sábado, 2 de março de 2013

RN Nuzlocke LG: 9 - A pequena sábia


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 9: A PEQUENA SÁBIA.

A Rota 4, localizada entre duas cadeias montanhosas assim como a Rota 3, parecia uma grande bagunça divina. Pequenos bosques se espalhavam pelo cenário tal qual manchas em uma camisa suja, e elevações salpicavam a estrada, tornando impossível simplesmente andar reto. Kari e companhia haviam saído do Monte da Lua, e cruzaram o caminho de um grupo de policiais esbaforidos correndo na direção contrária. Bem, antes tarde do que nunca, pensou ela. Os oficiais estavam tão distraídos que nem perceberam a garota andando pela estrada, fazendo ela questionar sobre a capacidade deles, embora fosse bem fácil perceber os Rockets adormecidos na saída da caverna.

Ao andar pela estrada, Kari tinha sensações estranhas. Uma aura parecia emanar de todos os lugares, fazendo o ar vibrar timidamente e causando pequenas dores de cabeça nas pessoas. Além disso, ela tinha certeza de que estava sendo observada, se virando várias vezes para encontrar nada. Sob essas condições enervantes, apressavam o passo a cada hora, contornando bosques e elevações.

Depois de algumas horas na estrada, ouviram sons de luta ao longe, e observaram dois caratecas em seus kimonos brancos a duzentos metros, dando golpes um no outro. O homem de cabelo espetado, mais alto, só utilizava de socos, enquanto o careca baixo abusava dos chutes. Os dois pararam ao ver Kari e seu time se aproximando, e imediatamente terminaram a batalha.

- S-senhorita Sara? - disse um deles. Eles inclinaram o corpo em direção a Kari, como forma de respeito. Seus Pokémon olharam para ela, que demonstrava confusão.

- A-acho que vocês estão me confund--.

- Podem descansar, senhores. Não precisam ser tão formais. - disse uma voz atrás dela. Eles se viraram, e  ali estava uma pequena Sandshrew, ser parecido com um rato de sessenta centímetros e pele composta de pequenas carapaças amarelas, exceto pela barriga branca. Como ela apareceu ali, pensou Kari, enquanto a Pokémon caminhava lentamente até os caratecas.

- Como foi o ataque aos Rockets, senhorita Sara? - disse o homem de cabelo espetado, se levantando com seu companheiro calvo.

- Ah, eu tive uma grata surpresa. Infelizmente, claro, a maioria conseguiu escapar, mas essa pequena treinadora enfrentou um pequeno grupo deles. Muito bom, de fato. Excelente, considerando a situação. - Ela olhou para Kari, que percebeu um estranho brilho nos olhos negros da Sandshrew.

- Ahn... o quê? - perguntou a garota, sem conseguir entender nada do que estava acontecendo.

- Criança. - começou a Sandshrew, colocando os braços curtos atrás do corpo. - Você sabia que meus dois discípulos aqui atrás possuem habilidades físicas impressionantes? E o melhor de tudo, eles estão dispostos a ensinar suas artes, mesmo em pequena quantidade, a seus Pokémon. O que me diz?

- Eu estou nessa! - gritou Kenichi, se adiantando. O carateca que utilizava apenas socos riu, enquanto o homem dos chutes olhou para Nala e Liz, analisando-as de cima a baixo, até que aparentemente preferiu por Liz e disse:

- Aquela ali tem potencial. Eu estou disposto a ensiná-la, assim como a mestra Sara pediu. - Liz o encarou, enquanto Nala se revoltava silenciosamente.

- Perdão? O senhor tem certeza?

- Liz, eles vão nos ensinar golpes supremos! Vamos logo! - Ele segurou a mão da Wigglytuff e a levou até os lutadores, animado como uma criança na véspera do Natal. Kari estranhou, pois geralmente Kenichi não   se aproximava de garotas, mas haviam coisas mais importantes a considerar agora. Ela pediu para seus Pokémon seguirem os dois, ficando sozinha com a Sandshrew.

- O que está acontecendo aqui? - perguntou ela, cruzando os braços.

- Primeiro de tudo, sinto muito. Não me apresentei. Meu nome é Sara. - disse a Sandshrew, se inclinando respeitosamente.

- Kari.

- Pois bem, senhorita Kari. Eu dediquei minha vida inteira a ensinar os treinadores que considerava aptos a fazer o certo. Ou seja, tomar as decisões certas, seja em batalhas, relacionamentos e principalmente em virtudes. E, no momento, há uma organização que reconheço como o oposto do que tento ensinar. Você os conheceu, são os Rockets. Infelizmente, todos os treinadores que encontro parecem ter muito... medo deles, e nenhum decide enfrentá-los. Então, quando ouvi de uma incursão Rocket no Monte da Lua, fui lidar com eles sozinha. Tal qual foi uma surpresa quando descobri que havia alguém pronta para enfrentá-los também.

- Me desculpe. - disse Kari, estendendo as mãos. A Sandshrew falava demais. - Mas não sei onde você quer chegar.

- Bem, receio que eu tenha de ser mais direta. - Sara se ajoelhou. - Peço encarecidamente que você me aceite em sua equipe.

- O quê? - Kari estava esperando por muitas coisas, menos isso.

 - Veja, eu já vi muitos treinadores passarem. Muitos deles eu fiz questão de guiar, ensinar e melhorar suas capacidades. No entanto, nunca vi ninguém encarar uma organização criminosa sozinho. Eu vim te seguindo por algum tempo, e vi como trata seus Pokémon, muito diferente do rapaz de cabelo laranja que passou um pouco antes. Há algo bastante especial em você e no seu futuro, Kari. - Ela levantou a cabeça e encarou a garota. - E eu quero fazer parte dele.

Kari ficou constrangida. Já havia recebido elogios, mas nenhum deles foi tão elaborado quanto a da pequena Sandshrew. Tentou pensar racionalmente, mas havia sido conquistada. Bem, pensou, ela tem retórica, isso eu tenho que admitir. - Certo. Bem-vinda à equipe.

Sara soltou um sorriso, e se levantou. - Pois bem, devo pedir então para que você passe algum tempo aqui, enquanto meus companheiros treinam seus Pokémon. Não se preocupe, não deve durar mais de dois dias.

E então ficaram na Rota 4 por mais algum tempo, enquanto os caratecas treinavam Liz e Kenichi, e Kari e Sara conversavam. A Pokémon tinha histórias fascinantes de diversos treinadores que ali haviam passado, alegando que tinha conhecido Lance, o atual Campeão, em sua jornada. Mais do que isso, Sara tinha uma profunda sabedoria, que agradava profundamente a Kari, que sentia a falta de alguém com mais experiência em sua equipe.

Voltaram à estrada na manhã do terceiro dia. Sara se despediu de seus companheiros, e seguiram o caminho até Cerulean. Kenichi estava visivelmente empolgado com a força descoberta em seus punhos, e fazia questão de demonstrar em toda árvore seca que cruzava seu caminho. Liz, por outro lado, não fazia muita questão disso.

Finalmente chegaram a Cerulean, sete dias depois que atravessaram o Monte da Lua. O relógio marcava meio-dia, e o sol finalmente havia aparecido depois de vários dias nublados, banhando a maior cidade que Kari já vira. As construções se estendiam até onde a vista alcançava, e enquanto a porção norte e leste eram limitadas por um grande rio, o resto da cidade se espalhava aleatoriamente. A maior parte dos edifícios  não passava de três andares, e tinham uma notável coloração azul, seja nas telhas ou nos tijolos. Segundo Sara, isso era por causa da identificação do povo com o Ginásio de Cerulean, embora recentemente as relações com a atual líder, Misty, não fossem das melhores.

Kari também notou a grande quantidade de policiais. Cerulean possuía o maior departamento de polícia de toda Kanto, e isso se mostrava nas ruas, onde a cada quarteirão havia uma dupla de oficiais. Entretanto, isso não controlava os Rockets, fazendo o nível de criminalidade só não ser maior do que Celadon, embora muitos dissessem que era por causa da corrupção local, e não dos Rockets. A treinadora andou pelas ruas, sentindo o olhar vigilante de vários policiais em suas costas, embora nenhum deles tivesse a parado. Assim, chegaram ao centro comercial, e Kari pediu para se apressarem.

 - Por favor, vamos andar rápido. Eu detesto olhar para lojas quando não tenho dinheiro. - Ela estava com os olhos semicerrados, procurando evitar contato visual com as vitrines.

 - Eu não entendo. Você já gastou todo o dinheiro que ganhou ao derrotar Brock? - Perguntou Sara à sua direita.

 - Como assim, dinheiro ao derrotar Brock? - Perguntou Kari, parando.

 - A Liga oferece uma recompensa financeira ao derrotar os líderes de ginásio. Eles devem ter depositado na sua conta vinculada ao seu ID. Você não sabia disso?

Kari ficou calada, enquanto as engrenagens em seu cérebro giravam. - Você quer dizer... que eu tenho dinheiro?

 - Um bocado, se não estou enganada.

 - Moças. - disse Kari, baixinho, enquanto Kenichi fazia uma reclamação. - Vamos às compras. - Ela se virou imediatamente para a loja à esquerda, e seguiu andando rápido. Liz, Wanda, Zelda e Sara a acompanharam, enquanto Kenichi resmungou e se sentou do lado de fora, acompanhado por uma Nala bem irritada.

Dentro da loja, Kari se sentia no paraíso. Nunca teve muito dinheiro para gastar, e de repente tinha crédito extra. Ela passava pelas roupas, colocando várias em uma sacola. Liz e Wanda a acompanhavam. A primeira sem falar muito, e a segunda tão agitada quanto a treinadora.

 - Liz, querida, olhe o que eu achei pra você!. - Wanda segurava um pequeno laço vermelho, e colocou-o nas orelhas da Wigglytuff. Ela se olhou rapidamente no espelho, e tentou tirá-lo.

 - Ah, eu não sei. Não sou eu que vou estar pagando por isso.

 - Bobagem, Liz! - Disse Kari, usando óculos escuros gigantes, um casaco de marca e uma tiara decorada com pequenos brilhantes. - Hoje é tudo por minha conta! É o dia em que poderemos ser princesas, rainhas, ou qualquer outra coisa que... quisermos? - Ela ouviu um estranho barulho de vidro quebrando ao longe. Se virou para a origem, sentindo uma estranha sensação de pavor. A cada segundo, mais estragos pareciam acontecer, enquanto coisas provavelmente caras encontravam seu fim. Kari se encolhia lentamente, sentindo o que estava por vir. Finalmente, Zelda surgiu de um corredor, com uma pequena coroa em sua cabeça.

 - EU QUERO ESSE! - Gritou, voando em círculos. Nesse movimento, acabou derrubando um cabide de roupas próximo. 

Kari colocou a cabeça lentamente no corredor, observando a enorme destruição que a Zubat fez. Vidros quebrados, jóias jogadas e cabides caídos se estendiam até onde seus olhos alcançavam. Um guarda vinha seguindo pelo corredor, e a garota voltou lentamente à sala, se encolhendo totalmente.


Do lado de fora, Kenichi estava treinando seus socos, observado por Nala.

 - Não devíamos ter parado. Tenho certeza de que aquele treinador de cabelo espetado está na nossa frente. - disse Nala, resmungando.

 - Não se preocupe. - disse Kenichi, socando o ar. - A próxima vez que o encontrarmos eu vou acabar com todos os Pokémon dele num só soco.

Nala virou o rosto, e falou bem baixo. - É fácil para você ser otimista.

Kenichi terminou de socar o ar, e se virou para ela. - O que quer dizer com isso?

 - Quero dizer que você é um Charmeleon. Um Pokémon raro, e muitos treinadores desejam um Charizard em sua equipe. Eu? Sou membro da família Rattata, o que significa que ninguém me dá o retorno esperado.

 - Onde quer chegar? Pensei que estava nessa para provar que Rattatas podem ser campeões.

 - Exato. E não é gastando tempo em compras que eu vou conseguir fazer isso. Devemos ser diretos, maldição!

 - Escute. Você conhece Kari há quase tanto tempo quanto eu. Ela precisa dessas paradas. Faça que nem eu, e treine enquanto isso.

Nala voltou a resmungar, e o resto da equipe saiu da loja. Kari tinha uma expressão terrível no rosto.

 - Bom, espero que tenham curtido os dois minutos mais ricos da minha vida, mas graças a nossa querida Zelda eles chegaram ao fim. - Disse ela, parecendo controlar a voz a cada sílaba.

 - Mas eu consegui meu laço. - disse calmamente Liz ao seu lado, parecendo incrivelmente feliz.

 - Sim. Os funcionários deixaram ela ficar com o laço. Que pessoas gentis. - Kari começou a andar cabisbaixa em direção ao Centro Pokémon. - Antes que vocês perguntem, Zelda está na Pokébola pensando no que fez, já que se eu a soltasse provavelmente a mataria.

Assim, foram até o Centro, onde Kari passou o resto do dia na cama. No dia seguinte, um pouco renovada, saíram para o Ginásio, localizado algumas ruas de distância do Centro. Ao chegarem, no entanto, viram quatro policiais na porta. A oficial mais velha discutia com o guarda do ginásio, mas quando Kari se aproximou ela saiu irritada, levando seus companheiros. O guarda ficou olhando eles se afastarem, suspirando, até que se virou e viu a garota.

 - Oh, você é uma treinadora? Minhas desculpas, mas Misty não está no momento.

 - O que houve? - perguntou Sara.

 - Bem, ela tem preferido passar os dias no Cabo de Cerulean ao norte, onde os tabloides afirmam que ela encontra o namorado. Ou os namorados, segundo alguns mais cruéis.

 - E o que há com os policiais? - perguntou Kari.

 - Ah, bem... - O homem pareceu hesitar, mas estava visivelmente muito cansado para tentar esconder informações. - Misty está tendo problemas em administrar suas funções como Líder de Ginásio. Suas irmãs costumavam ocupar esse posto até alguns meses atrás, quando foram viajar para Hoenn. Desde então, Misty foi eleita a Líder, mas está constantemente fugindo de seus afazeres, preferindo opções mais... divertidas, segundo ela. Os policiais estão malucos, pois ela não está dando ajuda à perseguição aos Rockets. - O homem voltou a suspirar. - Poderia me fazer um favor?

 - Aaah... o que seria? - perguntou Kari.

 - Poderia ir até o Cabo de Cerulean e buscá-la? Já faz alguns dias desde que ela não aparece, e estou começando a ficar irritado com os policiais batendo aqui todo dia.

 - Aah... certo. Vou lá então. - Kari se virou, deixando o homem cansado para trás.

Pegaram um ônibus e seguiram até o norte da cidade. Os veículos não saíam das cidades por causa das leis de preservação ambiental, mas conseguiram sair bem perto da ponte que separava o Cabo do resto da cidade. Kari desceu do ônibus, e se dirigiu a ponte. No entanto, uma pessoa também estava lá, observando o rio correr ao leste. Ele virou para a esquerda, e viu Kari sair do ônibus.

Gary.

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