RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 40: RESOLUÇÕES E ÚLTIMOS PASSOS
- Estamos perdidos? - Perguntou Sakura. A caverna se estendia por todos os lados, e seu fim não parecia visível. De fato, com tantas curvas e caminhos serpentinosos, subidas e descidas de andar, luz fraca e formações rochosas completamente iguais a cada esquina, era bastante fácil ficar dando voltas no mesmo lugar. Ou, no caso de Kari, se perder.
- Não, é claro que não. - Respondeu a treinadora, sem nem se importar com a mentira. Ela estava em cima de uma grande rocha, olhando para todas as extensões do Caminho da Vitória que conseguia. Nenhuma resposta chamava sua atenção, e mesmo se estivesse, provavelmente se esconderia no meio de toda a escuridão. Havia um grande facho de luz perto da entrada, e supostamente deveria ter na saída. No entanto, nada disso aparecia.
- Oh, que perfeito. - Disse Sophie. Ela estava com quase todos os Pokémon de Kari no nível do chão, comendo o que havia restado do almoço. Cada vez que a garota olhava para a comida, sentia um aperto no coração. Suas reservas estavam diminuindo rapidamente. Deveria achar a saída o mais rápido possível. Voltou a olhar para os limites da escuridão, procurando desesperadamente algo. Não posso falhar agora, pensava. Estava tão perto da Liga. Falhar agora seria uma humilhação. Estava tão concentrada nisso que nem viu Sara se aproximar.
- Kari. Você precisa conversar. - Disse ela. Distraída, a treinadora mal ouviu o que a Sandslash falava.
- Sim, sim. Já vou. - Comentou a garota, já esquecendo o que disse um segundo depois. Mais alguns segundos se passaram até que Sara chutasse sua perna com força. - Ei! - Exclamou ela, quase se desequilibrando. - O que foi?
- Já está na hora de você falar com Kenichi. - O rosto da Sandslash estava sério, e a treinadora se sentiu um pouco envergonhada ao encará-la. - Você deu tempo o suficiente para ele sair dessa sozinho. Ele continua sem conversar com ninguém e se afastar a qualquer coisa. Se estamos tão perto assim da Liga, essa é a sua última chance.
A treinadora olhou para trás. Viu Kenichi afastado dos outros, encarando em silêncio as rochas. Ela suspirou e começou a descer o rochedo. - Certo, eu vou. Apenas não diga que não avisei.
- Não se preocupe. Eu não irei. - Respondeu Sara. Kari se aproximou do Charizard, sentando ao seu lado.
- Estamos perdidos, não? - Perguntou o Pokémon.
- Não! Que coisa, eu sei exatamente onde estamos, saco! - Estava começando a se exaltar quando encarou os olhos de Kenichi. O que viu ali a fez ficar quieta, observando a tristeza interior dele. Sara tinha razão, o Charizard não estava melhorando. - Kenichi, precisamos conversar.
Ele pareceu desinteressado, voltando a encarar o ambiente. - Não, não precisamos. Já disse a você que consigo me concentrar na batalha. Não há motivos para preocupações.
- Claro que há. Não estou interessada nas lutas, estou interessada em você. - Ela se aproximou dele, se arrastando nas pedras. - Onde está o Kenichi que saiu de Pallet animado e agitado? Aquele que me enchia o saco?
- Ele morreu em Saffron, Kari. Assim como Wanda. - Os dois ficaram em silêncio enquanto a treinadora digeria essa informação. Esperava ter que contornar alguns rodeios para que o Charizard admitisse seu problema, mas ele foi bastante direto. Deveria ter previsto isso, pensou a treinadora.
- Escute, Kenichi. Eu sei o quão terrível foi aquele dia--
- Não, você não sabe. - Interrompeu ele. - Eu tinha toda as chances de salvá-la, Kari. Foi por minha culpa que ela morreu.
- E você acha que tem mais culpa do que eu? - Ela colocou a mão em seu próprio peito. - Eu sou a treinadora. Cada morte está em minhas mãos. Acredite, eu sei exatamente o que você está passando. E posso te ajudar.
- Você não entende! - Ele pareceu se irritar, e a garota instintivamente recuou. - Wanda entrou nessa porque era obcecada por mim. E mesmo assim eu sempre a afastava. Me diga, Kari, você já passou por isso?
A treinadora ficou em silêncio novamente. - Kenichi, eu... há algum tempo eu passei por uma séria crise. Quase desisti do que eu estava fazendo. Só que um certo alguém me ajudou a sair dessa, e tenho certeza de que não conseguiria sozinha. E esse alguém era você. - Ela o encarou profundamente, sem se dar ao luxo de piscar. - Você foi muito importante para mim naquele momento. E por isso que eu preferia evitar tentar tirá-lo dessa por um tempo. Eu não sabia se podia fazer tudo certo, e tive receio de acabar com tudo. Só que eu não consigo mais te ver assim. Estamos juntos desde o início. Eu tenho um laço com você maior do que qualquer um aqui. Você é meu primeiro Pokémon, droga. - Seus olhos ficaram marejados, mas ainda assim ela manteve o olhar.
- Kari... você sabe que ainda pode contar comigo nas batalhas. Esse é o verdadeiro foco de nossa jornada. - Respondeu Kenichi, parecendo um pouco desconcertado.
- Eu já te disse: eu não me importo com isso. Não quando meus amigos estão se sentindo mal. Já basta eu ter te ignorado por todo esse tempo, mas eu não vou deixar isso acontecer de novo. - Ela se aproximou novamente, chegando extremamente perto. - Acredite, Wanda foi minha culpa. Não importa o que você diga, a minha palavra é a final aqui. Se eu quisesse que ela ficasse protegida com o professor Carvalho, eu faria isso. Só que eu dei uma chance, e todos nós pagamos caro por isso. Se tem alguém aqui culpada, sou eu.
O Charizard ficou calado por alguns instantes, parecendo estar em meditação profunda. - E... como você consegue? Mesmo assim ficar... normal?
Ela sorriu, passando a mão na cabeça do Pokémon. - Ora, foi você mesmo que me ensinou isso, seu burro. O que aconteceu, aconteceu. O que você precisa fazer é impedir que isso não volte a acontecer. Ou seja, que ninguém mais morra.
Kenichi deu uma pequena risada. - Eu era bastante direto, não?
- E é assim que eu quero que você seja. O Kenichi simples, direto e mal-humorado. Não esse ser derrotista. Não faz parte do seu estilo.
- Estou tendo uma sensação estranha de dejà vu aqui.
- Sim, é porque estamos de volta ao S.S.Anne. Apenas trocamos de lugar. O que nos mostra que você realmente não pensa no que fala. - Os dois riram, se levantando em seguida.
- Kari, eu queria agrade -- Antes que ele terminasse, foi interrompido pelo dedo da garota.
- O que foi? Todo esse estrogênio no ar te deixou uma menininha? Agradecer nunca foi parte do seu caráter. - O Charizard riu novamente.
- Você é chata pra cacete, sabia? Uma péssima motivadora.
- Eu te fiz voltar ao normal, não? - Respondeu ela, estendendo as sobrancelhas.
- Sim. Só preciso fazer o mesmo comentário sobre você, mesmo com quase dezenove anos, ter o físico de uma tábua de passar roupa e constatar que nunca terá um namorado em sua vida.
- Agora você está sendo um babaca completo. - Mesmo assim, a treinadora ainda sorria. - Se você não parecesse um dragão de quase três metros, eu te enchia de sopapos.
- Sopapos? Aprendeu a falar com a sua avó? Porque acho que ela também te ensinou como se vestir. - O sorriso de Kari diminuiu alguns milímetros, e ela deu um soco no braço do Pokémon.
- Agora estamos quites. - Os dois sorriram de forma tão ingênua que pareciam estar saindo de Pallet, sem nenhuma preocupação em seus ombros. Kari fechou os olhos, estalando a língua em seguida. - É bom te ter de volta, campeão. Bem a tempo.
- O prazer é meu. - Disse ele, se virando para o resto da equipe. - Agora precisamos fazer algo para sair daqui.
Acabaram demorando mais cinco dias. No fim de tudo, cansados e exaustos, conseguiram avistar a saída. Por um instante Kari temeu ser a entrada, mas o que viram em seguida era a confirmação. A visão que se estendia era inigualável. Imensos pilares de diferentes cores e decorações delimitavam a entrada dos treinadores, prontos para enfrentar o último desafio de sua jornada. Pois no fim de uma imensa escadaria, localizada logo depois do Caminho da Vitória, havia um prédio. A sede da Elite dos Quatro, e do Campeão de Kanto/Johto. Localizada no coração do Platô Indigo.
Kari engoliu em seco, maravilhada pela vista e sentindo uma enorme pressão derivada do lugar. Era isso, pensou. Estava lá, prestes a dar o último passo em sua jornada. Só havia mais um desafio. Todos os seus sonhos e desejos de quando era criança passaram pela sua cabeça enquanto percorria a estrada até a escadaria. Se lembrou de quando era uma criança e tudo o que vivera até ali. A garotinha temperamental e derrotista havia crescido, e dera lugar à uma garota temperamental e que lutava firmemente contra seu sentimento de derrota. Muitas coisas haviam se passado, lhe dando forças para seguir em frente, lutando contra os males interiores e exteriores. Esse é o meu jeito de viver, pensou ela. Inclinou a cabeça em silêncio para cima, avistando o enorme prédio que se estendia, e o caminho a seguir. Respirou fundo e começou a andar. Não havia vento nem mesmo outros barulhos. Era apenas a garota e o ambiente, solitários e conectados.
Kari passou pela primeira dupla de pilares, compostos de Ônix e decorados com pequenos símbolos octogonais. A lembrança da batalha contra Brock encheu sua mente, a primeira de todas, dando enfoque especial à luta ferrenha de Kenichi. Continuou andando, sentindo o coração bater mais forte.
Em seguida foram pilares de Água-Marinha, decoradas de forma a parecer que uma cascata de gotas preenchia a pedra. Kari se lembrou de Misty e seus problemas de comprometimento, e de como Wanda conseguiu derrotar seu Starmie quando ninguém esperava por isso. Novos passos se sucederam.
Desta vez os pilares eram de topázio, novos e lustrosos. Tinham pequenos relâmpagos decorando sua extensão, e a batalha contra Surge tomou conta de suas lembranças. Se recordou da dificuldade que teve em começar a peleja, coberta de lixo, da discussão com o líder e de como Sara provou seu valor. De repente, já haviam avançado.
Os pilares agora eram compostos de esmeralda, e grandes flores cresciam em suas bases. Erika foi a líder de ginásio mais fácil que Kari enfrentou, mas havia um motivo oculto para isso. Muitas coisas aconteceriam depois de enfrentá-la, coisas que mudariam a treinadora para sempre. Antes que se desse conta, já estavam em uma nova série de pilares.
Agora era âmbar que moldava os pilares, com coisas estranhas flutuando dentro deles. Sabrina foi bastante complicada, mas era a vez de Sophie mostrar a que veio, estreando com o pé direito. Assim, seguiram em frente, tanto nas lembranças como no mundo real.
Eles agora eram feitos de ametista, decorados com simples riscos em sua superfície. Koga havia sido um adversário extremamente difícil, contrastando com Erika de forma completa. Foi uma das únicas lutas em que Kari realmente temeu por seus Pokémon, mas conseguiu derrotá-lo no fim das contas. E continuou subindo.
Os próximos eram de rubi e detalhes de citrino, dando a impressão de estarem pegando fogo. Kari acabou se lembrando também de Fuji, e sua ligação com Blaine. Isso levou à batalha contra o líder de ginásio, ocorrida dentro de um vulcão. De fato, foi o ginásio mais peculiar em que a garota estivera. Agora o fim estava próximo, e a treinadora entrou no último grupo de degraus.
Os últimos eram feitos puramente de argila. Kari acabou parando por um tempo, se lembrando dos Rockets e de todos os problemas que haviam causado. De fato, vendo agora de onde estava, parecia bizarro que ela havia os derrotado. Conseguiu desfazer uma organização criminosa, e derrotou seu líder duas vezes. Era o tipo de coisa que lhe dava combustível para seguir em frente, finalmente terminando a escadaria sem olhar para trás uma única vez.
Estava agora de frente ao prédio espelhado da Elite dos Quatro. No fundo, um pedaço da gigantesca arena conseguia ser visível. A treinadora engoliu em seco, com o coração quase explodindo no peito e algo gelado dançando em seu estômago. Havia chegado. Depois de meses na estrada, finalmente estava no lugar que parecia anteriormente apenas pertencer a seus sonhos. O último desafio estava por vir. Por fim, ela havia chegado.
Kari respirou fundo e abriu a porta.
- Já está na hora de você falar com Kenichi. - O rosto da Sandslash estava sério, e a treinadora se sentiu um pouco envergonhada ao encará-la. - Você deu tempo o suficiente para ele sair dessa sozinho. Ele continua sem conversar com ninguém e se afastar a qualquer coisa. Se estamos tão perto assim da Liga, essa é a sua última chance.
A treinadora olhou para trás. Viu Kenichi afastado dos outros, encarando em silêncio as rochas. Ela suspirou e começou a descer o rochedo. - Certo, eu vou. Apenas não diga que não avisei.
- Não se preocupe. Eu não irei. - Respondeu Sara. Kari se aproximou do Charizard, sentando ao seu lado.
- Estamos perdidos, não? - Perguntou o Pokémon.
- Não! Que coisa, eu sei exatamente onde estamos, saco! - Estava começando a se exaltar quando encarou os olhos de Kenichi. O que viu ali a fez ficar quieta, observando a tristeza interior dele. Sara tinha razão, o Charizard não estava melhorando. - Kenichi, precisamos conversar.
Ele pareceu desinteressado, voltando a encarar o ambiente. - Não, não precisamos. Já disse a você que consigo me concentrar na batalha. Não há motivos para preocupações.
- Claro que há. Não estou interessada nas lutas, estou interessada em você. - Ela se aproximou dele, se arrastando nas pedras. - Onde está o Kenichi que saiu de Pallet animado e agitado? Aquele que me enchia o saco?
- Ele morreu em Saffron, Kari. Assim como Wanda. - Os dois ficaram em silêncio enquanto a treinadora digeria essa informação. Esperava ter que contornar alguns rodeios para que o Charizard admitisse seu problema, mas ele foi bastante direto. Deveria ter previsto isso, pensou a treinadora.
- Escute, Kenichi. Eu sei o quão terrível foi aquele dia--
- Não, você não sabe. - Interrompeu ele. - Eu tinha toda as chances de salvá-la, Kari. Foi por minha culpa que ela morreu.
- E você acha que tem mais culpa do que eu? - Ela colocou a mão em seu próprio peito. - Eu sou a treinadora. Cada morte está em minhas mãos. Acredite, eu sei exatamente o que você está passando. E posso te ajudar.
- Você não entende! - Ele pareceu se irritar, e a garota instintivamente recuou. - Wanda entrou nessa porque era obcecada por mim. E mesmo assim eu sempre a afastava. Me diga, Kari, você já passou por isso?
A treinadora ficou em silêncio novamente. - Kenichi, eu... há algum tempo eu passei por uma séria crise. Quase desisti do que eu estava fazendo. Só que um certo alguém me ajudou a sair dessa, e tenho certeza de que não conseguiria sozinha. E esse alguém era você. - Ela o encarou profundamente, sem se dar ao luxo de piscar. - Você foi muito importante para mim naquele momento. E por isso que eu preferia evitar tentar tirá-lo dessa por um tempo. Eu não sabia se podia fazer tudo certo, e tive receio de acabar com tudo. Só que eu não consigo mais te ver assim. Estamos juntos desde o início. Eu tenho um laço com você maior do que qualquer um aqui. Você é meu primeiro Pokémon, droga. - Seus olhos ficaram marejados, mas ainda assim ela manteve o olhar.
- Kari... você sabe que ainda pode contar comigo nas batalhas. Esse é o verdadeiro foco de nossa jornada. - Respondeu Kenichi, parecendo um pouco desconcertado.
- Eu já te disse: eu não me importo com isso. Não quando meus amigos estão se sentindo mal. Já basta eu ter te ignorado por todo esse tempo, mas eu não vou deixar isso acontecer de novo. - Ela se aproximou novamente, chegando extremamente perto. - Acredite, Wanda foi minha culpa. Não importa o que você diga, a minha palavra é a final aqui. Se eu quisesse que ela ficasse protegida com o professor Carvalho, eu faria isso. Só que eu dei uma chance, e todos nós pagamos caro por isso. Se tem alguém aqui culpada, sou eu.
O Charizard ficou calado por alguns instantes, parecendo estar em meditação profunda. - E... como você consegue? Mesmo assim ficar... normal?
Ela sorriu, passando a mão na cabeça do Pokémon. - Ora, foi você mesmo que me ensinou isso, seu burro. O que aconteceu, aconteceu. O que você precisa fazer é impedir que isso não volte a acontecer. Ou seja, que ninguém mais morra.
Kenichi deu uma pequena risada. - Eu era bastante direto, não?
- E é assim que eu quero que você seja. O Kenichi simples, direto e mal-humorado. Não esse ser derrotista. Não faz parte do seu estilo.
- Estou tendo uma sensação estranha de dejà vu aqui.
- Sim, é porque estamos de volta ao S.S.Anne. Apenas trocamos de lugar. O que nos mostra que você realmente não pensa no que fala. - Os dois riram, se levantando em seguida.
- Kari, eu queria agrade -- Antes que ele terminasse, foi interrompido pelo dedo da garota.
- O que foi? Todo esse estrogênio no ar te deixou uma menininha? Agradecer nunca foi parte do seu caráter. - O Charizard riu novamente.
- Você é chata pra cacete, sabia? Uma péssima motivadora.
- Eu te fiz voltar ao normal, não? - Respondeu ela, estendendo as sobrancelhas.
- Sim. Só preciso fazer o mesmo comentário sobre você, mesmo com quase dezenove anos, ter o físico de uma tábua de passar roupa e constatar que nunca terá um namorado em sua vida.
- Agora você está sendo um babaca completo. - Mesmo assim, a treinadora ainda sorria. - Se você não parecesse um dragão de quase três metros, eu te enchia de sopapos.
- Sopapos? Aprendeu a falar com a sua avó? Porque acho que ela também te ensinou como se vestir. - O sorriso de Kari diminuiu alguns milímetros, e ela deu um soco no braço do Pokémon.
- Agora estamos quites. - Os dois sorriram de forma tão ingênua que pareciam estar saindo de Pallet, sem nenhuma preocupação em seus ombros. Kari fechou os olhos, estalando a língua em seguida. - É bom te ter de volta, campeão. Bem a tempo.
- O prazer é meu. - Disse ele, se virando para o resto da equipe. - Agora precisamos fazer algo para sair daqui.
Acabaram demorando mais cinco dias. No fim de tudo, cansados e exaustos, conseguiram avistar a saída. Por um instante Kari temeu ser a entrada, mas o que viram em seguida era a confirmação. A visão que se estendia era inigualável. Imensos pilares de diferentes cores e decorações delimitavam a entrada dos treinadores, prontos para enfrentar o último desafio de sua jornada. Pois no fim de uma imensa escadaria, localizada logo depois do Caminho da Vitória, havia um prédio. A sede da Elite dos Quatro, e do Campeão de Kanto/Johto. Localizada no coração do Platô Indigo.
Kari engoliu em seco, maravilhada pela vista e sentindo uma enorme pressão derivada do lugar. Era isso, pensou. Estava lá, prestes a dar o último passo em sua jornada. Só havia mais um desafio. Todos os seus sonhos e desejos de quando era criança passaram pela sua cabeça enquanto percorria a estrada até a escadaria. Se lembrou de quando era uma criança e tudo o que vivera até ali. A garotinha temperamental e derrotista havia crescido, e dera lugar à uma garota temperamental e que lutava firmemente contra seu sentimento de derrota. Muitas coisas haviam se passado, lhe dando forças para seguir em frente, lutando contra os males interiores e exteriores. Esse é o meu jeito de viver, pensou ela. Inclinou a cabeça em silêncio para cima, avistando o enorme prédio que se estendia, e o caminho a seguir. Respirou fundo e começou a andar. Não havia vento nem mesmo outros barulhos. Era apenas a garota e o ambiente, solitários e conectados.
Kari passou pela primeira dupla de pilares, compostos de Ônix e decorados com pequenos símbolos octogonais. A lembrança da batalha contra Brock encheu sua mente, a primeira de todas, dando enfoque especial à luta ferrenha de Kenichi. Continuou andando, sentindo o coração bater mais forte.
Em seguida foram pilares de Água-Marinha, decoradas de forma a parecer que uma cascata de gotas preenchia a pedra. Kari se lembrou de Misty e seus problemas de comprometimento, e de como Wanda conseguiu derrotar seu Starmie quando ninguém esperava por isso. Novos passos se sucederam.
Desta vez os pilares eram de topázio, novos e lustrosos. Tinham pequenos relâmpagos decorando sua extensão, e a batalha contra Surge tomou conta de suas lembranças. Se recordou da dificuldade que teve em começar a peleja, coberta de lixo, da discussão com o líder e de como Sara provou seu valor. De repente, já haviam avançado.
Os pilares agora eram compostos de esmeralda, e grandes flores cresciam em suas bases. Erika foi a líder de ginásio mais fácil que Kari enfrentou, mas havia um motivo oculto para isso. Muitas coisas aconteceriam depois de enfrentá-la, coisas que mudariam a treinadora para sempre. Antes que se desse conta, já estavam em uma nova série de pilares.
Agora era âmbar que moldava os pilares, com coisas estranhas flutuando dentro deles. Sabrina foi bastante complicada, mas era a vez de Sophie mostrar a que veio, estreando com o pé direito. Assim, seguiram em frente, tanto nas lembranças como no mundo real.
Eles agora eram feitos de ametista, decorados com simples riscos em sua superfície. Koga havia sido um adversário extremamente difícil, contrastando com Erika de forma completa. Foi uma das únicas lutas em que Kari realmente temeu por seus Pokémon, mas conseguiu derrotá-lo no fim das contas. E continuou subindo.
Os próximos eram de rubi e detalhes de citrino, dando a impressão de estarem pegando fogo. Kari acabou se lembrando também de Fuji, e sua ligação com Blaine. Isso levou à batalha contra o líder de ginásio, ocorrida dentro de um vulcão. De fato, foi o ginásio mais peculiar em que a garota estivera. Agora o fim estava próximo, e a treinadora entrou no último grupo de degraus.
Os últimos eram feitos puramente de argila. Kari acabou parando por um tempo, se lembrando dos Rockets e de todos os problemas que haviam causado. De fato, vendo agora de onde estava, parecia bizarro que ela havia os derrotado. Conseguiu desfazer uma organização criminosa, e derrotou seu líder duas vezes. Era o tipo de coisa que lhe dava combustível para seguir em frente, finalmente terminando a escadaria sem olhar para trás uma única vez.
Estava agora de frente ao prédio espelhado da Elite dos Quatro. No fundo, um pedaço da gigantesca arena conseguia ser visível. A treinadora engoliu em seco, com o coração quase explodindo no peito e algo gelado dançando em seu estômago. Havia chegado. Depois de meses na estrada, finalmente estava no lugar que parecia anteriormente apenas pertencer a seus sonhos. O último desafio estava por vir. Por fim, ela havia chegado.
Kari respirou fundo e abriu a porta.
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