sexta-feira, 22 de março de 2013

RN Nuzlocke LG : 14 - A queda

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 14: A QUEDA

Foi uma noite de sono complicada. Kari passou a noite se revirando nos lençóis. chegando a cair da cama um pouco antes do sol nascer. Praguejou e tentou voltar a dormir, mas sentia que era impossível, então se levantou e foi ao banheiro. Começou a lavar o rosto, e percebeu sua fisionomia abatida no espelho. Leves olheiras começavam a se formar embaixo de seus olhos, e sua fisionomia fazia parecer que não havia dormido há dias. Pela décima vez desde que havia chegado no Centro Pokémon, sentiu uma imensa vontade de chorar. As lágrimas começavam a se formar quando ela socou o espelho, tentando voltar à realidade. Não iria fazer isso, pensou, enquanto limpava os olhos com as costas da mão. Ela não era mais aquela garotinha chorona e derrotista. Fungou o nariz e começou a arrumar suas coisas, preparada para seguir sua viagem.

Meia hora depois, desceu até o primeiro andar, andando firmemente. Olhou de relance o restaurante onde um punhado de treinadores fazia seu café da manhã. Seu estômago não indicava nenhum sinal de fome, embora não tivesse ingerido nada havia um dia. Se encaminhou ao computador local e retirou Bernard, o Bellsprout. Sem nenhuma palavra, e sem nem mesmo liberar seus Pokémon, saiu para a manhã fria.

Cerulean começava a acordar, com vendedores montando suas lojas e policiais trocando de turno. Kari caminhava com as mãos nos bolsos, evitando qualquer olhar alheio. Se dirigia à parte norte da cidade, onde daria a volta para descer até Vermilion. Enquanto andava, uma mulher gorda corria até a próxima cabine policial. Se aproximou, e ouviu-a gritar:

 - Socorro, socorro, os Rockets roubaram a minha casa! Socorro! - Gritou ela, apontando para uma pequena casa mais adiante.

Kari se virou, e percebeu um homem vestido do uniforme Rocket sair em disparada, levando um saco cheio de objetos roubados. Malditos, pensou, sentindo a raiva crescer exponencialmente dentro de seu corpo. Começou a correr atrás do homem, derrubando latas de lixo e empurrando pedestres. Já estava de saco cheio desses ladrões, e não deixaria que nenhum escapasse. O ladrão virou a cabeça para trás, e percebeu a garota seguindo-o em velocidade. Assim, ele apressou o passo, entrando em becos e contornando prédios, mas Kari se mantinha logo atrás.

Chegaram aos limites da cidade, e os campos verdejantes cheios de orvalho foram pisoteados pelas duas pessoas. O Rocket virou a cabeça novamente, irritado, e lançou duas Pokébolas ao seu lado. Kari mal chegou a ver quem eles eram, mas lançou Zelda e Sara para batalhá-los. 

 - Hoje não, babaca! - Continuou a perseguição, deixando seus Pokémon derrotarem seus adversários. - Eu não vou deixar você escapar!

Chegaram a uma descida íngreme, recheada de grama alta, com uma singela casa no fim da queda. O Rocket ficou perto de tropeçar em uma rocha, e Kari aproveitou o momento para se aproximar dele, sacando uma Pokébola. Bernard saiu dela, e se enrolou no braço esquerdo do homem, enquanto a garota se aproximava dele pelo lado direito. Chegou a ficar emparelhada com ele, mas o ladrão desferiu uma poderosa cotovelada em seu rosto, fazendo-a quase girar para trás. Sangue espirrou de seu nariz e ela perdeu completamente o equilíbrio, provocando um tropeço que a fez rolar pelo morro, girando e batendo enquanto descia. Conseguiu chegar até o fim acordada, sentindo dores fortíssimas na perna esquerda e na coluna, além de ferimentos mais leves por toda sua pele. Viu o Rocket pelo canto do olho fugindo, com Bernard lutando enrolado em seu corpo. Tentou se levantar, mas sem querer acabou se apoiando na perna machucada, lançando uma dor lacinante que a fez desmaiar.

Mergulhou em sonhos desconexos, onde estava na escola procurando por alguém, correndo pela sala de aula. No entanto, várias pessoas entraram no aposento, apontando o dedo para ela e rindo. Kari tentou fugir, mas a sala começou a se apertar. As paredes vinham se aproximando, e ela começava a chorar, e diminuir, e diminuir...

Acordou suando, abrindo os olhos com ferocidade. Estava em uma planície coberta de grama curta, com a descida que havia caído bem próxima. Uma Meowth, ser que parecia um gato bípede com pêlo cor de creme e uma moeda oval em sua testa, estava bem ao seu lado e pulou de susto, começando a falar em velocidade:

 - Me desculpe, me desculpe, me desculpe!

 - O-o que está acontecendo? - Perguntou Kari, sentindo dores de cabeça residuais. A Meowth ao seu lado olhou-a com olhos brilhantes, tremendo, e a garota percebeu que a Pokémon estava passando poções em sua perna. Segurou o nariz, e viu que seu rosto estava molhado.

 - Nós a lavamos para tirar o sangue seco. - Disse uma voz. Kari olhou, e viu Sara se aproximando, com as duas mãos nas costas.

 - O que houve? - Perguntou a treinadora.

 - Você correu, e nos abandonou para perseguir um Rocket. Envolveu Bernard, que não havia nem sido treinado, em sua corrida maluca. Caiu de uma ladeira, e poderia ter morrido no processo. - A Sandslash a encarou, com seus olhos negros reluzindo de raiva. - O que houve, Kari?

 - Você sabe muito bem o que houve. Não que isso importe agora, pois estou bem.

 - Isso é o contrário de estar bem, Kari! Você agiu de forma irresponsável e --

 - Onde estão os outros? - Interrompeu a garota. Sara continuou a encarando, e falou com a voz seca:

 - Bernard continuou agarrado no Rocket, e ambos seguiram em direção a cidade de Saffron. Zelda foi atrás deles.

 - Ótimo.  - Disse a garota, se levantando com dificuldade.

 - Você não está apta a voltar a correr. Felizmente essa pequena Meowth a encontrou e começou a curá-la, porque eu teria chegado muito tarde. Sente-se e--

 - Não. Eu tenho que achar Zelda e Bernard. - Colocou a mão sobre os olhos, vasculhando a planície. Captou um vulto voando em direção norte. Continuou a encará-lo, e percebeu a forma de uma Golbat. - Ali estão eles. - Começou a mancar até os Pokémon, percebendo Sara e a Meowth a seguindo de longe. 

Quando se aproximaram, viram Zelda carregando Bernard. Kari não entendeu o que estava acontecendo, mas de repente se sentiu em um sonho. A Golbat deixou levemente o Bellsprout nas mãos estendidas da garota. O corpo dele estava coberto de ferimentos, e um dos braços estava dobrado em uma direção estranha. Ela chamou seu nome, mas não havia resposta. Posicionou a cabeça perto do Pokémon, tentando ouvir alguma respiração. Nada.

Bernard estava morto.

 - O maldito Rocket o deixou perto da entrada de Saffron. Como um maldito presente. - Kari ouvia Zelda falando como se ela estivesse debaixo d'água. O corpo do Bellsprout continuava em suas mãos, e seu sangue manchava suas palmas. A garota sentiu as pernas tremerem violentamente, e uma ânsia de vômito foi controlada. Ela caiu de joelhos, e aproveitou para começar a cavar uma pequena tumba para o guerreiro caído.

 - Kari? Eu -- Começou Sara, mas a treinadora a interrompeu.

 - Eu vou enterrá-lo. É o mínimo que posso fazer.

 - Kari, você -- 

 - Eu não quero falar agora.

 - Mas --

 - EU NÃO QUERO FALAR AGORA! - Gritou, fazendo as duas voltarem para suas Pokébolas. A Meowth tremeu, e mergulhou no chão com as mãos segurando a cabeça. Kari voltou a enterrar Bernard. 

Terminou o túmulo algumas horas depois, quando o sol do meio-dia começava a cair. Esfregou o suor na testa, e colocou cuidadosamente o Bellsprout. Pensou em algumas palavras, mas a única coisa que saiu de sua boca foi um silencioso pedido de desculpas. Começou a colocar a terra de volta, sentindo a Meowth ainda atrás dela. Alheia a isso, prendeu uma pequena cruz de madeira que havia manufaturado e seguiu viagem, evitando ao máximo olhar para trás.

 - É... com licença? - A Meowth continuava a segui-la. Kari se virou, percebendo que havia andado uma grande distância sem perceber o que estava fazendo.  - É que aquela Sandslash me disse que vocês estavam indo a Vermillion. O caminho por Saffron está dando alguns problemas recentemente, então... vários treinadores estão preferindo aquela... estrada subterrânea. - A Meowth terminou a frase com a voz quase sumindo.

 - Entendo. - Kari olhou ao redor, e viu um edifício que indicava a tal estrada. - Obrigada.

 - Eu... soube que você é uma treinadora Pokémon. Eu queria... queria saber se eu podia... - A criatura voltou a olhar para baixo.

 - Você não vai querer estar no meu time. - Kari iria falar mais alguma coisa, mas sentiu a garganta embolada. Respirou e tentou voltar a falar, mas não conseguiu. Seus olhos começavam a ficar molhados, e a lembrança de Bernard, que mal havia conhecido, se plantou em sua mente, seu corpo em suas mãos, o túmulo que construiu.

Não, não, não, pensou. Não posso fraquejar. Não posso. Não percebeu que suas pernas feridas estavam a levando para o edifício, apenas queria se afastar de tudo. Passou pelas portas e desceu as escadas, sentindo o coração bater mais forte. Por favor, não agora. A estrada subterrânea estava escura, e mal se conseguia ver alguma coisa. Kari continuou a mancar por seu caminho, até que acabou tropeçando e caindo no chão, batendo fortementea perna ferida. Soltou um pequeno grito de dor, e de repente não conseguia mais conter as lágrimas.

Uma sensação de desespero começou a abraçá-la enquanto chorava copiosamente no chão escuro. A morte de Bernard, os Rockets, a fuga de Nala, tudo se acrescentava em camadas em cima dela, imobilizando-a. Tentou se lembrar dos motivos que a fizeram seguir por essa jornada, tentando evocar sentimentos de esperança para seguir em frente, mas tudo parecia raso e frágil. Pra quê quis ser a Campeã? Para decepcionar e matar seus companheiros? Gary tinha razão, essa jornada era apenas para aqueles que realmente queriam.

Kari não sabia quanto tempo havia passado desde que havia caído, mas decidiu se apoiar na parede do túnel. Ao fazer isso, percebeu que a pequena Meowth continuava a seguindo.

 - O que você está fazendo aqui? - Disse a garota com uma voz grogue. Tirou o excesso de lágrimas do rosto com a palma da mão, e apoiou as costas.

 - É q-q-que eu... - A Meowth voltou a olhar para baixo, sem terminar a frase.

 - Se quiser entrar no time, esqueça. Não irei mais fazer isso.

 - O quê?

 - Eu sou uma treinadora muito pior do que eu achava. Fiz um dos meus Pokémon morrer sem motivo e outro sair por livre e espontânea vontade. Me meti e a todo meu time numa disputa com uma organização criminosa. Uma... pessoa que eu conheço me disse que eu não tinha o que era necessário para seguir essa jornada, e acredito que ele estava certo. Esqueça. Eu sou a pior.

 - M-m-mas... não foi isso o que aquela Sandslash disse.

 - Aposto que Sara teve mais algumas palavras para adicionar sobre o meu mau comportamento. 

 - Não! Digo... ela estava falando muito bem de você para mim. Claro, ela parecia um pouco irritada, mas ainda disse que você cuidava dos seus, que era atenciosa, que sabia fazer a coisa certa... Já vi vários treinadores passarem por mim, mas nenhum parecia que nem... você. 

Kari ficou reflexiva. - Isso não importa. - Disse finalmente. - Não depois dos acontecimentos de hoje. Tenho certeza de que agora todos sabem o quão terrível eu sou como treinadora.

 - Bem... que tal perguntar para eles?

 - Isso não importa agora, já tomei minha decisão.

 - Mas... se planeja desistir de sua jornada... numa hora eles não deveriam saber?

Ela tinha um ponto, pensou Kari. Hesitou, mas soltou seus Pokémon. O brilho vermelho tomou conta do túnel, iluminando vários metros à frente.

 - Vocês ouviram tudo? - Perguntou a treinadora.

 - Temos alguma idéia do que acontece fora das Pokébolas, acredite. - Disse Kenichi. A garota não conseguiu encará-los, portanto começou a falar fitando o chão:

 - Escutem, antes que você falem alguma coisa, saibam que não vai adiantar. Eu manipulei o time às costas de vocês. Coloquei todos nós em uma cruzada contra ladrões e assassinos. Eu... matei -- Ela não conseguiu terminar a frase. Sara se adiantou, e colocou a pata em seu ombro.

 - Kari, você não tem que se desculpar. Todos nós sabemos os riscos do que estamos fazendo. Todos nós temos escolhas, e a nossa é acompanhá-la e ajudá-la. Sem exceção.

 - Mas...

 - Escute, você disse que manipulou o time às nossas costas. Primeiro de tudo, você queria apenas garantir a nossa segurança, e foi isso o que eu te disse quando você veio me dizer que planejava substituir Nala. No entanto, nenhuma ação partiu de você. O time continuaria o mesmo se ela continuasse a seguí-la. Todas as suas preocupações são sobre nosso bem-estar, e nenhum de nós irá culpá-la sobre pensar nisso. Você não fez nada de errado, apenas expressou uma dúvida.

 - E além do mais... - começou Zelda, planando até ficar em frente a ela. - ... não adianta se desculpar sobre a equipe Rocket! Você é a única treinadora com coragem para encará-los, algo que nem a polícia quer fazer! E se algum de nós fosse contra lutar contra eles, já teríamos te dito! Estamos nessa cem por cento!

 - Pessoal... - começou Kari, mas Liz a interrompeu.

 - Kari, você é uma treinadora muito especial. Acredite, nenhum outro daria tanta atenção aos seus Pokémon quanto você. Você nos levar para as compras, se preocupa com nosso bem-estar, se coloca em perigo para nos ajudar... você não tem que sentir vergonha nenhuma disso, apenas felicidade. Já vi muitos treinadores usarem de seus Pokémon apenas como armas de batalha, mas essa não é você!

 - Kari, querida, por que tudo isso? - disse Wanda. - A culpa de Bernard ter morrido foi daquele Rocket. Zelda viu tudo de longe, e me contou o que aconteceu. Tenho certeza de que, se você pudesse ajudá-lo naquela batalha, nada disso teria acontecido. Você foi exemplar contra Brock e Misty. E, além disso... eu nunca vi ninguém ter tanta confiança numa Beedrill a ponto de usá-la numa luta de Ginásio. Muito obrigada.

Kenichi bufou, e todos se viraram contra ele, que estava parado de braços cruzados e de olhos fechados. - Se você realmente usar as opiniões daquele Gary pra definir a sua vida, esqueça. - Ele abriu os olhos minimamente e olhou para o lado, visivelmente encabulado. - Você é mil vezes mais treinadora do que ele jamais poderia sonhar.

 - Kenichi... - Os olhos de Kari voltaram a marejar.

 - Ter erros não significa que devemos desistir, Kari. - Completou Sara. - Apenas significa que devemos aprender com ele. Por Nala, por Bernard, e por todos nós. Nós vamos ser os Campeões.

 - Ah, pessoal... - Kari voltou a chorar, mas o sentimento era totalmente diferente do que o anterior. - Obrigada.

 - Por favor, vamos seguir em frente. - Disse Kenichi, ainda encabulado. - Todo esse estrogênio está me intoxicando.

Eles sorriram, e Sara ajudou Kari a se levantar. Quando ficou em pé, ela percebeu a Meowth ainda a encarando.

 - Qual é o seu nome, querida? - Perguntou a garota.

 - F-f-felicia.

 - Bem-vinda a equipe, Felicia. - Disse Kari, oferecendo a Pokébola. A Meowth se alegrou instantaneamente, e se deixou ser capturada. 

Andaram pela estrada subterrânea, felizes e falantes. Felicia contava sua história timidamente para eles, que pertencia a um Centro de Cuidados Pokémon, que era mantido por um casal de idosos. Eles ofereciam cuidado e tratamento a todos os Pokémon feridos que encontravam pelo lugar. No entanto, quando o casal morreu recentemente, o lugar foi abandonado, e Felicia passou a viver perto da casa, fugindo de treinadores. Ela tinha medo de ser usada em batalhas, pois a maioria  das pessoas que pedia ajuda no Centro era cruel e usava Pokémon como armas. No entanto, quando viu Kari cair da ladeira perto da casa, decidiu aplicar as poções da própria garota nela, e depois que Sara chegou e a contou sobre como a treinadora era, decidiu se juntar a eles.

 - Eu vivia um pouco... sozinha. E soube que muitos Rockets capturavam Pokémon em Cerulean e Saffron, então eu não tinha aonde ir. - Disse Felicia. Wanda soltou um "Oown", e Kenichi reagiu fingindo vomitar, afirmando que era alérgico a toda aquela feminilidade.

Chegaram a um ponto da estrada subterrânea onde um metrô de pequena capacidade se instalava. Essa instalação era um esforço em conjunto das cidades de Cerulean, Saffron e a nova cidade de Vermilion para ligá-las, assim como um metrô similar ligava Celadon, Saffron e Lavender. No entanto, as obras ainda não estavam completas na parte que pertencia a Cerulean, provocando quedas de energia e falta de manutenção no lugar. Kari e sua equipe entraram no metrô, chegando à estação de Vermilion depois de um dia no metrô.

Saíram da estação por volta das três horas da tarde, saindo na Rota 6. Essa rota continha uma estrada que serpenteava por gramados de mato alto e pequenas lagoas, ligando Saffron e Vermillion. Capturaram uma pequena Pidgey, chamada Celine, que foi enviada para a PC BOX. Continuaram andando por alguns dias, até que a estrada começou a descer de altitude para chegar em uma nova cidade.

Haviam chegado em Vermilion.

terça-feira, 19 de março de 2013

RN Nuzlocke LG : 13 - Misty


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 13: MISTY

O grupo havia chegado no ginásio de Cerulean novamente, uma estrutura redonda e colossal, com paredes de vidro transparente por toda a extensão, exceto pelo arco em forma de ondas revoltas que circundava as portas duplas. O teto era cônico e baixo, todo pintado de azul escuro, com detalhes brancos nas bordas, fazendo uma semelhança com o mar. 

Um pequeno grupo de pessoas estava espalhado pela área do Ginásio, todos cabisbaixos. Ao falar com o guarda do outro dia, Kari descobriu que, assim que Misty voltou ao lugar, uma série de treinadores veio enfrentá-la, sendo todos derrotados em poucas horas.

 - Quantos treinadores a enfrentaram desde então? - Perguntou a garota, observando uma menina chorar abraçada com seu Zubat.

 - Vinte e sete. Foi um dia bem agitado para ela. - Disse o homem, levando-a para dentro do edifício. Ela sentia o coração bater mais forte, se preparando para mais uma luta contra um líder de ginásio.

Ao entrar, a treinadora se viu em um grande salão redondo, quase da largura do edifício. Uma grande piscina redonda de água cristalina ocupava a maior parte do aposento, com ladrilhos brancos completando o ambiente. Duas estátuas de Dewgongs, Pokémon parecidos com leões-marinhos brancos, ficavam na parte leste e oeste, delimitando a piscina. Um círculo de cinco metros de diâmetro, feito de ladrilhos, se posicionava no centro dela. A água estava visivelmente aquecida, pois o ar estava ligeiramente embaçado pela névoa. No entanto, do outro lado da piscina, sentada em um estranho trono vermelho feito de conchas e decorado com corais dourados que se estendiam em diversas direções, via-se claramente Misty.

Ela deveria ser um pouco mais velha que Kari, provavelmente com apenas vinte anos. Sua pele era suave e pálida, com eventuais sardas cobrindo a face e os ombros. Tinha cabelos ruivos e curtos, penteados de forma a ficarem espetados e com uma singela maria-chiquinha saindo do lado esquerdo da cabeça. Tinha um corpo bastante atlético, no mínimo, e acentuava-o com biquínis esportivos de cor azul e detalhes brancos. 

 - Viu? Poderia aprender com ela a ter um corpo de verdade. - Disse Kenichi ao seu lado. A garota o chutou na piscina. Misty pareceu acordar com o barulho, saindo do estupor e vendo a nova adversária do outro lado. Seus olhos voltaram a se entediar, enquanto se ajeitava no trono. 

 - Mais uma para o abate. Oba. - Disse ela com a voz indiferente, apoiando a cabeça na mão. Kari fez Kenichi voltar à Pokébola e se aproximou da piscina.

 - Meu nome é Kari, e vim da cidade de Pallet. Estou aqui para --

 - Sei, sei, tentar conseguir a Insígnia da Cascata. Tanto faz. - A líder de ginásio se espreguiçou, levantando lentamente de onde estava. - É só mais uma aspirante a Campeã prestes a voltar para casa. 

Kari se irritou, observando a adversária ir até a piscina, entrando lentamente na água. Misty ficou com quase todo o corpo submerso, exceto pela cabeça e pelos braços, apoiados na borda. Algum tempo se passou até a garota mais nova reclamar:

 - Sério que você vai ficar aí? Eu sou uma treinadora, sabia? Quero --

 - Só me deixe descansar um pouco. - Interrompeu irritada a garota mais velha, jogando a cabeça para trás. Sua voz pareceu mais cansada quando voltou a falar. - Esse trabalho não é pra mim. Minhas irmãs que conseguiam administrar todos esses treinadores, mas elas se enfiaram em algum canto de Hoenn para algum novo líder de Ginásio. Logo, tudo sobrou pra mim, a irmã esquecida. Todos esses Rockets, todos esses treinadores, mas que saco. - Ao dizer isso, submergiu a cabeça, soltando bolhas pelo nariz.

Kari ficou encarando-a, sentindo emoções conflitantes. Ainda estava irritada com a adversária por ignorá-la completamente, mas via que Misty foi jogada em um trabalho que nunca foi preparada a tomar. Pelo que sabia pela internet, a atual líder do Ginásio de Cerulean era vista antes em bares e casas noturnas, sem nenhuma responsabilidade. No entanto, ela de repente recebeu esse dever. Provavelmente, isso explicaria as constantes fugidas dela para o Cabo de Cerulean, onde poderia descansar em paz. Kari não concordava com as atitudes dela, mas conseguia compreendê-la. 

Finalmente, a líder saiu da piscina e se afastou um pouco, pegando duas Pokébolas nos braços do trono. 

 - Hora de acabar logo com isso. - Disse ela, agarrando uma toalha branca e pendurando-a no pescoço.

 - Vamos ver quem é o abate agora. - Disparou Kari, se colocando no lugar delimitado. Misty observou-a com um olhar cansado, e liberou seu Staryu na piscina.

Staryus eram seres de oitenta centímetros de altura, parecidos com estrelas-do-mar de cinco pontas, com corpo maleável e de cor amarronzada. Tinha um órgão exterior vermelho e brilhante no centro, chamado de núcleo, que servia para filtrar a água que entrava no Pokémon. Possuía também um anel dourado em volta de uma das pernas, que supostamente mantinha o núcleo no lugar. O Staryu em questão mergulhou na piscina, e ficou girando o corpo para nadar e circular a área.

 - Liz, conto com você. - Disse Kari, liberando a Wigglytuff no centro seco da arena. Misty fez um muxoxo, e gritou.

 - Defesa, Staryu! - Seu Pokémon brilhou, deixando um rastro branco na piscina por onde passava. Liz tentou fazê-lo dormir, mas não acertou o adversário, que brilhou novamente e saltou em direção à rival.

 - Liz, acerte-o agora! - Gritou a treinadora. Sua Pokémon saltou e tentou acertá-lo com uma voadora, mas errou o golpe e caiu na piscina. A garota ficou aflita, mas se acalmou um pouco quando a Wigglytuff nadou até a superfície. No entanto, agora estava na área do adversário, que voltava a brilhar. 

 Kari ficou acompanhando o movimento do Staryu, até que gritou: - Agora! - Liz ajeitou o corpo, e acertou um chute bem no centro do rival, que voou para fora da piscina. A treinadora olhou de relance para Misty, e estranhou vê-la de olhar entediado novamente. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, a líder do ginásio gritou:

 - Hora do jogo, Staryu! - O Pokémon girou no ar, soltando um poderoso pulso de água na piscina, que instantaneamente ficou revolta. Liz foi jogada de um lado para o outro pelas ondas, perdendo completamente o equilíbrio.

O Staryu voltou à piscina, e a Wigglytuff tentou acertá-lo. No entanto, as ondas estavam tão revoltas que ela errou. O adversário, no entanto, estava acostumado com a arena, e soltou outro pulso de água, lançando Liz para fora da piscina e fazendo-a acertar a parede de vidro.

 - Liz! - Gritou Kari. A garota viu seu Pokémon se levantar com dificuldade, enquanto o de Misty voltava a dar voltas na água. A líder a olhou, comentando:

 - Bem, como eu estava dizendo... - O Staryu voltou a sair da piscina e se jogar em direção de Liz. - ... abate.

No entanto, para a surpresa dela, Liz se apoiou apenas o suficiente para desferir um forte chute, novamente no centro do adversário, que voou até o teto da arena. A líder ficou acompanhando-a, estupefata, até que ele caiu no centro seco.

 - Devo te dizer uma coisa, Misty. Não se pode dar uma brecha para quem você não conhece. - Disse Kari. Liz sorriu, segurando o braço. A garota mais velha balançou a cabeça, e voltou a encarar a adversária com um olhar renovado.

 - Finalmente alguém digno de minha atenção. Starmie, acabe com ela! - Misty soltou seu Starmie, evolução do Staryu. Apresentava diversas semelhanças com sua pré-evolução, no entanto tinha o corpo roxo, um metro e dez centímetros de altura e uma outra estrela de cinco pontas acoplada na parte de trás do corpo, que poderia girar trezentos e sessenta graus independente do resto do corpo.

 - Wanda, sua vez! - Kari liberou a Beedrill, fazendo Liz retornar. Sua Pokémon começou a circular a arena pelo ar, enquanto o adversário caía na piscina. 

 - Starmie, ofensiva total! - O Pokémon lançou outro pulso de água, acertando Wanda em cheio. Ela conseguiu voltar ao ar e , atingindo o rival com seu ferrão quando ele passou perto da superfície. 

O adversário pulou para perto de Misty, que passou uma poção de cor rosa em seus ferimentos. No entanto, antes que ele voltasse à piscina, Wanda voou e acertou-o novamente.

Quando o Starmie atingiu a piscina, imediatamente lançou outro pulso em direção a Wanda, que voou de encontro à torrente d'água, com o ferrão para frente. Ela mergulhou no golpe, girando o corpo para poder ter mobilidade, e conseguiu atravessar o golpe e acertar o adversário em cheio no núcleo. O Starmie foi lançado até o fundo da piscina pelo impacto, derrotado.

 - Bem... você me surpreendeu. - Disse Misty, retornando seu Pokémon. - Faz dois meses que estou aqui, e você é a primeira a me vencer. 

 - Obrigada. - Retornou Kari, sentindo-se extasiada.

 - Tome. - Disse a líder de ginásio, jogando um pequeno objeto para a adversária. Quando a garota o agarrou no ar, viu que era um pequeno símbolo no formato de uma gota d'água. A Insígnia da Cascata, prova de que havia derrotado o Ginásio de Cerulean. - Meus parabéns. Seu próximo desafio é na nova cidade de Vermilion. 

Kari agradeceu novamente, e saiu do edifício. No entanto, antes que pudesse comemorar, viu Nala, em pé, parada em frente ao prédio.

 - Nala? Pensei que você tivesse nos acompanhado lá dentro. O que houve?

 - Ah, agora você percebeu que eu não estava contigo. Infelizmente, isso não me surpreende. - O rosto de Kari ficou vermelho. Não era possível que a Pokémon tivesse percebido, pensou.

 - Eu... não entendo onde você quer chegar, querida.

 - NÃO BRINQUE DE SER CONDESCENDENTE COMIGO! - A Raticate gritou, chamando a atenção de algumas pessoas desavisadas que caminhavam pelo local. - Eu ouvi você e Sara conversando. Eu vi o olhar de vocês duas quando capturou aquele Bellsprout. Eu percebi que não me coloca mais para lutar. VOCÊ QUER ME TIRAR DA EQUIPE, NÃO É?

Um silêncio passou pelo cenário. Kari havia retornado todos os seus Pokémon dentro do ginásio, portanto era apenas ela e a Raticate ensandecida. Respondeu calmamente. - Eu não a substituí por Bernard, não é? 

 - E isso importa? Era apenas uma questão de tempo. Além do mais, caso eu morresse, você não teria o menor pudor em me trocar felizmente, não é?

Nesse momento, Kari se irritou. Estava na defensiva até agora, mas essa posição não era familiar a ela. - O quê você quer dizer com isso? Eu estou fazendo isso para garantir que todos vocês vivam! 

 - Então você admite que iria me tirar da equipe!

 - Eu admito que irei fazer de tudo para que todos vocês sobrevivam! No momento em que se tornaram minha equipe, são a minha responsabilidade! Portanto, não ouse falar assim, Nala, pois eu passo noites acordada, pensando em diversas maneiras de garantir que cheguemos ao fim sãos e salvos. Eu não vou me desculpar por garantir a sua vida. Farei tudo em meu alcance para isso.

A Raticate ficou em silêncio, encarando a treinadora. Finalmente, falou: - Escute aqui. Por mais que você ache que é nossa dona, isso não é verdade. Nós temos a escolha de acompanhá-la ou não. E você não tem a escolha de nos privar de nossos sonhos. Eu já disse que seria a campeã, não importa o que custasse. E isso não acontecerá com você. - Nala saltou para o cinto de Kari, pegando sua Pokébola e destruindo-a com seus dentes. Raios vermelhos saltaram, mas ela não pareceu se incomodar. - Estou fora. 

Kari observou estupefata a Raticate caminhar para as ruas. Não tinha nenhuma reação, nada passava por sua cabeça. A Pokébola destruída ainda jazia a seus pés. Apenas quando a Pokémon sumiu de seu campo de visão, o feitiço se desfez.

 - Nala? - Disse baixo, lentamente voltando ao normal. - Nala! - Chamou em voz alta, mas não havia resposta. - NALA! - Desatou a correr. Atravessou diversas ruas, entrou em lojas, chegou até mesmo a pedir, inutilmente, a ajuda da polícia. Finalmente, no fim do dia, chegou ao Centro Pokémon,  e foi imediatamente ao computador, pesquisando seu ID. A Raticate não fazia mais parte de seu time.

Lá fora, a chuva voltou a cair.

sexta-feira, 15 de março de 2013

RN Nuzlocke LG: 12 - O monstro



RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 12: O MONSTRO

Kari entrou na pequena mansão, encharcada até os ossos. O átrio era pequeno e simples, com paredes de madeira escura, teto alto e poucos móveis. Um castiçal estava pendurado no teto, bem em cima da garota, e as duas únicas janelas estavam cerradas. Ela se apoiou em uma das colunas que apoiavam o arco da porta, tirando os sapatos e as meias encharcadas, que se embolaram no carpete púrpura.

 - Tem alguém aí? - Gritou. Sua voz ecoou nos corredores iluminados mais à frente. Percebeu uma leve pulsação nas lâmpadas, como se a energia estivesse desregulada. Quando se aproximou para ver se não era um truque em seus olhos, a luz acabou, mergulhando a mansão na mais pura escuridão.

A garota deu um pulo, quase caindo no chão. Seu coração martelava o peito, tentando sair, enquanto ela procurava por Liz. Suas mãos encontraram o pêlo molhado da Pokémon, e se acalmou um pouco mais. 

 - Liz, acho melhor irmos embora. Se nos encontrarem aqui vão nos confundir com ladrões. - Sentiu a Wigglytuff acenar com a cabeça, e seguiu tateando o chão em direção à porta. Aos poucos, seus olhos se acostumavam com as trevas, e conseguiu achar a maçaneta. Tentou abrir a porta, mas ela não se movia.

 - Tranca eletrônica. - Suspirou baixinho consigo mesma. Praguejou, e se virou para encarar a escuridão novamente. Conseguia agora ver o contorno do corredor, que seguia até não conseguir mais ser notado. Preciso de Kenichi aqui, pensou, e levou a mão às Pokébolas. Tentou liberar seu Charmeleon, mas estranhamente as esferas não funcionavam. Ela apertou o botão novamente, e nada.

Sentindo seu coração voltar a bater mais forte, tentou as outras. Nenhuma resposta. Arriscou até a de Liz, mas nenhuma funcionava. Havia algo muito estranho ali.

 - Liz. As Pokébolas não funcionam. - O rosto da Wigglytuff ficou pálido, mas ela manteve a compostura na voz.

 - Oh, céus. O que vamos fazer agora? - Antes que a garota pudesse responder, um grito macabro veio de dentro da mansão. Ela saltou, e se virou para a escuridão. Nada se mexia. 

 - Kari? O grito parecia humano... - Disse Liz. A treinadora concordou, e voltou a fitar o corredor. Definitivamente era uma pessoa que gritou, pensou. Começou a andar para frente, se apoiando na parede para não cair no chão.

 - O que está fazendo? - Perguntou a Wigglytuff, relutante em segui-la.

Ela se virou para a Pokémon, mal conseguindo identificá-la nas trevas. - Liz, eu não consigo ficar aqui parada enquanto alguém está precisando de ajuda. Sinto muito, mas eu não posso. Além do mais... - Ela voltou a andar. - ... não vai demorar muito até que o problema venha até nós. - A outra olhou para os lados, e seguiu a treinadora.

A mansão estava terrivelmente escura. Kari tateava pelos corredores, por vezes derrubando móveis e estátuas. Percebeu que boa parte dos objetos tinham o formato de Eevees, seres parecidos com cachorros, com pêlos marrons por todo o corpo, exceto no pescoço, onde havia um colar bege de pêlos mais longos e fofos. Tinham orelhas pontudas e um rabo felpudo em formato de gota. Tudo parecia muito bizarro, na opinião de Kari. 

Chegaram finalmente a uma escada de madeira que levava ao porão. A garota percebeu cabos e equipamentos espalhados pelo chão, e luzes piscavam de forma fraca. Havia uma estranha cabine reluzindo timidamente em luz vermelha. Fora isso, era difícil ver qualquer outra coisa no aposento.

 - Eu acho que os fusíveis devem estar aqui embaixo. Não adianta seguir andando na escuridão. - Disse Kari, mas não se moveu. Liz seguiu em frente. - O que você está fazendo? - Perguntou a garota.

 - Eu vou procurar uma lanterna. Aí você desce e consertamos tudo. - O sorriso dela acalmou um pouco a treinadora, que ficou observando ela descer lentamente a escada. Kari olhou para o aposento, e um par de olhos surgiu na escuridão.

 - Liz, cuidado!  - Gritou. Um monstro humanóide surgiu em seu campo de visão. Tinha braços e pernas extremamente longos, pêlos rosas e orelhas pontudas, e não se parecia com qualquer Pokémon existente. Seu rosto ainda estava sombreado pelas trevas, mas roupas rasgadas podiam ser vistas por todo o corpo. A criatura começou a subir as escadas, e Liz estava paralisada um pouco acima.

Kari se viu em uma situação que a lembrava do ataque Rocket no Monte da Lua. Todos os seus instintos a diziam para fugir e procurar ajuda, mas ela não podia fazer isso se fosse deixar alguém com problemas. E nesse momento, Liz estava em apuros. Assim, sem pensar nas consequências, saltou em cima da criatura.

Se chocou contra o tronco superior do monstro, e ambos caíram da escada. Kari bateu com as costas no chão de pedra, e sentiu uma dor laçante na coluna, assim como todo o ar escapando dos pulmões. Mesmo assim, tentou voltar a se levantar, e viu a criatura em pé perto dela.

 - Peeedraa da Luuuuua... - Disse o monstro, estendendo o braço peludo para a mochila de Kari, que estava estupefata. O grito que tinha ouvido antes era desse ser. Antes que conseguisse fazer mais alguma coisa, a Wigglytuff saltou e deu um chute no monstro. O impacto foi bem forte, e ele bateu na parede do outro lado do aposento.

 - Liz! Espere! Acho que é ele que havia gritado antes! - Gritou Kari, se levantando com dificuldade.

 - Mesmo? Oh, céus. - Elas observaram o ser se levantar, afastando pedaços de uma prateleira que havia atingido. O monstro balançou a cabeça, voltou a enfocar a garota e repetiu: - Peeeedra da Luuua...

Kari tateou até achar a abertura de sua mochila, pendurada em suas costas. Retirou do bolso lateral uma pequena rocha cristalizada que havia coletado no Monte da Lua, e estendeu à criatura. Ela pegou de suas mãos com velocidade, e correu até uma estranha cabine mecânica. A treinadora não conseguiu ver o que ele estava fazendo, mas de repente as luzes voltaram. Ela protegeu os olhos com o braço, afetada pela claridade inesperada. Pelo canto da visão, viu o ser entrar em outra cabine, conectada por tubos e cabos à primeira, e um forte brilho saiu da máquina, cegando a garota ainda mais. Finalmente, a porta pneumática da segunda cabine se abriu, e um jovem saiu de lá.

O jovem era pálido e não muito alto, com corpo fino e cabelo castanho selvagem. Ele estava saindo da cabine quando se lembrou que Kari estava no aposento. Voltou correndo para dentro da máquina, e falou:

 - Escute, moça, poderia me fazer um favor? Eu meio que... precisava de uma nova leva de roupas. Poderia pegar no meu quarto no segundo andar?

Algum tempo depois, ele estava vestido em frente a um computador, digitando ferozmente. Kari e Liz estavam apoiadas na parede, esperando o homem terminar. Ele havia recebido as roupas e corrido direto para analisar dados, parando apenas para agradecer e informar que seu nome era Bill, o famoso cientista.

Finalmente, o rapaz fechou seu laptop e suspirou com seus olhos fechados. Se virou para Kari e disse: - Peço perdão por fazê-la esperar. Imagino que queira saber o que aconteceu exatamente aqui.

 - Não, imagina. - Disse ela, fingindo indiferença.

 - Bem, eu estava pesquisando sobre teleporte. Como você sabe, eu criei o programa PC BOX, que gerencia Pokébolas extras de treinadores. No desenvolvimento desse projeto, conseguimos um dos ápices do desenvolvimento tecnológico humano, o teleporte. Infelizmente, é restrita aos objetos, então passei a pesquisar sobre isso, patrocinado pela companhia Silph. No caso, percebi que o combustível perfeito para meu experimento seria... a Pedra da Lua.

Ele apontou para a cabine, e Kari percebeu uma pequena gaveta metálica, com fragmentos de rocha enchendo-a. 

 - Foi por esse motivo que eu me mudei para perto do Monte da Lua.  - Continuou Bill. - No caso, pelo visto eu acabei usando uma quantidade muito grande, o que afetou a rede elétrica.

 - E o que o fez virar aquela coisa?  - Perguntou Liz.

 - Infelizmente há uma propriedade extra nessas rochas. Há uma... ligação entre Clefairys, Clefables, Cleffas e vários outros Pokémon com Pedras da Lua. Estão pesquisando sobre isso no Centro Espacial de Hoenn,  senão me engano. Sinto que foi isso que me fez transformar naquele híbrido de Clefairy e humano há pouco tempo. 

 - E minhas Pokébolas? Elas não funcionam aqui em sua casa. - Perguntou Kari.

 - Isso é um efeito colateral das minhas máquinas. Há muita interferência dessas esferas com meus equipamentos, então programei para que elas se desabilitassem. Não se preocupe, é uma área de ação, então se você se afastar tudo deve voltar ao normal. 

 - Entendo. - Disse a garota.

 - Agora, uma pergunta minha. Não que eu queira ser ingrato, mas qual era o motivo de invadir minha casa?

O rosto de Kari ficou vermelho. - Ah, bem... - Ela tentou se lembrar do motivo, sentindo que fazia anos desde que tinha entrado na mansão. - Eu estava procurando por Misty.

 - Ah, é isso? Bem, você quase a encontrou. Ela e o namorado passaram aqui perto quando eu estava voltando pra casa. Se eu não me engano, estavam voltando a Cerulean.

 - Que perfeito. - Disse a garota, revirando os olhos para o teto. - Me desviei tanto do meu caminho por nada. 

 - Devo discordar. Você me salvou, e eu não sou do tipo de pessoa que não agradece pela ajuda. Aqui... - Ele pegou um papel laminado dourado de uma gaveta em sua escrivaninha. - ... está um ingresso para o S.S.Anne. É um cruzeiro que sai de Vermillion daqui a uma semana, então você deve ter tempo para chegar lá. Eu tinha recebido da Silph por serviços prestados, mas a vida ao ar livre não é exatamente a minha praia. 

 - Uau, muito obrigado! - Disse Kari, guardando o bilhete. 

 - Então acho que é isso por essa noite. Sinto muito, mas foi uma noite longa. Irei me recolher aos meus aposentos.

 - Sim, sim, claro. - Falou a garota, ainda distraída pelo ingresso do S.S.Anne. - Eu... queria fazer apenas mais uma pergunta.

 - Fale.

 - Bem, eu notei diversas estátuas de Eevees na mansão, e coisas no seu quarto me fazem perguntar...  - Antes que terminasse, ela viu o rosto de Bill ficar vermelho-púrpura. Percebendo que tinha tocado em um assunto delicado, saiu de fininho da mansão, puxando Liz.

terça-feira, 12 de março de 2013

RN Nuzlocke LG: 11 - O Cabo de Cerulean


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 11: O CABO DE CERULEAN


A Ponte Dourada, que dividia a cidada propriamente dita de Cerulean e seu cabo, era conhecida por ser um ponto de encontro de treinadores. Várias batalhas aconteciam constantemente no lugar, causando grandes gastos em manutenção, mas a polícia já era muito ocupada com os Rockets para vistoriar as batalhas. E, no início dela, estava Kari, sentada perto do corrimão quebrado.

Ela estava considerando o que Gary havia falado, sobre ele ter mais direito do que a garota. O sol começava a descer quando ela se levantou, se esticando. Depois de algum tempo pensando, percebeu que não havia muito o que fazer. Ela tinha certeza de que seu sonho era ser Campeã, não importando o que ele achasse. E, de qualquer jeito, Gary não tinha o que se meter em sua vida e no que fazia. Quando fosse Campeã iria mostrá-lo. Se virou para o norte, e percebeu vários treinadores batalhando e procurando batalhas. Soltou seus Pokémon e seguiu para o norte.

Eles seguiram derrotando todos os adversários com que cruzaram os olhares. Zelda e Sara lideraram a equipe até o fim, deixando Nala irritada. 

 - Quer dizer que apenas elas lutam nesse time? - Perguntou a Raticate, ao derrotarem o quinto treinador seguido. Kari colocou as mãos nos bolsos e respondeu:

 - As duas são as mais novas da equipe, Nala. Elas precisam treinar mais do que vocês.  - Nala sentiu algo estranho na voz dela, mas decidiu sair de perto em vez de questionar. A treinadora suspirou e seguiu em frente. Havia apenas mais uma pessoa na ponte, um homem alto e moreno, vestido com um sobretudo longo e negro. Ele percebeu a garota se aproximando e começou a bater palmas.

 - Parabéns, treinadora. Devo-lhe dizer que você é a vencedora do desafio da Ponte Dourada! - Kari estreitou os olhos enquanto o homem procurava algo na mochila.

 - Havia um... desafio? - Toda a mente dela ficou branca quando viu o que o homem tinha nas mãos. Uma enorme pepita dourada, de quase dez centímetros de diâmetro, brilhava à luz do sol. Ela estendeu as mãos para recebê-la. Estava quase segurando-a quando o homem a afastou.

 - Na-na-na. Primeiro gostaria que você respondesse um pequeno questionário. Nada mais justo, não acha? - perguntou ele, voltando a colocar a pedra na mochila.

 - Eu acho que sim. - respondeu Kari, voltando à realidade um pouco inconformada.

 - Certo. Meu nome é Shane. - Ele apertou a mão da treinadora fortemente. - Na verdade, é um pouco mais simples do que um questionário. Sabe, faço parte de uma organização bastante importante e em alto crescimento, e estamos precisando de treinadores fortes para nos ajudar em projetos futuros.

 - Hm. O que exatamente eu faria? - Perguntou Kari. Não estava convencida de que iria aceitar essa proposta caso interferisse com seus planos de ser Campeã.

 - Bem, no momento estamos organizando uma viagem em busca de indicações de Pokémon lendários.

 - Ah. Sinto muito, mas não poderei aceitar. - Ela inclinou o corpo em respeito, do jeito que Sara havia ensinado. - Meus planos no momento não incluem viagens longas.

 - Bem, então vou ter que pedir insistentemente. - Shane se aproximou dela, que recuou. - Sabe, você tem bastante potencial. Poderia até se tornar uma líder nata em nossa organização. No entanto, não se preocupe. - Ele retirou uma Pokébola do bolso. - Farei uma oferta que você não pode recusar. - Ele soltou um Zubat, que voou direto para a cabeça de Kari. Ela se protegeu e soltou uma Pokébola aleatória como reflexo. Zelda foi liberada, e inteceptou a adversária antes que atingisse sua treinadora.

Shane liberou então sua Ekans, Pokémon parecido com uma cobra peçonhenta de cor roxa com detalhes amarelos, de quase dois metros e um chocalho na ponta da cauda. No entanto, Kari tinha se recuperado, e mandou Sara para lutar. A Sandshrew saltou e atingiu a adversária no crânio, instantaneamente fazendo-a desmaiar. Pelo canto do olho, a treinadora viu Zelda derrotando a outra Zubat.

 - Bem, agora podemos conversar com calma? Que tipo de organização é essa? - Ela foi se aproximando de Shane, pronta para tirar a verdade do homem. No entanto, antes que pudesse falar mais alguma coisa, ele saltou da ponte em direção ao rio. Kari correu até o corrimão, e avistou-o nadando em direção a Cerulean. - O que diabos foi isso? - Perguntou exasperada. 

 - Muito provavelmente era um recrutador Rocket. Eles fazem de tudo para não serem capturados. - Disse Sara ao seu lado.

 - O quê? Ele era um Rocket?

 - Sim. Eles geralmente procuram treinadores fortes em locais de batalhas para colocá-los na organização. E pelo visto -- Ela se esticou para observar o rio correndo embaixo delas. - Fazem de tudo para não serem capturados. 

 - E pensar que um deles quase me pegou desprevenida... - A treinadora ficou quieta, fitando a água cristalina se movimentando a quase vinte metros abaixo deles. - Não podemos ficar despreparados.  - Disse finalmente. - Daqui a pouco eu começarei a ser identificada por eles. Precisamos intensificar os treinamentos. Inclusive, Sara. - Ela fitou de forma séria os pequenos olhos da Sandshrew. - Eu preciso conversar com você sobre uma coisa em que estive pensando. 

Passaram as horas seguintes treinando Zelda e Sara, que estavam próximas da evolução, em  um pequeno gramado selvagem na encosta de uma formação montanhosa à nordeste da Ponte Dourada. Enquanto estiveram lá, Kari capturou um Bellsprout, ser parecido com uma planta de setenta centímetros, com corpo finíssimo, duas folhas verdes de cada lado do corpo, pés parecidos com raízes e uma cabeça amarela com formato de um sino, com lábios rosas. Se chamava Bernard, e era bastante sério. 

No entanto, antes que pudessem conhecê-lo melhor, ele foi mandado para o laboratório do professor Carvalho. Isso acontecia porque, já que cada treinador só poderia dispor de seis Pokémon, as Pokébolas estavam programadas para serem mandadas para um lugar pré-indicado. Inclusive, o homem responsável por essa tecnologia, chamado Bill, morava em uma pequena mansão no fim do Cabo de Cerulean.

Um pouco depois disso, Zelda e Sara evoluíram depois de várias batalhas com Pokémon selvagens. Zelda se tornou uma Golbat, um morcego azul de quase um metro e sessenta de altura. Possuía asas roxas gigantescas e um corpo cilíndrico e fino, com uma enorme boca negra ocupando noventa por cento do corpo. Já Sara havia se tornado uma Sandslash, Pokémon parecida com uma Pangolim de um metro de altura, com corpo amarelo e longos espinhos em formato de penas, marrons e afiados. Possuía garras longas, e sua pele era bastante seca.

 - Ah, que ótimo. - Disse Nala assim que eles evoluíram. - Agora o resto de nós pode voltar a lutar? - Ela estava em pé perto deles, enquanto Liz, Wanda e Kenichi estavam espelhados pelo cenário, visivelmente entediados.

 - Ah, me desculpem. - disse Kari, envergonhada. - Não se preocupem, eu soube que vários treinadores costumam lutar no caminho até a ponta do Cabo de Cerulean, então teremos atividade para todos. 

 - Espero mesmo. Preciso estar em forma quando derrotar todos os Pokémon de Misty.

 - Nala, sobre isso... - Kari olhou para um canto, encabulada. - Eu planejo usar Liz e Wanda no ginásio.

Uma série de sons e reações propagaram depois disso. Liz estava surpresa, assim como Wanda, mas Nala se enfureceu. Para controlá-la, a garota a retornou para a Pokébola, olhando de soslaio para Sara, que acenou com a cabeça.

Seguiram pela rota 25, que ligava a Ponte Dourada ao fim do Cabo de Cerulean. Realmente, haviam vários treinadores, no entanto o que mais chamava atenção eram os namorados no lugar. O sol já começava a se pôr, e casais pipocavam de cada canto escuro. Kenichi e Kari andavam pela areia, desviando de pessoas se beijando e procurando Misty.

 - Fico feliz de ver que tenho motivos para desprezar os ceruleanos além das piadas bairristas da internet. A idéia do decoro pelo visto ainda não chegou ao norte de Kanto. - disse Kari, saltando por cima de roupas emboladas de um casal no mar.

 - Você só diz isso porque está encalhada. Se alguém quisesse namorar com você, tenho certeza de que seria a primeira a reservar lugares aqui no Cabo. - disse Kenichi atrás dela.

Uma veia na têmpora de Kari saltou enquanto ela respondia: - Primeiro, eu gostaria de dizer que apenas não encontrei ninguém especial. Não sou do tipo de garota dependente que necessita desesperadamente de um qualquer para ser feliz. Segundo, eu tenho certeza de que eu teria modos para me portar em público.

 - Certo. Me diga uma coisa, Kari: Você já beijou alguém?

O rosto de Kari ficou mais vermelho do que Kenichi, e começou a falar rapidamente e sem pausas. - Sim, claro, tenho dezoito anos, Kenichi, que tipo de pessoa eu seria se não tivesse beijado ninguém, assim tão velha? - Terminou rindo baixinho, olhando nervosamente para o Charmeleon, que estava com os braços cruzados e uma expressão zombeira no rosto.

 - Então isso é um não.

 - Sabe, Kenichi, esse lugar é bastante romântico. Que tal nós chamarmos sua namorada? - Kari liberou Wanda da Pokébola. - Wanda, Kenichi disse que queria aproveitar esse lugar com você. - O Charmeleon ficou branco, e a Beedrill não poderia estar mais alegre.

 - Ah, é sério, Kenichi querido? Oh, como eu sonhei por esse dia! Sempre ouvi falar que o Cabo de Cerulean era um dos lugares mais românticos de toda Kanto, mas qualquer canto do mundo é perfeito com você, Kenichizinho, e agora poderemos aproveitar todo nosso amor!

 - Sai daqui! - Gritou ele, correndo pela praia, com Wanda em seu encalço.

Eles andaram por mais uma hora, até que a chuva surgiu de forma terrivelmente rápida, acertando-os em cheio. A noite se escureceu a ponto de Kari mal conseguir ver suas mãos, exceto por quando os relâmpagos cruzavam o céu negro. O forte vento quase lançava a garota para longe, e ela caiu na areia molhada várias vezes.

 - Eu acho que o céu está caindo! - Gritou Kari para Liz, cobrindo o rosto para proteger os olhos da chuva forte. Seus outros Pokémon haviam retornado para suas Pokébolas, mas Liz preferiu permanecer ao lado da treinadora, e agora pagava o preço por isso.

 - Não tem nenhum lugar para nos abrigarmos? - Gritou a Wigglytuff. Kari tentou ver mais à frente. Um raio transpassou o céu, e ela conseguiu visualizar uma pequena mansão ao fundo, no fim do cabo. 

 - Tem uma casa mais à frente! É nossa melhor chance! - Uma onda vinda do mar revolto quase as acertou, e elas começaram a correr. O vento forte era traiçoeiro, e Kari se viu jogada por ele várias vezes, até que finalmente alcançaram a mansão. A garota se jogou contra as portas duplas de madeira, encharcada e cheia de areia, e bateu forte. A chuva continuava caindo em cima delas.

 - Alguém? Alô! Tem alguém aí? - Ninguém respondeu. As gotas caíam nela que nem marretas, e Liz também não parecia muito melhor. Finalmente, a treinadora desistiu de esperar e tentou girar a maçaneta. Para sua surpresa, a porta estava aberta. Sem pestanejar, entrou na mansão.

Lá fora, a chuva continuava caindo.

quarta-feira, 6 de março de 2013

RN Nuzlocke LG: 10 - Aqueles que mais merecem

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 10: AQUELES QUE MAIS MERECEM

- Kari.

Gary estava parado na entrada da ponte, olhando para Kari de braços cruzados. Sua expressão parecia triste até ele ver a garota, quando adotou uma postura zombeira, com um sorriso maldoso e olhar superior.

 - Vejo que você conseguiu chegar em Cerulean. Tinha medo de que você ainda estava se debatendo na floresta de Viridian ou no Monte da Lua. Sabe, chegar até aqui já deve ser a maior conquista da sua vida.

 - O que você quer, Gary? Quer apanhar de meus Pokémon de novo para sair chorando? - disse ela, cruzando os braços. O garoto ficou com o rosto vermelho, e quase cuspiu quando respondeu.

 - O que você sabe-- não. - Ele fechou os olhos suspirou, e colocou as duas mãos em frente ao corpo, com as palmas viradas para a treinadora, se acalmando. - Vamos com calma aqui. Kari, Kari, Kari.  - Gary sorriu, e abriu os olhos para ela encolhendo os ombros. - Por quê continuar seguindo esse caminho? Uma hora você sabe que alguma coisa realmente ruim vai acontecer com você. E nós dois sabemos -- Ele deu uma pausa, encarando-a com olhos frios -- que você não vai se recuperar da queda.

Agora foi a vez de Kari ficar tingida de vermelho. Ela andou até Gary, até que ficou cara a cara com ele, suspirando com raiva.

 - Isso não irá acontecer dessa vez.

 - Você tem certeza? Acho que deveríamos descobrir. 

Kari se afastou, e deu alguns passos para longe, limitando a arena improvisada que usariam. - Quero que saiba que esta é a última vez, Gary. Eu vou acabar com você e fazê-lo voltar chorando para Pallet.

 - Ah, ficou irritada? É porque eu te lembrei de quem você realmente é?

Foi a gota d'água.

 - Sara, vá! - A Sandshrew sai da Pokébola, e ficou aguardando o movimento do adversário. Gary apenas riu.

 - Eu não sei se você reparou, mas meu Pokémon já está na fora da Pokébola há muito tempo. Hermes, ataque rápido!

Um borrão agitou o vento, e acertou Sara em cheio. Ela foi arremessada para a borda da ponte, quebrando-a, mas conseguiu se agarrar no corrimão antes de cair no rio.

 - O que é isso? - perguntou Kari revoltada. Gary estendeu o braço, e um Pidgeotto, pássaro de mais de um metro semelhante a uma ave de rapina, pousou em seu braço. Tinha plumagem marrom e amarela, com a cauda e a plumagem longa que saia da cabeça variando de vermelho a amarelo. Seus olhos tinham marcas negras por volta, e um olhar sério. Seu treinador riu.

 - Desculpa não ter te avisado, mas Hermes evoluiu no Monte da Lua. 

 - Isso pouco me importa. - disse Kari, enquanto observava Sara se levantar com dificuldade. - Você não avisou que ele estava fora da Pokébola.

 - Bem, não é culpa minha se você não presta atenção na arena. - disse Gary, encolhendo os ombros.

Kari mordeu a língua. Retórica não adiantaria nada nessa hora. Se virou para Sara.

 - Você está bem?

 - Oh, sim. Foi uma surpresa admito, mas... não irá acontecer de novo.

 - Ora, ora, temos uma falastrona na sua equipe. Hermes, cuide disso. - O Pidgeotto levantou vôo, e voltou a mergulhar contra Sara, que estava de olhos fechados.

 - Sara! - Kari gritou. Nunca havia visto ela em uma luta, e pensou agora se havia sido uma boa ideia estreá-la justamente contra Gary. Hermes se aproximava, mas a Sandshrew continua imóvel.

O golpe parecia iminente, mas Sara se jogou de encontro ao adversário nos últimos instantes. O Pidgeotto, surpreso, tentou desacelerar, e ela aproveitou a indecisão para segurar sua cabeça e mergulhá-la no chão. 

 - Hermes, tire ela de cima de você! - Gritou Gary, vermelho.

O pássaro balançou as asas, e soltou uma lufada de vento que fez Sara voar cinco metros. Enquanto ela ainda estava no ar, ele alçou vôo e acelerou para acertá-la novamente, mantendo-a no ar. 

 - Sara! - disse Kari, vendo Hermes fazer a volta para atingi-la novamente. Apertou sua Pokédex enquanto o Pidgeotto se aproximava. Quando o impacto era certo, a Sandshrew girou o corpo e segurou-o. Seu peso o forçou para baixo, e ambos caíram a uns cinco metros da arena, levantando a poeira da ponte. Quando a poeira baixou, apenas Sara estava em pé. 

 - Não fique tão animada! - disse Gary, recuando Hermes e liberando Titã, o Squirtle, para a batalha. Kari recuou Sara, pensou, e mandou Zelda. A Zubat voou de encontro ao adversário, e ficou girando em torno dele.

 - Titã, modo defensivo! - gritou o garoto, ainda rubro. O Squirtle se escondeu em seu casco. Zelda estava prestes a acertá-lo, mas cancelou o movimento no último segundo, voltando a circular Titã.

 - Zelda, plano B! - disse Kari. A Zubat soltou um som agudo, que reverberou visivelmente no casco do adversário. Os olhos de Titã saíram de foco e voltaram, e ele tirou a cabeça do casco para chacoalhá-la. Aproveitando a chance, Zelda lançou uma série de ataques nele, fazendo-o perder o equilíbrio várias vezes. Quando conseguia dar um golpe, Titã acaba se atingindo, até que finalmente ele caiu desmaiado.

 - Ora, ora, Gary. Da última vez você me deu mais trabalho.  - disse Kari cruzando os braços, com Zelda pousando em seu ombro. Se Gary pudesse explodir, ele já teria feito isso, pois seu rosto estava roxo e suas mãos tremiam ao pegar sua última Pokébola.

 - Cale a boca. Cale a boca! Merlim, acabe com eles! - Ele lançou um Abra, Pokémon bípede de quase 90 centímetros, com cauda longa e rosto de raposa. Seus olhos eram bem fechados, e parecia usar uma armadura marrom na parte superior do tronco. Zelda logo saiu do ombro de Kari, e foi voando em disparada para acertar o novo adversário. No entanto, ele se teletransportou, e Zelda acabou acertando o chão com força.

 - O que diabos foi isso? - perguntou ela, vendo o Abra no topo do corrimão da ponte. Voltou a tentar atacá-lo, mas ele se teletransportou de novo. Um jogo de gato e rato se seguiu, com os dois fugindo e perseguindo pelo cenário, criando tempo para os dois treinadores se encararem.

 - Gary. - disse Kari de forma séria, se aproximando do rival. - Dá pra ver que seu Abra não tem golpes de ataque. O que você está tentando fazer?

Ele abaixou o rosto, e fechou as mãos em punho. Por um sério instante, Kari pensou que ele iria acertá-la, mas ele aliviou o corpo e voltou a encará-la, sorrindo de forma zombeira como sempre.

 - Vejo que dessa vez não deu certo. Mas não se preocupe, Kari, na próxima vez eu te faço voltar a Pallet chorando.

A garota quase perdeu a cabeça, e só voltou a si quando percebeu que estava segurando o colarinho de Gary com as duas mãos, inclinando a cabeça para cima, a fim de olhá-lo nos olhos.

 - Pare com isso, Gary, eu estou te avisando.

Ele segurou suas mãos, e forçou-a a largá-lo. - Deixe-me dizer uma coisa, Kari. Algo muito importante. Eu farei de tudo para ser Campeão. E me irrita ver que você não se importa tanto, já que supostamente também quer ser Campeã. Você adora dar voltas, passear, descansar em sua jornada. Eu não. O único propósito de eu estar nessa jornada-- ele largou as mãos dela, e ajeitou a camisa. -- é vencer a Liga.

 - Você fala como se eu não quisesse isso também. Saia de seu mundo próprio e saiba que outros também tem o mesmo sonho que você, Gary.

 - MAS EU MEREÇO MAIS! - A ponte ficou em silêncio, exceto por reclamações ao longe de Zelda. Ele suspirou, e andou para longe dela. Deu alguns passos, e parou, colocando as mãos no bolso. - Farei de tudo para aqueles que realmente merecem tenham chance de ser Campeões, Kari. 

 - E quem são essas pessoas? - perguntou ela.

 - Aqueles que vivem para isso. - Ele voltou a andar para Cerulean. Seu Abra se teleportou para perto, e ele o retornou para a Pokébola, para raiva de Zelda. Kari fez ela voltar também, e ficou observando-o sumir no horizonte.

sábado, 2 de março de 2013

RN Nuzlocke LG: 9 - A pequena sábia


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 9: A PEQUENA SÁBIA.

A Rota 4, localizada entre duas cadeias montanhosas assim como a Rota 3, parecia uma grande bagunça divina. Pequenos bosques se espalhavam pelo cenário tal qual manchas em uma camisa suja, e elevações salpicavam a estrada, tornando impossível simplesmente andar reto. Kari e companhia haviam saído do Monte da Lua, e cruzaram o caminho de um grupo de policiais esbaforidos correndo na direção contrária. Bem, antes tarde do que nunca, pensou ela. Os oficiais estavam tão distraídos que nem perceberam a garota andando pela estrada, fazendo ela questionar sobre a capacidade deles, embora fosse bem fácil perceber os Rockets adormecidos na saída da caverna.

Ao andar pela estrada, Kari tinha sensações estranhas. Uma aura parecia emanar de todos os lugares, fazendo o ar vibrar timidamente e causando pequenas dores de cabeça nas pessoas. Além disso, ela tinha certeza de que estava sendo observada, se virando várias vezes para encontrar nada. Sob essas condições enervantes, apressavam o passo a cada hora, contornando bosques e elevações.

Depois de algumas horas na estrada, ouviram sons de luta ao longe, e observaram dois caratecas em seus kimonos brancos a duzentos metros, dando golpes um no outro. O homem de cabelo espetado, mais alto, só utilizava de socos, enquanto o careca baixo abusava dos chutes. Os dois pararam ao ver Kari e seu time se aproximando, e imediatamente terminaram a batalha.

- S-senhorita Sara? - disse um deles. Eles inclinaram o corpo em direção a Kari, como forma de respeito. Seus Pokémon olharam para ela, que demonstrava confusão.

- A-acho que vocês estão me confund--.

- Podem descansar, senhores. Não precisam ser tão formais. - disse uma voz atrás dela. Eles se viraram, e  ali estava uma pequena Sandshrew, ser parecido com um rato de sessenta centímetros e pele composta de pequenas carapaças amarelas, exceto pela barriga branca. Como ela apareceu ali, pensou Kari, enquanto a Pokémon caminhava lentamente até os caratecas.

- Como foi o ataque aos Rockets, senhorita Sara? - disse o homem de cabelo espetado, se levantando com seu companheiro calvo.

- Ah, eu tive uma grata surpresa. Infelizmente, claro, a maioria conseguiu escapar, mas essa pequena treinadora enfrentou um pequeno grupo deles. Muito bom, de fato. Excelente, considerando a situação. - Ela olhou para Kari, que percebeu um estranho brilho nos olhos negros da Sandshrew.

- Ahn... o quê? - perguntou a garota, sem conseguir entender nada do que estava acontecendo.

- Criança. - começou a Sandshrew, colocando os braços curtos atrás do corpo. - Você sabia que meus dois discípulos aqui atrás possuem habilidades físicas impressionantes? E o melhor de tudo, eles estão dispostos a ensinar suas artes, mesmo em pequena quantidade, a seus Pokémon. O que me diz?

- Eu estou nessa! - gritou Kenichi, se adiantando. O carateca que utilizava apenas socos riu, enquanto o homem dos chutes olhou para Nala e Liz, analisando-as de cima a baixo, até que aparentemente preferiu por Liz e disse:

- Aquela ali tem potencial. Eu estou disposto a ensiná-la, assim como a mestra Sara pediu. - Liz o encarou, enquanto Nala se revoltava silenciosamente.

- Perdão? O senhor tem certeza?

- Liz, eles vão nos ensinar golpes supremos! Vamos logo! - Ele segurou a mão da Wigglytuff e a levou até os lutadores, animado como uma criança na véspera do Natal. Kari estranhou, pois geralmente Kenichi não   se aproximava de garotas, mas haviam coisas mais importantes a considerar agora. Ela pediu para seus Pokémon seguirem os dois, ficando sozinha com a Sandshrew.

- O que está acontecendo aqui? - perguntou ela, cruzando os braços.

- Primeiro de tudo, sinto muito. Não me apresentei. Meu nome é Sara. - disse a Sandshrew, se inclinando respeitosamente.

- Kari.

- Pois bem, senhorita Kari. Eu dediquei minha vida inteira a ensinar os treinadores que considerava aptos a fazer o certo. Ou seja, tomar as decisões certas, seja em batalhas, relacionamentos e principalmente em virtudes. E, no momento, há uma organização que reconheço como o oposto do que tento ensinar. Você os conheceu, são os Rockets. Infelizmente, todos os treinadores que encontro parecem ter muito... medo deles, e nenhum decide enfrentá-los. Então, quando ouvi de uma incursão Rocket no Monte da Lua, fui lidar com eles sozinha. Tal qual foi uma surpresa quando descobri que havia alguém pronta para enfrentá-los também.

- Me desculpe. - disse Kari, estendendo as mãos. A Sandshrew falava demais. - Mas não sei onde você quer chegar.

- Bem, receio que eu tenha de ser mais direta. - Sara se ajoelhou. - Peço encarecidamente que você me aceite em sua equipe.

- O quê? - Kari estava esperando por muitas coisas, menos isso.

 - Veja, eu já vi muitos treinadores passarem. Muitos deles eu fiz questão de guiar, ensinar e melhorar suas capacidades. No entanto, nunca vi ninguém encarar uma organização criminosa sozinho. Eu vim te seguindo por algum tempo, e vi como trata seus Pokémon, muito diferente do rapaz de cabelo laranja que passou um pouco antes. Há algo bastante especial em você e no seu futuro, Kari. - Ela levantou a cabeça e encarou a garota. - E eu quero fazer parte dele.

Kari ficou constrangida. Já havia recebido elogios, mas nenhum deles foi tão elaborado quanto a da pequena Sandshrew. Tentou pensar racionalmente, mas havia sido conquistada. Bem, pensou, ela tem retórica, isso eu tenho que admitir. - Certo. Bem-vinda à equipe.

Sara soltou um sorriso, e se levantou. - Pois bem, devo pedir então para que você passe algum tempo aqui, enquanto meus companheiros treinam seus Pokémon. Não se preocupe, não deve durar mais de dois dias.

E então ficaram na Rota 4 por mais algum tempo, enquanto os caratecas treinavam Liz e Kenichi, e Kari e Sara conversavam. A Pokémon tinha histórias fascinantes de diversos treinadores que ali haviam passado, alegando que tinha conhecido Lance, o atual Campeão, em sua jornada. Mais do que isso, Sara tinha uma profunda sabedoria, que agradava profundamente a Kari, que sentia a falta de alguém com mais experiência em sua equipe.

Voltaram à estrada na manhã do terceiro dia. Sara se despediu de seus companheiros, e seguiram o caminho até Cerulean. Kenichi estava visivelmente empolgado com a força descoberta em seus punhos, e fazia questão de demonstrar em toda árvore seca que cruzava seu caminho. Liz, por outro lado, não fazia muita questão disso.

Finalmente chegaram a Cerulean, sete dias depois que atravessaram o Monte da Lua. O relógio marcava meio-dia, e o sol finalmente havia aparecido depois de vários dias nublados, banhando a maior cidade que Kari já vira. As construções se estendiam até onde a vista alcançava, e enquanto a porção norte e leste eram limitadas por um grande rio, o resto da cidade se espalhava aleatoriamente. A maior parte dos edifícios  não passava de três andares, e tinham uma notável coloração azul, seja nas telhas ou nos tijolos. Segundo Sara, isso era por causa da identificação do povo com o Ginásio de Cerulean, embora recentemente as relações com a atual líder, Misty, não fossem das melhores.

Kari também notou a grande quantidade de policiais. Cerulean possuía o maior departamento de polícia de toda Kanto, e isso se mostrava nas ruas, onde a cada quarteirão havia uma dupla de oficiais. Entretanto, isso não controlava os Rockets, fazendo o nível de criminalidade só não ser maior do que Celadon, embora muitos dissessem que era por causa da corrupção local, e não dos Rockets. A treinadora andou pelas ruas, sentindo o olhar vigilante de vários policiais em suas costas, embora nenhum deles tivesse a parado. Assim, chegaram ao centro comercial, e Kari pediu para se apressarem.

 - Por favor, vamos andar rápido. Eu detesto olhar para lojas quando não tenho dinheiro. - Ela estava com os olhos semicerrados, procurando evitar contato visual com as vitrines.

 - Eu não entendo. Você já gastou todo o dinheiro que ganhou ao derrotar Brock? - Perguntou Sara à sua direita.

 - Como assim, dinheiro ao derrotar Brock? - Perguntou Kari, parando.

 - A Liga oferece uma recompensa financeira ao derrotar os líderes de ginásio. Eles devem ter depositado na sua conta vinculada ao seu ID. Você não sabia disso?

Kari ficou calada, enquanto as engrenagens em seu cérebro giravam. - Você quer dizer... que eu tenho dinheiro?

 - Um bocado, se não estou enganada.

 - Moças. - disse Kari, baixinho, enquanto Kenichi fazia uma reclamação. - Vamos às compras. - Ela se virou imediatamente para a loja à esquerda, e seguiu andando rápido. Liz, Wanda, Zelda e Sara a acompanharam, enquanto Kenichi resmungou e se sentou do lado de fora, acompanhado por uma Nala bem irritada.

Dentro da loja, Kari se sentia no paraíso. Nunca teve muito dinheiro para gastar, e de repente tinha crédito extra. Ela passava pelas roupas, colocando várias em uma sacola. Liz e Wanda a acompanhavam. A primeira sem falar muito, e a segunda tão agitada quanto a treinadora.

 - Liz, querida, olhe o que eu achei pra você!. - Wanda segurava um pequeno laço vermelho, e colocou-o nas orelhas da Wigglytuff. Ela se olhou rapidamente no espelho, e tentou tirá-lo.

 - Ah, eu não sei. Não sou eu que vou estar pagando por isso.

 - Bobagem, Liz! - Disse Kari, usando óculos escuros gigantes, um casaco de marca e uma tiara decorada com pequenos brilhantes. - Hoje é tudo por minha conta! É o dia em que poderemos ser princesas, rainhas, ou qualquer outra coisa que... quisermos? - Ela ouviu um estranho barulho de vidro quebrando ao longe. Se virou para a origem, sentindo uma estranha sensação de pavor. A cada segundo, mais estragos pareciam acontecer, enquanto coisas provavelmente caras encontravam seu fim. Kari se encolhia lentamente, sentindo o que estava por vir. Finalmente, Zelda surgiu de um corredor, com uma pequena coroa em sua cabeça.

 - EU QUERO ESSE! - Gritou, voando em círculos. Nesse movimento, acabou derrubando um cabide de roupas próximo. 

Kari colocou a cabeça lentamente no corredor, observando a enorme destruição que a Zubat fez. Vidros quebrados, jóias jogadas e cabides caídos se estendiam até onde seus olhos alcançavam. Um guarda vinha seguindo pelo corredor, e a garota voltou lentamente à sala, se encolhendo totalmente.


Do lado de fora, Kenichi estava treinando seus socos, observado por Nala.

 - Não devíamos ter parado. Tenho certeza de que aquele treinador de cabelo espetado está na nossa frente. - disse Nala, resmungando.

 - Não se preocupe. - disse Kenichi, socando o ar. - A próxima vez que o encontrarmos eu vou acabar com todos os Pokémon dele num só soco.

Nala virou o rosto, e falou bem baixo. - É fácil para você ser otimista.

Kenichi terminou de socar o ar, e se virou para ela. - O que quer dizer com isso?

 - Quero dizer que você é um Charmeleon. Um Pokémon raro, e muitos treinadores desejam um Charizard em sua equipe. Eu? Sou membro da família Rattata, o que significa que ninguém me dá o retorno esperado.

 - Onde quer chegar? Pensei que estava nessa para provar que Rattatas podem ser campeões.

 - Exato. E não é gastando tempo em compras que eu vou conseguir fazer isso. Devemos ser diretos, maldição!

 - Escute. Você conhece Kari há quase tanto tempo quanto eu. Ela precisa dessas paradas. Faça que nem eu, e treine enquanto isso.

Nala voltou a resmungar, e o resto da equipe saiu da loja. Kari tinha uma expressão terrível no rosto.

 - Bom, espero que tenham curtido os dois minutos mais ricos da minha vida, mas graças a nossa querida Zelda eles chegaram ao fim. - Disse ela, parecendo controlar a voz a cada sílaba.

 - Mas eu consegui meu laço. - disse calmamente Liz ao seu lado, parecendo incrivelmente feliz.

 - Sim. Os funcionários deixaram ela ficar com o laço. Que pessoas gentis. - Kari começou a andar cabisbaixa em direção ao Centro Pokémon. - Antes que vocês perguntem, Zelda está na Pokébola pensando no que fez, já que se eu a soltasse provavelmente a mataria.

Assim, foram até o Centro, onde Kari passou o resto do dia na cama. No dia seguinte, um pouco renovada, saíram para o Ginásio, localizado algumas ruas de distância do Centro. Ao chegarem, no entanto, viram quatro policiais na porta. A oficial mais velha discutia com o guarda do ginásio, mas quando Kari se aproximou ela saiu irritada, levando seus companheiros. O guarda ficou olhando eles se afastarem, suspirando, até que se virou e viu a garota.

 - Oh, você é uma treinadora? Minhas desculpas, mas Misty não está no momento.

 - O que houve? - perguntou Sara.

 - Bem, ela tem preferido passar os dias no Cabo de Cerulean ao norte, onde os tabloides afirmam que ela encontra o namorado. Ou os namorados, segundo alguns mais cruéis.

 - E o que há com os policiais? - perguntou Kari.

 - Ah, bem... - O homem pareceu hesitar, mas estava visivelmente muito cansado para tentar esconder informações. - Misty está tendo problemas em administrar suas funções como Líder de Ginásio. Suas irmãs costumavam ocupar esse posto até alguns meses atrás, quando foram viajar para Hoenn. Desde então, Misty foi eleita a Líder, mas está constantemente fugindo de seus afazeres, preferindo opções mais... divertidas, segundo ela. Os policiais estão malucos, pois ela não está dando ajuda à perseguição aos Rockets. - O homem voltou a suspirar. - Poderia me fazer um favor?

 - Aaah... o que seria? - perguntou Kari.

 - Poderia ir até o Cabo de Cerulean e buscá-la? Já faz alguns dias desde que ela não aparece, e estou começando a ficar irritado com os policiais batendo aqui todo dia.

 - Aah... certo. Vou lá então. - Kari se virou, deixando o homem cansado para trás.

Pegaram um ônibus e seguiram até o norte da cidade. Os veículos não saíam das cidades por causa das leis de preservação ambiental, mas conseguiram sair bem perto da ponte que separava o Cabo do resto da cidade. Kari desceu do ônibus, e se dirigiu a ponte. No entanto, uma pessoa também estava lá, observando o rio correr ao leste. Ele virou para a esquerda, e viu Kari sair do ônibus.

Gary.