RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 4: O RIVAL
Assim que Kari entrou no Centro, percebeu que estava exausta. A viagem havia sido cansativa, com muitas noites mal-dormidas e caminhada excessiva. Assim, fez seu registro, subiu até o segundo andar, entrou no quarto e caiu na cama, acordando apenas no dia seguinte.
Quando voltou ao térreo, tratou de ir até o restaurante para seu café da manhã, e acabou entreouvindo dois homens conversarem na mesa ao lado:
- Soube que o rastro do líder do ginásio parou em Saffron. A polícia parece achar que os Rocket estão envolvidos no desaparecimento dele. - disse um homem de bigode grisalho, paletó marrom e chapéu fedora.
- Hm. Isso não pode ser bom para os negócios locais. Fico me perguntando dos motivos da Elite Quatro não se intrometer no assunto. - disse um homem idoso e careca, mas com uma longa barba. Os dois voltaram a suas refeições, enquanto Kari meditava sobre o que havia acabado de ouvir. Sabia que o líder do ginásio de Viridian havia sumido fazia alguns meses, mas a polícia já deveria ter achado-o. Pelo visto teria que seguir para Pewter e torcer para que ele estivesse de volta antes que Kari voltasse à Viridian.
Terminou seu café, e tratou de sair logo. O caminho para a Elite Quatro, a Estrada do Triunfo, tinha seu início bem perto de Viridian. Ela planejava dar uma pequena olhada antes de seguir norte. Liberou Kenichi e Nala e saiu da cidade.
Depois de algumas horas caminhando por uma rota separada pela ravina ao sul e a floresta ao norte, haviam chegado nas portas do lugar. Uma construção vermelha massiva se agigantava, com pilares brancos segurando o teto. As portas de vidro, também gigantes, continham o símbolo da Pokébola em alto-relevo branco, e eram tão limpas que apenas o símbolo se destacava. O grupo ficou olhando para o colosso por algum tempo, até que Kari falou:
- Da próxima vez que olharmos para essa construção, estaremos a um passo de nos tornarmos Campeões. - disse, olhando para cima com os olhos brilhando.
- Ou quatro passos. - reiterou Kenichi. - Só que não vai importar. Eu vou derrotar toda a Elite! - E, dito isso, soltou labaredas para o ar, algo que ele havia aprendido a fazer recentemente.
Um barulho de folhas veio de trás deles. Quando se viraram, viram um Mankey, animal semelhante a um macaco bege, com membros longos, rabo comprido, corpo redondo e focinho de porco. O Pokémon parecia assustado pelas chamas soltadas por Kenichi. Kari logo se agitou, pois Mankeys eram raros e com potencial absurdo. Estendeu o dedo para ele, e gritou:
- Acho que achamos nosso novo membro. Nala, vá!
Nala começou a correr atrás do Mankey, que se assustou e voltou a entrar na grama alta, sendo perseguido pela Rattata. Kari e Kenichi correram atrás, mas logo perderam eles de vista.
- Droga, droga! - reclamou a garota, enquanto afastava tufos de grama do caminho com violência. Como havia os perdido de vista, perguntou a si mesma. Kenichi vinha a seu lado, procurando farejar os fugitivos, mas havia muitos outros aromas no ar. No entanto, logo em seguida ouviram um grito atravessando o ar. Ao identificar a voz de Nala, Kari correu em disparada para a origem do barulho, sentindo o coração praticamente vibrar em seu peito.
Chegarem finalmente em uma clareira, onde viram Nala e um treinador segurando o Mankey com o pé. Quando se aproximaram, Kari sentiu o estômago gelar, ao ver que o Pokémon estava ensanguentado, claramente morto. Ao levantar os olhos para ver o treinador, outro golpe. Era Gary.
- O que você pensa que está fazendo? - perguntou Kari, sentindo o pulso acelerar ainda mais.
- Eu estava correndo atrás do Mankey, quase o derrubando, quando esse imbecil o matou! Estava tão perto de derrotá-lo! - disse Nala, visivelmente irada. Kari voltou a olhar para Gary. Havia um Pidgey, pássaro marrom e bege com listras negras nos olhos, em seu ombro. Seu bico estava pingando sangue.
- Estranho. Tudo que eu fiz foi treinar meus Pokémon. Não vejo o motivo de tanta revolta. - disse ele, com a voz doce e encolhendo os ombros.
Kari mordeu a língua. Conseguia ver até onde a retórica dele ia. Gary iria argumentar que não sabia que Nala era um Pokémon de treinador, e que não poderia concluir que o Mankey era o alvo de Kari. No entanto, tinha toda a certeza de que ele sabia, de alguma forma.
- Você está me dizendo que realmente não fez isso para me prejudicar, Gary? Que cometeu esse ato, que já é desprezível por si só, por acaso? - O sangue de Kari borbulhava.
- Ah, não me diga que realmente está seguindo o caminho pacifista, Kari. Ele não combina com você. E respondo a sua primeira pergunta com outra: você realmente acha que estou tentando te atrapalhar? - Gary sorriu de forma sinistra em seguida, encarando-a com seus olhos castanhos. - Está aí uma excelente sugestão.
O Pidgey de Gary levantou vôo, fazendo círculos em torno de Nala, que dava passos para trás, olhando-o atenciosamente com seus olhos vermelhos. Kari logou elevou a voz.
- Gary, o que diabos você pensa que está fazendo? - Assim que disse isso, o Pidgey passou a milímetros de seu rosto, o suficiente para as penas arranharem seu nariz. Kari protegeu seu rosto, olhando para Gary e Nala enquanto o Pidgey continuava no seu vôo baixo.
- Estou te fazendo um favor, Kari. Você não tem capacidade para empreender nessa jornada. Apenas vou derrotá-la e fazer você voltar chorando para Pallet.
Depois disso, Kari viu apenas vermelho. Tinha dado uma chance para Gary, mas tudo que ele queria era tirá-la da jogada. Hora de mostrar a que veio.
- Nala! Vamos derrotar esse Pidgey! - Kari apertou os comandos em sua Pokédex. Nala pareceu sumir por alguns instantes, e quando apareceu estava em frente ao Pidgey, atacando-o. O pássaro caiu no chão com ela.
- Hermes! Tire esse rato de cima de você! - O Pidget voltou a alçar vôo, e se lançou em investida contra Nala. No entanto, ela se jogou para o lado no último segundo. Hermes foi rápido e cancelou o mergulho, mas antes que voltasse para cima Nala atacou-o novamente.
- Hermes! Pare de sacanagem e termine essa luta! - Gary estava espumando. O Pidgey voltou a investir contra Nala, acertando-a desta vez. O impacto fez Nala voar em direção a uma elevação, e Hermes foi logo atrás. No entanto, ela aproveitou o obstáculo se aproximando e usou-o como trampolim, evitando o Pidgey vindo em sua direção. Ele então voltou a subir, mas antes de completar o movimento Nala seguiu correndo pela elevação e acertou-o, fazendo-o desmaiar.
- Droga! - Gary retornou Hermes para a Pokébola, e logo em seguida lançou Titã. Kari fez Nala recuar e liberou Kenichi para a batalha.
Kenichi logo avançou, arranhando Titã, que usou da cauda para desestabilizar o adversário novamente. Kari tentou lançar chamas contra ele, mas percebeu que o Squirtle estava muito forte para ser derrotado por um golpe que tinha vantagem. Titã voltou a usar a cauda, fazendo Kenichi cair. No entanto, ele aproveitou a queda e utilizou-a como força extra para arranhar o Pokémon de Gary no rosto, tirando sangue. Kari logo ficou preocupada, mas felizmente ele não havia acertado os olhos, em vez disso o espaço entre eles.
A partida estava terminada ali, no entanto. Titã tentou investir contra Kenichi, mas o sangue em seu rosto o fez acertar o lado do adversário ao invés do centro de gravidade. Kenichi desviou parcialmente, e logo arranhou-o novamente, colocando-o no chão.
Gary recolhou seu Squirtle, e lançou um olhar feroz para Kari. Por um instante, ela poderia ter jurado ter visto lágrimas, mas o instante passou. Gary virou o rosto, e tratou a caminhar para Viridian. O vento levou as palavras dele para Kari, uma simples frase: "Sorte".
Ele desapareceu no oeste, caminhando em direção ao pôr-do-sol. Kari ficou olhando, e esperou alguns minutos até seguir o mesmo caminho.
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