terça-feira, 28 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG - Capítulo 26: Em busca de Koga

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 26: EM BUSCA DE KOGA

- O.K, agora eu vou. - Disse Kari, se aproximando com a bicicleta do abismo à sua frente. Ela deu uma olhadela para baixo, e recuou. - Não não não, espere. Deixe-me respirar um pouco.

- Kari. Estamos aqui faz trinta minutos. Uma hora você irá ter que descer. - Respondeu Sara, cansada. Ela e Liz estavam sentadas na relva, esperando a treinadora descer pela ciclovia. O detalhe é que o caminho era quase vertical para baixo, acompanhando a cachoeira que exalava uma névoa tão densa que o caminho abaixo não podia ser visto. As mãos da garota estavam brancas pela força com que ela segurava o guidão.

- Eu sei. Eu sei. Eu já vou. - Ela espiou novamente o caminho abaixo, e tropeçou para trás. - Por quê não posso voar com Kenichi mesmo?

- Vou responder novamente. Ele chama muita atenção. Se estamos indo procurar Koga, devemos ser cuidadosos. E antes que você pergunte de novo, sim, a bicicleta é obrigatória para os treinadores na ciclovia. Regras da casa.

- Kari, talvez você precise de um incentivo. - Disse Liz, rolando na grama para encará-la. - Eu sei que é aterrorizador, mas quem sabe--

- O quê? Você ainda não desceu? - Gritou Kenichi ao se aproximar. - Você disse que se eu comprasse a droga do seu refrigerante era pra te entregar lá embaixo!

- Cale a boca! Eu estou indo! - Gritou em resposta a garota. Ela se inclinou na bicicleta e colocou os pés nos pedais, mas desistiu antes de pedalar. - Me dê meu refrigerante. Talvez ele me acalme.

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- Ou talvez eu tenha uma resposta melhor. - Disse o Charizard, entregando o copo. Quando a garota se esticou para pegar, ele agarrou seu cinto e liberou uma Pokébola. Sakura foi materializada no chão, e Kenichi pegou-a e jogou na cabeça da treinadora. - Aqui está o incentivo que você precisa!

Sakura saiu agitada, e se agarrou nos cabelos da garota. - CARAMBA! KARI, VAMOS DESCER NESSA RAMPA IRADA! - Gritou ela, tapando os olhos da treinadora. Kenichi aproveitou o caos e empurrou a bicicleta, que começou a descer a ladeira lentamente.

- SAKURA! FIQUE QUIETA! - Ela retirou as patas da Jolteon do rosto para poder enxergar onde estava indo, mas já era tarde demais para desistir. - KENICHI, SEU FILHO DA -- Ela não completou a frase, preferindo gritar frases sem sentido enquanto sua silhueta descia em quase queda livre. O Charizard se aproximou da borda e gritou:

- O que você disse antes? Terapia de choque? Ah, saco, acho que ela não pôde ouvir. - Acrescentou ele, sem enxergar a treinadora. - Vamos esperá-la lá embaixo, certo? - Disse, se virando para Liz e Sara, que o olhavam estupefatas.

Encontraram Kari na base da cachoeira, completamente encharcada pela queda na água. Ela não falou nada, apenas pedalou em silêncio para a próxima cidade. Depois de algumas horas, chegaram a Fuschia.

Fuschia era uma cidade grande, embora sua arquietura tivesse fortes influências do Japão feudal, com casas de madeira, telhados ornamentados, cores naturais e bosques por todo o lugar. Com isso, o famoso Safari ao norte se contrastava fortemente com o resto da região, muito porque Fuschia foi construída no meio de uma reserva natural, e todo o seu ecossistema foi artificialmente gerado pelos fundadores. O Safari foi uma reserva feita em resposta a isso. Naquele dia, como de costume em vários períodos do ano, a névoa da cachoeira era levada pelo vento até a cidade, infestando as ruas.

Kari e sua equipe se dirigiram imediatamente até o Ginásio, uma construção bastante semelhante aos templos japoneses. Um grande muro circundava casas gigantes, com telhados verdes e bosques internos. A garota bateu no grande portão, mas não houve nenhuma resposta por um longo tempo.

- Eu não gosto disso. - Disse Sara, olhando ao redor. Não havia nenhum sinal de invasão, mas também não havia nenhum sinal de vida.

- Você acha que devemos entrar? - Perguntou a treinadora. - Digo, se ele realmente está em apuros, nós deveríamos avisá-lo.

- Kari. - Disse Sara, apontando para o alto. Quando Kari se virou,viu uma carta descer dos ares e cair no pé dela. Quando se abaixou para pegá-la, percebeu que estava escrito Fuji me avisou que você vinha no envelope. Olhou para cima, e as árvores balançaram suavemente. Kari abriu o envelope e leu seu conteúdo.

Você deve ser Kari. Meu nome é Janice, e sou a filha de Koga. Os imbecis dos Rockets vieram no Ginásio e fizeram minha família de refém. Aqueles malditos fizeram meu pai se exilar, falando que caso o vissem novamente, nós morreríamos. Eu posso escapar sem problemas, mas caso eu faça isso, eles vão matar a minha mãe. Tudo o que consigo fazer, por mais que eu esteja irritada, é entregar esta carta a você. Meu pai disse antes de se exilar que estava no Safari de Fuschia, próximo ao lago central. Saia daqui logo e vá falar com ele. Os Rockets interceptaram a ligação de Fuji, e estão procurando por você. ANDE.
 Janice.

Kari dobrou a carta e olhou em volta. Não viu Janice em nenhum lugar, mas se sentia inclinada em acreditar na carta. Pelo que sabia, Koga era treinado nas artes ninjas, e provavelmente estava ensinando suas técnicas à filha. E, se a carta estivesse certa, ela precisaria procurar o Líder de Ginásio.

Levou algum tempo até que chegassem às portas do Safari, passando antes por um grande Zoológico. Havia um grande quiosque que separava a cidade da reserva propriamente dita, e ela tinha uma arquitetura diferente dos outros prédios da região, preferindo ser um grande bloco de concreto pintado de amarelo. Quando entrou, Kari assinou os termos de responsabilidade e recebeu Pokébolas especiais, entrando no Safari em seguida.

Uma gigantesca área se abriu diante deles. Árvores baixas pipocavam na relva amarelada, com grandes morros à distância delimitando o terreno. Pokémon podiam ser vistos em todos os cantos, variando de Rhyhorns, Kangaskhans até Exxegutors. Um riacho tímido serpenteava na frente da equipe, desabando em um grande lago a noroeste.

- Uau. - Disse Kari, andando pelo terreno. - É realmente um lugar bastante diferente de Fuschia. Não sei quem é mais impressionate: aqueles que arquitetaram a cidade ou os que fizeram esse lugar.

- Acho que devemos nos concentrar em Koga por enquanto, Kari. O tempo é curto. Pelo que sabemos, os Rockets podem ter terminado seus planos nesse exato momento. - Disse Sara ao seu lado.

- Certo. Pelo que a filha dele disse, ele está perto do lago. Vamos até lá e--

- Vocês não irão a lugar nenhum. - Disse uma voz rouca e grave atrás deles. Antes que Kari pudesse se virar, sentiu uma mão vinda detrás de si segurando uma adaga afiada em sua garganta. Seus Pokémon quase reagiram, mas ao ver a lâmina cessaram o movimento lentamente. - Quero que você me responda algo com clareza. Entendeu? - Ele pressionou a adaga, e a garota sentiu uma fina gota de sangue descer pelo pescoço.

- Pode perguntar o que quiser. - Disse Kari, sentindo o coração bater mais forte. Ficou tentada a se virar, mas não se arriscava a tanto.

- Eu só quero uma resposta simples. Você é afiliada à Equipe Rocket? - Perguntou a voz.

- Eu quero deter os Rockets. - Respondeu a garota, tentando imprimir confiança à si mesma. A voz ficou calada por alguns instantes, até que falou em voz alta:

- Ela está falando a verdade?

- Sim. - Respondeu uma nova voz, feminina e calma desta vez. A adaga foi retirada de seu pescoço. Quando a garota se virou, para sua imensa surpresa, viu que os dois líderes de ginásio, Koga e Sabrina, estavam diante dela. Koga era um homem quase chegando à meia-idade, com pele pálida e traços orientais, cabelos negros e vestido de forma feudal. Sabrina, por sua vez, era uma mulher alta com um longo cabelo liso e negro. Ela estava vestida com um com um vestido longo e vermelho. - Sara. Incomum vê-la por aqui. - Disse a líder de ginásio, se virando para a Sandslash.

- Espere. Vocês se conhecem? - Perguntou Wanda, olhando de uma para a outra. Sarah se afastou e cruzou os braços, olhando Sabrina de cima a baixo.

- Sabrina foi uma treinadora excepcional que passou por mim há alguns anos. Ela foi minha hóspede por alguns dias, e conversamos bastante nesse tempo. - A Pokémon se virou para Kari. - Ela possui poderes telepáticos discretos também, caso queria saber. Deve ser assim que me identificou e soube que você não estava mentindo.

- Vejo que arranjou uma treinadora. Achei que você não aceitaria entrar em uma equipe.

- As circunstâncias... e a treinadora... me motivaram a isso.

- Hunf. - Bufou Sabrina. Koga se intrepôs entre elas, se virando para Kari.

- Creio que, se veio à minha procura aqui, deve ter visto minha filha. Como ela está? - Seus olhos por um momento se mostraram tensos, mas apenas por uma fração de segundo.

- Acho que ela está bem. - Disse a garota. - Eu não cheguei a vê-la, mas ela me mandou uma carta. - Ela entregou o papel que a Koga, que o leu avidamente, até se sentar na relva amarelada.

- Fuji, hein? Bem, acho que aquele velho cão de guerra ainda está na ativa. Os Rockets não deixaram alguém tão influente incólume nestes... tempos. - Ele encarou profundamente os olhos de Kari. - O que está acontecendo no resto de Kanto?

- Fuschia e Saffron se juntaram à Cinnabar e Viridian na lista de cidades com os líderes de Ginásio sumidos. A Liga Pokémon convocou o restante dos líderes para se reunirem no Platô Indigo, onde eles decidirão o que fazer.

- Então quer dizer que os Rockets estão livres nesse período de tempo. - Ele respirou profundamente, fechando os olhos no processo. - Isso é ruim. Infelizmente, eles têm reféns o suficiente para nos manter na encolha.

- E você vai ficar aqui sem fazer nada enquanto isso? - Perguntou Kari, indignada. - O poderoso Koga e a extraordinária Sabrina, treinadores de alto calibre, vão ficar parados enquanto os Rockets tomam conta do mundo?

- Eles possuem minha família como refém. E todo o ginásio de Saffron. Acredite garota, nós adoraríamos acabar com eles, mas tudo o que podemos fazer é se esconder. Sabrina veio até mim para formularmos um plano depois da tomada de sua cidade, mas os Rockets logo chegaram e me fizeram fugir também.

- Ótimo. Ótimo, mesmo. - Disse Kari, agitada e frustrada. - Bem, fiquem se divertindo aqui, então. Eu vou acabar com eles sozinha. - Ela começou a andar para a saída.

- Você sabe que é impossível. Eles são centenas. - Disse a voz monótona de Sabrina.

- Eu não estou nem aí. Só não sou o tipo de pessoa que prefere se esconder a tentar fazer alguma coisa. - Respondeu a treinadora, parando de andar.

- E o que você espera que façamos? - Perguntou Koga.

- Sinceramente? Eu não sei. Tudo o que eu sei é que, desde que eu me interessei por batalhas Pokémon, os líderes de ginásio soavam para mim como heróis, paladinos da justiça que defendiam o crime em sua cidade. Só que quando eu comecei minha jornada, descobri a verdade. Os líderes eram peças políticas, movidos pela Liga Pokémon para seus próprios fins. Encontrei líderes fracos, líderes que preferiam se esconder, líderes que evitavam sua responsabilidade. Só que, por algum motivo, mantive a esperança em vocês dois, mas eu deveria saber melhor. Quando os Rockets me atacaram, não foi nenhum herói que veio me salvar. Foram meus Pokémon. E, certas vezes, eu mesma. - Ela se virou para os dois, franzindo a testa. - Por mim, eu ia enfrentar eles logo quando cheguei em Saffron, mas preferi um caminho mais seguro para minha equipe. Muito porque eu estava com medo também, mas pelo visto essa opção não existe mais. Eu ainda não estou confiante em fazer isso, mas prometi a mim mesma que a desistência não era mais uma opção. Passar bem vocês dois. - Ela se virou para a saída, e havia quase chegado na porta quando a mão de Sabrina se apoiou em seu ombro.

- Consigo entender agora o motivo de Sara ter se aliado à sua equipe. Você possui virtudes excepcionais. - Ela parou para respirar fundo. - Talvez não possamos ajudá-la diretamente, mas com um pouco de planejamento, seu caminho ficará mais fácil.

- O que quer dizer com isso? - Perguntou a garota.

- Eu quero dizer que eu tenho um plano.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG - Capítulo 25: Encurralados

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 25: ENCURRALADOS

Kari seguia pela rota 7, pedalando a nova bicicleta que Fuji a havia emprestado. As últimas palavras do homem ainda estavam frescas em sua mente enquanto imprimia velocidade aos pedais. "Koga é o homem que você procura. Ele possui experiência e influência para organizar os líderes de ginásio. Se aceita uma sugestão minha, vá a Saffron e fale com Sabrina. Ela também é uma excelente treinadora e seria bom já ir preparando o terreno. Principalmente se os Rockets planejam fazer algo em sua cidade". 

Assim, ela corria pela rota 7, sentindo o vento balançar seus cabelos. Era uma sensação maravilhosa, concluiu, com seus problemas e preocupações voando para trás. Além do mais, o tempo de seus deslocamentos diminuía consideravelmente.  A estrada, que durava quase uma semana, foi percorrida em apenas três dias.

Quando a garota chegou à borda da cidade, estranhou a fila de pessoas que se formava no balcão de atendimento aos visitantes. Um grupo de quinze pessoas, todas reclamando em voz alta ou consigo mesmas, se amontoava fora do pequeno guichê.

- O que houve? - Perguntou ela a um homem barbudo e alto no fim da fila.

- Eles estão de palhaçada! Entrar em Saffron já havia virado um terror nos últimos meses, com tanta papelada, mas agora eles dobraram sem nem mesmo um aviso! Eu tenho família lá dentro! - Gritou o homem, sem nem se virar para a garota. Liz foi na frente para ver o tumulto, e voltou com uma expressão perturbada.

- Kari? - Chamou ela em voz baixa, segurando a barra da camisa da garota. - Acho que você não vai gostar de ouvir o que tenho a dizer. São os Rockets.

- Como assim? - Perguntou a treinadora, sentindo a adrenalina voltar ao seu sangue.

- Eu o reconheci. É o mesmo homem que nos atacou no Monte da Lua. O que faremos agora?

- Vamos acabar com ele! - Gritou Zelda, partindo para a frente. Kari imediatamente a fez recuar para a Pokébola, guardando-a no cinto.

- Zelda! - Gritou Kari, tentando fazê-la voltar à Pokébola. No entanto, a Golbat já estava longe, e entrou no edifício. As pessoas da fila se abaixaram e reclamar em voz alta com a Pokémon avançando sobre eles, e se irritaram mais ainda quando a treinadora e sua equipe passaram correndo por eles, gritando por Zelda. 

- O que ela acha que está fazendo? - Perguntou Sara. Kari entrou no edifício, e avistou o mesmo Rocket do Monte da Lua no guichê, sendo acuado pela Golbat. O homem a encarou nos olhos e seu rosto ficou pálido.

- Você! Hoje você não escapa! - Ele apertou um botão embaixo da mesa, e um alarme começou a tocar no estabelecimento. O coração de Kari subiu até sua traquéia, e ela se virou para trás. As portas se fecharam, e dois homens vestidos de policiais entraram pelo lado de Saffron. Kenichi e Sakura investiram contra ele antes que pudessem liberar seus Pokémon, mas o estrago já estava feito.

- Precisamos sair daqui agora! - Gritou Kari por cima do som do alarme. Ela sacou suas Pokébolas para recuar sua equipe, e montou na bicicleta. Em algum canto de sua mente agitada, a lembrança do professor Carvalho reclamando que não poderia usar bicicletas dentro de prédios surgiu, fruto de quando ela destruiu boa parte de seu laboratório quando criança. Me desculpe, mas acho que hoje vou ter que ignorar essa regra, pensou Kari, disparando em velocidade. 

Saffron era um enorme conjunto de prédios cercado por um anel de casas bastantes similiares umas às outras.  A garota serpenteou pelas ruas, procurando alguma espécie de placa que a indicasse um lugar para fugir. Havia adentrado fundo na cidade, pedalando com tanta força que suas pernas queimavam pelo esforço, até que algo se chocou contra sua bicicleta.

Ela caiu com força no chão, arrastando todo o lado esquerdo do corpo no asfalto. Sua bicicleta tombou sobre ela, com as rodas ainda girando fracamente. Quando Kari abriu os olhos, viu um Raticate parado a poucos centímetros de seu rosto, a encarando com os olhos raivosos.

- Acabou para você, garota. A equipe Rocket sempre vence. - Falou uma voz cujo corpo Kari não conseguia enxergar. O Raticate abriu a boca, mostrando a coleção de dentes afiadas que se aproximavam da garota a cada instante...

Subitamente, o Pokémon foi jogado longe por uma força não vista. A treinadora nesse momento viu o Rocket que havia proferido as palavras anteriores ser derrubado por um homem grande e forte, vestindo um quimono branco com a faixa negra. Kari também percebeu o Machop ao seu lado, provavelmente o ser que havia afastado o Raticate. O homem de quimono se virou para ela e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.

- Senhorita Kari. Meu nome é Aaron, e Fuji me pediu para ajudá-la. - Disse ele, ajudando-a a se levantar.

- O... o quê? - Perguntou a garota, ainda meio zonza.

- Um pouco depois de você sair, Fuji viu na televisão que Saffron havia sido sitiada. Não é o que parece para as outras pessoas, mas nós sabemos o que realmente aconteceu quando o acesso à cidade se tornou burocraticamente impossível. Há algo grande planejado aqui, e ele pediu para nós te socorrermos caso entrasse na cidade.

- E... quem são vocês?

- Eu sou membro do Dojo de Saffron. Fazemos parte de um grupo antigo que ensina e pratica as artes de lutas entre Pokémon. Por algum tempo, nós representamos a cidade como um Ginásio, mas quando Sabrina surgiu para o mundo, ela ficou tão famosa que conseguiu seu próprio Ginásio. O fato de um de nossos maiores membros, Bruno, ter saído para a Elite dos Quatro também não nos favoreceu. No entanto, Fuji é um velho amigo de nosso mestre, então decidimos ajudá-la.

- Certo. Sabrina. Preciso chegar ao Ginásio e alertá-la.

O homem olhou para baixo, visivelmente constrangido. - Temo que isso não seja possível, senhorita. Os Rockets tomaram o lugar, sob a alegação de que Sabrina está perdida. Koga também está sumido. Já que os líderes de Cinnabar e Vermillion também não podem ser encontrados, a Liga suspendeu oficialmente suas atividades até nova ordem.

Kari sentiu um baque interno quase derrubá-la. Não existia atividade da Liga. O que os Rockets estavam fazendo? - C-como assim? - Balbuciou a garota.

- É um momento nunca antes visto. Os líderes de ginásio remanescentes foram convocados ao Platô Indigo para uma conferência extraordinária.

- Você quer me dizer que não há nenhum líder em nenhum ginásio? - Gritou a garota. Ela sentiu algo frio descer pelo seu estômago. O que faria agora, se perguntou. Os Rockets pareciam estar cortando todas as suas alternativas. Desesperada, se virou e começou a passar a mão pelos cabelos, agitada. - O que faremos agora? Não há mais nenhuma opção.

- Na verdade há, senhorita. - Disse Aaron. - Você precisa localizar Koga.

Ela se virou, desconcertada. - Você acabou de me dizer que ele está sumido.

- Sim, mas é a única alternativa. Todos os outros líderes estão indo para o Platô, e você não conseguirá se comunicar com nenhum que valha a pena nesse pouco tempo. Os únicos que sobraram são Sabrina e Koga, e pelo visto Saffron está indisponível para você fazer qualquer procura. Só sobrou Fuschia.

- Mas, como eu...

- Senhorita, preste atenção. Os Rockets estão apenas esperando os líderes viajarem e terem certeza que Sabrina não está na cidade para começarem seu plano, seja qual for. A nossa única esperança é Koga. E você é a única que consegue achá-lo. Nós precisamos ficar aqui para proteger Sabrina caso ela apareça. 

Kari respirou fundo, sentindo a responsabilidade em seus ombros. Uma vontade de voltar para casa e se afundar em sua cama surgiu em sua mente, e ela passou as mão direita nos cabelos de novo, encarando os tijolos do prédio mais próximo com a esquerda na cintura. Era mais fácil quando estava lutando sozinha, mas dessa vez outras pessoas contavam com ela. Fechou os olhos. Eu preciso fazer isso, pensou. Eu tenho a opção de fugir agora, mas de quê adiantaria? Tudo o que os Rockets fizeram com ela não iria se desligar, e seus atos futuros não seriam impedidos.  Não era o momento de voltar a ser criança e correr para a barra da saia de sua mãe. Se quisesse provar que havia mudado, a hora era agora. Ela abriu os olhos, sentindo o ânimo renovado queimando dentro de si.

- Certo. Eu irei fazer isso.

- Muito obrigado, senhorita. - Ele se curvou para ela. - Nós não temos muito a oferecer, mas poderemos transferir um de nossos Hitmonlees para você. Por favor, aceite isso e ache Koga. Eu recomendo que você vá para Fuschia através da Rota 17, a oeste de Celadon. Será um caminho mais direto através da ciclovia.

- O.K. - Disse Kari, liberando Kenichi para fora da Pokébola. - Nós vamos voltar com ele, não se preocupe. - Aaron se inclinou em respeito, e a garota montou no Charizard. Seu coração batia com força, mas ela apenas se ajeitou no lombo de seu Pokémon. 
- Kenichi. O mais rápido que você puder para Celadon. - Ela pôde ouví-lo rir pelo nariz com essa ordem, mas antes que percebesse o Charizard abriu as asas e se impulsionou, tomando os céus de Saffron. Kari se agarrou com força, vendo a cidade diminuir abaixo de si. Olhou para a frente, com um estranho brilho nos olhos. A garota e seu Pokémon continuaram voando, até que viraram um pequeno ponto no céu.

terça-feira, 21 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG - Capítulo 24: Planos


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 24: PLANOS

Kari abriu os olhos, piscando várias vezes em seguida. Estava em um aposento iluminado, mas sua vista estava embaçada demais para poder enxergar com clareza. Tentou se sentar, mas sentiu dores fortes no corpo inteiro gritando contra isso, e voltou a deitar. Sentiu que estava em uma superfície acolchoada, e um tecido fino a cobria da cintura para baixo. Esfregou os olhos com força e voltou a focar sua vista. Um Charizard apareceu em seu campo de visão, e ela se assustou.
           - Se eu contasse quantas vezes eu vi você acordando depois de se machucar, faltaria dedos. - Sua voz era familiar, e a garota percebeu que era Kenichi.
           - Acho que eu sou muito desastrada, não? - Sorriu com a boca fechada. - Vejo que você evoliu, garotão.
           - Você tinha me visto evoluir, cacete. Não se lembra do que aconteceu antes?
- Eu não... - Ela segurou a cabeça, sentindo as memórias voltarem lentamente. - Onde está Fuji?
          - Aqui. - Respondeu uma voz à sua frente. Kari abriu os olhos, e viu um pequeno homem, com quase setenta anos e careca. Tinha sombrancelhas grossas e grisalhas, e vestia um avental amarelo com o símbolo de uma Pokébola vermelha no peito por cima de uma camisa branca e calça marrom. Seu nome era Fuji.

- Senhor Fuji?Onde eu estou?

- Em meu Centro de Ajuda de LAvender. Os Centros Pokémon costumam curar apenas Pokémon que pertencem a equipes, já que seus aparelhos tratam das Pokébolas e das espécies dentro delas. Não há um motivo político para ajudar seres abandonados e sem treinadores, então eu cuido deles aqui, de um modo tradicional. - Ele puxou uma cadeira de madeira e se sentou ao lado da cama da garota. - E agradeço que esses métodos servem para humanos também, ou não teria a salvo. Seus Pokémon me contaram sobre sua bravura. Eu gostaria de agradecê-la.

- Eu... Obrigada.

- Eles no momento estão me ajudando a cuidar dos Pokémon que precisam de ajuda. - Kenichi aproveitou essa deixa para sair silenciosamento do quarto. - Também me contaram que você tem uma espécie de cruzada contra os Rockets. - Ele suspirou, parecendo cansado. - Peço que você desista disso. Eles são mais perigosos do que você pensa. Mataram uma pobre Marowak e manipularam o espírito dela com ajuda daqueles aparelhos da Silph para mentir para ela, fazendo-a protegê-los enquanto eles... me questionavam.

- Então o senhor sabe o porquê eu não vou desistir de caçá-los, senhor. - Os olhos de Kari emitiam um brilho, e Fuji percebeu isso. - É uma questão de justiça.

- Justiça... - Suspirou o homem. - Se a justiça realmente existisse, garota, eu também estaria em sua caçada. Eu ajudei os Rockets a se tornarem o que são hoje.

- O senhor? Mas... como?

- Eu procurei fugir de meus erros há muitos anos. No entanto, os Rockets vieram me procurar de novo, e uma pequena garota quase morreu tentando me proteger. Eu te devo minha vida, garota, e por isso contarei minha história. - Seus olhos estavam tristes, e ele a encarou com pesar. - Depois disso, minha sentença será sua.

- Eu... não sei o que dizer.

- Ah, por favor. Deixe-me falar primeiro. Como você vê, eu aprecio muito o ato de contar histórias. - Ele tentou dar um sorriso, mas seus olhos continuavam os mesmos. - Eu não sei se você sabe, mas eu era um pesquisador. Aventureiro, como muitos diziam. Eu e meu velho amigo, Blaine, que você deve conhecer como líder do ginásio de Cinnabar, costumávamos viajar pelo mundo, buscando novas descobertas. Encontramos espécies maravilhosas nas Ilhas Sevii, visitamos vulcões ativos em Hoenn, subimos ao pico mais alto de Sinnoh, vimos vales exuberantes em Unova... eram tempos gloriosos. Com o tempo, ganhamos fama e... um pouco de atenção não desejada.

- Fomos contatados por uma organização chamada Plasma. Na época, se diziam por um grupo de investidores, curiosos pelos mistérios do mundo. Eles disseram que estavam procurando por um Pokémon lendário, que fugia de treinadores há tempos imemoriais. - Seus olhos brilharam enquanto o homem se aproximava da garota. - Seu nome era Mew.

- Por meses, eu e Blaine viramos o mundo de cabeça para baixo em busca desta criatura. Tudo o que tínhamos eram pinturas de tempos rudimentares. Mesmo assim, continuamos nos esforçando. Viramos noites acordados, andando por matas fechadas, esperando que ele caísse do céu. Até que um dia eu acordei, e ele estava parado à minha frente. Nunca vi algo tão belo em toda a minha vida. Encostei nele, e Mew sumiu. Não sei se houve um teleporte ou não, mas um bocado de pêlos ainda estavam em minha mão.

- Algum tempo depois, os Plasmas descobriram o material que eu havia sem querer coletado. Havia guardado em algum pacote ou algo assim, esperando que aquilo fosse me dar forças enquanto eu continuava a minha procura. Só que assim que eles souberam disso, cancelaram a pesquisa e confiscaram os pêlos. Pelo que eu soube depois, Blaine havia contado a eles. Foi um belo golpe em nossa amizade.

- Naquele instante comecei a ouvir coisas. Sobre pesquisas secretas que usavam o material que eu havia coletado. Quando voltei a Kanto, ouvi sobre as atividades criminosas dos Plasmas. Confrontei Blaine novamente, falando que não era por isso que eu havia percorrido meio mundo. Houve uma nova briga, e fui expulso de Cinnabar. Não antes de descobrir que eles estavam... fazendo experiências com os pêlos. Um nome era repetido algumas vezes, sobre um... Projeto 150. Tentei denunciá-los, mas apenas perdi minha credibilidade, principalmente porque Blaine ficou do lado deles no tribunal. Um tempo depois descobri que os Rockets eram uma espécie de filial dos Plasmas em Kanto, mas nunca houveram provas.  Acabei em Lavender, fugindo da retaliação, e temeroso por minha vida.
- Há alguns meses... houve uma explosão em Cinnabar. Muitos avistaram um Pokémon desconhecido, saindo da Mansão. O mesmo lugar em que eu sabia que estavam fazendo experimentos. Blaine não respondia, e novamente temi por minha segurança. Me movi para a Torre de Lavender, com medo, mas os Rockets me acharam. Até você aparecer. - Ele terminou, coçando a garganta. - E então?

- Eu não... - Era muita informação para Kari conseguir processar. - Os Rockets são uma filial? E eles estavam à procura de um Pokémon lendário? - Havia ouvido falar de Mew, toda criança tinha escutado a mesma lenda, sobre um ser mágico que visitava serelepe os quatro cantos do mundo. - Eu não entendo.

- Eu procurei também não entender, garota. Eles me devastaram de formas que não conseguem entender.

A garota ficou calada, e continuou a falar de modo sério. - Eu não o culpo, senhor Fuji. Acho que o senhor foi apenas manipulado por eles.

- Eu... discordaria disso. O que aconteceria se eu não tivesse encontrado aqueles pêlos?

- Não adianta pensar nisso. Agora precisamos contra-atacar.

- O-o quê? Você não ouviu o que eu disse, garota? Eles são mais perigosos do que você imagina!

- E os líderes de ginásio? Não é possível que todos estejam no bolso dos Rockets! - Era algo que ela havia pensado enquanto viajava até Lavender. - E a Elite dos Quatro! Precisamos contar a eles!

- Eles não irão escutar uma simples treinadora. Ninguém agirá, mesmo que você grite a todo o vapor na frente de suas portas.

- Bem, então eu terei que lutar contra eles sozinha, pois não irei me esconder o resto de minha vida! - Assim que ela falou isso, percebeu que havia cometido um erro. Fuji se encolheu com essas palavras, e se levantou lentamente. - M-me desculpe, senhor Fuji. Eu... - No entanto, ele já havia saído do quarto.

Kari ficou sozinha, se sentindo terrível. Muito provavelmente o homem havia pensado que ela o havia chamado de covarde, mesmo tendo feito o que conseguia para deter os Rockets. Tentou se levantar, mas as dores a mantiveram na cama. O quarto ficou em silêncio, até que a porta se rangeu. Quando a garota olhou para ver quem estava entrando, reconheceu o semblante idoso de Fuji, carregando algo nas mãos.

- Eu posso te dar uma chance. Uma chance que não consegui realizar. - Ele a entregou uma flauta de madeira, ornamentada com uma Pokébola em uma das pontas. - Esse é um presente que um velho amigo meu me deu uma vez, um amigo que falhei em tentar convencer sobre os Rockets. Ele reconhecerá quando você mostrar isso. Pelo que eu me lembro, o homem tem experiência o suficiente para liderar um levante, e liderança para motivar os outros líderes de ginásio. Sobre sua habilidade, é tão impressionante que rumores dizem que logo ele estará na Elite dos Quatro.

- Quem? - Perguntou Kari, segurando a flauta nas mãos. O brilho nos olhos de Fuji reacendeu enquanto ele proferia o nome.

- Koga.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG 23: De volta à Lavender


 RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 23: DE VOLTA À LAVENDER

- Kari, você precisa descansar. - Disse Liz, observando a garota. O metrô corria solitário pelo túnel escuro, e seu interior estava quase vazio, com exceção de Kari e sua equipe. A garota estava zonza, se esforçando para se manter acordada, com o sangue seco mascarando sua face. Seus olhos se desfocavam a cada cinco minutos, e ela teve que se apoiar mais de uma vez antes que caísse.

 - Não... Eu preciso... - Ela colocou as mãos no rosto, pressionando as pálpebras. Seu cabelo, anteriormente empapado pelo sangue, estava colado à sua testa. - Liz, os Rockets estão indo para Lavender. Eles precisavam do produto da Silph para poder passar pelos fantasmas, e eu me lembro que um tal de senhor Fuji estava sumido. Esses desaparecimentos são culpa daqueles bandidos, eu tenho certeza, e eles estão indo para a cidade. Não podemos perder um segundo sequer.

 - Kari... - Sara se aproximou. - Sinto muito, mas acho que você está exagerando em suas ações. Fui eu quem te coloquei nesse caminho, e devo -- A Sandslash parou ao ver a mão da treinadora estendida.

 - Não comece, Sara. Por favor. Eu passei as últimas horas torturada. Minha reação não é exagerada. 

Chegaram à estação da Rota 7, e prosseguiram para chegar em Lavender. Kari estava sendo auxiliada por Kenichi e Liz, que a seguravam caso ela caísse. Depois de algum tempo, os Pokémon se afastaram e fizeram uma maca improvisada a partir de roupas da mochila e pedaços de árvore. A treinadora reclamou, mas adormeceu nos primeiros vinte minutos. A viagem de volta foi mais apressada do que a de ida, durando dois dias ao invés de cinco.

Quando entraram em Lavender, a névoa fria acertou Kari em cheio. O frio a fez tossir, sendo complementado com a febre forte que ela sentia há dias. No entanto, assim que se aproximaram da Torre Pokémon, ela se levantou debilmente.

 - É por aqui. Se os Rockets pegaram aqueles aparelhos da Silph, eles devem usá-los onde os espíritos se concentram. - Enquanto andava, ela se perguntou o que exatamente estaria acontecendo naquele lugar.

A silhueta da Torre se destacava na névoa quando chegaram. Kari olhou para os lados, e avistou uma figura negra parada em frente à porta. Quando se aproximaram, viram que era um Rocket, usando um estranho aparato cinza em seus olhos e fumando um cigarro. A garota se aproximou, e antes que o homem a avistasse, ela socou-o na face.

 - Kari! - Gritou Sara, mas ela já havia derrubado o Rocket. A treinadora se agachou, prendendo o braço dele no chão.

 - Fique quieto e me escute. Onde estão os seus amigos? - O homem não respondeu. Quando ela retirou o aparelho de seus olhos, viu que ele havia desmaiado. - Droga! - Kari se levantou, e avistou uma estranha figura no chão.

 - Oh, céus. - Disse Liz, colocando as mãos na boca. O cadáver sangrento de uma Marowak jazia aos seus pés. Kari se virou para trás e quase vomitou, caindo de joelhos no asfalto. Demorou alguns segundos para se recomper, e durante esse tempo a adrenalina a abandonou, enchendo-a de dor e cansaço novamente.

 - Vamos. - Sua voz estava fraca, e ela nem mesmo virou para trás enquanto entrava na Torre. O estabelecimento estava vazio, sem a recepcionista de outrora, e assustadoramente escuro. Subiram os andares, sem encontrar nenhuma alma viva. A sensação de estar sendo observada aumentou, e ela dava passos lentos e hesitantes. As tumbas e monumentos a encaravam silenciosamente, marcando cada passo.

 - Kari... você está ouvindo isso? - Estavam no quinto andar, e até agora não haviam encontrado ninguém. Liz estava atrás dela, segurando-a pela barra da camisa.

 - Ouvindo o quê? - Perguntou a garota de forma irritada. Quando parou, conseguiu escutar uma pequena voz sussurando em seu ouvido, como se estivesse atrás dela.

 - Vão embora... intrusos.

Ela se virou, e o pânico subiu até sua garganta. Uma enorma massa ectoplasmica roxa e negra surgiu do além, e começou a girar ao redor ela, formando um furacão sobrenatural. Ela caiu para trás, fitando aterrorizada o conjunto de Ghastlys e Haunters que a encaravam, girando e gritando. 

 - O que está acontecendo aqui? - Gritou, tentando ser ouvida em meio ao caos que se alastrava. Um espírito saiu do ectoplasma e mudou de forma na frente deles, adotando a figura de uma Marowak, que começou a falar com a mesma voz que havia chamado Kari antes.

 - Intrusos... vocês não pegarão o meu filho. - Um Ghastly, passou voando entre eles, atravessando o corpo de Kari. A garota se sentiu imediatamente doente, suando forte e ardendo em febre. Um segundo fantasma a atravessou, e ela sentiu uma substância quente sair das narinas e encher sua boca. Quando colocou a mão para limpar o rosto, descobriu que era sangue.

 - Kari! - Gritou Liz, a única Pokémon visível naquele mar fantasmagórico. Ela conjurou um pulso d'água de suas mãos, e o jogou contra a Marowak, que voou longe pelo impacto.

 A fantasma não falou nada em resposta,  preferindo conjurar para si um pequeno bumerangue de ossos. Ela o lançou acertando o rosto de Liz na ida. Quando a Wigglytuff caiu, ele voltou e a acertou pelas costas, desmaterializando depois em pleno ar.

 - Ei! - Gritou Kari. A Marowak a avistou, e lançou o bumerangue contra ela também. O primeiro golpe acertou os seus dedos da mão direita, e ela ouviu o som seco de ossos quebrados mesmo através do barulho do lugar. Segurou a mão, até que o segundo golpe a acertou no ombro esquerdo, fazendo-a cair no chão.

 - Intrusa... está na hora de morrer. - Através da dor que quase a cegava, Kari viu o fantasma se aproximando. Pelo canto do olho, avistou Liz se arrastando para ela, mas não chegaria a tempo. A Marowak estendeu o bumerangue, prestes a dar o golpe final, mas a garota continuou encarando-a, sem desviar o olhar.

Naquele mesmo instante, uma enorme onda de calor se propagou detrás da treinadora. Kari se virou, e um redemoinho de chamas vermelhas estava girando atrás dela, com raios de luz brancos saindo a cada segundo. De repente, o tornado flamejante explodiu, destroçando o ectoplasma ao seu redor e iluminando a sala em um clarão branco e cegante.

Quando Kari abriu os olhos, havia um Pokémon ao seu lado. Ele era bem grande, com quase um metro e setenta, com um corpo comprido, braços finos e pernas fortes. Sua pele era laranja com um detalhe em amarelo que cobria seu estômago e ia correndo por seu rabo, que possuía uma forte chama se propagando. Ele também possuía asas longas e uma cabeça que se assemelhava a de um dragão. Kari o observou, abismada como se seu anjo da guarda tivesse se materializado em sua frente.

Kenichi havia evoluído para um Charizard.

 - Vamos. - Disse ele, com uma nova voz grossa. Ele ajudou a treinadora e Liz a se levantarem. A garota aproveitou o momento para olhar ao redor, procurando algum resquício de atividade paranormal no lugar, mas todos os fantasmas haviam evaporado pela explosão de Kenichi. Assim, seguiram escada acima, com Kari mancando a cada passo.

No meio do caminho, viram um grupo de Rockets descendo as escadas, alarmados pelo barulho no andar abaixo. Um momento de silêncio perplexo se seguiu, e os bandidos encararam a equipe de Kari. Finalmente, a treinadora sussurrou baixo:

 - Acabem com eles.

Seus Pokémon avançaram, e os Rockets liberaram atrapalhados seus combatentes, enquanto outros no quarto acima faziam o mesmo. Liz hesitou em deixar Kari, mas um gesto dela a fez correr para a peleja. Barulhos de destruição e combate se alastravam no aposento, enquanto a garota ficou sozinha na escadaria, se esforçando para subir os degraus.

 - Preciso... achar Fuji. - Disse, enquanto tentava controlar suas dores e avançar através dos obstáculos. Sua perna falhou em segurar seu peso, e ela quase caiu, evitando o ato ao segurar o corrimão com os dedos quebrados. Kari ofegou, caindo de joelhos onde estava, segurando a mão entre as pernas visto que não conseguia mover o outro braço pelo ferimento no ombro. Respirou fundo, procurando não desmaiar, sentindo o cabelo encharcado de suor pinicar em sua testa.

Levantou a cabeça, e esqueceu da dor por alguns instantes. Havia um Koffing flutuando à sua frente, com um sorriso abobado em seu rosto. Atrás dele, um treinador ferido se segurava na parede, bufando pelo cansaço.

 - Você... desprezou os Rockets pela última vez. - Disse, respirando forte entre as palavras. - Hora de morrer.

O Koffing começou a brilhar, emitindo luzes fortes através dos buracos de seu corpo. Kari ficou hipnotizada, até que a seriedade da situação bateu em sua mente. Desesperada, ela olhou para os lados, procurando alguma forma de escapar enquanto o Pokémon se preparava para explodir. 

Sem saída, ela se jogou para trás, batendo uma única vez nos degraus antes do Koffing se auto-destruir, gerando uma forte explosão que a jogou para longe. A onda de choque a jogou para baixo, e o impacto a fez deslizar pelo chão. Quando parou, sentiu todos os seus ossos doendo e agonizando, e a respiração estava entrecortada por dores no pulmão. Kari tentou com todas as suas forças se manter acordada, mas não havia mais jeito. Sua visão se enegrou enquanto as trevas a abraçavam, e a morte se aproximava.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG: 22 - Jackpot


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 22: JACKPOT

Kari acordou por um momento, desnorteada. O lugar em que estava era bastante escuro e silencioso, exceto por sons de passos em uma superfície metálica. Tentou se mover, e percebeu que estava  amarrada por cordas grossas, arrastada pelo chão. À sua frente, dois homens andavam, e o da esquerda a puxava. Grunhiu de forma fraca, e o homem da direita percebeu que ela estava acordada.

 - Olha só quem está de pé! - A próxima coisa que Kari viu foi o contorno de uma bota, e o impacto jogou sua cabeça para trás. Sentiu o sangue quente na boca, e desfaleceu novamente.

Voltou a acordar violentamente, com um balde de água fria no rosto. Ofegou e cuspiu, arfando por ar. Antes que pudesse se recompor, um soco surgiu do nada, acertando-a no estômago. O ato de respirar se tornou mais difícil, e ela tossiu e se desesperou em busca de oxigênio. Aos poucos, contudo, recuperou o fôlego. Olhou ao redor, tremendo pelo líquido frio. Estava amarrada em uma cadeira de madeira, com os braços para trás. Havia um homem alto parado à sua frente, vestindo uma espécie de boina. Kari apertou os olhos para ver quem era, mas a única luz do aposento estava localizada atrás dele, ocultando seu rosto.

 - Bom dia, flor do dia. Dormiu bem? - Reconheceu vagamente sua voz como a do Rocket do bar. Antes que ela respondesse, ele soltou outro soco, acertando o rosto da garota dessa vez. Kari cuspiu sangue, e precisou de alguns segundos para se recompor.

 - Um pouco... mas me diga, além de bater em outros Pokémon... você também arranja tempo de espancar garotas? Que tal me desamarrar para ver se você é tão machão? - Kari o encarou, encarando-o sem medo. Por mais que parte dela estivesse extremamente assustada, não ganharia em nada desmonstrando isso para o Rocket.

O homem desferiu outro soco no rosto dela. - Espancar, não. Torturar é a palavra certa. 

 - Posso... - Ela parou por um instante, passando a língua nos dentes encharcados de sangue. Por sorte, nenhum havia se quebrado. - ... saber o motivo de toda essa recepção? Eu juro que ia dar gorjeta ao garçom.

 - Ah, você é do tipo engraçadinha, não? Normalmente pessoas em sua posição ficam morrendo de medo.

 - Eu não vou me tremer por causa de um covarde assassino como você. É difícil ter medo de alguém que você perseguiu por longas distâncias. 

O homem se agachou, colocando o rosto a centímetros dela. Ele colocou a mão no bolso, e uma faca-borboleta surgiu entre eles. - O que foi? - Disse o Rocket, reparando no desconforto de Kari. - O gato comeu sua língua? - A garota sentiu uma gota descer pelo lado da cabeça, e embora ainda estivesse encharcada pelo balde d'água, sabia que era suor. O homem passou o lado cego da lâmina em seu braço, de forma suave e calma.

 - Você pode responder minha pergunta agora? - Perguntou Kari, procurando encará-lo nos olhos sem demonstrar seu nervosismo. O lado da lâmina agora passeava por seu braço, e ela sabia que apenas mais um pouco de pressão para fazer o sangue espirrar.

 - O quê? Ah, sim. - Ele guardou a faca, manipulando-a habilmente antes. Sem que o homem percebesse, Kari respirou aliviada. - Você se tornou um chamariz de atenção, sabia? Monte Lua, Cerulean, Ponte Dourada... Por onde a senhorita passava, problemas surgiam.

 - Deixe-me adivinhar. Seus superiores te mandaram me prender, certo?

 - Meus superiores? Há! - Ele jogou a cabeça para trás, e voltou com um novo ânimo em seus olhos. - Eles apenas ouvem falar de uma fedelha que está se metendo onde não devia. Não, garota, eu decidi agir por mim mesmo. Sou mais esperto do que os outros membros de baixo escalão, sabia? Posso identificar uma ameaça em potencial quando vejo. Então decidi levá-la até aqui, para apresentá-la a nosso líder. Ele está vindo diretamente de Saffron ao meu pedido, e saberá o que fazer com você.

 - Saffron? Seu líder mora em Saffron? - A próxima coisa que sentiu foi um chute no rosto, tão forte que desequilibrou sua cadeira. Ela caiu no chão com força, sentindo o sangue espirrado em todo o seu rosto. Em seguida, o homem começou a pisoteá-la, e cada pisão ela se aproximava cada vez mais do desfalecimento. Finalmente a violência cessou, e ela sentiu a cadeira sendo puxada de volta a seu lugar normal. Kari ficou imóvel, procurando não desmaiar. A dor se propagava de cada centímetro de seu corpo, mas sua mente estava a mil. O homem era muito burro, pensou, e só sabia resolver as coisas com violência. Ela o olhou com um olho, sendo que o outro estava tapado pela cascata de sangue que saía de um novo corte na testa. Mesmo sentindo medo pela tortura, ela sabia que essa poderia ser a única forma de conseguir mais informações sobre os Rockets. Assim, suspirou fundo e falou:

 - Se você trata todas as mulheres assim, acho que vou concluir que sua vida amorosa anda um desastre. - Ela esperou mais socos, contudo o homem soltou uma risada pelo nariz.

 - Apenas as enxeridas, garota. Não se preocupe. - Ele olhou para trás, e Kari sentiu o nervosismo em seu olhar. Talvez ele tivesse ordens de não espancá-la, pensou. Poderia usar isso como proveito.

 - Ei! Vamos ser francos aqui. Seu chefe deve chegar daqui a pouco, e posso concluir que apenas duas opções sobraram para mim: A primeira é ser morta, provavelmente de forma dolorosa. A segunda é ser convencida a entrar para os Rockets. De qualquer jeito, não vejo motivos de não podermos ter uma conversa civilizada.

O homem colocou o queixo, comicamente adotando uma postura de ser pensante. Kari o encarou, sentindo o sangue descer pelo rosto. Burro e orgulhoso, pensou. Péssima combinação.

 - Muito bem! - Disse o Rocket, finalmente. - Que tal fazermos o seguinte: Você faz três perguntas, e eu escolho se vou respondê-las ou não. Caso eu não goste delas, você apanha. O que acha?

Eu acho que vou espancar a sua cara imbecil no segundo que for desamarrada, canalha. Kari não conseguia se soltar das cordas, mas iria usufruir da vitória intelectual por enquanto. Preciso escolher as perguntas cuidadosamente, pensou. Uma antiga questão surgiu em sua mente.

 - Me diga, essa líder de ginásio de Celadon é muito ruinzinha. O que houve com ela?

 - Hah! Muitas coisas, garota. Podemos dizer que ela foi... convencida a assumir esse posto. Nós gostamos muito de Celadon, e não gostaríamos de sair graças a um líder enxerido.

Uau. Para uma resposta tão curta, Kari conseguiu concluir e supor um bocado. Primeiro, ela estava certa sobre Erika ser muito ruim para conseguir uma vaga de líder de ginásio. Segundo, que os Rockets pareciam procurar lugares com líderes ruins para se abrigar, o que a levava para Cerulean. Terceiro, muito provavelmente os Rockets haviam conseguido manipular a fuga das irmãs mais velhas e experientes de Misty, obrigando-as a colocar a caçula inexperiente como líder. E quarto e mais assustador, pelo visto os Rockets tinham força dentro da Liga Pokémon, o suficiente para poderem escolher um líder de ginásio. 

 - Mais alguma pergunta?

 - Bem... - Kari voltou a pensar. O Rocket não responderia algo importante caso ela perguntasse algo óbvio, mas se pudesse jogar com ele... - Esse lugar é um cemitério. É sério que vocês usam isso como base?

 - Ei! Cale a boca! Tivemos muito trabalho em montar esse lugar! 

 - Bem, só estou dizendo que, para alguém que tem contato direto com o líder da equipe Rocket, seu local de trabalho parece um pouco mixuruca.

 - Eu disse, quieta! - Ele a socou novamente no rosto. - Não fale do que não sabe! Esse lugar era uma grande base Rocket, mas estamos nos mudando. Eu sou tão importante na organização que fui mandado para supervisar a mudança, e até mesmo levar nossos novos produtos da Silph até nossa próxima empreitada.

Kari ficou quieta, pensando intensamente. A próxima pergunta, se fosse feita, seria sua última. Precisava analisar o que ela tinha até agora. Os Rockets estavam levando algo da Silph para algum outro lugar. Pelo jeito que ele falou, provavelmente não era Saffron, mas algo grande aconteceria nessa cidade. Sabrina era a líder do ginásio, e parecia forte o suficiente para dar trabalho a qualquer coisas que os criminosos fizessem. Para mandar esse idiota fazer uma tarefa, seria em um lugar mais calmo...

 - Sabe, que tal eu não responder a sua próxima pergunta, hein? Que tal nos divertirmos até o líder chegar? - Perguntou o homem, se agachando novamente para ficar na mesma altura do rosto da garota, que continuava pensando. Conclua algo, Kari, gritava a si mesma. Os Rockets deveriam ir a algum lugar indefeso. Um lugar com líder fraco ou sem ginásio. Por algum motivo, a menção à Companhia Silph a lembrava de algo. Sentia que tinha algo em sua mente gritando, pedindo para ser notado...

Uma última memória foi notada em suas lembranças, a de um homem com paradeiro desconhecido. As informações bateram de forma repentina. Kari arregalou os olhos, e encarou o homem. - Vocês estão indo para --

A porta se abriu com força, e dois Rockets entraram na sala. O captor de Kari se levantou para cumprimentá-los, mas os dois o socaram e o imobilizaram. Ele ofegou e cuspiu sangue no chão, quando uma voz surgiu do corredor escuro.

 - Alan. Devo lhe dizer que seus métodos foram... insatisfatórios. - A voz era profunda e lenta, e os cabelos da nuca de Kari se arrepiaram ao ouví-la.

 - Senhor? Senhor, eu--

 - Silêncio! Você sequestrou uma civil e levou-a até nossa base? O quê, em nome dos Rockets, você estava pensando?

 - Eu, eu... Ela é uma ameaça, senhor! Ela vem nos atrapalhado desde o Monte da Lua! Senhor, eu...

O homem acenou na escuridão, e um dos capangas partiu sem hesitar o pescoço de Alan. Kari sobressaltou na cadeira, observando o corpo do homem deslizar para o chão.

 - Apenas ignorantes como você são atrapalhados por uma garota. Nós somos os Rockets. - Ele se virou para os capangas. - Queimem esse lugar. Foi comprometido. - Os homens fecharam a porta, e Kari viu desesperada o fogo se propagar do outro lado.

 - Ei! EI! VOLTEM AQUI! - O fogo aumentava no corredor, e a fumaça começava a entrar no quarto. Kari tentou se levantar da cadeira, mas caiu no processo. Se sacudiu violentamente, mas as cordas estavam bem apertadas. Seu desespero foi crescendo exponencialmente, e o quarto ia ficando mais negro.

As chamas chegaram até a porta, e a consumiram com gula. Kari tentou se arrastar para longe, mas tudo que conseguiu foi girar o corpo. A fumaça já ardia em seus olhos, e ela começou a tossir fortemente. Como foi que escapei do S.S.Anne, pensou enquanto tentava se livrar das amarras, com a força reduzindo a cada instante. Se lembrou que Nala havia a salvado, mas nenhum Pokémon estava a sua vista.

Quando estava quase sem forças, um buraco surgiu no teto. Estava bastante escuro para ver o que estava acontecendo, mas o contorno de Zelda surgiu na escuridão, batendo as asas para espalhar a fumaça. 

 - ELA ESTÁ AQUI! LIZ, SARA! - Gritou a Golbat. A silhueta de Liz surgiu, e ela invocou água das mãos para apagar o fogo da porta. No entanto, tudo que conseguiu foi diminuí-lo. - Esqueça isso, precisamos tirar ela daqui por cima! Se segure nela! - Kari observou a Wigglytuff se aproximar, com o rosto surpreendentemente calmo, embora seus olhos se mostrassem tensionados. Foi a última coisa que a garota viu, pois desfaleceu no instante seguinte.

Quando acordou, estava jogada na grama molhada pelo orvalho. Ela tossiu com força, sentindo todo o corpo gritar de agonia em resposta. Silhuetas se contrastavam com o céu noturno, todas falando ao mesmo tempo, mas Kari não conseguia identificar nenhuma voz. Apenas um pensamento se mantinha em sua mente, e ela se esforçou para não deixá-lo fugir.

 - Precisamos levá-la ao hospital! - A voz de Sara foi ouvida, e a garota se sentiu levantada novamente. No entanto, ela se livrou do aperto, caindo na grama novamente.

 - Não, não, não. - Repetiu fracamente a garota, tentando se sentar. - Precisamos... precisamos nos apressar.

 - O quê? O que houve, Kari? - Sakura parecia bem perto dela. Kari revisou seus pensamentos, tentando mantê-los atrelados. Cidade sem um ginásio recentemente. Companhia Silph. Pessoas sumidas. Tudo fazia sentido. Ela tirou a mão do rosto, encarando seus Pokémon.

 - Precisamos voltar a Lavender.

terça-feira, 7 de maio de 2013

RN Nuzlocke LG: 21 - O quarto ginásio


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 21: O QUARTO GINÁSIO

 - Bem, ele é... diferente dos outros, não? - Perguntou Kari, inclinando a cabeça para o lado.

Haviam chegado no ginásio de Celadon, e estranharam o que viram. A estrutura não se assemelhava a um prédio ou a uma arena como os outros, mas sim a uma gigantesca estufa. Paredes de vidro circulavam uma área gigantesca que quase saía de seus campos de visão. Não havia teto, e em vez disso o topo de inúmeras árvores disputavam um lugar ao sol. Kari olhou ao redor, e avistou duas estátuas cobertas de flores em tons de rosa, delimitando uma porta quase imperceptível entre elas. Satisfeita, ela começou a andar em direção à entrada, mas um homem parou em seu caminho.

 - Oh, querida. Você vai entrar no harém de Erika? - O homem devia estar próximo dos cinquenta anos, com uma longa barba branca e rosto enrugado, vestido com um robe amarelo. Seu bafo cheirava a álcool. - Ah, que delícia. Venha aqui me dar um --

O quê exatamente Kari deveria lhe dar jazia como um mistério, pois a garota desferiu um forte soco no rosto do homem, que caiu imediatamente desacordado. Ela abanou a mão, e voltou a caminhar feliz até o ginásio.

 - Bem, enfiar a mão no rosto de pessoas bêbadas realmente me faz sentir de volta aos velhos tempos. - Exclamou ela em voz alta.

 - Que tipo de vida você vivia antes de me conhecer? - Perguntou Kenichi, um pouco distraído pelo acontecimento anterior.

 - Ah, não era nada demais. Tinham certas festas na escola em que colegas bêbados tentavam dar em cima de minhas amigas. Eu socava-os em troca de seus abusos, nada de mais. O fato de eu nunca beber me ajudava nessas situações.

 - Uau. E você se pergunta porque nunca arranjou um namorado. - Resmungou o Charmeleon de forma sarcástica.

Antes que Kari pudesse chutá-lo, entraram no ginásio. Sakura exclamou em voz alta:

 - Uma floresta dentro de um ginásio?

Era quase isso. Entre as paredes o ginásio se assemelhava a um bosque selvagem, com caminhos de terra batida desviando de árvores gigantescas. Arbustos e flores decoravam as calçadas, e mulheres de quimonos floridos passeavam pelo lugar. Havia um estranho cheiro doce no ar, tímido porém detectável. O grupo ficou paralisado, admirando a bizarrice que se estendia diante deles.

Sakura começava a se adiantar quando uma mulher de quimono rosa com flores brancas surgiu no campo de visão da equipe. Ela tinha cabelo longo e negro, com fortes ascendências orientais.

 - Bom dia, senhorita. Seja bem-vinda ao Ginásio de Celadon. Eu sou Mary, e irei guiá-la no ginásio hoje. - Sua voz era fortemente aguda, e ela mantinha o sorriso em pé.

 - Ah... obrigada. Meu nome é Kari - Respondeu a garota, se sentindo desconfortável. A recepcionista dobrou o corpo em respeito e continuou.

 - Em nome de nossa querida líder Erika, pedimos que você guarde seu Charmeleon na Pokébola. As chamas dele podem afetar nosso ecossistema que mantemos aqui. Não se preocupe, você ainda poderá usá-lo na batalha. Eu mesma a levarei até nossas arenas especiais, onde sua adversária a aguarda.

Desconcertada, Kari obedeceu, e começou a seguir a mulher. Conforme caminhavam, a treinadora olhou ao redor, e percebeu diversas mulheres andando em pares pela floresta, mas nenhum rosto masculino.

 - Vocês não tem nenhum homem por aqui? - Perguntou.

 - Ah, não. Homens desregulam o equilíbrio da natureza. Chegamos a até mesmo votar para impedir que eles pudessem batalhar em nossos terrenos, mas sentimos que teríamos problemas com a Liga. No entanto, procuramos diminuir a presença deles em nosso oásis.

 - Entendo... - Kari não entendia, mas preferiu não se aprofundar na questão. Continuou olhando a redor, com mais perguntas na cabeça. - Escute, porque essa... decoração no ginásio?

 - Ah, não, não é uma decoração. Sabe, Celadon é uma cidade bem grande, e isso afeta a natureza e nossos Pokémon com toda essa poluição e criminalidade. Portanto, Erika decidiu transformar o ginásio em uma reserva ambiental, salvando a vida de dezenas de Pokémon. Com sorte, iremos revolucionalizar a Liga com nossa empreitada.

Kari olhou em volta novamente, percebendo a profusão de insetos e pássaros no lugar. Achava difícil que a Liga fosse adotar essa estratégia de Celadon em todos os ginásios. Esses lugares eram cedidos pela prefeitura, e muitos eram muito pequenos para servirem como reservas ambientais. O fato de Erika ter conseguido uma área tão grande era surpreendente.

 - Chegamos. - Avisou a recepcionista. A treinadora se viu na ponta de uma grande arena retangular de terra batida, localizada em uma clareira entre as árvores. No outro canto, havia uma jovem mulher ajoelhada na grama. Ela tinha um rosto redondo, coberto por curtos baleos negros e uma faixa vermelha na altura da testa. Usava um longo quimono amarelo, decorado com uma outra faixa vermelha abaixo dos seios e detalhes de Pokébolas e folhas de outono na barra da roupa. Usava sandálias de madeira por cima de meias brancas, e estava de olhos fechados, cantarolando para si mesma com três Pokébolas nas mãos. O cheiro doce e enjoativo era mais forte ali. Quando Kari se encaminhou para o seu lugar, ela a encarou, revelando grandes olhos castanhos.

 - Oh. Uma treinadora. Mil perdões por fazê-la esperar. - Erika se levantou, espanando a roupa com as mãos. As Pokébolas caíram no chão, e ela se agachou para pegá-las novamente. - Me desculpe. - Ela baixinho. Ela ajeitou a faixa na testa, de forma distraída, e pareceu esquecer que Kari estava lá, preferindo regar a grama com um regador que estava próximo. Uma outra mulher, alta e loira com longos cabelos presos em um rabo de cavalo, se aproximou e sussurrou em seu ouvido. Erika concordou com a cabeça, e voltou a se levantar.

 - Eu... cheguei em uma má hora? - Perguntou Kari, incerta.

 - Oh, não, não. - A voz da líder era calma e suave, embora um pouco lenta. - Apenas me distraí por um instante. Podemos começar? - Ela encarou a garota com um olhar focado, e a treinadora respondeu com um aceno de cabeça.

Kari percebeu que várias outras mulheres haviam se aproximado da arena, ocultas pelas sombras das árvores e arbustos, mas seus olhos e silhuetas ainda eram visíveis na escuridão. Ela sentiu um calafrio na espinha, e o ambiente se tornou imediatamente hostil. As mulheres não fizeram nada, embora a simples presença delas deixasse a garota inconfortável.

 - Meu nome é Erika, líder do ginásio de Celadon. - A adversária falou em alto e bom tom, totalmente diferente de segundos atrás. - E eu não irei perder.

 - Nem eu. - Kari tentou responder, mas a pressão se tornava tão grande que a voz saiu fraca. Segurou a Pokébola com força, enquanto tentava se livrar da hostilidade oculta que as mulheres invocavam na arena. Se você pretende ser Campeã, garota, pensou, precisa aprender a lidar com pressões assim.

 - Predador. - Disse Erika calmamente à sua frente. Um Victreebel foi conjurado na arena, perto do círculo central.

 - Kenichi! - Gritou em resposta com força, jogando a Pokébola. Seu grito a motivou, expulsando toda a insegurança que foi criada pelo caldeirão. O público reagiu ao Pokémon de fogo com sussurros indignados. Era tudo que Kari precisava. - Acabe com ele!

O Charmeleon correu em direção ao adversário, e labaredas surgiram em sua boca. Ele as cuspiu, queimando um círculo em volta do Victreebel, que foi atingido pelas chamas. Em resposta, ele soltou esporos amarelos contra Kenichi. Os esporos o acertaram em cheio, e ele caiu no chão, paralisado.

 - Kenichi! - Gritou Kari. O Charmeleon tentou se levantar, mas caiu novamente. Predador, ainda envolto no fogo, soltou uma rajada roxa e fétida, que jogou o adversário para longe, caindo de costas.

 - Quem diria, não? O fogo não tem vez nesse ginásio. - Disse Erika, calmamente. A multidão ao redor aplaudiu, enchendo o ar dos ruídos das palmas.

 - Não tão rápido, frescas. Eu só precisava de um tempo para me acostumar com toda essa feminilidade. - Disse Kenichi, levantando a cabeça com dificuldades. Ele soltou uma nova rajada de fogo, que encontrou com as chamas de seu rabo e se amplificaram, acertando novamente o Victreebel. O adversário foi derrubado pelo impacto, e caiu desacordado. - Felizmente minha terapia de choque tem funcionado.

Erika não reagiu, apenas retornou seu Pokémon. Kari fez a mesma coisa. - Não tão calma assim agora, não é? - Disse a garota, ganhando confiança. Uma pequena vaia surgiu das árvores.

 - Por favor, não pense que terminamos. - Respondeu Erika. - Medusa. - Uma Tangela apareceu na arena, e Kari respondeu com Wanda. Novamente, os murmúrios de indignação surgiram da multidão. A Beedrill olhou ao redor, parecendo esquecer da batalha.

 - Oh, queridas, vocês estão lindas! Kari, podemos comprar roupas assim quando sairmos daqui?

 - Wanda, um pouco de foco, por favor.

 - Ah, sim.

A Beedrill levantou vôo, e acertou a adversária com seu ferrão. Medusa foi derrubada, e suas vinhas se moveram e penetraram no chão, prendendo-a. Erika jogou uma poção, que foi englobada pela Pokémon.

 - O que está acontecendo aqui? - Perguntou Kari. A Tangela estava caída de costas no chão, se prendendo com suas vinhas sem realizar mais nenhuma ação. Wanda a circulou pelo ar, sem saber se a luta havia terminado.

 - É apenas nossa estratégia, querida. - Respondeu Erika, colocando a mão na boca. Kari a encarou, e Wanda acertou a adversária novamente com seu ferrão, fazendo-a desmaiar.

 - Bem, meus parabéns.

 - Novamente, ainda não terminamos. - Erika recuou sua Pokémon desacordada, parecendo novamente distraída. Como alguém assim conseguiu se tornar líder, perguntou Kari a si mesma.

 - Há quanto tempo você é líder de ginásio? - Perguntou Kari, enquanto Erika procurava outra Pokébola.

 - Acho que... May, faz quanto tempo?  - Perguntou a mulher para a companheira de cabelo comprido que continuava atrás dela. May se esticou e sussurrou novamente no ouvido da líder de ginásio, que se virou para Kari. - Seis meses. Estávamos esperando as reformas do ginásio terminarem para eu assumir o posto. Haruno, vá. - Uma Vileplume saiu da Pokébola, se aproximou do centro da arena.

Zelda foi invocada, voando rapidamente contra a adversária. Ela a acertou por cima com suas asas, mas Haruno soltou novos esporos amarelos que fizeram a Golbat cair no chão, paralisada. A Vileplume se  virou contra ela, e liberou uma rajada de veneno semelhante a Predador no início da batalha.

 - Você está repetindo táticas? - Perguntou Kari, perplexa. A multidão voltou a vaiá-la, mas dessa vez ela nem se importou.

 - Todos os treinadores tem sua estratégia, não é mesmo? - Respondeu Erika, novamente calma e distraída.

 - Sim, mas você não pode repetir a mesma tática para todos os adversários! Espere, porque eu estou ensinando o básico de batalhas Pokémon contra uma líder de ginásio? - As vaias aumentaram, mas Kari não percebeu. Ela não conseguia acreditar que sua adversária parecia uma principiante. - Zelda, vamos terminar com isso logo!

A Golbat se levantou, e voou contra a Vileplume, derrubando com um golpe de suas asas. A adversária caiu, desacordada, e Erika a recuou.

 - Bem, eu admito a derrota. Você é realmente forte.

Kari ficou desconcertada, enquanto a multidão se dispersava. Eu já tive batalhas com treinadores mais difíceis do que isso, concluiu. Erika se aproximou, e entregou a Insígnia do Arco-Íris para a garota. Uma pequena medalha semelhante a uma flor de oito pétalas, com as sete cores do arco-íris e um tom mais pálido de verde em cada pétala, ficou parada na mão estendida da garota. Erika saiu um pouco depois, deixando Kari sozinha na arena, ainda tentando aceitar que a batalha tinha terminado. Zelda, ao seu lado, olhou ao redor, parecendo esperar que algo viesse.

 - Não, sério, já acabou?

Algumas horas depois, estavam no cassino da cidade, como Kari prometeu. Seus Pokémon estavam espalhados pelo lugar, enquanto a garota bebia um refrigerante, sentada em uma cadeira alta próxima ao bar. Uma parte dela estava feliz por ter conseguido mais uma insígnia, mas ela não parecia ter o mesmo peso que as outras.

 - Como ela conseguiu ser a líder de ginásio? - Perguntou a si mesma em voz alta, distraída. Com o canto do olho, viu um homem se aproximando. A garota se virou para o outro lado, tentando evitar contato, mas ele parou à sua direita.

 - Refrigerante? Quem entra em um bar para tomar refrigerante? - Perguntou o homem.

 - Eu não bebo, obrigada.

 - Ah, entendo. Estou vendo sua Pokedéx, então acho que você é uma treinadora. Onde estão seus Pokémon? - Kari escondeu a pulseira com a mão. Olhou ao redor, mas o bar estava vazio com exceção do bartender.

 - Estão por aí. Poderia me dar licença, por favor? - Ela se levantou, e sentiu uma mão agarrá-la pelo ombro. Kari se virou, se preparando para dar um soco no homem, até que o encarou. Seu rosto era bastante familiar, e ela parou o movimento.

 - O que foi? Eu só iria perguntar se você estava com o seu... Bellsprout.

A memória surgiu em sua mente como um raio. Era o Rocket que havia matado Bernard. Antes que pudesse reagir, o homem colocou com violência um pano úmido no rosto da garota. Kari tentou lutar, mas o cheiro forte a desestabilizou, e ela sentiu que estava perdendo os sentidos. Seus olhos se viraram enquanto ela tentava se debater, mas foi ficando mais fraca. Finalmente, desfaleceu.