RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 12: O MONSTRO
Kari entrou na pequena mansão, encharcada até os ossos. O átrio era pequeno e simples, com paredes de madeira escura, teto alto e poucos móveis. Um castiçal estava pendurado no teto, bem em cima da garota, e as duas únicas janelas estavam cerradas. Ela se apoiou em uma das colunas que apoiavam o arco da porta, tirando os sapatos e as meias encharcadas, que se embolaram no carpete púrpura.
- Tem alguém aí? - Gritou. Sua voz ecoou nos corredores iluminados mais à frente. Percebeu uma leve pulsação nas lâmpadas, como se a energia estivesse desregulada. Quando se aproximou para ver se não era um truque em seus olhos, a luz acabou, mergulhando a mansão na mais pura escuridão.
A garota deu um pulo, quase caindo no chão. Seu coração martelava o peito, tentando sair, enquanto ela procurava por Liz. Suas mãos encontraram o pêlo molhado da Pokémon, e se acalmou um pouco mais.
- Liz, acho melhor irmos embora. Se nos encontrarem aqui vão nos confundir com ladrões. - Sentiu a Wigglytuff acenar com a cabeça, e seguiu tateando o chão em direção à porta. Aos poucos, seus olhos se acostumavam com as trevas, e conseguiu achar a maçaneta. Tentou abrir a porta, mas ela não se movia.
- Tranca eletrônica. - Suspirou baixinho consigo mesma. Praguejou, e se virou para encarar a escuridão novamente. Conseguia agora ver o contorno do corredor, que seguia até não conseguir mais ser notado. Preciso de Kenichi aqui, pensou, e levou a mão às Pokébolas. Tentou liberar seu Charmeleon, mas estranhamente as esferas não funcionavam. Ela apertou o botão novamente, e nada.
Sentindo seu coração voltar a bater mais forte, tentou as outras. Nenhuma resposta. Arriscou até a de Liz, mas nenhuma funcionava. Havia algo muito estranho ali.
- Liz. As Pokébolas não funcionam. - O rosto da Wigglytuff ficou pálido, mas ela manteve a compostura na voz.
- Oh, céus. O que vamos fazer agora? - Antes que a garota pudesse responder, um grito macabro veio de dentro da mansão. Ela saltou, e se virou para a escuridão. Nada se mexia.
- Kari? O grito parecia humano... - Disse Liz. A treinadora concordou, e voltou a fitar o corredor. Definitivamente era uma pessoa que gritou, pensou. Começou a andar para frente, se apoiando na parede para não cair no chão.
- O que está fazendo? - Perguntou a Wigglytuff, relutante em segui-la.
Ela se virou para a Pokémon, mal conseguindo identificá-la nas trevas. - Liz, eu não consigo ficar aqui parada enquanto alguém está precisando de ajuda. Sinto muito, mas eu não posso. Além do mais... - Ela voltou a andar. - ... não vai demorar muito até que o problema venha até nós. - A outra olhou para os lados, e seguiu a treinadora.
A mansão estava terrivelmente escura. Kari tateava pelos corredores, por vezes derrubando móveis e estátuas. Percebeu que boa parte dos objetos tinham o formato de Eevees, seres parecidos com cachorros, com pêlos marrons por todo o corpo, exceto no pescoço, onde havia um colar bege de pêlos mais longos e fofos. Tinham orelhas pontudas e um rabo felpudo em formato de gota. Tudo parecia muito bizarro, na opinião de Kari.
Chegaram finalmente a uma escada de madeira que levava ao porão. A garota percebeu cabos e equipamentos espalhados pelo chão, e luzes piscavam de forma fraca. Havia uma estranha cabine reluzindo timidamente em luz vermelha. Fora isso, era difícil ver qualquer outra coisa no aposento.
- Eu acho que os fusíveis devem estar aqui embaixo. Não adianta seguir andando na escuridão. - Disse Kari, mas não se moveu. Liz seguiu em frente. - O que você está fazendo? - Perguntou a garota.
- Eu vou procurar uma lanterna. Aí você desce e consertamos tudo. - O sorriso dela acalmou um pouco a treinadora, que ficou observando ela descer lentamente a escada. Kari olhou para o aposento, e um par de olhos surgiu na escuridão.
- Liz, cuidado! - Gritou. Um monstro humanóide surgiu em seu campo de visão. Tinha braços e pernas extremamente longos, pêlos rosas e orelhas pontudas, e não se parecia com qualquer Pokémon existente. Seu rosto ainda estava sombreado pelas trevas, mas roupas rasgadas podiam ser vistas por todo o corpo. A criatura começou a subir as escadas, e Liz estava paralisada um pouco acima.
Kari se viu em uma situação que a lembrava do ataque Rocket no Monte da Lua. Todos os seus instintos a diziam para fugir e procurar ajuda, mas ela não podia fazer isso se fosse deixar alguém com problemas. E nesse momento, Liz estava em apuros. Assim, sem pensar nas consequências, saltou em cima da criatura.
Se chocou contra o tronco superior do monstro, e ambos caíram da escada. Kari bateu com as costas no chão de pedra, e sentiu uma dor laçante na coluna, assim como todo o ar escapando dos pulmões. Mesmo assim, tentou voltar a se levantar, e viu a criatura em pé perto dela.
- Peeedraa da Luuuuua... - Disse o monstro, estendendo o braço peludo para a mochila de Kari, que estava estupefata. O grito que tinha ouvido antes era desse ser. Antes que conseguisse fazer mais alguma coisa, a Wigglytuff saltou e deu um chute no monstro. O impacto foi bem forte, e ele bateu na parede do outro lado do aposento.
- Liz! Espere! Acho que é ele que havia gritado antes! - Gritou Kari, se levantando com dificuldade.
- Mesmo? Oh, céus. - Elas observaram o ser se levantar, afastando pedaços de uma prateleira que havia atingido. O monstro balançou a cabeça, voltou a enfocar a garota e repetiu: - Peeeedra da Luuua...
Kari tateou até achar a abertura de sua mochila, pendurada em suas costas. Retirou do bolso lateral uma pequena rocha cristalizada que havia coletado no Monte da Lua, e estendeu à criatura. Ela pegou de suas mãos com velocidade, e correu até uma estranha cabine mecânica. A treinadora não conseguiu ver o que ele estava fazendo, mas de repente as luzes voltaram. Ela protegeu os olhos com o braço, afetada pela claridade inesperada. Pelo canto da visão, viu o ser entrar em outra cabine, conectada por tubos e cabos à primeira, e um forte brilho saiu da máquina, cegando a garota ainda mais. Finalmente, a porta pneumática da segunda cabine se abriu, e um jovem saiu de lá.
O jovem era pálido e não muito alto, com corpo fino e cabelo castanho selvagem. Ele estava saindo da cabine quando se lembrou que Kari estava no aposento. Voltou correndo para dentro da máquina, e falou:
- Escute, moça, poderia me fazer um favor? Eu meio que... precisava de uma nova leva de roupas. Poderia pegar no meu quarto no segundo andar?
Algum tempo depois, ele estava vestido em frente a um computador, digitando ferozmente. Kari e Liz estavam apoiadas na parede, esperando o homem terminar. Ele havia recebido as roupas e corrido direto para analisar dados, parando apenas para agradecer e informar que seu nome era Bill, o famoso cientista.
Finalmente, o rapaz fechou seu laptop e suspirou com seus olhos fechados. Se virou para Kari e disse: - Peço perdão por fazê-la esperar. Imagino que queira saber o que aconteceu exatamente aqui.
- Não, imagina. - Disse ela, fingindo indiferença.
- Bem, eu estava pesquisando sobre teleporte. Como você sabe, eu criei o programa PC BOX, que gerencia Pokébolas extras de treinadores. No desenvolvimento desse projeto, conseguimos um dos ápices do desenvolvimento tecnológico humano, o teleporte. Infelizmente, é restrita aos objetos, então passei a pesquisar sobre isso, patrocinado pela companhia Silph. No caso, percebi que o combustível perfeito para meu experimento seria... a Pedra da Lua.
Ele apontou para a cabine, e Kari percebeu uma pequena gaveta metálica, com fragmentos de rocha enchendo-a.
- Foi por esse motivo que eu me mudei para perto do Monte da Lua. - Continuou Bill. - No caso, pelo visto eu acabei usando uma quantidade muito grande, o que afetou a rede elétrica.
- E o que o fez virar aquela coisa? - Perguntou Liz.
- Infelizmente há uma propriedade extra nessas rochas. Há uma... ligação entre Clefairys, Clefables, Cleffas e vários outros Pokémon com Pedras da Lua. Estão pesquisando sobre isso no Centro Espacial de Hoenn, senão me engano. Sinto que foi isso que me fez transformar naquele híbrido de Clefairy e humano há pouco tempo.
- E minhas Pokébolas? Elas não funcionam aqui em sua casa. - Perguntou Kari.
- Isso é um efeito colateral das minhas máquinas. Há muita interferência dessas esferas com meus equipamentos, então programei para que elas se desabilitassem. Não se preocupe, é uma área de ação, então se você se afastar tudo deve voltar ao normal.
- Entendo. - Disse a garota.
- Agora, uma pergunta minha. Não que eu queira ser ingrato, mas qual era o motivo de invadir minha casa?
O rosto de Kari ficou vermelho. - Ah, bem... - Ela tentou se lembrar do motivo, sentindo que fazia anos desde que tinha entrado na mansão. - Eu estava procurando por Misty.
- Ah, é isso? Bem, você quase a encontrou. Ela e o namorado passaram aqui perto quando eu estava voltando pra casa. Se eu não me engano, estavam voltando a Cerulean.
- Que perfeito. - Disse a garota, revirando os olhos para o teto. - Me desviei tanto do meu caminho por nada.
- Devo discordar. Você me salvou, e eu não sou do tipo de pessoa que não agradece pela ajuda. Aqui... - Ele pegou um papel laminado dourado de uma gaveta em sua escrivaninha. - ... está um ingresso para o S.S.Anne. É um cruzeiro que sai de Vermillion daqui a uma semana, então você deve ter tempo para chegar lá. Eu tinha recebido da Silph por serviços prestados, mas a vida ao ar livre não é exatamente a minha praia.
- Uau, muito obrigado! - Disse Kari, guardando o bilhete.
- Então acho que é isso por essa noite. Sinto muito, mas foi uma noite longa. Irei me recolher aos meus aposentos.
- Sim, sim, claro. - Falou a garota, ainda distraída pelo ingresso do S.S.Anne. - Eu... queria fazer apenas mais uma pergunta.
- Fale.
- Bem, eu notei diversas estátuas de Eevees na mansão, e coisas no seu quarto me fazem perguntar... - Antes que terminasse, ela viu o rosto de Bill ficar vermelho-púrpura. Percebendo que tinha tocado em um assunto delicado, saiu de fininho da mansão, puxando Liz.
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