terça-feira, 7 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG: 21 - O quarto ginásio


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 21: O QUARTO GINÁSIO

 - Bem, ele é... diferente dos outros, não? - Perguntou Kari, inclinando a cabeça para o lado.

Haviam chegado no ginásio de Celadon, e estranharam o que viram. A estrutura não se assemelhava a um prédio ou a uma arena como os outros, mas sim a uma gigantesca estufa. Paredes de vidro circulavam uma área gigantesca que quase saía de seus campos de visão. Não havia teto, e em vez disso o topo de inúmeras árvores disputavam um lugar ao sol. Kari olhou ao redor, e avistou duas estátuas cobertas de flores em tons de rosa, delimitando uma porta quase imperceptível entre elas. Satisfeita, ela começou a andar em direção à entrada, mas um homem parou em seu caminho.

 - Oh, querida. Você vai entrar no harém de Erika? - O homem devia estar próximo dos cinquenta anos, com uma longa barba branca e rosto enrugado, vestido com um robe amarelo. Seu bafo cheirava a álcool. - Ah, que delícia. Venha aqui me dar um --

O quê exatamente Kari deveria lhe dar jazia como um mistério, pois a garota desferiu um forte soco no rosto do homem, que caiu imediatamente desacordado. Ela abanou a mão, e voltou a caminhar feliz até o ginásio.

 - Bem, enfiar a mão no rosto de pessoas bêbadas realmente me faz sentir de volta aos velhos tempos. - Exclamou ela em voz alta.

 - Que tipo de vida você vivia antes de me conhecer? - Perguntou Kenichi, um pouco distraído pelo acontecimento anterior.

 - Ah, não era nada demais. Tinham certas festas na escola em que colegas bêbados tentavam dar em cima de minhas amigas. Eu socava-os em troca de seus abusos, nada de mais. O fato de eu nunca beber me ajudava nessas situações.

 - Uau. E você se pergunta porque nunca arranjou um namorado. - Resmungou o Charmeleon de forma sarcástica.

Antes que Kari pudesse chutá-lo, entraram no ginásio. Sakura exclamou em voz alta:

 - Uma floresta dentro de um ginásio?

Era quase isso. Entre as paredes o ginásio se assemelhava a um bosque selvagem, com caminhos de terra batida desviando de árvores gigantescas. Arbustos e flores decoravam as calçadas, e mulheres de quimonos floridos passeavam pelo lugar. Havia um estranho cheiro doce no ar, tímido porém detectável. O grupo ficou paralisado, admirando a bizarrice que se estendia diante deles.

Sakura começava a se adiantar quando uma mulher de quimono rosa com flores brancas surgiu no campo de visão da equipe. Ela tinha cabelo longo e negro, com fortes ascendências orientais.

 - Bom dia, senhorita. Seja bem-vinda ao Ginásio de Celadon. Eu sou Mary, e irei guiá-la no ginásio hoje. - Sua voz era fortemente aguda, e ela mantinha o sorriso em pé.

 - Ah... obrigada. Meu nome é Kari - Respondeu a garota, se sentindo desconfortável. A recepcionista dobrou o corpo em respeito e continuou.

 - Em nome de nossa querida líder Erika, pedimos que você guarde seu Charmeleon na Pokébola. As chamas dele podem afetar nosso ecossistema que mantemos aqui. Não se preocupe, você ainda poderá usá-lo na batalha. Eu mesma a levarei até nossas arenas especiais, onde sua adversária a aguarda.

Desconcertada, Kari obedeceu, e começou a seguir a mulher. Conforme caminhavam, a treinadora olhou ao redor, e percebeu diversas mulheres andando em pares pela floresta, mas nenhum rosto masculino.

 - Vocês não tem nenhum homem por aqui? - Perguntou.

 - Ah, não. Homens desregulam o equilíbrio da natureza. Chegamos a até mesmo votar para impedir que eles pudessem batalhar em nossos terrenos, mas sentimos que teríamos problemas com a Liga. No entanto, procuramos diminuir a presença deles em nosso oásis.

 - Entendo... - Kari não entendia, mas preferiu não se aprofundar na questão. Continuou olhando a redor, com mais perguntas na cabeça. - Escute, porque essa... decoração no ginásio?

 - Ah, não, não é uma decoração. Sabe, Celadon é uma cidade bem grande, e isso afeta a natureza e nossos Pokémon com toda essa poluição e criminalidade. Portanto, Erika decidiu transformar o ginásio em uma reserva ambiental, salvando a vida de dezenas de Pokémon. Com sorte, iremos revolucionalizar a Liga com nossa empreitada.

Kari olhou em volta novamente, percebendo a profusão de insetos e pássaros no lugar. Achava difícil que a Liga fosse adotar essa estratégia de Celadon em todos os ginásios. Esses lugares eram cedidos pela prefeitura, e muitos eram muito pequenos para servirem como reservas ambientais. O fato de Erika ter conseguido uma área tão grande era surpreendente.

 - Chegamos. - Avisou a recepcionista. A treinadora se viu na ponta de uma grande arena retangular de terra batida, localizada em uma clareira entre as árvores. No outro canto, havia uma jovem mulher ajoelhada na grama. Ela tinha um rosto redondo, coberto por curtos baleos negros e uma faixa vermelha na altura da testa. Usava um longo quimono amarelo, decorado com uma outra faixa vermelha abaixo dos seios e detalhes de Pokébolas e folhas de outono na barra da roupa. Usava sandálias de madeira por cima de meias brancas, e estava de olhos fechados, cantarolando para si mesma com três Pokébolas nas mãos. O cheiro doce e enjoativo era mais forte ali. Quando Kari se encaminhou para o seu lugar, ela a encarou, revelando grandes olhos castanhos.

 - Oh. Uma treinadora. Mil perdões por fazê-la esperar. - Erika se levantou, espanando a roupa com as mãos. As Pokébolas caíram no chão, e ela se agachou para pegá-las novamente. - Me desculpe. - Ela baixinho. Ela ajeitou a faixa na testa, de forma distraída, e pareceu esquecer que Kari estava lá, preferindo regar a grama com um regador que estava próximo. Uma outra mulher, alta e loira com longos cabelos presos em um rabo de cavalo, se aproximou e sussurrou em seu ouvido. Erika concordou com a cabeça, e voltou a se levantar.

 - Eu... cheguei em uma má hora? - Perguntou Kari, incerta.

 - Oh, não, não. - A voz da líder era calma e suave, embora um pouco lenta. - Apenas me distraí por um instante. Podemos começar? - Ela encarou a garota com um olhar focado, e a treinadora respondeu com um aceno de cabeça.

Kari percebeu que várias outras mulheres haviam se aproximado da arena, ocultas pelas sombras das árvores e arbustos, mas seus olhos e silhuetas ainda eram visíveis na escuridão. Ela sentiu um calafrio na espinha, e o ambiente se tornou imediatamente hostil. As mulheres não fizeram nada, embora a simples presença delas deixasse a garota inconfortável.

 - Meu nome é Erika, líder do ginásio de Celadon. - A adversária falou em alto e bom tom, totalmente diferente de segundos atrás. - E eu não irei perder.

 - Nem eu. - Kari tentou responder, mas a pressão se tornava tão grande que a voz saiu fraca. Segurou a Pokébola com força, enquanto tentava se livrar da hostilidade oculta que as mulheres invocavam na arena. Se você pretende ser Campeã, garota, pensou, precisa aprender a lidar com pressões assim.

 - Predador. - Disse Erika calmamente à sua frente. Um Victreebel foi conjurado na arena, perto do círculo central.

 - Kenichi! - Gritou em resposta com força, jogando a Pokébola. Seu grito a motivou, expulsando toda a insegurança que foi criada pelo caldeirão. O público reagiu ao Pokémon de fogo com sussurros indignados. Era tudo que Kari precisava. - Acabe com ele!

O Charmeleon correu em direção ao adversário, e labaredas surgiram em sua boca. Ele as cuspiu, queimando um círculo em volta do Victreebel, que foi atingido pelas chamas. Em resposta, ele soltou esporos amarelos contra Kenichi. Os esporos o acertaram em cheio, e ele caiu no chão, paralisado.

 - Kenichi! - Gritou Kari. O Charmeleon tentou se levantar, mas caiu novamente. Predador, ainda envolto no fogo, soltou uma rajada roxa e fétida, que jogou o adversário para longe, caindo de costas.

 - Quem diria, não? O fogo não tem vez nesse ginásio. - Disse Erika, calmamente. A multidão ao redor aplaudiu, enchendo o ar dos ruídos das palmas.

 - Não tão rápido, frescas. Eu só precisava de um tempo para me acostumar com toda essa feminilidade. - Disse Kenichi, levantando a cabeça com dificuldades. Ele soltou uma nova rajada de fogo, que encontrou com as chamas de seu rabo e se amplificaram, acertando novamente o Victreebel. O adversário foi derrubado pelo impacto, e caiu desacordado. - Felizmente minha terapia de choque tem funcionado.

Erika não reagiu, apenas retornou seu Pokémon. Kari fez a mesma coisa. - Não tão calma assim agora, não é? - Disse a garota, ganhando confiança. Uma pequena vaia surgiu das árvores.

 - Por favor, não pense que terminamos. - Respondeu Erika. - Medusa. - Uma Tangela apareceu na arena, e Kari respondeu com Wanda. Novamente, os murmúrios de indignação surgiram da multidão. A Beedrill olhou ao redor, parecendo esquecer da batalha.

 - Oh, queridas, vocês estão lindas! Kari, podemos comprar roupas assim quando sairmos daqui?

 - Wanda, um pouco de foco, por favor.

 - Ah, sim.

A Beedrill levantou vôo, e acertou a adversária com seu ferrão. Medusa foi derrubada, e suas vinhas se moveram e penetraram no chão, prendendo-a. Erika jogou uma poção, que foi englobada pela Pokémon.

 - O que está acontecendo aqui? - Perguntou Kari. A Tangela estava caída de costas no chão, se prendendo com suas vinhas sem realizar mais nenhuma ação. Wanda a circulou pelo ar, sem saber se a luta havia terminado.

 - É apenas nossa estratégia, querida. - Respondeu Erika, colocando a mão na boca. Kari a encarou, e Wanda acertou a adversária novamente com seu ferrão, fazendo-a desmaiar.

 - Bem, meus parabéns.

 - Novamente, ainda não terminamos. - Erika recuou sua Pokémon desacordada, parecendo novamente distraída. Como alguém assim conseguiu se tornar líder, perguntou Kari a si mesma.

 - Há quanto tempo você é líder de ginásio? - Perguntou Kari, enquanto Erika procurava outra Pokébola.

 - Acho que... May, faz quanto tempo?  - Perguntou a mulher para a companheira de cabelo comprido que continuava atrás dela. May se esticou e sussurrou novamente no ouvido da líder de ginásio, que se virou para Kari. - Seis meses. Estávamos esperando as reformas do ginásio terminarem para eu assumir o posto. Haruno, vá. - Uma Vileplume saiu da Pokébola, se aproximou do centro da arena.

Zelda foi invocada, voando rapidamente contra a adversária. Ela a acertou por cima com suas asas, mas Haruno soltou novos esporos amarelos que fizeram a Golbat cair no chão, paralisada. A Vileplume se  virou contra ela, e liberou uma rajada de veneno semelhante a Predador no início da batalha.

 - Você está repetindo táticas? - Perguntou Kari, perplexa. A multidão voltou a vaiá-la, mas dessa vez ela nem se importou.

 - Todos os treinadores tem sua estratégia, não é mesmo? - Respondeu Erika, novamente calma e distraída.

 - Sim, mas você não pode repetir a mesma tática para todos os adversários! Espere, porque eu estou ensinando o básico de batalhas Pokémon contra uma líder de ginásio? - As vaias aumentaram, mas Kari não percebeu. Ela não conseguia acreditar que sua adversária parecia uma principiante. - Zelda, vamos terminar com isso logo!

A Golbat se levantou, e voou contra a Vileplume, derrubando com um golpe de suas asas. A adversária caiu, desacordada, e Erika a recuou.

 - Bem, eu admito a derrota. Você é realmente forte.

Kari ficou desconcertada, enquanto a multidão se dispersava. Eu já tive batalhas com treinadores mais difíceis do que isso, concluiu. Erika se aproximou, e entregou a Insígnia do Arco-Íris para a garota. Uma pequena medalha semelhante a uma flor de oito pétalas, com as sete cores do arco-íris e um tom mais pálido de verde em cada pétala, ficou parada na mão estendida da garota. Erika saiu um pouco depois, deixando Kari sozinha na arena, ainda tentando aceitar que a batalha tinha terminado. Zelda, ao seu lado, olhou ao redor, parecendo esperar que algo viesse.

 - Não, sério, já acabou?

Algumas horas depois, estavam no cassino da cidade, como Kari prometeu. Seus Pokémon estavam espalhados pelo lugar, enquanto a garota bebia um refrigerante, sentada em uma cadeira alta próxima ao bar. Uma parte dela estava feliz por ter conseguido mais uma insígnia, mas ela não parecia ter o mesmo peso que as outras.

 - Como ela conseguiu ser a líder de ginásio? - Perguntou a si mesma em voz alta, distraída. Com o canto do olho, viu um homem se aproximando. A garota se virou para o outro lado, tentando evitar contato, mas ele parou à sua direita.

 - Refrigerante? Quem entra em um bar para tomar refrigerante? - Perguntou o homem.

 - Eu não bebo, obrigada.

 - Ah, entendo. Estou vendo sua Pokedéx, então acho que você é uma treinadora. Onde estão seus Pokémon? - Kari escondeu a pulseira com a mão. Olhou ao redor, mas o bar estava vazio com exceção do bartender.

 - Estão por aí. Poderia me dar licença, por favor? - Ela se levantou, e sentiu uma mão agarrá-la pelo ombro. Kari se virou, se preparando para dar um soco no homem, até que o encarou. Seu rosto era bastante familiar, e ela parou o movimento.

 - O que foi? Eu só iria perguntar se você estava com o seu... Bellsprout.

A memória surgiu em sua mente como um raio. Era o Rocket que havia matado Bernard. Antes que pudesse reagir, o homem colocou com violência um pano úmido no rosto da garota. Kari tentou lutar, mas o cheiro forte a desestabilizou, e ela sentiu que estava perdendo os sentidos. Seus olhos se viraram enquanto ela tentava se debater, mas foi ficando mais fraca. Finalmente, desfaleceu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário