RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 7 - MOMENTO DE PAZ
- Acho que aquele é o Centro Pokémon. - gritou Kari para seus Pokémon, correndo através da chuva pesada que caía incessantemente, seus novos sapatos chafurdando na lama da estrada.
Havia sido uma semana bem longa. Assim que saíram de Pewter em direção ao Monte da Lua, que ficava no caminho de Cerulean, haviam encontrado um dos ajudantes do Professor Carvalho, que a reconheceu e deu sapatos novos, feitos para caminhadas. Depois de agradecer, ela foi se aventurar na Rota 3, e parecia que tinha caído em um hospício.
Haviam vários treinadores espalhados pela rota, que era um pequeno espaço apertado entre duas formações montanhosas, com terra batida servindo como estrada. Só que o estado mental deles parecia um pouco prejudicado. Uns lutavam com os Pokémon que haviam acabado de capturar, sem nem mesmo passar em um Centro Pokémon. Outra treinadora acusou Kari de esbarrar nela, embora estivesse a metros de distância. Já um cismou que Kari deveria desesperadamente usar um short, embora ela já estivesse usando.
- Ah. Que bom. - disse Liz, a mais nova membro do time. Era uma Jigglypuff, criatura rosada e redonda como um balão, com olhos grandes, membros pequenos e uma espécie de cabelo na testa, formando um pega-rapaz. Kari estava passando perto da montanha quando a ouviu, cantando perto de um pequeno riacho. Liz era bastante calma, e costumava cantar frequentemente. Assim que viu o grupo de Kari passando perto, aceitou entrar na equipe por livre e espontânea vontade.
Atrás deles, Kenichi estava de completo mau-humor. A chama em seu rabo estava completamente apagada, só que isso não o matava, contrariando as crenças populares. Acontecia que, quando a chama era apagada, era como se uma válvula de escape fosse fechada dentro do corpo dos Pokémon da família Charmander, gerando dores abdominais. Logo, ele continuava resmungando, enquanto Wanda voava baixo ao seu lado. Nala fechava o grupo por trás.
Entraram finalmente no Centro Pokémon, encharcado em partes do corpo que nem sabiam que existiam. Kari foi diretamente até o balcão, alugando um quarto para eles. Ela subiu as escadas rapidamente, seguida por Liz. Kenichi, por sua vez, viu uma lareira em um dos cantos do recinto, e correu até ela para reacender sua chama, seguido por Wanda. Já Nala seguiu um caminho solitário até os fundos do Centro. E é aqui que a história se separa em três caminhos por algum tempo.
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Nala
Nala caminhava pelos corredores amplos do Centro, procurando algum lugar para ir. Ela não gostava dessa demora. Aquele treinador, Gary, já devia estar em Cerulean, pensou. Eles tinham que alcançá-lo e eliminar logo a concorrência. O caminho que estavam tentando percorrer era perigoso demais sem um treinador obstinado como ele. Já não bastava terem que lutar sem matar, o que deveria afetá-los em algum momento. Nala refletia, e nem percebia aonde suas pernas estavam a levando, se questionando constantemente se tinha escolhido o caminho certo.
Quando deu por si, estava em uma sala oval, onde treinadores de nível mais avançado comparavam estatísticas e assistiam partidas da Liga. Olhavam-a com cara de desprezo, pensou, enquanto se virava para voltar de onde tinha saído. Sabia muito bem a infâmia que os Rattatas tinham com os treinadores "profissionais". Ela iria mostrar a eles, pensou. Não importa o caminho em que estivesse, iria até o fim, nem que tivesse que trocar de treinador. Com ânimo renovado, voltou à entrada do Centro.
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Wanda e Kenichi
Kenichi colocou a cauda na lareira, segurando-a até ela voltar a pegar fogo. Satisfeito, se afastou e sentou em uma das almofadas espalhadas ao redor das chamas. Wanda se aproximou, beliscando uma fruta.
- Quem diria, não? Eu e você, na mesma equipe, lutando para sermos Campeões. Parece que foi ontem que eu ficava invadindo o laboratório do Carvalho e você tentava me expulsar. Tanto se passou, não? - disse ela, se aconchegando em outra almofada.
Kenichi resmungou, mordiscando a fruta que Wanda oferecia. - Sabe, eu nunca pensei que você ia querer ser Campeã. Você sempre me pareceu, sei lá...
- Indecisa? - Wanda completou, sorrindo. - Você tem razão. Passei tanto tempo andando por aí que chegou numa hora em que eu realmente não sabia o que fazer de mim. Mas acho que essa nova vida está servindo para eu me decidir. Posso não gostar tanto das batalhas quanto você, mas ter pessoas pra conversar à noite faz tudo valer à pena.
- Hm. Que melodrama.
- Ah, Kenichi, não seja assim. Desse jeito você me magoa, querido. Fale sério, você gosta da minha companhia. Tem tantos problemas para se abrir com os outros que precisa desesperadamente de uma cara conhecida. Tanto que até agora não saiu correndo!
- C-Cale a boca! Isso não q-quer dizer nada!
- Hihi. Ah, Kenichi. Às vezes acho que você não se conhece direito. - disse ela, observando Nala se aproximar.
Kenichi ficou pensativo, observando as chamas crepitarem na lareira. Se perguntou se realmente conhecia a si mesmo. Estava tão afeiçoado ao seu modo de agir sem pensar que esses momentos calmos não eram agradáveis. Era tão mais fácil nas batalhas, pensou, se ajeitando na almofada.
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Kari e Liz
Kari saiu do banheiro, com uma toalha enrolada no corpo e outra sendo usada para enxugar seu cabelo. Suas roupas molhadas estavam jogadas na pia, tão encharcadas e emboladas que era difícil diferenciar uma peça da outra. O espelho do quarto estava embaçado do vapor que saiu do banheiro, e o próprio aposento estava ainda meio enevoado.
Ela se aproximou da cama, e notou que Liz estava em cima de um travesseiro, cantarolando baixinha com os olhos fechados. Kari sorriu, e terminou de enxugar o cabelo.
- Dormiu? - perguntou ela, sentando na beira da cama.
Liz lentamente abriu os olhos, e sorriu. - Não, estou apenas descansando. - Sua voz era suave, e parecia ter uma melodia própria. Kari se sentia mais calma conforme Liz falava, quase tão calma quanto a própria Jigglypuff era.
Kari terminou de se secar, e começou a vestir roupas secas. Enquanto colocava a camisa, deu uma olhada de relance em Liz, que voltava a cantarolar sozinha. Perguntou a si mesma se realmente tinha feito certo ao capturá-la. Ela parecia extremamente frágil para um combate sério. Tinha praticamente as mesmas dúvidas com Nala, embora ela tivesse se saído bem contra Brock.
Kari suspirou, e se abaixou para calçar os sapatos. Será que ela estava seguindo o caminho certo? Era muito fácil fazer seus planos sob a segurança de Pallet, mas na estrada as coisas eram diferentes. Se fosse a própria vida que estivesse em jogo, ela não teria nenhum problema, mas eram outras vidas. Não adiantava ficar seguindo em frente sem pensar no que estava fazendo. Talvez numa hora ela realmente tivesse que mudar a equipe, ou seu modo de agir.
A treinadora ficou sentada no chão, enquanto cada pensamento batia em seu âmago que nem uma pedra, e a dura realidade a fustigava. Eis que, de repente, o estômago de Liz roncou, acordando Kari bruscamente de sua mente. Quando se virou, a Jigglypuff estava completamente vermelha.
- M-me desculpe. - disse, encarando a garota com olhos trêmulos.
Kari por sua vez riu, e se levantou. - Vamos. - disse, estendendo a mão para Liz. - Vamos lá embaixo comer alguma coisa. Deve estar faminta.
A pequena bola rosa sorriu encabulada, e desceu da cama. Enquanto as duas cruzavam a porta, Kari suspirou. Talvez as coisas estivessem indo do jeito certo. Até agora tudo tinha funcionado perfeitamente. Sentindo seu coração se aliviar a cada passada, ela acompanhou Liz pelo corredor.
No andar de baixo, o átrio estava vazio, com exceção de Kari e sua equipe. Muitos treinadores haviam ficado no Monte da Lua para se abrigar da chuva, e outros haviam voltado para Pewter. Ela estava lendo uma matéria sobre vários treinadores bem-sucedidos que supostamente haviam sido treinados por uma Sandshrew, enquanto a televisão zumbia baixo. Kari olhou para ela, e viu um incêndio em uma mansão de Cinnabar. Muito provavelmente algum dos treinadores de Blaine, pensou, e voltou à sua revista. Sentiu o vento frio e úmido em suas costas, e se virou para a porta. Ela estava aberta, e uma pequena Zubat, criatura tal qual um morcego azul sem olhos e com pernas finas, vinha se arrastando, encharcada no chão. Eles correram até ela, e Kari a segurou nas mãos.
A Zubat estava terrivelmente ferida, mas ainda se agitava constantemente, até que percebeu com seu radar a figura de Kari, e falou:
- Você. Você. Eles estão no Monte da Lua. São muitos, ninguém quer enfrentá-los. Aqueles bastardos estão fazendo alguma coisa, mas eles não são confiáveis. Eu tentei impedí-los, mas eram muitos. Preciso de ajuda. Aqueles malditos bastardos -- Argh! - E se curvou, contorcendo devido a um ferimento.
- Por favor, não se esforce. - Disse Kari, levando-a correndo até a área médica. - O que houve? Quem está no Monte da Lua?
A pequena Zubat falou uma palavra, que quase foi submergida entre os passos altos que ecoavam no recinto, enquanto a treinadora a levava. Poucos ali conheciam o significado daquele pequeno conjunto de letras, e mal sabiam o impacto que ela teria em suas vidas dali para frente, tal qual um rinoceronte raivoso atravessando um mercado lotado. Tal qual um golpe em uma estrutura frágil. Tal qual... um foguete.
Rockets.
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