terça-feira, 13 de agosto de 2013

RN Nuzlocke LG - Capítulo 38: O Segredo dos Rockets

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 38: O SEGREDO DOS ROCKETS

 A cidade de Viridian estava em polvorosa. Não apenas seu líder havia retornado dos meses de clausura, mas diversos treinadores de todos os cantos de Kanto agora visitavam a cidade. Com a reabertura do ginásio de Cinnabar, várias pessoas que haviam acumulado apenas seis insígnias agora se acumulavam para conquistar as duas últimas.

 O problema era que Giovanni até agora não havia sido derrotado.

 Quando Kari chegou na cidade, teve que se cadastrar em uma fila para poder lutar no ginásio de Viridian. Havia conseguido evitar esse procedimento nas outras ocasiões, mas a demanda agora era tão grande que não havia jeito. Decidiu gastar o tempo de espera descansando no Centro Pokémon, visto que não conseguiu aproveitar suas "férias" na ilha Unus do jeito que sonhava. Duas horas depois, foi avisada no pager que era a sua vez.

 - Estranho. - Disse ela enquanto corria para o ginásio. - Haviam dezesseis treinadores na minha frente. Está me dizendo que Giovanni derrotou todos eles em cento e vinte minutos? - Perguntou ela, pulando uma cerca viva para ganhar tempo.

 - Ele parece ser extremamente forte! Irado! - Exclamou Sakura, correndo ao seu lado. Chegaram até o edifício, uma grande redoma de vidro e concreto, recentemente restaurada para o retorno do líder. As duas entraram no prédio, caminhando por corredores verdes, até chegarem na arena. Um simples retângulo de areia com as demarcações de cal esperadas constituía no local de luta, com pouco mais do que isso na sala. Não que desse para enxergar muito, visto que metade do aposento estava envolto na escuridão.

 - Olá? - Perguntou a garota, indo para o seu lugar. De repente as luzes se iluminaram, lançando um clarão cegante nos olhos dela, que esticou os braços para se proteger. Enquanto não se recuperava, conseguiu enxergar um vulto parado do outro lado da arena. Piscou com força, tentando focalizá-lo. - Giovanni? - Perguntou.

 - Kari. Eu estava a aguardando ansiosamente. - Disse uma voz, estranhamente familiar. Kari procurou se lembrar de onde tinha ouvido esse tom anteriormente, mas os olhos solucionaram o mistério primeiro. Assim que conseguiu focalizá-lo, uma lembrança veio à sua mente. Estava em um aposento amplo, com paredes de vidro mostrando uma grande cidade metros abaixo. Um homem se apresentava parado em frente à ela, apontando uma arma. O mesmo homem que agora estava em pé do outro lado da arena. - Meu nome é Giovanni. - Disse ele, aumentando o tom de sua voz. - Sou o líder da falecida Equipe Rocket. E hoje vim me vingar.

 - O quê está acontecendo aqui? - Perguntou a garota, com a mente em confusão.

 - É uma história e tanto. O líder de Viridian, sequestrado, supostamente por Rockets. Os outros líderes, assustados, começam a ficar mais reclusos em suas cidades, impossibilitando qualquer ação por parte deles. A Federação gasta todos os seus esforços em resolver as pendências burocráticas na troca da equipe, e também não faz nada. Um cenário perfeito para atividades aparentemente criminosas, não? Tudo com a saída de um peão. - Ele sorria, encarando a garota com um olhar superior. - Ninguém acreditaria que Giovanni, um homem tão honrado, o melhor dos líderes de ginásio, alguém que indicou tantos outros, seria o líder dos Rockets.

 Kari o encarou, franzindo o rosto. Realmente não conseguia acreditar. Sempre vira Giovanni como um homem misterioso que nunca havia mostrado o rosto ao público, mas nunca um criminoso. No entanto, tudo que ele falava fazia sentido. Isso, e claro, o fato de tê-lo visto em Saffron. - O que você quer? - Perguntou, começando a temer a situação. 

 - Vingança. - Ele franziu o cenho, parecendo imediatamente mais ameaçador. - Os Rockets se debandaram, garota, e tudo graças a você. A qualquer momento, Kanto mergulhará em seu próprio sangue, e você e sua teimosia serão culpados por tudo. Tentei ao máximo evitar o apocalipse, mas não havia como. Não com você metendo seu nariz em todos os assuntos que não lhe pertencem. Por minha organização e pelos mortos que haverão de vir, eu irei derrotá-la hoje. Infelizmente minha única arma foi perdida em Saffron, e achar outra nesses dias pós-guerra é uma tarefa quase impossível. Portanto, teremos de ser um pouco mais... ortodoxos. - Ele segurou uma Pokébola nas mãos, expandindo-a. Kari fez o mesmo em resposta.

 - Eu ainda não entendi. Como derrotar uma organização criminosa com problemas de ego condenou a todos nós? - Perguntou ela.

 - Se acha que irei dar uma aula de história, pode esquecer. - Respondeu Giovanni. - Prepare-se para enfrentar seu fim. RHYHORNS! - Ele balançou a outra mão, revelando uma Pokébola oculta, e jogou-a na arena junto com a outra. Dois Pokémon foram conjurados, e imediatamente dispararam contra a garota. 

 - Sophie, seja rápida! - Gritou Kari, lançando sua combatente na arena. A Lapras, assim que pisou na areia, imediatamente conjurou uma grande onda d'água de sua boca, derrotando os dois Rhyhorns antes que pudessem acertá-la. Eles caíram, e Giovanni imediatamente os recuou. - Acho que seus métodos ortodoxos são um pouco... fora das regras. - Disparou ela.

 - Ache o que quiser. Nidoqueen! - Kari estranhou o fato dos Pokémon de Giovanni não terem nomes, mas não podia esperar nada de quem os usava como ferramentas. - Liz! Golpes psíquicos! - Ela recuou a Lapras e liberou sua Wigglytuff, que antes de encostar no chão já estava no ataque. A Nidoqueen do outro lado recuou, segurando a cabeça, mas imediatamente desferiu um poderoso golpe no chão, criando um pequeno terremoto. A arena se despedaçou, e Liz se perdeu no meio dos escombros que caíam.

 - LIZ! - Gritou Kari, procurando sua Pokémon no caos que havia se tornado a arena. O meio havia ruído completamente, dando espaço apenas para uma confusão de pedras e areia. Agora ela via que o lugar era bem mais profundo do que imaginava, visto que conseguia enxergar até dez metros abaixo. A Nidoqueen estava no lugar ainda firme, de braços cruzados. - LIZ, DÊ UM SINAL DE VIDA! - Eis que a Pokémon de Giovanni caiu, segurando a cabeça. Kari virou a cabeça, e viu a Wigglytuff subindo com dificuldades através dos escombros.

 - Oh, céus. - Disse ela, se agarrando a um pedaço particularmente grande de rocha. A treinadora recuou sua Pokémon e se virou para Giovanni, que já colocava o próximo combatente na arena. Um enorme Nidoking rugiu a plenos pulmões, encarando Kari com um olhar louco.

 - Kenichi, mostre a ele o seu treinamento! - Gritou a treinadora, já com a adrenalina no talo, lançando o Charizard para a batalha. Kenichi imediatamente partiu pra cima do Nidoking, agarrando-o com os dois braços.

 - Um pouco mais de privacidade, não? Ainda não aprendia a me controlar. - Disse ele, puxando o adversário para os destroços abaixo. Kari se afastou, sabendo o que vinha, mas Giovanni ficou parado no mesmo lugar.

 - O que diabos está -- Naquele momento uma colossal coluna de fogo ascendeu do buraco, quase derretendo o teto acima. O líder de Viridian quase caiu para trás, assustado com a potência do golpe, até que Kenichi saiu das chamas, carregando o Nidoking inconsciente.

 - Treinamento. - Disse ele, jogando o adversário no chão. Giovanni pareceu possesso, agarrando sua última Pokébola.

 - Dugtrio, acabe com ele! - Assim que o adversário foi conjurado, Kari trocou Kenichi por Sophie. Infelizmente antes que a Lapras conseguisse se firmar no novo cenário, o Dugtrio lançou outro pequeno terremeto, destruindo o que sobrava da arena. Sophie conseguiu se manter no mesmo lugar, e olhou raivosa para o outro Pokémon.

 - Oh, meu querido. Eu vou te afundar. - Ela inclinou o pescoço para trás e despejou um enorme jato d'água no adversário, tirando-o de jogo. Kari esperou um pouco para ver a reação de Giovanni, mas ele simplesmente ficou parado onde estava, com o rosto em choque.

 - Acho que você me deve uma insígnia. Minha última. - Ela se aproximou dele atravessando a arena, e o homem recuou com uma expressão furiosa.

 - Insígnia? Insígnia? Você faz idéia do que fez? Condenou a todos nós e ainda assim liga para esse jogo idiota? - A garota não se alterou, voltando a falar.

  - Conte-me logo o que aconteceu, e eu talvez possa te ajudar. Se é algo que ameaça a vida de todos em Kanto, não posso ficar parada.

 - Você se dá mais valor a si mesma do que o agradável, garota. - Disse Giovanni. - Quem acha que é?

 - A pessoa que acabou com sua organização. Se acha que eu não consigo, é melhor falar com os policiais, pois assim que sair daqui irei chamar todo o departamento de polícia de Viridian para este ginásio. - O ex-líder Rocket a encarou, considerando suas opções, até que pareceu desistir das argumentações.

 - Tudo começou quando eu fui contactado por um grupo chamado Plasma, um pouco antes de me tornar líder de Viridian. - Começou ele, andando de um lado para o outro. - Eles queriam um Pokémon extremamente forte, e me chamaram para liderar uma dupla de aventureiros nesta busca. O porquê de me escolherem eu nunca soube, mas assumi esse trabalho com todo o meu empenho. Meus chefes me disseram que isso era extremamente importante, afinal. Eis que tudo parecia infrutífero, até que um dos membros da equipe, Blaine, me veio com uma amostra de DNA de Mew, nosso alvo. Pela dificuldade em capturá-lo, decidi uma outra rota. Possuía recursos quase ilimitados, e consenso de meus chefes. Decidi cloná-lo.

Kari pensou em falar algo, mas não queria atrapalhá-lo agora que estava recebendo todas as respostas. Assim, Giovanni continuou. - Durante esse tempo, eu recebi os Rockets como mão-de-obra. Decidi lançá-los em Kanto em uma série de afazeres secretos, em prol de financiar a procura por Mew e depois sua clonagem.

 - Você quis dizer crimes. - Interrompeu Kari, sem conseguir se conter. Giovanni lhe lançou um olhar venenoso.

 - Pode classificar como isso, sim. Antes de continuar ... - Avisou ele. - Saiba que os Rockets são uma organização secreta. Esse era o objetivo desde o início. O problema é que alguns imbecis apareciam demais no início, chamando a atenção indesejada. Decidi transformá-los então no nosso rosto público. A percepção geral dos Rockets acabou se tornando em uma piada. Um chiste. Nunca faríamos algo de perigoso, e aí que eu vi uma força. Os policiais, claro, viriam em nossa direção, mas isso era contornável. A questão era manter os figurões longe, e nos colocar como palhaços foi um ponto extremamente importante.

 - Com tudo isso, decidi mexer umas cordas por baixo de tudo. A manipulação da Liga Pokémon era vital, colocando líderes fracos que não atrapalhariam meus planos. Blaine trabalhava para mim, então o transformei em uma peça importante. Erika em Celadon era algo também extremamente oportuno, visto que a base de operações era naquela cidade. Não consegui retirar as irmãs de Cerulean, mas sabia como afastá-las na hora que precisasse. Assim, metade dos Líderes de Ginásio estavam na minha mão. Não previ a entrada de Surge, mas Vermilion não me importava.

 - Posso imaginar que algo deu errado em seu plano, não é? - Por um instante, Kari achou que Giovanni iria bater nela, mas ele conseguiu se controlar.

 - Cale-se. É óbvio que algo deu errado. Ou certo, se preferir entender. A clonagem foi um sucesso, e o projeto Mewtwo nasceu. O problema é que ele era muito... poderoso para ser controlado. Antes que conseguíssemos fazer algo, ele destruiu o laboratório e se enfiou em algum lugar perto de Cerulean. - Giovanni parou por um segundo, e seus olhos se desfocaram. - Foi ali que as coisas mudaram. Eu havia liberado um Pokémon extremamente furioso e poderoso no continente, e milhares poderiam morrer pelos meus erros. Só havia uma coisa a fazer. Precisaria triplicar meus esforços. Eu precisaria tomar Kanto para proteger meus segredos e acabar com qualquer ameaça.

 - A primeira coisa que fiz foi mandar equipes para o Monte da Lua e os arredores de Cerulean, onde recrutaria novos membros e procuraria por Mewtwo, pois ele supostamente foi visto atravessando a floresta de Viridian em direção ao nordeste. Ao mesmo tempo, fiz com que as líderes de Cerulean fossem passear em Hoenn, colocando aquela adolescente mimada no comando da cidade. Era necessário minar as autoridades ali, e colocar uma líder que se preocupava mais com garotos do que a segurança local era o melhor plano possível. Um pequeno time foi enviado para a ilha Unus, em busca de pistas sobre Moltres, um excelente Pokémon reserva para meus patrões. Mandei também uma equipe atrás de Fuji, o aventureiro que havia se comunicado com Mew em busca de alguma informação que eu havia deixado passar, e outras para afastar Sabrina e Koga, enormes pedras no meu sapato. E, claro, enquanto isso preparava o terreno para minha maior investida: Saffron. O projeto Master era minha única esperança de conseguir consertar meus erros, e não poderia haver falhas nesse ataque ambicioso.

 - Então... - Começou Kari, depois de conseguir absorver todas aquelas informações. - Há um Pokémon psicótico em algum lugar de Kanto, com chances de acabar com todos nós? E você me diz que não consegue encontrá-lo.

 - Precisamente. - Respondeu Giovanni. A treinadora ficou quieta, pensando no que fazer. De repente, a resposta se tornou clara.

 - Eu vou para a Elite dos Quatro. - Disse ela. - E me consagrarei a Campeã.

 - Você não me ouviu? - Perguntou o homem, parecendo perder a paciência. - Há um monstro à solta! E ainda fica nesse desejo infantil?

 - Você mesmo disse que ninguém consegue achá-lo, não é? Pois eu acho que as pessoas certas ainda não começaram a procurar. Eu não sei se você sabe, mas um Campeão possui um enorme poder político. Se eu ficar com esse poder, poderei mandar uma procura geral em torno de Mewtwo. E assim que encontrá-lo, eu o derrotarei. - Ela encarou bem fundo nos olhos de Giovanni, mantendo uma expressão séria perante o olhar assustado. - Eu tenho um lema bastante fixo nessa jornada. Irei sempre fazer a coisa certa. Não deixarei que Mewtwo destrua a todos nós. Principalmente porque ele é muito menos culpado do que você. Irei controlar os danos, e se isso te deixa tranquilo, tanto faz. Estará numa cela antes do dia terminar.

 O homem pareceu não acreditar no que estava ouvindo por um momento, até que sorriu. - Bem, é um plano. Melhor do que nada, suponho. Só que você precisa disso. - Ele arremessou algo pequeno contra ela, que agarrou em pleno ar. Em suas mãos, estava a Insígnia da Terra. A última. - Só que eu não pretendo estar na cadeia. Estarei te observando, garota, acredite se quiser. Agora... adeus. - Giovanni jogou uma coisa no chão, e o quarto se encheu de fumaça negra. Kari tossiu e piscou os olhos, mas quando recuperou a visão ele não estava mais lá.

 - GIOVANNI! - Gritou ela, porém para o vazio. Ele não estava mais lá. Enquanto recuperava o fôlego, fitou a insígnia em suas mãos. Por muitos anos sonhou em ter essa chance. Enfrentar a Elite dos Quatro, e se sagrar Campeã. Ainda queria isso, mas havia algo diferente nesse desejo. Um ingrediente a mais, motivando-a de formas diferentes e mais impactantes.

 De repente, o jogo era outro.

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