Sim, moços. Posso não ter postado nada no carnaval, mas hoje tem!
RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 6: BROCK
Pewter era uma cidade rústica, no mínimo. Tinha aproximadamente o dobro do tamanho de Pallet, e era praticamente composta de casas de madeira afastadas uma da outra. No entanto, vários campos de flores embelezavam a visão de quem passava pelos caminhos de pedra cinza que entrecortavam a cidade.
Kari e seu grupo estavam andando por uma dessas ruelas, apreciando a visão calma e relaxante da cidade, que contrastava com os perigos que tinham acabado de sofrer. Depois de alguns minutos, avistaram o Centro Pokémon à distância, envolto por uma multidão. Eles tentaram entrar, mas a densidade de pessoas era tão grande que logo desistiram. No caminho, ouviram algumas frases soltas, falando de Pokémon feridos na floresta ou sobre uma tal explosão em Cinnabar, ao sul de Pallet. No entanto, as informações eram tão variadas que não podiam ser confiáevis, então Kari decidiu se afastar e gastar algum tempo no famoso Museu de Pewter, ao norte da cidade.
O Museu era uma construção grande, com arcos e janelas decorando a superfície branca do longo edifício de dois andares. Dentro, havia uma exposição de Pokémon pré-históricos no andar inferior, e uma exposição sobre a viagem à Lua no segundo, com maquetes da nave usada e descrições das Clefairy, seres que supostamente vieram do satélite natural, colados na nave. Depois de darem uma passada pelo lugar, Kari reuniu seu time à sombra de uma árvore no jardim do museu.
- Eu não sei se vocês sabe, mas estamos prestes a enfrentar um líder de ginásio agora. Brock, o Colosso. - disse Kari, enquanto se abaixava para sentar na grama.
- Por favor, Kari. Ele é apenas um treinador como os outros. - disse Kenichi.
- Acho que você não entendeu. Só enfrentamos treinadores inexperientes. Agora vamos enfrentar um líder de ginásio de pedra. Não temos nenhuma vantagem sobre ele.
- E qual é o seu plano? - perguntou Nala. - Espero que não seja fugir de medo. E nem me colocar na reserva.
Kari sorriu e se levantou, levando o time de volta à floresta de Viridian.
Dias se passaram, e Kari estava parada em frente ao ginásio de Pewter. Uma imensa construção de pedra retangular se agigantava, com arcos de aço vermelho delimitando a entrada. De cada lado da porta havia uma estátua de um Rhydon, Pokémon parecido com um rinoceronte bípede, feito de pedra e com um chifre em espiral. Esse era o Pokémon símbolo da Liga Pokémon, pois se dizia que o primeiro Campeão usava apenas essa criatura em seu time. Kari virou seus olhos para a porta de entrada, que tinha um pequeno monitor mostrando os nomes dos treinadores que conseguiram derrotar Brock recentemente. O nome de Gary estava lá. Ela ficou fitando as letras por algum tempo, e depois sorriu consigo mesma. Se ele conseguiu derrotar Brock, ela não ficaria atrás. Empurrou a porta dupla e entrou.
O ginásio parecia muito maior por dentro do que por fora, embora a maior parte dele fosse a arena, de quase cem metros de comprimento e quarenta de largura, feita de terra batida e pedras aleatoriamente espalhadas pelo cenário, com o símbolo de uma Pokébola feito de cal no centro. O cal também demarcava os espaços em que os treinadores ficavam, um em cada canto da arena retangular. Kari havia entrado em uma elevação feita de pedra negra, que descia uma série de degraus até chegar à arena. Do outro lado da arena, no topo de uma elevação maior do que a que Kari estava, Brock se encontrava, em pé e de braços cruzados.
Brock devia ter uns vinte anos, e era bastante alto. Tinha a pele morena, cabelos negros e espetados para cima, com olhos bem apertados e sobrancelhas retas. Usava uma jaqueta verde com muitos bolsos por cima de uma camisa laranja, e parecia extremamente imponente, olhando para Kari de cima.
- Treinadora! Bem-vinda ao Ginásio de Pewter. Meu nome é Brock, e serei seu adversário. - disse ele, descendo lentamente os degraus até o ginásio. - Diga-me quem é você!
- Meu nome é Kari, da cidade de Pallet! - respondeu Kari, descendo também os degraus, menores em número do que o oponente, até chegar à arena.
- Hm. Me diga, Kari, qual é o seu sonho? - disse Brock, parando em seu lugar.
- Ser a Campeã. - disse Kari, sem pestanejar.
Brock jogou a cabeça para trás e soltou uma risada. - Hah! É um sonho alto. Deixe-me dizer uma coisa, criança. - Ele voltou a encarar Kari, com o rosto sério. - O caminho que está tentando percorrer é longo. Vários sofrimentos esperam por você. Morte, dor, cansaço. Ninguem consegue ir até o fim sem eles, e o final feliz provavelmente não será o seu final. Então, me diga: você tem a determinação de uma rocha para manter o seu sonho?
Kari o encarou, e sentiu novamente um fogo queimar dentro de si. Ela sorriu e acenou a cabeça.
- Bem. Pela minha honra como líder de ginásio, eu não vou deixar você ter um caminho fácil! Seu maior desafio começa aqui! Vá, Geodude!
Brock lançou uma Pokébola, soltando um ser estranho, feito inteiramente de pedra cinza, que levitava um pouco acima do chão. Tinha braços longos, e um rosto nervoso. Kari segurou sua Pokébola, rezando para que sua estratégia funcionasse.
- Vá, Nala! - ela liberou a Rattata, que logo correu para cima do Geodude. Seus dentes brilharam, e ela fincou-os no corpo do Geodude.
- Geodude! Melhore sua defesa! - O Geodude brilhou levemente, tentando aumentar a resistência do corpo para soltar Nala, mas ela continou firme em cima dele, voltando a morder.
No entanto, o Geodude se jogou em cima de umas rochas na arena, imprensando o corpo de Nala entre as pedras. Ela caiu, mas correu pra cima do adversário rapidamente, voltando a fincar seu dentes.
- Geodude! Tire ela de cima de você! - O Pokémon voltou a brilhar, e dessa vez conseguiu soltar Nala de cima dele. No entanto, era claro que a os ferimentos haviam exaurido o ser de pedra. Nala voltou a correr para cima dele, aumentando sua velocidade e se jogando contra o corpo do adversário, fazendo o Geodude desmaiar.
- Hah. Até que você tem alguma habilidade. Mas me diga: Sua pequena Rattata vai conseguir derrotar... Onix? - E então ele jogou a Pokébola, liberando uma enorme serpente de pedra, de impressionante nove metros, raspando seu chifre no teto do edifício. Suas pequenas pupilas negras pareciam pressionar a arena.
Kari engoliu em seco, e recuou Nala. Pegou uma Pokébola, olhou-a fixamente e liberou Kenichi.
Só que esse Kenichi não era o mesmo de alguns dias atrás. Sua cor era de um vermelho mais forte, e tinha crescido até um pouco mais de um metro. Suas garras haviam crescido consideravelmente, e uma pequena protuberância semelhante a um chifre crescia atrás de seu crânio. Seus olhos azuis encaravam o colossal Onix com o mesmo fogo que queimava em sua cauda.
- Que surpresa. Charmeleons são bem raros, crianças. No entanto, fogo não será capaz de afetar Onix. - disse Brock.
Kari sorriu e o encarou. - Temos mais surpresas do que você imagina, Brock. Kenichi, mostre a ele!
As garras de Kenichi brilharam com uma aura metálica, e ele saltou, atingindo o Onix a três metros de altura. O adversário urrou, e quase caiu para trás.
- Garras metálicas? Devo dizer que não estava esperando por essa. Só que -- os olhos dele, se possível, se estreitaram ainda mais --, ele ainda é um Pokémon de fogo.
O Onix então agarrou com a cauda uma das várias rochas espalhadas pela arena, e jogou-a em cima de Kenichi. O golpe o atingiu em cheio, e o corpo do Charmeleon foi soterrado pela imensa rocha.
O coração de Kari parou de bater.
- K-Kenichi? - disse ela, se aproximando do limite de sua área. Ele não dava resposta.
- Sinto muito criança. Esse foi um golpe e tanto. É o fim para você.
Kari não percebeu que havia caído de joelhos, nem as lágrimas que corriam pelo seu rosto. Isso não podia estar acontecendo. Não era assim que a história deveria acontecer. Kenichi prometeu a ela que seriam campeões.
- KENICHI! VOCÊ NÃO DISSE QUE SERIA CAMPEÃO? - Kari gritou para o monte de rochas.
As rochas não responderam. No entanto, começaram a se mover levemente. O movimento continuou, enquanto Kari olhava aflita. Finalmente, algumas rochas caíram, e Kenichi conseguiu se arrastar para fora.
- Kenichi! - Kari esperou ele chegar até ela, e aproveitou para usar uma poção em spray para curá-lo. As feridas estavam realmente pavorosas, mas a poção conseguiu torná-las aceitáveis. O Charmeleon se virou para a arena, parecendo pronto para outra, mas Kari o segurou pelo ombro.
- Kenichi, não! Mais uma dessas e você... - ela não conseguiu completar a frase.
Ele virou a cabeça para ela, e sorriu. - Não se preocupe. Ele não vai me acertar novamente. - E voltou a correr contra o Onix.
- Hm. Estou vendo que seu Pokémon é corajoso. No entanto, não confunda coragem com burrice. Onix, termine com a partida! - O Onix voltou a agarrar uma rocha, e a jogou contra Kenichi. Kari sentiu uma imensa vontade de fechar os olhos, mas manteve seu olhar.
As pedras se aproximaram em velocidade impressionante contra o pequeno lagarto. No entanto, ele saltou de encontro as pedras, e obliterou-a com suas garras metálicas. Ao encostar no chão novamente, o Onix jogou sua cabeça contra ele, esmagando-o no chão. Antes que Kari falasse qualquer coisa, Kenichi aproveitou a proximidade contra o rosto do oponente e atacou-o no olho direito com o mesmo ataque que havia destruído as pedras.
O adversário urrou de dor, com sua voz ecoando na arena, e jogou o corpo para trás, caindo pesadamente. No entanto, logo após cair usou a cauda para agarrar Kenichi, prendendo-o. Só que o golpe foi mal executado, e Kenichi usou as garras para se livrar do aperto, e saltou novamente para os olhos do Onix. Contudo, antes que Kari ou Brock gritassem algo, o Charmeleon parou o movimento na metade. Alguns segundos, que pareceram horas, se passaram. Kenichi recuou lentamente o braço, e olhou para Brock.
- Me desculpe. Mas a minha treinadora tem uma regra. Sem mortes. - Ao dizer isso, ele se virou para Kari e sorriu. Ela se controlou para não derramar mais lágrimas, e apenas acenou com a cabeça, sorrindo de volta.
O silêncio que se seguiu foi interrompido por uma série de palmas lentas. Brock estava os aplaudindo.
- Meus parabéns. Foi uma batalha invejável até o fim. - Ele retornou o Onix à Pokébola, e desceu até a arena, se aproximando de Kari. Quando estava próximo o suficiente, retirou uma pequena caixa cinza do bolso interior da camisa, e abriu-o. Dentro, estava um pequeno artefato de metal, esculpido a ponto de parecer uma pedra octogonal. Era a Insígnia de Pewter, prova da vitória de Kari.
Ela pegou, trêmula, a insígnia. O pensamento de que havia derrotado Brock e vencido a primeira grande etapa de sua jornada chegou finalmente à sua mente, e ela quase caiu no chão. Com todas as suas forças, se manteve em pé e olhou para Brock.
- Eu te subestimei, garota. Você tem um belo futuro pela frente, mas não ache que esse é o fim. Se quiser manter seu sonho, precisa se esforçar ainda mais, e derrotar gente muito mais forte do que eu.
Kari sentiu que, se conseguisse falar, choraria. Logo, apenas sorriu e concordou com a cabeça.
Brock sorriu. - Então está liberada. Siga para Cerulean, onde seu próximo desafio a aguarda.
Kari se virou e saiu do ginásio, com Kenichi do seu lado.
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