sábado, 22 de junho de 2013

RN Nuzlocke LG - Capítulo 30: Vitória Sombria

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 
CAPÍTULO 30: VITÓRIA SOMBRIA

Kari respirava aliviada, alheia aos movimentos do lado de fora do corredor. Um Rocket havia se arrastado até a porta do lado de fora, sobrevivente da luta dos andares abaixo. Ele segurava um braço dormente, e se locomovia lentamente até a grande porta dupla da sala do Presidente. Em seus dentes, havia um controle de formato cilíndrico, e um grande botão vermelho em uma das extremidades. Ele havia recebido o objeto de seu líder quando o homem desceu as escadas, parecendo extremamente agitado. Sua ordem era clara: aperte o botão o mais perto possível da sala do presidente. E assim o Rocket se encaminhava, encostando as costas na porta. Ele se sentou, ofegante, cuspindo o objeto. Seus dedos deslizaram pelo botão, enquanto ele se questionava sobre o objetivo deste ato. No entanto, sua convicção impediu qualquer ação contrária.
  - Salve os Rockets. - Ele apertou o botão. Em toda Saffron pôde-se ouvir a explosão, e milhares de cabeças se viraram, alarmadas, vendo um dos andares do famoso arranha-céu da Silph arder em chamas. Houveram gritos e comoção, enquanto dois líderes de ginásio corriam até o edifício. Ninguém soube o que realmente aconteceu ali, e apenas um rosto sorria no meio do caos. Um homem de terno negro, andando rapidamente entre as ruas, com a satisfação da vingança em seus lábios.
  Se passaram dias desde o evento agora conhecido como “Ofensiva Rocket”. Kari abriu os olhos, sentindo o corpo dormente. Se viu em um leito de hospital, e uma figura familiar apareceu em seu campo de visão.
  - Kari. Graças a tudo que é mais sagrado, você está bem. - Disse Koga, saindo do quarto em seguida. Ele retornou alguns minutos depois, enquanto a garota ainda recobrava a consciência, voltando com o professor Carvalho e Sabrina.
  - Ah, Kari. Onde você se meteu? - Disse Carvalho, colocando a mão em sua testa. Ela ainda estava grogue, impedindo-a de responder.
  - A garota é uma heroína. A queda dos Rockets está toda em suas mãos. - Disse calmamente Sabrina, se apoiando na parede.
  - E por qual motivo então vocês dois receberam os créditos? Não há uma menção a ela nos jornais!
  - Pelo mesmo motivo pelo qual o senhor decidiu não alertar a mãe dela. – Disse Koga. - É tolice pensar que todos os Rockets foram presos, e que não há mais nenhum em liberdade. Se dissermos que uma civil contribuiu com a dissolução deles, seria ingênuo pensar que eles não retornariam em busca de vingança. Eu e Sabrina podemos nos virar, ela não. Espero que você não se importe com isso, garota. - Kari levou a mão à cabeça, apalpando bandagens secas.
  - O... o que houve? - Os três adultos se entreolharam, e Carvalho começou a falar.
  - Haviam... bombas no lado de fora da sala do presidente da Silph. Eu não sei o que aconteceu lá, mas elas explodiram. Achamos vocês nos escombros. Você tem uma idéia do que aconteceu?
  - Eu... - Ela levou as mãos às têmporas, tentando se proteger da dor de cabeça que sentia. Sabrina se aproximou, e pousou sua palma na testa da garota.
  - Acalme-se. Agora que está consciente, eu posso extrair as informações sem esforço por sua parte. Deixe-me ver... - A líder de Saffron inclinou a cabeça, fechando as pálpebras no processo. - Houve uma batalha. Você não sabe quem era o homem com quem batalhou, por isso não consigo identificá-lo. No entanto, tudo leva a crer que era o líder dos Rockets. Você o derrotou, e depois...estranho. Você estava bem perto da parede, como as bombas não te jogaram para fora do prédio? Koga. - Ela parou, se virando para o outro homem. - Precisamos conversar.
  Os dois foram para um canto, enquanto Carvalho ficou sozinho com a garota, que sentia as memórias voltando para o lugar. - Professor, eu... eu vi Gary.
  - Gary? Ah, graças a tudo que é mais sagrado. Não tenho respostas do garoto há meses. Ele estava bem? - Kari tentou responder a verdade, mas ao ver o rosto esperançoso do homem mais velho, recuou.
  - Ele... ele estava bem. Saiu um pouco antes da luta.
  - Professor. Temo que devemos contar a verdade pra ela. - Disse Koga. Os dois voltaram a se aproximar, e Kari viu o rosto de Carvalho ficar sombrio.
  - O que houve? - Perguntou a garota, sentindo a apreensão tomar conta do ambiente.
  - Kari, havia algo estranho no lugar em que te encontramos. Você estava bem perto do epicentro da explosão, e mesmo assim não havia sofrido os danos correspondentes. Suspeitávamos de um elemento extra, e agora sabemos como ele ocorreu. - Disse Koga, de forma séria.
  - Seus outros Pokémon estavam espalhados, mas um estava bem próximo de você, parecendo empurrá-la junto com sua Jolteon em direção ao centro da sala. Você se lembra de alguém próximo a você, com capacidade de fazer isso? – Perguntou Sabrina.
  - Eu não... Sakura estava perto de mim, acho, mas vocês acabaram de dizer que ela também foi arrastada
  - Todos os seus outros Pokémon estavam longe, então?
  - Não... Apenas cinco lutaram. Deixei Wanda na Pokébola, porque ela não precisava entrar naquela luta. - Ela percebeu a expressão sombria se intensificar no rosto dos outros.
  - Wanda era... a Beedrill, correto? - Perguntou Koga.
  - Sim... como assim, “era”? Já disse, ela estava na Pokébola. Nem sequer entrou na luta.
  - Kari... - Começou o professor Carvalho, apoiando sua palma na mão da garota. - Encontramos Wanda morta.
  O choque bateu na treinadora e a imobilizou, a deixando incapaz de pensar ou agir em resposta. Seus olhos se arregalaram, e o coração parou de bater. Não era possível, pensou. Ela estava fora da luta.
  - Tudo nos leva a crer que ela estava te impedindo de cair do prédio, Kari. - Disse Sabrina. - Achávamos estranho quando encontramos a cena, mas tudo faz sentido agora. Pela sua posição, você iria ser jogada para a frágil parede de vidro com o impacto dos explosivos. Pelo que entendi, ela saiu da Pokébola e te protegeu da explosão, salvando-a. Infelizmente, isso pôs a Beedrill na...
  - Onde estão meus Pokémon? - Perguntou a garota, sentindo a raiva tomar conta de si. Eles não entendiam, não? Wanda estava fora da luta.
  - Estão aqui. - Carvalho estendeu seu cinto a ela, e ali estavam cinco Pokébolas. A treinadora puxou o objeto com força de sua mão.
  - Agora, saiam. Kenichi irá matá-los caso descubra que estão mentindo sobre algo tão terrível. E eu não vou contê-lo.
  - Kari, eu... - O professor tentou argumentar, mas Koga pôs a mão em seu ombro, balançando negativamente a cabeça. Os três saíram lentamente, enquanto a garota os encarava, furiosa. Foi apenas quando a porta bateu que ela liberou seus Pokémon na sala.
  - Onde está Wanda? – Perguntou a treinadora. Kenichi se arrastou até o outro lado da sala, de costas, enquanto os outros quatro se posicionavam tristemente ao redor da cama.
  - Kari, eu... temo que ela – Começou Sara, mas a garota a impediu,
  - Vocês também caíram nessa? Gente, Wanda estava na Pokébola. Mesmo se ela saiu, o impacto não seria o suficiente para matá-la. Vocês não sofreram isso.
  - Sim, mas... Ela recebeu um ataque que não pudemos calcular de onde veio. Era um raio roxo, que literalmente se materializou do nada. – A mente de Kari deu um salto, e ela se lembrou do ataque futuro do Alakazam de Gary. Ele havia acertado seu alvo, mesmo com tanto tempo depois? A garota encarou sua equipe, passando de rosto em rosto. Sara encarava o chão, sem conseguir mais falar. Liz chorava baixinho, enquanto Zelda se apoiava tristemente no canto da cama. Sakura havia se recolhido para ficar embaixo do sofá, e Kenichi... ainda não havia se virado. O coração da treinadora pareceu parar por alguns instantes.
  - Não... não pode ser. Eu... – Ela envolveu a cabeça com as mãos. – Wanda, ela... Nós estamos juntas há tanto tempo. Não... não era pra ser assim. Seríamos campeãs juntas. Nós... oh, céus... – Era como se conseguisse materializar a Beedrill à sua frente, fazendo algum comentário zombeiro e tentando perturbar Kenichi. Nunca mais iria ver aquilo? – Por favor, não... – Kari sentiu as lágrimas descerem copiosamente pelo seu rosto, e sua garganta deu um nó tão grande que nenhuma palavra conseguia ser libertada. Ela ficou ali, chorando silenciosamente, sem conseguir aceitar o que havia acontecido.
  Os dias se passaram, tão rápidos que não podiam ser calculados. Tudo que Kari fazia era encarar a janela mais próxima, sem falar com ninguém. Carvalho, Sabrina, Koga, todos ficavam lá mas não conseguiam uma resposta. Eis que, em um dia, um novo rosto apareceu na porta.
  - Kari? Eu... peço perdão pelo meu atraso. – Era Fuji, que carregava uma Pokébola e uma caixa metálica nas mãos. A garota não respondeu, esperando o homem mais velho se arrastar até ela. Sakura estava em seu colo, apoiando tristemente sua cabeça em seu peito enquanto a treinadora coçava distraidamente sua cabeça.
  - Eu... não consigo imaginar o que esteja sentindo. É terrível perder alguém assim, de forma tão...
  - Fuji, o que você quer? – Interrompeu a garota. O homem pareceu surpreso, e apoiou seus dois presentes na cama.
  - Estou aqui, além de ver como você está, em nome do presidente da Silph. Ele infelizmente não pôde vir pessoalmente, então me pediu para lhe entregar essas duas coisas. – Ele segurou a Pokébola, girando-a distraídamente na mão. – Essa é Sophie, uma Lapras premiada. O presidente decidiu te entregar e...
  - Se acham que vou substituir Wanda, podem levá-la de volta. Eu não quero.
  - Kari, nunca pensamos nisso. Apenas pensamos que, caso você queira chegar a Cinnabar para seguir a liga, precisará de um meio de transporte. E, como diriam os antigos, nada melhor que uma Lapras.
  - A Liga. Eu... não pensei nisso desde... Fuji, eu não sei se consigo mais fazer isso.
  - Kari, sinto-lhe dizer, mas este é um pedido nosso. Por favor. – Ela o encarou, e percebeu lágrimas em seus olhos. – Já te colocamos em uma briga que não era sua. Causamos indiretamente a morte de um membro de sua equipe. Por favor. Tudo que não queremos é destruir seu sonho.
  Kari ficou o encarando, sem saber o que dizer. Finalmente, aceitou a Pokébola. – Obrigada, eu... eu vou continuar.
  - Ótimo, ótimo... – Fuji enxugou os olhos com as costas da mão, e segurou a caixa metálica. – Agora, este é um resquício muito importante. Veja, depois dos acontecimentos de semana passada, o presidente decidiu abolir qualquer menção ao programa Master. Creio que vários protótipos acabaram sendo contrabandeados para outras regiões, como Karos, Unova, até mesmo Johto. No entanto, ele queria que você ficasse com isso. – Fuji abriu a caixa, revelando uma estranha Pokébola roxa e vermelha, com um “M” bordado em prata no topo. – Chamamos ela de Masterbola.
  - O quê? Não disseram que ela era ilegal?
  - Kari, infelizmente há coisas que você não sabe sobre os Rockets. Veja, quando fui contratado por eles, estávamos a procura de um Pokémon lendário. Sabe o que é isso?
  - Sim. Não há nenhuma prova de que eles existam, exceto em lendas. Que eu saiba, as mais comuns são sobre a Trindade dos Pássaros, certo? Articuno, Zapdos e Moltres.
  - Sim, correto. No entanto, há algo a mais. Veja, há anos que certos grupos buscam por esses frutos de lendas, e recentemente há uma procura mais forte em diversas regiões do mundo. Houve uma grande explosão em Hoenn recentemente que atribuíram a Groudon, o lendário Pokémon Continente. O poder deles é imensurável, e já era tempo de criminosos buscarem eles a seu bel-prazer. Antes de eu saber disso, os Rockets me chamaram para procurar Mew, e como você sabe, eles se adquiriram dos pêlos dele. Há alguns meses, houve uma explosão em Cinnabar, e relatos dizem de uma criatura saindo de lá. Desde então, os Rockets intensificaram suas atividades. Não creio que os dois atos não estejam interligados, Kari. Essa Masterbola é um instrumento de proteção para você. Caso encontre a tal criatura incrivelmente poderosa, use-o sem piedade.
  Kari girou a esfera nas mãos. – Eu... entendo o que o senhor quer dizer. Você acha que vou encontrá-lo?
  - Tudo o que sei era que o projeto Master parecia ser a única esperança do líder dos Rockets. O que me leva a crer que a criatura é tão poderosa, que não havia a chance de lutar com ela. Sobre suas chances de encontrá-lo... não podemos correr riscos.
  - Certo. – Ela voltou a encará-lo. – Obrigada.
  - Não me agradeça. Não ainda. – Ele se levantou, e se aproximou da porta. – Temo que agora só nos encontraremos no Platô Indigo, Kari. Estarei esperando você se tornar Campeã. Nunca encontrei ninguém que estivesse mais predestinada a isso do que você. – Ele saiu, deixando a garota com seus próprios pensamentos. As duas Pokébolas estavam em suas mãos, significando coisas imensamente diferentes.
  Um mês se passou desde aquele dia, e Kari estava parada em frente ao ginásio de Saffron, com as mãos nos cabelos para protegê-los do vento forte. Se virou para seus Pokémon, e disse: - Hora de mostrar todo o nosso treinamento, rapazes. Hoje é o dia em que voltamos ao caminho da Liga. E iremos passar por ela, assim como todos os outros. – Assim que disse isso, entrou no ginásio, com uma estranha sensação em sua mente.
  De algum modo, sabia que Sabrina estava a aguardando.


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