sexta-feira, 3 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG: 20 - Dívidas


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 20: DÍVIDAS

Saíram de Lavender na manhã seguinte à batalha com Gary. Kari se sentia imensamente grata em deixar a cidade, com seu nevoeiro enervante e memórias tristes. Assim que chegou na Rota 7, a névoa desvaneceu e foi substituída por um céu claro e canteiros de flores à beira da estrada. 

Kari voltava a se animar conforme ia caminhando. Embora os acontecimentos recentes tivessem a abalado, concordava com Kenichi que não poderia fazer nada nesse momento. Caso encontrasse Gary novamente, tentaria fazê-lo se acalmar. Não se sentia bem com ele odiando-a, depois de terem dividido uma infância, por mais conturbada que fosse.

A Rota 7 era uma estrada longa e bem movimentada, e passaram cinco dias caminhando nela. No final do segundo dia, capturaram um Vulpix em um dos vários campos abertos que tangenciavam o caminho de terra. Seu nome era Vincent, e era bastante quieto. Por já terem um Pokémon de fogo na equipe, Kari o fez retornar para sua PC BOX. No terceiro dia, passaram por um grande grupo de crianças oriundas de Saffron, que estavam em um piquinique escolar. Já no quinto, uma gangue de motoqueiros arruaceiros tentaram arrumar confusão com eles, mas foram rapidamente derrotados.

Ao chegarem no final da rota, tiveram um problema com o fiscal de divisa. Saffron era uma das únicas cidades que controlava a ida e volta dos habitantes de Kanto. Segundo a prefeitura, era uma forma de evitar atividade criminosa para o bem dos cidadãos, mas para qualquer um que não fosse um saffreano, era uma tremenda dor de cabeça. Kari foi barrada ao apresentar seus documentos, sob a alegação de que faltava uma comprovação de algum papel. Ao sair, ainda recebeu uma provocação por ser natural de Pallet. Já se sentindo irritada, saiu antes que batesse no oficial. Ao voltar à rota 7, pegou o metrô subterrâneo que a deixou nas portas de Celadon. No caminho, ficou pensativa sobre o que faria quando necessitasse entrar em Saffron para desafiar a líder de ginásio. No entanto, assim que chegou em Celadon, se esqueceu completamente de seus problemas.

Celadon era enorme. Prédios gigantescos, grandes colossos cinzas e negros, pontuavam cada rua da cidade. Carros ziguezagueavam em velocidade pelo asfalto, e várias pessoas de todos os tipos cruzavam as ruas. Kari ficou hipnotizada pelo tamanho dos arranha-céus, e nem percebeu o Centro Pokémon quando passou por ele, preferindo andar pelas ruas desconhecidas abismada pela enormidade do lugar, acompanhada por Liz e Wanda. Depois de algum tempo, percebeu que estava perdida.

 - Com, licença. - Dizia para cada pedestre, mas nenhum parava para fornecer informações. Os prédios de repente pareceram mais altos, e ela começou a ficar um pouco preocupada. Estava passando perto de um beco quando ouviu um estrondo no local.

 - Saia daqui e nunca mais volte, Sakura! - Ralhou um homem grande e gordo, vestindo um uniforme branco e engordurado de cozinheiro. Seu chapéu estava quase caindo enquanto ele esbravejava, com seu rosto ficando púrpura a cada grito. Quando Kari olhou melhor, viu uma Eevee jogada no chão.

 - Me desculpe, me desculpe, me desculpe! - Disse ela, com uma voz extremamente fina e rápida. - Eu juro, juro, juro que eu não vou mais derrubar os pratos em cima do cliente. Por favor, senhor Bros, me deixe voltar para dentro. Fica muito frio nas ruas à noite, eu sei disso. Me dê por favor mais uma chance!

 - Mais uma chance? - Perguntou o cozinheiro. - Quantas últimas chances você precisa antes de me levar à falência? Procure outro lugar! - Ao gritar essa última frase, ele bateu a porta com força. A Eevee ficou contemplando a entrada, parecendo desolada, até que começou a andar, encontrando Kari e seus Pokémon no caminho.

 - Oh. Olá. - Disse Kari. A Eevee imediatamente correu para trás, se abrigando entre a parede e um grande contêiner de lixo.

 - Oh, pobre coitada. Não se preocupe, querida, não iremos machucá-la! - Gritou Wanda, se aproximando do lixo. Kari e Liz a acompanharam, vendo a pequena Pokémon tremer embaixo do contêiner. A treinadora se abaixou e espiou o esconderijo apertado.

 - Ei, está tudo bem. Não precisa se preocupar. - Disse a garota em voz baixa. A Eevee ficou encarando-a, com grandes olhos castanhos brilhando na semi-escuridão.

 - O que você quer?

 - Bem, eu estava procurando alguém para me mostrar a cidade. E, além disso, ouvi dizer que Eevees são Pokémon bastante promissores. Então eu faço uma proposta: que tal você entrar para o meu time?

A Pokémon continuou encarando-a. - Se eu entrar no seu time... - começou ela, sem tirar os olhos dos de Kari. - ... você promete que não vai me expulsar caso eu quebre alguma cosia?

Por dentro, Kari sentiu que iria se arrepender dessa decisão, mas Eevees eram bem raros, e tinham um enorme potencial. Portanto, acenou com a cabeça.

 - Promessa de dedinhos? - Perguntou a Eevee, mais enfática.

 - Uh. Eu faço a promessa de dedinhos! - Disse Liz, animada, atrás deles. Quando Kari e Wanda a encararam, tensos, ela abaixou a voz e encarou o chão. - Eu... fazia isso quando era mais jovem. - O silêncio continuou no beco. - Posso voltar para a minha Pokébola agora?

 - Bem, podemos prometer a você usando táticas adultas e mais... bem... por favor, não me faça fazer a promessa de dedinhos. - Disse Kari, implorando para a Eevee. A Pokémon ficou pensativa, até que finalmente respondeu:

 - Certo! Meu nome é Sakura, e vou te mostrar a cidade! - A Eevee saltou do esconderijo, e correu para as ruas. Kari e os outros a seguiram, correndo. Lembrete mental: nunca apresentá-la a Zelda, pensou a treinadora enquanto desviava de pedestres, caçando Sakura.

Deram uma volta na cidade, guiados pela Pokémon de forma enfática. Foram apresentados à Mansão de Celadon, um grande asilo para idosos, e ao cassino, onde pararam por trinta minutos para Kari proibir Kenichi e Zelda, que ficaram extremamente excitados com a oportunidade de jogarem jogos de azar, de entrarem. Depois do ginásio talvez possamos gastar uns minutos ali, disse a treinadora como ponto final. Ao invés de irem ao cassino, foram almoçar em um restaurante próximo.

O restaurante era um pé-sujo bem apertado, com seu público consistindo majoritariamente de marinheiros. Enquanto almoçava, Kari teve a estranha sensação de estar sendo observada, e quando virou a cabeça para espionar o local percebeu dois homens barbados conversando e olhando-a, alarmados. Sentindo-se nervosa, ela saiu antes de terminar de comer. Enquanto pagava, ouviu o atendente conversar com o garçom sobre um rumor de que os Rockets haviam roubado algum protótipo da Companhia Silph e escondido em Celadon. Kari fez a associação quase instantaneamente.

 - Sakura, se não se importa, eu queria ficar em um lugar mais povoado. - Disse a garota ao saírem do restaurante. A rua em que estavam era deserta, com exceção de um burburinho de pessoas em frente a um hotel meia-boca.

 - Ah, com certeza!  - De forma impressionante, mesmo tendo corrido por quase quatro horas, não havia um único sinal de cansaço na Pokémon. - Eu deixei o melhor lugar por último. Vamos! - Ela voltou a disparar na frente. Kari suspirou, e se perguntou onde era o próximo ponto de táxi.

Meia hora e um táxi bastante caro depois, chegaram ao Departamento Comercial de Celadon. Mesmo tendo se acostumado com os arranha-céus da cidade, Kari ainda se abismou com o tamanho do edifício à sua frente. O Departamento era tão grande que praticamente a rua inteira pertencia a ele. Enquanto dobrava o pescoço para poder enxergar o topo, a garota retornou Zelda à Pokébola por motivos de segurança. 

Ao entrarem na loja, seus queixos caíram novamente. Wanda chegou a voar mais alto, mas não conseguiu enxergar o fim da sala. E esse era apenas o primeiro andar.

 - O-o que vende aqui? - Perguntou Sara, abismada.

 - De tudo. Acho que até algumas coisas que não existe. Quem sabe? - Respondeu Sakura. Ela correu para dentro da loja, e eles a seguiram, mesmerizados.

As sete horas seguintes se passaram como um sonho para Kari. Ela não conseguia se lembrar do que havia feito, mas no fim do dia estava com três sacolas grandes e cheias nas mãos, e cada um dos seus Pokémon segurava um souvenir, exceto por Sakura.

 - Bem, para parabenizar a nossa nova membro da equipe, pensei em comprar algo especial para você, Sakura. - Disse Kari perto de uma loja de jóias, com grandes óculos escuros e um chapéu de abano na cabeça, segurando um pacote atrás do corpo. A Eevee corria em círculos em torno dela, tentando adivinhar o que era.

 - Um pônei? Um skate? Jujuba? Pirulito? Videogame? O quê, o quê, o quê!? - Ela começou a saltar em frente à garota, pulando tão alto que quase chegava à altura de seu rosto.

 - Por favor, Kari, apenas dê a droga do presente. - Disse Kenichi, com um lenço verde enrolado no pescoço. 

Kari abriu o pacote, e uma estranha pedra amarela emitiu um forte brilho. Ela tinha detalhes em vermelho por toda a sua extensão, e no centro o símbolo de um raio decorava seu interior. Os olhos de Sakura brilharam em resposta.

 - Isso é...?

 - Sim. Uma pedra do trovão. Eu não fiz promessas de dedinhos, mas posso recompensá-la de outro jeito. - Kari se agachou para encostar a rocha na cabeça de Sakura. Eevees, assim como outras espécies de Pokémon, evoluíam com minerais especiais, oriundos de cavernas em Sinnoh. Diversos pesquisadores se questionavam sobre esse tipo de evolução, e até agora nenhum resultado conclusivo foi apresentado. Assim que a Pedra do Trovão encostou na Pokémon, um forte brilho branco saiu da Eeevee, e a Pedra caiu das mãos de Kari, totalmente apagada. Quando parou de brilhar, Sakura havia se tornado uma Jolteon.

 - Uau. Uau uau uau uau uau uau. - Repetiu, averiguando cada centímetro de seu novo corpo. 

 - Bem, fico feliz que você tenha --

 - EU ADOREI! NUNCA ME SENTI MELHOR! - Antes que Kari respondesse, Sakura disparou pelo lugar, derrubando cabides e bancadas.

 - N-n-não! Pare! - Era em vão. A Jolteon causou uma destruição no lugar, derrubando tudo que encontrava. Kari ficou com a mão erguida, petrificada, observando o pandemônio. Ao seu lado, Liz retirava o laço da cabeça.

 - Acho que não vamos mais comprar tudo isso... - Disse a Wigglytuff em voz baixa. Sakura havia parado de correr, e estava rolando sobre o próprio corpo, rindo loucamente. Todos os olhos do departamento estavam em Kari, que continuava petrificada.

 - Bem, agora entendi o motivo da promessa dos dedinhos. - Concluiu Wanda. 

- E nem precisamos de Zelda dessa vez para destruir mais uma loja. - Acrescentou Kenichi.

Foram expulsos alguns minutos depois, e seus rostos foram fotografados de modo a serem identificados para nunca mais pisarem no Departamento. Sem nem mesmo um centavo na conta, Kari andou casisbaixa pela cidade. Ao seu lado, Sakura continuava alegre e sorridente, e corria circulando a treinadora. Eles chegaram ao Centro Pokémon sem a garota proferir uma palavra, preferindo entrar no seu quarto e se jogar na cama. 

Sakura havia ficado do lado de fora, e só perceberam o erro disso ao acordarem no dia seguinte pelos administradores do Centro, pedindo compensação pela destruição no restaurante. Sob dívidas, Kari preferiu adiantar a ida ao Ginásio de Celadon, onde Erika a aguardava.

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