de feno em busca dos membros da Aurora. Sem sinal nem mesmo dos corpos, um pequeno destacamento de três homens foi enviado para o estábulo. Enquanto dois rapazes jovens abriam as portas duplas, o superior deles ficou parado com as mãos cruzadas atrás de si, de frente à entrada. Tinha um belo discurso na cabeça, onde humilharia os arruaceiros e os prenderia. Pensou na garota fugitiva, e soltou um sorrisinho. Talvez ela poderia animá-lo, concluiu.

 Ainda estava pensando nisso quando as portas se abriram com um estrondo, e dois Recons montados romperam do estábulo. O oficial mal teve tempo para se agachar, e por um milagre foi ignorado pelos animais enquanto segurava sua cabeça. Quando passaram por ele, o homem virou para trás, e identificou uma garota de cabelos castanhos e longos em cima de uma das criaturas, segurando as selas com naturalidade. Seu rosto se inchou, colorindo-o de púrpura.

 - SÃO ELES! - Gritou, como se aquela confusão já não tivesse chamado a atenção de cada ser vivo na sede. - PEGUEM-NOS! - Alguns homens tentaram se entrepor no caminho das bestas, mas saltaram para o lado em terror.

 Amanda imprimiu mais velocidade à sua montaria, procurando uma saída dali. Atrás dela, vinham um Dalan quase tão assustado quanto os milicianos que corriam à sua volta. A garota se virou para encará-lo, que se segurava desesperadamente no lombo de seu réptil. - Não acredito que você nunca aprendeu a montar na sua vida! - Gritou ela, fazendo uma curva fechada.

 - EU PASSEI MINHA VIDA INTEIRA EM BARCOS! - Gritou ele, quase caindo. Segurou o pescoço do animal, fazendo toda a força possível para voltar à sela. - E NUNCA MONTEI EM UMA COISA DESSAS! - O Recon gritou em voz aguda, batendo com o rabo em uma das carroças de feno. O impacto foi tão forte que Dalan se puxou para frente, procurando ficar mais longe da extremidade inferior da criatura.

 Sua companheira suspirou, fazendo o cabelo na testa voar. Teria feito uma provocação se uma flecha não tivesse passado a centímetros de seu nariz. Ela olhou para cima, e avistou seis homens armados com os arcos em riste. - Eu recomendo que a gente ache logo a saída daqui.

 - Ahn? - Perguntou o garoto, mas uma flecha acertou o chão ao seu lado, trazendo consigo compreensão da situação em que se encontravam. Ele arregalou os olhos, segurando as cordas com sela como as cordas de sua vida. - MAIS RÁPIDO! - Gritou para seu animal. Amanda por sua vez olhou para os lados, identificando três homens correndo para trás do estábulo. Desconfiada, ela os seguiu, encontrando-os em direção ao portão da saída.

 - ACHEI! - Gritou ela animada, usando seus poderes para desviar uma flecha que parecia vir em sua direção. Dalan por sua vez tinha os deuses o ajudando, mesmo que não parecesse. Ele se desequilibrou em seu Recon, caindo para o lado oposto de onde estavam os arqueiros. Conseguiu se manter agarrado à sela com a perna direita e com as mãos entrelaçadas nos arreios que pendiam da boca do animal, mas o resto de seu corpo estava paralelo ao réptil. Justamente onde estava protegido das flechas, deixando os arqueiros sem opção. Eles não tinham autorização de alvejar as montarias, pelo preço e valor que correspondiam ao líder Jones. Assim, procuraram atacar Amanda, que conseguia se virar.

 A garota se manteve no caminho dos portões, onde os homens gritavam e pulavam para sair de seu caminho. A saída agora estava livre, duas portas de madeira grossa e afiada nas pontas. Ela se aproximou e desceu do Recon, correndo os passos finais até a fechadura do portão. Observou a sequência de cadeados pesados, tentando infrutiferamente arrancar um de seu eixo. - Dalan, venha aqui! - Chamou ela, se virando para trás. O companheiro vinha desengonçado em sua montaria, derrubando outros dois guardas incautos. Caiu no chão nos metros finais, enquanto que flechas voavam pelo alto.

 - O que foi? - Perguntou, cuspindo a terra em sua boca. Amanda correu até ele, puxando-o até o portão. Suas duas montarias rosnavam uma com as outras, afastando qualquer miliciano que se aproximasse.

 - Resolve isso aqui enquanto eu protejo a gente. - Pediu a garota, se virando de costas. Os dois estavam quase na mesma linha da parede em que os arqueiros se encontravam, oferecendo pouco ângulo para que pudessem atirar. Alguns continuavam tentando, pendurados em suas janelas, mas os outros já desciam as escadas para procurar posições melhores. A membro da Aurora afastava as poucas flechas que vinham contra eles, mas sabia que esse número aumentaria em pouco tempo.

 Dalan, por sua vez, se encarregou das fechaduras de metal. Era um trabalho mais cerebral, pensou enquanto que observava as trancas. Apropriado para ele. Tocou o mecanismo, procurando o ponto mais fraco. Se conseguisse congelar e quebrar uma dobradiça, sairiam dali em pouco tempo.

 Naquele mesmo instante uma flecha acertou o espaço um palmo à sua direita, se prendendo na madeira do portão. - Foi mal! - Se desculpou Amanda, bloqueando mais uma com seu vento. O rapaz ficou de olhos arregalados para a seta que quase findou sua vida, engolindo em seco. Sem mais nenhuma palavra ele usou as duas mãos para congelar a tranca por inteira, correndo para pegar um banco ao lado. Usou o assento para golpear as fechaduras congeladas, que se quebrou com o impacto. Sua companheira ouviu o barulho, olhando para trás a tempo de ver o portão se entreabrindo. - Como você conseguiu isso? - Perguntou animada, correndo para buscar as montarias. O rapaz olhou para o banco em sua mão.

 - Inteligência, eu acho. - Disse, jogando-o no chão. Os milicianos arqueiros se acomodaram na parede em frente à saída, onde teriam uma visão desimpedida dos fugitivos. Dalan e Amanda correram até seus Recons, se protegendo embaixo deles enquanto corriam para as ruas de Wildest. Gritos e comoções se agitaram atrás deles, mas assim que obtiveram a proteção das paredes que cercavam a sede dos Libertadores, montaram em seus animais e dispararam pelas ruas vazias da cidade.

 Correram por alguns minutos, parando apenas quando tiveram certeza de que estavam seguros. Amanda freou seu réptil com habilidade, enquanto que o de Dalan ficou andando em círculos sem o controle de seu cavaleiro. - E agora? - Perguntou a garota, observando o companheiro girar em torno de seu eixo. - Precisamos achar os outros.

 - Isso não vai adiantar nada se os Libertadores continuarem atrás da gente. - Disse o rapaz, tentando se ajeitar em sua montaria. - O líder deles sabe pra onde a gente vai. A Caverna dos Reclusos deve estar cheia de reforços quando chegarmos.

 - O que faremos então? - Perguntou Amanda, e o companheiro se enfurnou em seus pensamentos. As coisas estavam um pouco calmas agora, mas não tinham muito para onde fugir. Ainda estavam separados de Sasha e Wieder, e o objetivo da missão se tornava cada vez mais difícil. De nada adiantaria procurar mais uma briga com os milicianos. Haviam escapado por sorte, e não poderiam contar com ela novamente. O que sobrava?

 Uma ideia brotou no fundo da mente do garoto, um pouco semelhante à que Sasha havia sugerido quando chegaram a Wildest. Instintivamente o rapaz se colocou contra esse esboço de plano, mas se lembrou de seus companheiros. Corriam sério perigo de vida. Não sairiam dali até que a Caverna dos Reclusos estivesse vazia, e agora tinham toda uma milícia no caminho. No entanto, que barreiras morais ele teria que superar para que saíssem dali com vida? A que ponto se rebaixaria para cumprir a missão?

 - Eu tenho um plano. - Disse o garoto, finalmente, com a expressão sombria. Só que eu não vou gostar, acrescentou silenciosamente a si mesmo.

 Algum tempo depois e a quilômetros de distância, Sasha observava Dalan e Amanda no horizonte, montados em seus Recons. Eles seguiam em direção ao comboio dos Libertadores, duas figuras solitárias contra o sol. A garota sentiu um aperto no coração, se adiantando um passo. Eles iriam atacar os milicianos sozinhos? Não iriam sobreviver, não havia como. No momento em que concluiu isso um mar de cavaleiros surgiu detrás da colina, acompanhando a dupla da Aurora em direção à carruagem fugitiva. Seriam dez, doze, quinze homens? Era impossível dizer com a quantidade de poeira que os acompanhava. Cavalgavam Recons pintados de amarelo, entregando sua identidade. Eram membros do Sol Dançante, a maior milícia de Wildest.

 Pelo canto do olho, Sasha percebeu que os companheiros haviam se destacado da perseguição e se dirigiam até ela e Wieder. - Ei! A cavalaria chegou! - Gritava Amanda, acenando animadamente. Ela e Dalan saltaram de suas montarias, uma mais graciosamente do que o outro, e se aproximaram dos companheiros. - Trouxemos companhia para a festa.

 - Percebo. - Disse o anão, impressionado com a confusão que eles causavam à distância. - Como conseguiram a ajuda deles?

 - Só dissemos que os Libertadores estavam frágeis. - Disse a garota. - Eles atacaram a sede, onde descobrimos que Jones estava vindo em direção à Caverna Reclusa. Então viemos pra cá. - Ela sorriu, como se tivessem acabado de fazer um passeio no parque.

 Sasha deixou os dois conversarem e se aproximou de Dalan. O rapaz mantinha uma expressão um pouco cabisbaixa, e se concentrava em cuidar de seu Recon para que não avançasse em seus companheiros. Achava impressionante o fato deles terem conseguido domar os Recons, mas preferiu não dizer isso agora. Manteve distância dos animais e perguntou ao rapaz. - Foi você que deu a ideia de procurar ajuda com a Adaga Dourada, não?

 - Foi. - Respondeu o garoto, evitando encará-la. - Ajudei um grupo de bandidos a ficar mais forte, do jeito que fui ensinado. - Sasha sentiu uma onda de irritação subir pelo seu peito, mas suspirou para se controlar.

 - Escute, Dalan... se fizéssemos o que você tinha pedido, derrubar os Libertadores pelas nossas forças, sabe o que aconteceria? - Sasha não esperou resposta. - O Sol Dançante iria tentar ocupar o território deles. E os Cavaleiros da Lua Verde. E tantos outros. - Ela se aproximou mais um pouco, mantendo os Recons em seu campo de visão. - Uma guerra entre as milícias iria provavelmente acontecer, e sabe-se lá quantos mortos iriam restar em Wildest depois disso. Do jeito que você fez, não houve uma gota de sangue derramada. - Ela encarou a confusão à distância, que começava a diminuir. - Digo, exceto os bandidos.

 - Eu sei, mas... - Começou o garoto, com a mão pendurada nos arreios do réptil. - Eu sempre achei que conseguiria me manter fiel aos meus ideias enquanto estivesse na Aurora.

 - Sim, eu sei. - A garota olhou para baixo, chutando um torrão de terra. Já havia passado pela situação do companheiro, um pouco depois de seu pai morrer. - Você tem um sonho, Dalan?

 - Sim. - Respondeu o garoto, se lembrando de sua ilha desaparecida.

 - Então esteja preparado para sacrificar algumas coisas para fazê-lo se realizar. - Respondeu a garota, se afastando. Dalan mordeu a língua, puxando sua montaria para longe dela. Voltou à uma pergunta que havia feito antes de entrar na Aurora. O que faria para encontrar sua ilha? Tudo, percebeu agora. Tudo.

 Assim que viu Sasha se aproximando, Amanda saiu de perto de Wieder e correu ao encontro dela, apontando para os Recons. - Podemos ficar com eles? - Perguntou, animada.

 Ao longe, um homem velho era arrastado por guardas vestidos com o familiar uniforme do Sol Dançante. Alguns deles tentavam provocá-lo, mas ele os ignorou. Não iria se rebaixar a dirigir sua palavra contra inferiores. Tinha outras coisas para se preocupar, como os malditos garotos que haviam invadido sua casa e destroçado seu império. Se os deuses lhe dessem mais uma chance, iria se vingar deles.

 Atacaria quando menos esperassem, e veria o fim de suas vidas enquanto puxava a faca de suas tripas. O velho riu, com um brilho maníaco em seus olhos. Faria isso com toda a certeza, ou não se chamava Augustos Jones.

Nenhum comentário:

Postar um comentário