AURORA
CAPÍTULO 50: E ILUMINARÁ TODOS QUE OLHAREM PARA CIMA
Sophie continuava chorando, a explosão de antes agora reduzida a um soluçar incontrolável. Esses eram os únicos sons que propagavam naquela área destruída, o restante da Aurora em silêncio. Não conseguiam ter forças para quebrar aquele momento, todos mergulhados em pesar pelos companheiros caídos. Finalmente, Dominic se adiantou e ficou de joelhos perto da garota. - Sophie... - Começou, colocando a grande mão em seu ombro. A garota se virou para ele e o abraçou, chorando agora em seu peito. O homem acariciou seus cabelos, sem saber o que dizer.
Sasha afundou os dedos nos olhos, procurando se recompor. Ainda não estavam salvos. - O que faremos agora? - Soltou em voz alta. A redoma púrpura ainda os cobria, mesmo com Maedegoen morto. Acharam que deveriam apenas derrotar o demônio para voltarem ao Mar de Cellintrum, mas estava claro que não era o fim.
Dalan esfregou a mão pela testa, tentando pensar em algo através da dor no coração. Quando levantou a cabeça, percebeu que tinham companhia. Era Stella quem se aproximava, carregando o incapacitado Desaad pelos braços.
Os outros membros da guilda também se viraram para os recém-chegados. Koga tremeu em fúria, e disparou na direção do líder do Culto Púrpura. - DESGRAÇADO! - Gritou, correndo com os punhos preparados.
Lyra se adiantou, puxando o companheiro pelo braço e o abraçando. O rapaz tentou se livrar, lívido, mas ela o apertou com mais força, chorando timidamente. - Calma, por favor. - Soltou fraquinho. Koga bufou e diminuiu o ímpeto. Dalan, por sua vez, caminhou lentamente até Desaad. Parou à sua frente, e o ódio pingava de seu olhar. Ninguém falava nada.
Finalmente, o garoto se virou para Stella. - O que ele está fazendo aqui? - Perguntou com a voz demorada.
A líder da Aurora não respondeu de primeira, preferindo fitar para a comoção perto do corpo de Julie. Sophie continuava chorando, aninhada nos braços de Dominic. Lágrimas se avolumaram em seus olhos e ela chutou as pernas de Desaad, o deixando de joelhos. Puxou sua adaga. - Acredite, eu adoraria mandar esse infeliz ao inferno do qual ele saiu. - Começou por entre os dentes, a voz tão trêmula quanto a lâmina que que segurava. - Só que ele vai ser útil uma vez na vida. - Guardou a arma, chutando o cativo nas costelas. - Conte a eles o que vai acontecer.
O homem levantou o queixo, passando os olhos em cada uma das pessoas ali presentes. O brilho do triunfo passou momentaneamente por seu rosto, mas se evaporou tão rápido quanto surgiu. - Vocês conseguiram derrotar Maedegoen... - Começou, sofrido. - Só que isso não significa que estão salvos.
- O que quer dizer com isso? - Perguntou Sasha, dando um passo à frente. Stella desviou o olhar, uma expressão sofrida na face.
- Nós no momento estamos entre dimensões, viajando entre os planos deste mundo. - Explicou Desaad, pigarreando. - Maedegoen utilizava de uma magia que pode ser traduzida como Veleiro Anil. Ela torna a distância entre as dimensões em algo físico, e atravessamos ela como um barco no mar.
- Em língua de gente. - Rosnou Koga, ainda agarrado por Lyra. O homem revirou os olhos antes de continuar.
- O demônio que vocês enfrentaram enclausurou toda essa fortaleza para podermos nos locomover por entre os planos. - Olhou para cima, enxergando a extensão da cobertura púrpura. - Só que, com sua morte, não vamos a lugar nenhum. Estamos presos entre as dimensões. - Abaixou o queixo, proferindo sua próxima frase com um sorriso. - E nossa proteção irá acabar logo, logo.
Um silêncio tomou conta do lugar. Até mesmo Sophie parou de chorar. Alguns olharam para cima, percebendo pela primeira vez que a cor forte da barreira começava a se tornar opaca. - Isso... quer dizer que... - Começou Amanda, trêmula.
- Sim. - Interrompeu Stella. - Esse lugar será destruído. - Mais uma vez, ninguém falou. A líder da Aurora que quebrou o choque. - Só que isso não significa que estamos condenados.
- Como assim? - Perguntou Lyra, assustada. A mulher cutucou Desaad para que ele continuasse.
- Obviamente vocês não sabem, mas existem pesquisas sobre nossa atual situação. - Disparou o homem, tentando se levantar. Stella deixou, mas manteve a adaga por perto. - Eu próprio estudei sobre isso antes de seguir com esse plano. Há uma chance de fuga. - Ele se virou, caminhando até o outro lado dos destroços. Murmurou algumas palavras e o ar se dobrou, formando um buraco púrpura do tamanho de Dominic. O portal tremeluziu e se manteve constante, o interior mostrando nada além do negro. - Como estão vivos, a alma de vocês usará nosso plano como bússola no meio do caos que é lá fora. Supostamente ela nos levará para casa, embora seja uma viagem desconfortável. - Os membros da Aurora se adiantaram, esperançosos, mas a líder levantou a mão.
- Há uma coisa que precisam saber antes de continuarem. - Alertou, a voz tomada pelo sofrimento. Fungou antes de continuar. - Não se sabe o que acontece com quem faz essa viagem. - Seu queixo tombou, e parecia ser difícil falar. - Provavelmente nós, nós...
- Perderão suas identidades. - Interrompeu Desaad, indiferente. Os outros ficaram em silêncio enquanto tentavam entender aquilo, mas ele continuou. - Apenas nossas almas irão fazer a viagem. Nossos corpos serão destruídos, e quando chegarmos à Gaea precisaremos reencarnar. Ou seja, começar do zero.
- Quer dizer que... - Amanda encarou os companheiros, como se tivesse entendido errado. - Não iremos... digo... - Engoliu em seco. - Iremos nascer de novo?
- Sim. - Respondeu a líder, e uma lágrima caiu de seu rosto. - Não iremos de lembrar de nada. Não... não seremos mais a Aurora.
- Então lutamos por nada. - Soltou Sasha, os punhos cerrados e trêmulos. - Não serviu para nada. É ISSO? - Gritou, sua voz ecoando pela fortaleza. Dalan se lembrou de Wieder. Ninguém agora iria conhecer seus feitos. Encarou lívido Desaad, e não era o único.
- É TUDO CULPA SUA! - Gritou Koga, e Lyra o segurou com dificuldades. - JULIE MORREU POR SUA CULPA, ASSIM COMO WIEDER E MARCUS! E AGORA ISSO? - Tentou dar um passo à frente, descontrolado. - EU VOU TE MATAR!
- Isso não vai resolver nada, Koga! - Avisou Stella, também se estressando. - Temos que sair daqui, rápido! A cúpula não vai durar muito tempo!
- Poxa vida, mas eu não dei pra vocês essa rota de fuga. - Disse Desaad, convenientemente escondido atrás da mulher. Dalan podia ter lhe dado um soco, mas ao invés disso se virou para sua líder.
- Tem que haver um jeito. - Afirmou. - Algum livro, alguma... coisa que esse verme provavelmente está escondendo.
- Não há, Dalan. - Confessou a mulher. - Eu tenho certeza.
- Mesmo assim, talvez vocês estejam errados sobre o que vai acontecer conosco. - Considerou Kulela, coçando o queixo. - Digo, se ninguém nunca passou por isso, não há como ter certeza das consequências. É uma área nova.
- Sim, mas temos que estar preparados para o pior, que é o mais provável. - Disse Stella. - Acredite, eu quero que nos reunamos tanto quanto vocês, mas...
- Senhora Stella... - Interrompeu Sophie com a voz fraca, e ela a encarou com os olhos brilhantes. - Se... se nós vamos viver... talvez... - Abaixou o queixo, procurando forças. - Julie poderia também?
Sasha afundou os dedos nos olhos, procurando se recompor. Ainda não estavam salvos. - O que faremos agora? - Soltou em voz alta. A redoma púrpura ainda os cobria, mesmo com Maedegoen morto. Acharam que deveriam apenas derrotar o demônio para voltarem ao Mar de Cellintrum, mas estava claro que não era o fim.
Dalan esfregou a mão pela testa, tentando pensar em algo através da dor no coração. Quando levantou a cabeça, percebeu que tinham companhia. Era Stella quem se aproximava, carregando o incapacitado Desaad pelos braços.
Os outros membros da guilda também se viraram para os recém-chegados. Koga tremeu em fúria, e disparou na direção do líder do Culto Púrpura. - DESGRAÇADO! - Gritou, correndo com os punhos preparados.
Lyra se adiantou, puxando o companheiro pelo braço e o abraçando. O rapaz tentou se livrar, lívido, mas ela o apertou com mais força, chorando timidamente. - Calma, por favor. - Soltou fraquinho. Koga bufou e diminuiu o ímpeto. Dalan, por sua vez, caminhou lentamente até Desaad. Parou à sua frente, e o ódio pingava de seu olhar. Ninguém falava nada.
Finalmente, o garoto se virou para Stella. - O que ele está fazendo aqui? - Perguntou com a voz demorada.
A líder da Aurora não respondeu de primeira, preferindo fitar para a comoção perto do corpo de Julie. Sophie continuava chorando, aninhada nos braços de Dominic. Lágrimas se avolumaram em seus olhos e ela chutou as pernas de Desaad, o deixando de joelhos. Puxou sua adaga. - Acredite, eu adoraria mandar esse infeliz ao inferno do qual ele saiu. - Começou por entre os dentes, a voz tão trêmula quanto a lâmina que que segurava. - Só que ele vai ser útil uma vez na vida. - Guardou a arma, chutando o cativo nas costelas. - Conte a eles o que vai acontecer.
O homem levantou o queixo, passando os olhos em cada uma das pessoas ali presentes. O brilho do triunfo passou momentaneamente por seu rosto, mas se evaporou tão rápido quanto surgiu. - Vocês conseguiram derrotar Maedegoen... - Começou, sofrido. - Só que isso não significa que estão salvos.
- O que quer dizer com isso? - Perguntou Sasha, dando um passo à frente. Stella desviou o olhar, uma expressão sofrida na face.
- Nós no momento estamos entre dimensões, viajando entre os planos deste mundo. - Explicou Desaad, pigarreando. - Maedegoen utilizava de uma magia que pode ser traduzida como Veleiro Anil. Ela torna a distância entre as dimensões em algo físico, e atravessamos ela como um barco no mar.
- Em língua de gente. - Rosnou Koga, ainda agarrado por Lyra. O homem revirou os olhos antes de continuar.
- O demônio que vocês enfrentaram enclausurou toda essa fortaleza para podermos nos locomover por entre os planos. - Olhou para cima, enxergando a extensão da cobertura púrpura. - Só que, com sua morte, não vamos a lugar nenhum. Estamos presos entre as dimensões. - Abaixou o queixo, proferindo sua próxima frase com um sorriso. - E nossa proteção irá acabar logo, logo.
Um silêncio tomou conta do lugar. Até mesmo Sophie parou de chorar. Alguns olharam para cima, percebendo pela primeira vez que a cor forte da barreira começava a se tornar opaca. - Isso... quer dizer que... - Começou Amanda, trêmula.
- Sim. - Interrompeu Stella. - Esse lugar será destruído. - Mais uma vez, ninguém falou. A líder da Aurora que quebrou o choque. - Só que isso não significa que estamos condenados.
- Como assim? - Perguntou Lyra, assustada. A mulher cutucou Desaad para que ele continuasse.
- Obviamente vocês não sabem, mas existem pesquisas sobre nossa atual situação. - Disparou o homem, tentando se levantar. Stella deixou, mas manteve a adaga por perto. - Eu próprio estudei sobre isso antes de seguir com esse plano. Há uma chance de fuga. - Ele se virou, caminhando até o outro lado dos destroços. Murmurou algumas palavras e o ar se dobrou, formando um buraco púrpura do tamanho de Dominic. O portal tremeluziu e se manteve constante, o interior mostrando nada além do negro. - Como estão vivos, a alma de vocês usará nosso plano como bússola no meio do caos que é lá fora. Supostamente ela nos levará para casa, embora seja uma viagem desconfortável. - Os membros da Aurora se adiantaram, esperançosos, mas a líder levantou a mão.
- Há uma coisa que precisam saber antes de continuarem. - Alertou, a voz tomada pelo sofrimento. Fungou antes de continuar. - Não se sabe o que acontece com quem faz essa viagem. - Seu queixo tombou, e parecia ser difícil falar. - Provavelmente nós, nós...
- Perderão suas identidades. - Interrompeu Desaad, indiferente. Os outros ficaram em silêncio enquanto tentavam entender aquilo, mas ele continuou. - Apenas nossas almas irão fazer a viagem. Nossos corpos serão destruídos, e quando chegarmos à Gaea precisaremos reencarnar. Ou seja, começar do zero.
- Quer dizer que... - Amanda encarou os companheiros, como se tivesse entendido errado. - Não iremos... digo... - Engoliu em seco. - Iremos nascer de novo?
- Sim. - Respondeu a líder, e uma lágrima caiu de seu rosto. - Não iremos de lembrar de nada. Não... não seremos mais a Aurora.
- Então lutamos por nada. - Soltou Sasha, os punhos cerrados e trêmulos. - Não serviu para nada. É ISSO? - Gritou, sua voz ecoando pela fortaleza. Dalan se lembrou de Wieder. Ninguém agora iria conhecer seus feitos. Encarou lívido Desaad, e não era o único.
- É TUDO CULPA SUA! - Gritou Koga, e Lyra o segurou com dificuldades. - JULIE MORREU POR SUA CULPA, ASSIM COMO WIEDER E MARCUS! E AGORA ISSO? - Tentou dar um passo à frente, descontrolado. - EU VOU TE MATAR!
- Isso não vai resolver nada, Koga! - Avisou Stella, também se estressando. - Temos que sair daqui, rápido! A cúpula não vai durar muito tempo!
- Poxa vida, mas eu não dei pra vocês essa rota de fuga. - Disse Desaad, convenientemente escondido atrás da mulher. Dalan podia ter lhe dado um soco, mas ao invés disso se virou para sua líder.
- Tem que haver um jeito. - Afirmou. - Algum livro, alguma... coisa que esse verme provavelmente está escondendo.
- Não há, Dalan. - Confessou a mulher. - Eu tenho certeza.
- Mesmo assim, talvez vocês estejam errados sobre o que vai acontecer conosco. - Considerou Kulela, coçando o queixo. - Digo, se ninguém nunca passou por isso, não há como ter certeza das consequências. É uma área nova.
- Sim, mas temos que estar preparados para o pior, que é o mais provável. - Disse Stella. - Acredite, eu quero que nos reunamos tanto quanto vocês, mas...
- Senhora Stella... - Interrompeu Sophie com a voz fraca, e ela a encarou com os olhos brilhantes. - Se... se nós vamos viver... talvez... - Abaixou o queixo, procurando forças. - Julie poderia também?
A líder da Aurora sentiu as lágrimas voltarem ao seu rosto. - Não, querida. Infelizmente, ela morreu aqui. Sua alma já encontrou a pousada final. - Sophie torceu o rosto, e voltou a afundá-lo no peito de Dominic.
Uma fungada mais alta cortou o ar, uma que não vinha de onde esperavam. Amanda estava parada, tremendo, as lágrimas escorrendo copiosamente pelo rosto. - Amanda? - Perguntou Dom, mas a garota não pareceu ouvi-lo.
- E-e-eu... - Soluçou, parecendo se esforçar para ficar em pé, a voz mais aguda do que o normal. - Não quero... eu não quero... - Fungou, e mais lágrimas desceram pelos olhos. - Eu não quero ficar sozinha de novo.
Ela se embolou com a própria língua, e caiu de joelhos com as mão no rosto. - Eu não quero perder vocês! - Continuou, gritando. - Não quero! Passei tanto... tanto tempo sozinha que... vocês... vocês são a minha família! - Desatou a chorar, abafada pelas próprias mãos. O restante da Aurora não sabia o que fazer. Lágrimas encheram os olhos de todos, que sentiram o coração se apertar. Cada um tinha suas lembranças, provas de amizade e amor entre eles. E agora, tudo estava prestes a acabar. Era muito para aturar.
Koga estava com os dentes rangendo, a face contorcida enquanto que Lyra chorava em suas costas. Tremeu, o punho cerrado com tanta força que a unha rasgou a pele. Os outros continuavam abalados demais para fazer alguma coisa, e ele gritou. - MERDA! - Isso chamou a atenção de todos, que viraram em sua direção. Até Desaad, indiferente a tudo, ergueu as sobrancelhas.
O rapaz respirou intensamente, o queixo abaixado enquanto pensava. Quando levantou a cabeça, havia um brilho obstinado no olhar. - Nós não podemos ficar assim! - Berrou. - Eu sei que... eu sei que não sou o mais inteligente aqui! Só que nossos amigos se mataram para nos salvar! Temos... temos que seguir em frente! - Ele conteve o choro, mas não limpou o rosto. Apenas ficou parado, tremendo e juntando suas forças.
- Koga... - Começou Lyra, levantando a cabeça para encará-lo. O amigo se virou e segurou seu rosto, encostando sua testa na dela. Respirou forte, como se precisasse daquilo mais do que a companheira. - Precisamos nos manter felizes perto deles, lembra? - A garota arregalou os olhos. - Para melhorar um pouco o clima. Eles precisam disso.
Lyra se afastou, encarando-o com assombro. E, com muito esforço, Koga fechou os olhos e sorriu. Ela torceu a boca e o abraçou, aninhando a cabeça em seu ombro. - Vou sentir sua falta. - Disse embolada. O rapaz segurou seus cabelos roxos com força.
- Eu também. - Soltou, quase chorando de novo. Se afastou e ficou de costas, andando até o portal sem olhar para mais ninguém. Parou a um passo do vazio, e respirou fundo. - Foi ótimo passar os melhores anos da minha vida com vocês. - Confessou para a Aurora. E, com isso, deu um passo à frente e sumiu.
Lyra estava com o rosto torcido, procurando se mover. Precisamos nos manter felizes perto deles, ressoava uma voz em sua cabeça. Eram a pedra fundamental da guilda. Rangeu os dentes com raiva e se dirigiu com os passos firmes e espaçados até Stella. Estava com o queixo abaixado, mas isso não a impediu de falar. - Muito obrigado por tudo! - Gritou para sua líder. - Foi... foi uma honra trabalhar com você! Foi uma honra ser membro da Aurora. - Começou a chorar, mas tentou colocar tudo para dentro. Deu uma olhada para os outros. Dominic e Kulela a encaravam, enquanto que Amanda continuava no chão, sem acreditar no que estava acontecendo. Lyra sentiu o coração se apertar com uma dor imensa. Queria parar e abraçá-la, ficar lá até o fim dos tempos, mas Koga tinha razão. Tinham que sair dali. Foi até o portal, respirou fundo, e desapareceu.
O silêncio voltou àquele lugar. Foi a vez de Kulela soltar o ar e dar um passo à frente. O reptiliano caminhou em silêncio, sem olhar para ninguém, até que parou à frente do buraco no ar. Sorriu. - Sabe, se dissessem há alguns meses que eu iria derramar lágrimas por um bando de humanos, mandaria o sujeito para um hospício! - Ele riu, mas não foi acompanhado. Encarou os companheiros por detrás do ombro. - Eu não sei o que vai acontecer com a gente, mas... continuem essas excelentes pessoas. Aconteça o que acontecer. - E com isso, não estava mais lá.
Dominic apertou os ombros de Sophie com força, a afastando carinhosamente de si. Ficou em pé, procurando as palavras. - Sabem, eu queria vê-los crescer. Tinha um sonho de acompanhá-los pelo resto de suas vidas. Conhecer seus maridos, esposas, ver seus filhos. - Seus olhos ficaram úmidos, e passou a gigantesca mão pelo rosto. - Só que... sei que não vão precisar de mim. Vocês são pessoas espetaculares. Me deram um sentido para seguir em frente. - Caminhou até Stella, e estendeu a mão. - Irei repetir o que Lyra disse. Foi uma honra trabalhar com você. - A mulher chorava. Apertaram as mãos e o homem foi até o portal, onde esvaneceu em pleno ar.
Dessa vez, demorou um pouco mais para que alguém se movesse. Sophie e Amanda estavam chorando no chão, e Sasha estava com a franja em cima dos olhos, sem que ninguém soubesse o que estava acontecendo em sua cabeça. Foi Dalan quem levantou a cabeça. Andou até a garota de cabelos azuis, e estendeu a mão. - Você me ensinou o que realmente era uma guilda, Sasha. A cuidar e confiar em seus companheiros. - Seu rosto estava impassível, marcado pelas lágrimas. - Obrigado por tudo.
A garota riu antes de levantar o queixo. - E você foi meu melhor aluno. - Ela o encarou, e os dois se olharam por algum tempo. Apertaram as mãos, se lembrando da primeira vez que se encontraram. Parecia fazer parte de outra vida. E, em alguns minutos, seria.
O garoto então virou as costas, indo até onde Amanda estava ajoelhada. Ela percebeu sua aproximação e o abraçou, afundando o rosto em sua camisa. - Você é um idiota, sabia? - Soltou.
- Acho que sim. - Sorriu o rapaz, nervoso. A companheira o olhou antes de encarar o chão. - Dalan, eu... eu não quero fazer essa viagem sozinha. - Apertou com força suas roupas. - Eu... posso ir com você. - Ele riu pelo nariz.
- E desde quando consegui te impedir? - Ela sorriu, agradecida. Os dois se levantaram e o garoto foi até Sophie, que continuava desolada. Se ajoelhou, passando a mão por seus cabelos.
- Sophie, eu sinto muito. - Não houve resposta, exceto por uma fungada. Dalan mordeu o lábio. - Sua irmã teve orgulho de você até o fim. Só queria que você soubesse disso.
Quando ele se levantou, sentiu algo segurar sua mão. Observou Sophie se levantar e se agarrar ao seu braço, colocando o rosto em seu ombro. Não conseguia enxergar sua impressão, mas sabia o que queria dizer. Sorriu de forma triste, e os três caminharam até o portal. Sumiram em um piscar de olhos.
Restavam Sasha e Stella. - Vamos logo, então. - Disse a garota, se aproximando do vazio. Sua mãe, no entanto, continuou parada.
- Querida, eu... - Lágrimas escorreram de seus olhos, mas ela as prendeu com esforço. - Você me orgulhou bastante, sabia? A mim e ao seu pai. - A filha tremeu um pouco.
- Fiz apenas o que me ensinaram. - A líder da Aurora se aproximou, e colocou a mão em suas costas. Estavam a centímetros do portal.
- Sim, e não poderíamos desejar melhor de nossa filha. - Levantou a cabeça, como se pudesse enxergar o rosto de Adam. - Quando te concebemos, queríamos que assumisse a guilda. Que fosse tudo que não conseguimos ser. Ao invés disso, só te jogamos preocupações e dor. - Respirou fundo.
- Eu fiz tudo isso porque quis, mãe. - Disse Sasha, ainda sem olhar para trás. - Porque você e papai me ensinaram o que era certo. E isso foi o mais importante. - Sua voz falhou nas últimas palavras. Stella fechou os olhos e sorriu.
- Sim. E, por isso, me desculpe. - Empurrou a filha, que sumiu no ar. Stella permaneceu. Ela chorou, a mão tentando segurar as lágrimas. Atrás dela, haviam sons de palmas.
- Achei que ia fazer isso, mas não tinha certeza. - Disse Desaad, zombeiro. - Meus parabéns pela coragem. - Stella cerrou o punho.
- Não irei te deixar passar por esse portal. - Avisou a líder da Aurora, se virando. - Já causou dor demais à minha família. Vou te prender aqui nem que seja a minha morte!
- Farei questão da última parte ser verdadeira. - Ele riu, a energia púrpura passando pelo corpo. - Tive tempo para juntar minhas forças! Não vai conseguir me deter!
A outra riu. Limpou as últimas lágrimas e levantou a cabeça. - Tente passar por mim. - E Desaad disparou pelos destroços negros de uma fortaleza acabada, gritando por sua vida. Só precisava passar por uma simples mulher e teria uma nova chance.
Só que quem estava do outro lado não era uma mulher comum. Era Stella Alba, segunda e última líder da Aurora, uma pequena guilda de Helleon que havia salvado o mundo, e que agora seria relegada ao esquecimento. Só que isso não importava. A fama nunca havia importado para aquelas pessoas. O certo era a única coisa que importava. Aprendera isso com o marido, um visionário que perdeu sua vida cedo demais. Antes de morrer, ele conseguiu passar o que queria para uma nova geração, que manteve seus ideais até o fim. Eram valores que representavam muito, mas poderiam ser traduzidos em simples palavras. Palavras que ecoaram na mente de Stella antes de sua última luta, a luta por seus companheiros. Palavras estas que representavam tudo.
Somos o brilho mais forte
da noite mais escura.
Quando as trevas estiverem em seu ápice,
a Aurora não tardará
e iluminará todos que olharem para cima.
Uma fungada mais alta cortou o ar, uma que não vinha de onde esperavam. Amanda estava parada, tremendo, as lágrimas escorrendo copiosamente pelo rosto. - Amanda? - Perguntou Dom, mas a garota não pareceu ouvi-lo.
- E-e-eu... - Soluçou, parecendo se esforçar para ficar em pé, a voz mais aguda do que o normal. - Não quero... eu não quero... - Fungou, e mais lágrimas desceram pelos olhos. - Eu não quero ficar sozinha de novo.
Ela se embolou com a própria língua, e caiu de joelhos com as mão no rosto. - Eu não quero perder vocês! - Continuou, gritando. - Não quero! Passei tanto... tanto tempo sozinha que... vocês... vocês são a minha família! - Desatou a chorar, abafada pelas próprias mãos. O restante da Aurora não sabia o que fazer. Lágrimas encheram os olhos de todos, que sentiram o coração se apertar. Cada um tinha suas lembranças, provas de amizade e amor entre eles. E agora, tudo estava prestes a acabar. Era muito para aturar.
Koga estava com os dentes rangendo, a face contorcida enquanto que Lyra chorava em suas costas. Tremeu, o punho cerrado com tanta força que a unha rasgou a pele. Os outros continuavam abalados demais para fazer alguma coisa, e ele gritou. - MERDA! - Isso chamou a atenção de todos, que viraram em sua direção. Até Desaad, indiferente a tudo, ergueu as sobrancelhas.
O rapaz respirou intensamente, o queixo abaixado enquanto pensava. Quando levantou a cabeça, havia um brilho obstinado no olhar. - Nós não podemos ficar assim! - Berrou. - Eu sei que... eu sei que não sou o mais inteligente aqui! Só que nossos amigos se mataram para nos salvar! Temos... temos que seguir em frente! - Ele conteve o choro, mas não limpou o rosto. Apenas ficou parado, tremendo e juntando suas forças.
- Koga... - Começou Lyra, levantando a cabeça para encará-lo. O amigo se virou e segurou seu rosto, encostando sua testa na dela. Respirou forte, como se precisasse daquilo mais do que a companheira. - Precisamos nos manter felizes perto deles, lembra? - A garota arregalou os olhos. - Para melhorar um pouco o clima. Eles precisam disso.
Lyra se afastou, encarando-o com assombro. E, com muito esforço, Koga fechou os olhos e sorriu. Ela torceu a boca e o abraçou, aninhando a cabeça em seu ombro. - Vou sentir sua falta. - Disse embolada. O rapaz segurou seus cabelos roxos com força.
- Eu também. - Soltou, quase chorando de novo. Se afastou e ficou de costas, andando até o portal sem olhar para mais ninguém. Parou a um passo do vazio, e respirou fundo. - Foi ótimo passar os melhores anos da minha vida com vocês. - Confessou para a Aurora. E, com isso, deu um passo à frente e sumiu.
Lyra estava com o rosto torcido, procurando se mover. Precisamos nos manter felizes perto deles, ressoava uma voz em sua cabeça. Eram a pedra fundamental da guilda. Rangeu os dentes com raiva e se dirigiu com os passos firmes e espaçados até Stella. Estava com o queixo abaixado, mas isso não a impediu de falar. - Muito obrigado por tudo! - Gritou para sua líder. - Foi... foi uma honra trabalhar com você! Foi uma honra ser membro da Aurora. - Começou a chorar, mas tentou colocar tudo para dentro. Deu uma olhada para os outros. Dominic e Kulela a encaravam, enquanto que Amanda continuava no chão, sem acreditar no que estava acontecendo. Lyra sentiu o coração se apertar com uma dor imensa. Queria parar e abraçá-la, ficar lá até o fim dos tempos, mas Koga tinha razão. Tinham que sair dali. Foi até o portal, respirou fundo, e desapareceu.
O silêncio voltou àquele lugar. Foi a vez de Kulela soltar o ar e dar um passo à frente. O reptiliano caminhou em silêncio, sem olhar para ninguém, até que parou à frente do buraco no ar. Sorriu. - Sabe, se dissessem há alguns meses que eu iria derramar lágrimas por um bando de humanos, mandaria o sujeito para um hospício! - Ele riu, mas não foi acompanhado. Encarou os companheiros por detrás do ombro. - Eu não sei o que vai acontecer com a gente, mas... continuem essas excelentes pessoas. Aconteça o que acontecer. - E com isso, não estava mais lá.
Dominic apertou os ombros de Sophie com força, a afastando carinhosamente de si. Ficou em pé, procurando as palavras. - Sabem, eu queria vê-los crescer. Tinha um sonho de acompanhá-los pelo resto de suas vidas. Conhecer seus maridos, esposas, ver seus filhos. - Seus olhos ficaram úmidos, e passou a gigantesca mão pelo rosto. - Só que... sei que não vão precisar de mim. Vocês são pessoas espetaculares. Me deram um sentido para seguir em frente. - Caminhou até Stella, e estendeu a mão. - Irei repetir o que Lyra disse. Foi uma honra trabalhar com você. - A mulher chorava. Apertaram as mãos e o homem foi até o portal, onde esvaneceu em pleno ar.
Dessa vez, demorou um pouco mais para que alguém se movesse. Sophie e Amanda estavam chorando no chão, e Sasha estava com a franja em cima dos olhos, sem que ninguém soubesse o que estava acontecendo em sua cabeça. Foi Dalan quem levantou a cabeça. Andou até a garota de cabelos azuis, e estendeu a mão. - Você me ensinou o que realmente era uma guilda, Sasha. A cuidar e confiar em seus companheiros. - Seu rosto estava impassível, marcado pelas lágrimas. - Obrigado por tudo.
A garota riu antes de levantar o queixo. - E você foi meu melhor aluno. - Ela o encarou, e os dois se olharam por algum tempo. Apertaram as mãos, se lembrando da primeira vez que se encontraram. Parecia fazer parte de outra vida. E, em alguns minutos, seria.
O garoto então virou as costas, indo até onde Amanda estava ajoelhada. Ela percebeu sua aproximação e o abraçou, afundando o rosto em sua camisa. - Você é um idiota, sabia? - Soltou.
- Acho que sim. - Sorriu o rapaz, nervoso. A companheira o olhou antes de encarar o chão. - Dalan, eu... eu não quero fazer essa viagem sozinha. - Apertou com força suas roupas. - Eu... posso ir com você. - Ele riu pelo nariz.
- E desde quando consegui te impedir? - Ela sorriu, agradecida. Os dois se levantaram e o garoto foi até Sophie, que continuava desolada. Se ajoelhou, passando a mão por seus cabelos.
- Sophie, eu sinto muito. - Não houve resposta, exceto por uma fungada. Dalan mordeu o lábio. - Sua irmã teve orgulho de você até o fim. Só queria que você soubesse disso.
Quando ele se levantou, sentiu algo segurar sua mão. Observou Sophie se levantar e se agarrar ao seu braço, colocando o rosto em seu ombro. Não conseguia enxergar sua impressão, mas sabia o que queria dizer. Sorriu de forma triste, e os três caminharam até o portal. Sumiram em um piscar de olhos.
Restavam Sasha e Stella. - Vamos logo, então. - Disse a garota, se aproximando do vazio. Sua mãe, no entanto, continuou parada.
- Querida, eu... - Lágrimas escorreram de seus olhos, mas ela as prendeu com esforço. - Você me orgulhou bastante, sabia? A mim e ao seu pai. - A filha tremeu um pouco.
- Fiz apenas o que me ensinaram. - A líder da Aurora se aproximou, e colocou a mão em suas costas. Estavam a centímetros do portal.
- Sim, e não poderíamos desejar melhor de nossa filha. - Levantou a cabeça, como se pudesse enxergar o rosto de Adam. - Quando te concebemos, queríamos que assumisse a guilda. Que fosse tudo que não conseguimos ser. Ao invés disso, só te jogamos preocupações e dor. - Respirou fundo.
- Eu fiz tudo isso porque quis, mãe. - Disse Sasha, ainda sem olhar para trás. - Porque você e papai me ensinaram o que era certo. E isso foi o mais importante. - Sua voz falhou nas últimas palavras. Stella fechou os olhos e sorriu.
- Sim. E, por isso, me desculpe. - Empurrou a filha, que sumiu no ar. Stella permaneceu. Ela chorou, a mão tentando segurar as lágrimas. Atrás dela, haviam sons de palmas.
- Achei que ia fazer isso, mas não tinha certeza. - Disse Desaad, zombeiro. - Meus parabéns pela coragem. - Stella cerrou o punho.
- Não irei te deixar passar por esse portal. - Avisou a líder da Aurora, se virando. - Já causou dor demais à minha família. Vou te prender aqui nem que seja a minha morte!
- Farei questão da última parte ser verdadeira. - Ele riu, a energia púrpura passando pelo corpo. - Tive tempo para juntar minhas forças! Não vai conseguir me deter!
A outra riu. Limpou as últimas lágrimas e levantou a cabeça. - Tente passar por mim. - E Desaad disparou pelos destroços negros de uma fortaleza acabada, gritando por sua vida. Só precisava passar por uma simples mulher e teria uma nova chance.
Só que quem estava do outro lado não era uma mulher comum. Era Stella Alba, segunda e última líder da Aurora, uma pequena guilda de Helleon que havia salvado o mundo, e que agora seria relegada ao esquecimento. Só que isso não importava. A fama nunca havia importado para aquelas pessoas. O certo era a única coisa que importava. Aprendera isso com o marido, um visionário que perdeu sua vida cedo demais. Antes de morrer, ele conseguiu passar o que queria para uma nova geração, que manteve seus ideais até o fim. Eram valores que representavam muito, mas poderiam ser traduzidos em simples palavras. Palavras que ecoaram na mente de Stella antes de sua última luta, a luta por seus companheiros. Palavras estas que representavam tudo.
Somos o brilho mais forte
da noite mais escura.
Quando as trevas estiverem em seu ápice,
a Aurora não tardará
e iluminará todos que olharem para cima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário