segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Aurora: Capítulo 44 - Indramara


 Amanda saltou por cima de uma escrivaninha empoeirada, bem a tempo de se esquivar de um muro móvel de energia verde que destruiu os móveis atrás dela. Ele continuou seu caminho até acertar a parede de rochas negras e se desmaterializar, bem no momento em que a garota caía com os dois braços à frente para se proteger. Rolou no chão, sujando suas vestes cinzas e folgadas, para em seguida levantar a cabeça com medo. O quarto escuro estava arruinado, com poeira e destroços a toda vista. A garota fitou a janela à esquerda, do outro lado do aposento, e lá fora, na rua, havia uma mulher curvilínea e encapuzada, com um longo manto roxo e prata por cima do vestido preto. Ela a encarava.

 A membro da Aurora arregalou os olhos e se levantou com um salto, correndo até uma porta à sua frente. Um novo muro de energia veio em sua direção, explodindo a janela. Amanda enfiou o pé na porta para abri-la, bem a tempo para se esconder dos cacos de vidro e lascas de móveis atrás dela. Mais um estrondo chacoalhou o prédio, sinal de que o ataque havia se desintegrado. Contudo, haveriam mais.

 Nervosa, ela esquadrinhou o novo aposento. Escrivaninhas se amontoavam à direita, e havia uma escada à esquerda. Subiu em velocidade, os degraus de madeira rangendo e reclamando. Assim que chegou ao andar superior, viu uma janela à sua frente,mostrando um prédio bem próximo. Um plano maluco veio à tona e ela disparou, saltando com os braços no rosto. Quebrou o vidro e abriu os olhos enquanto estava no ar, tentando enxergar um lugar para pousar. Contudo, só conseguia ver a cor verde.

 Entendeu o que estava acontecendo apenas quando bateu de frente na parede de energia. Começou a cair e tentou segurá-la em desespero, mas havia outro feixe embaixo dela que a jogou para longe. Bateu de costas em um prédio, perdendo o ar e deslizando até o chão. Perdeu a consciência por segundos, talvez mais, mas quando se recuperou e ouviu passos calmos se aproximando, não tinha forças para agir. Sentiu um material quente e instável, como se feito de nuvens compactas, levantar seu queixo. Avistou uma elfa a encarando, os cabelos negros e negros saindo por baixo do capuz e um sorriso estampado no rosto.

 - Bem... - Começou Alana, a membro do Culto Púrpura, com a voz doce. - Se rende agora?

 A garota olhou para os lados, procurando uma forma de escapar. Havia um beco à direita, mas não conseguiria fazer nada com o feixe de energia prendendo-a na parede. Tentou forçar um pouco o pescoço para frente, mas a adversária redobrou as forças. Amanda rangue os dentes, sentindo que não havia saída. Nenhum improviso ou plano insano. Colocou uma expressão de derrota na face, o lábio manchado de sangue tremendo. - Sim. - Admitiu. - Eu desisto.

AURORA
CAPÍTULO 44: INDRAMARA

 O céu estava agitado, com nuvens carregadas cada vez mais baixas e o vento salgado cada vez mais veloz. A tempestade se aproximava, e as ondas vorazes martelavam a fortaleza flutuante, estourando e invadindo as calçadas negras. Amanda, que caminhava a duas ruas de distância do mar, quase escorregou nas pedras molhadas, batendo com as costas na parede verde.

 - Tome cuidado, por favor. - Pediu Alana, do outro lado do feixe de energia. Ela mantinha o construto com a mão esquerda, formando um muro de três metros de altura e cinco de comprimento. Ele servia para impedir que sua prisioneira fugisse, cumprindo o papel de algemas. Amanda se reequilibrou, fazendo um muxoxo. Era a terceira vez que tropeçava.

 - Por quê temos de vir por aqui? - Perguntou irritada, fazendo um beicinho. - Podíamos ter ido pelo interior dessa droga de lugar.

 - Desse jeito eu não me perco. - Respondeu a elfa, sorrindo calmamente. Ela procurava contornar o perímetro e chegar até uma estranha área ao leste da fortaleza, onde pilares afiados de quase seis metros se curvavam para o interior de uma plataforma plana. Depois do ataque de Marcus, ela havia caído mais distante do que os outros, ao noroeste, onde havia lutado com a membro da Aurora. As duas haviam então caminhado por quase meia hora, e ainda pareciam longe. 

 Muito da razão daquela demora era culpa de Amanda, que andava a passos arrastados e lentos. Ela olhou para trás, avistando a outra através da energia verde. Podia ser sua imaginação, mas tinha certeza de que havia visto gotas de suor. Voltou a cabeça para frente, pensativa. Aquele construto parecia bastante custoso de se manter, e a exaustão de sua captora era tudo que precisava. Só que tinha que ter certeza antes de fazer qualquer coisa.

 - Então... - Começou, a voz alta e animada. - Nós duas temos andado muito caladas. Que tal uma conversa para nos animarmos? - Não veio nenhum com exceção das ondas se quebrando à distância e os trovões cada vez mais frequentes, e a garota franziu o cenho. - Digo, podemos falar dos meninos, de nossas vidas, trocar figurinhas. - Virou a cabeça, encarando o rosto da outra. Ela apenas sorria tranquilamente por entre os longos fios escuros. Amanda inflou as bochechas antes de se virar para frente. - Você podia ser uma carrasca mais legal.

 Alana riu, colocando a mão na boca. Bingo, pensou a membro da Aurora. - Bem, eu não tenho muito o que falar. Desde que... bem... - Ela se manteve em silêncio por um tempo, mas Amanda não reagiu a isso. - Desde que fiquei sozinha, não fui de falar muito. Exceto com Desaad. - Ela levantou o queixo, sorrindo para o céu tempestuoso. - Ele me resgatou e me deu motivo para viver novamente. Não sei se posso definir nosso relacionamento, mas... poderia dizer que somos amantes. Feitos um para o outro.

 A garota ficou calada, analisando o que tinha ouvido. Conseguia identificar o cansaço na voz de sua captora, mas havia algo mais. Solidão, conseguiu discernir. Para ela, Desaad era sua única companhia. - Amantes? Parece algo sério.

 A elfa deu um outro risinho. - Bem, ele confia bastante em mim. Acho que mais até do que Zaulin. Iríamos compartilhar a Caverna dos Reclusos, sozinhos, e depois me pediu para sequestrar Tom Burstin para que o hipnotizássemos e pudéssemos trazer vocês até aqui. - Bem, isso era mais do que esperava ouvir, pensou a membro da Aurora. Agora sabia que Burstin não estava mancomunado com o Culto Púrpura. Infelizmente isso significava que haviam derrotado ele. Esperou ele estivesse bastante fraco quando isso ocorreu. 

 Após isso ficaram em silêncio. Amanda já sabia que a outra estava cansada, e só precisava de uma chance para escapar. As duas continuaram caminhando lentamente, até que avistaram um prédio em ruínas. - Céus, o que houve aqui? - Perguntou a encapuzada, parando um momento para ver a destruição. Já a outra também parou, mas o que viu foi a camada de poeira ao redor dos destroços. Sua chance.

 A garota conjurou rapidamente seus poderes, levantando uma cortina de poeira em cima delas. A elfa gritou e pôs os braços no rosto. Quando os abaixou, percebeu que sua prisioneira havia sumido. Olhou para os lados, sentindo o coração martelar seu peito.

 - Aqui. - Disse a voz de Amanda atrás dela. Alana mal conseguiu se virar antes do soco atingir sua mandíbula. Cuspiu sangue e caiu no chão, a mão levantada para conjurar um feixe de energia verde que varreu a poeira, mas que não atingiu seu alvo. A membro da Aurora já estava à sua direita, de onde disparou uma cotovelada no pescoço da adversária. 

 A elfa cuspiu mais de seu precioso líquido vermelho, perdendo o ar. Amanda aproveitou e montou em cima dela, desferindo dois socos no rosto da outra antes de ser agarrada pelo pescoço e jogada para o lado. - Sua... - Começou Alana, limpando o sangue da boca. Ela conjurou outro feixe e o derrubou como uma marreta, mas a garota era muito rápida. Rolou para trás para se esquivar do golpe e usou seus poderes para levantar uma nova cortina de poeira, acertando os olhos da outra bem em cheio. 

 - Aaargh! - Gritou Alana, segurando o rosto. Sua adversária aproveitou a situação e chutou sua face, arremessando-a para longe. O chão sujo se manchou de vermelho, e a encapuzada procurou se levantar, zonza e com o longo cabelo negro no rosto, de costas para cima. Foi o momento em que Amanda a puxou pelo colarinho e a agarrou pela cabeça. Manteve uma mão agarrada no capuz e com a outra desferiu um soco, tão forte que o som do nariz quebrado se propagou acima dos trovões. Sangue espirrou e Alana perdeu as forças, desabando.

 - Desculpa. - Pediu Amanda, esfregando o suor e a poeira que se misturavam no rosto. - Só que não posso demorar aqui. Preciso ir encontrar meus amigos.

 - Sua... - Começou Alana, o rosto coberto de sangue. Ela tentou conjurar outra faixa de energia, mas a outra garota se esquivou facilmente. Ela então se aproximou e montou em cima da elfa novamente, lhe dando um novo soco no rosto.

 - Eu não quero continuar com isso! - Implorou, sentindo a mão manchada de sangue. Sua adversária levantou o braço para atacar novamente, o que obrigou a garota a quebrar dois dedos dela. Um grito cortou os ares, e Amanda franziu o rosto. Não gostava daquilo. De fato, odiava aquilo. Só que tinha de sair vitoriosa dali. - Desista logo, por favor! Eu tenho que tirar meus amigos daqui!

 - Você... não pode... - Alertou a elfa com a voz embolada. Lágrimas desciam pelos seus olhos, e ela tentava levantar o outro braço. A membro da Aurora procurou não se defender, e aguentou o feixe de energia que a acertou no ombro e no rosto. Sentiu um corte perto da têmpora arder, e quando Alana estava prestes a atacar de novo, prendeu sua mão no chão. 

 - PARA COM ISSO! - Gritou, segurando a mão da outra com força. - APENAS ME DEIXE IR!

 - VOCÊ NÃO PODE! - Berrou de volta a encapuzada, e mais lágrimas foram derramadas. - Você não pode ir. A-a invocação não está completa. Não posso d-deixar vocês irem. - Continuou com a voz chorosa, os lábios trêmulos através de todo o sangue no rosto.

 - O que você quer dizer com isso? - Perguntou Amanda, mas não parecia que era ouvida.

 - Ele m-me prometeu. P-prometeu que iria trazê-los de volta. - A elfa olhou para cima, encarando as nuvens. - Disse isso quando estávamos na mesma cama! N-não mentiria para mim!

 - Desaad...? - Se lembrou de algo que Alana havia dito em Helleon. Sobre algo que parecia perturbar a outra. De repente, veio uma suposição. - Desaad prometeu trazer sua família de volta? 

 Foi a vez dos olhos castanhos da encapuzada se arregalarem, e Amanda percebeu, para seu imediato terror, uma faísca verde neles. - NÃO FALE SOBRE A MINHA FAMÍLIA! - Um muro de energia arremessou Amanda para trás, jogando-a contra os destroços do prédio. Ela rapidamente levantou a cabeça, apoiada com os dois joelhos no chão, e avistou a visão dos pesadelos à sua frente.

 A elfa estava de pé, o capuz recolhido. Seus cabelo negro estava derramado ao redor de seu rosto, e entre eles estavam seus olhos. Só que não haviam mais a pupila preta, a íris castanha ou o esclera branco. Só havia verde, um verde bem forte, que vazava das órbitas na forma de longos e constantes raios. Amanda sentiu os braços tremerem. Conhecia aquilo, vindo das histórias de Dominic, mas nunca havia visto cara-a-cara

 Alana havia alcançado um dos caminhos de Devayana, Indramara.

 A garota engoliu em seco e se levantou, tentando controlar seu pavor. Procurou se convencer do contrário, mas os olhos coloridos e raios não a enganavam. Se lembrou de Dom lhe contando sobre os Devayana, caminhos para se alcançar um poder inigualável. O mais frequente, embora ainda raríssimo, era o Indramara, que ele havia visto algumas vezes durante seu tempo na Fronteira. O Indramara era obtido quando o poder e a vontade da alma eram tremendamente aumentados devido a um choque emocional bastante poderoso, fazendo com que ela envolvesse o corpo e quebrasse os limites da força e das habilidades. E Amanda havia acabado de pressionar sua adversária até esse ponto. Idiota.

 - Tudo bem... - Começou, levantando as mãos. - Alana, procure se...

 A membro do Culto Púrpura a interrompeu, esticando a mão para frente. Um muro de energia, muito maior e mais denso que os outros, disparou na direção de Amanda. A garota pulou para o lado, mas foi arremessada para longe pela onda de choque, batendo de costas em um prédio. Olhou para onde estava, e havia um profundo sulco nas rochas da rua por onde o feixe havia passado. Sentiu o corpo tremer.

 Se levantou com um salto, procurando uma alternativa com as informações que já tinha. Talvez pudesse usar a conversa, mas a elfa parecia ter atingido o Indramara de forma relativamente fácil, o que implicava que ela era muito instável emocionalmente para aquele choque ter sido tão poderoso. O.K, essa era uma péssima informação. De volta à estaca zero. Se lembrou que Dominic havia lhe dito que, sem controle, o Indramara era bem curto. Essa parecia melhor.

 Alana estava atacando novamente, mas a garota já tinha se movido. Pulou para dentro de um prédio, quebrando a janela e se vendo em um aposento apertado e escuro. Se pudesse se esconder tempo o suficiente, a encapuzada se cansaria. Ainda estava se condecorando por ter pensado naquilo quando um feixe passou por trás dela, destruindo a parede e tudo mais que encontrou no caminho. A garota, arremessada para o outro lado do quarto, olhou para a destruição com os olhos arregalados. Talvez não tenha sido a melhor opção.

 - VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE FALAR DE MINHA FAMÍLIA! - Começou a elfa, martelando o prédio com golpes e mais golpes de energia. - DO MEU PAI! DA MINHA MÃE! DOS MEUS IRMÃOZINHOS! - Lágrimas começaram a cair em seu rosto, parecendo verdes frente à luz dos olhos. - NINGUÉM... N-NINGUÉM DEVE FALAR DELES ATÉ EU TRAZÊ-LOS DE VOLTA! EU VOU RESSUSCITÁ-LOS E VOCÊ NÃO VAI FICAR NO MEU CAMINHO! - Ela continuou atacando, até que o edifício começou a ruir. Dele veio uma nuvem de poeira, cobrindo-a por inteiro.

 - Acho que você deveria falar com alguém sobre seus problemas. - Resmungou Amanda, saindo dos destroços. Ela correu na direção da adversária, o punho cerrado. Não tinha como se esconder dela, não com aquele poder destrutivo, portanto deveria aproveitar aquela única chance. Conseguiu enxergar o vulto através da poeira. Era agora.

 - Isso não vai funcionar de novo. - Alertou Alana, e um brilho verde veio do céu. A garota olhou para cima e parou, abismada. Havia uma auréola de energia no céu, tão grande quanto a rua em que estavam. Percebeu que tinha parado de respirar, e olhou de volta para a elfa, mais visível através do pó que se esvaía. Ela estava com a mão levantada para o alto, e a abaixou em um ínfimo de segundo.

 A auréola desceu como um raio, destruindo o que encontrava e prensando Amanda no chão. A garota foi enfiada nas rochas negras, o corpo inteiro esmagado. Sentiu todos os ossos rangerem e o sangue cascatear do nariz e a garganta, sem forças para sequer mexer um dedo. Estava tão imersa em dor que nem reparou que a auréola havia se desfeito, mas sentiu quando agarram sua camisa, levantando-a da cratera em que estava.

 - Prometo ser rápida. - Disse a outra mulher, parecendo bem próxima de seu rosto. A membro da Aurora levantou minimamente a cabeça, encarando os olhos verdes de sua adversária. Foi jogada para trás, caindo de costas. Rangeu os dentes e arqueou o corpo, sentindo um vulto cobrir a luz do céu. Abriu os olhos, vendo que a elfa estava com a mão em palma, os dedos apontados para seu coração. - Até nunca mais, Amanda.

 - NÃO, ESPERA! - Soltou a garota, levantando os braços. Talvez fosse hora de voltar ao seu primeiro plano, a conversa. Não parecia ter outras opções. - Você... espera, por favor. - Respirar era um ato extremamente doloroso, fazendo-a contorcer o rosto. Sua adversária a encarava, ainda imersa no Indramara. - Seus pais... - Essa ia ser arriscada, mas tinha que confiar em sua intuição. Alana parecia instável demais, mas ainda assim confiava plenamente em Desaad. Isso poderia ser natural ou manipulado. Restava rezar pela segunda opção. - Seus pais... já te... te ensinaram o que é certo?

 Um feixe de energia prensou sua perna direita, quebrando o joelho. Amanda gritou, a dor ressoando pelo corpo inteiro. - MAS É CLARO QUE SIM! - Gritava a outra. - ACHA QUE ELES FORAM PAIS RUINS? O QUE ESTÁ INSINUANDO?

 - Nada, é só... - Era difícil ficar acordada, quanto mais continuar falando, mas tinha que continuar. - Teve um homem que foi... um segundo pai para mim. Seu nome era Adam Alba, e ele... - Ela fechou os olhos com força, tentando esquecer da perna destroçada. - Ele me disse uma vez que... quando nossos amigos... passavam por problemas... nós tínhamos que ajudá-los a superar isso. Que não podíamos deixá-los sofrendo... mesmo que não soubessem.

 - O que quer dizer com isso? - Perguntou a elfa. Ótimo, eu acho que ganhei a atenção dela, pensou Amanda. Se forçou a rir internamente apesar da dor. Só não podia dar outro passo em falso.

 - Eu só quero saber... se alguém fez isso com você. - Abriu os olhos, encarando a adversária. - Se alguém te ajudou... com seus problemas.

 Alana ficou calada por um tempo. - Desaad esteve comigo. - Disse baixinho. - Ele sempre esteve ao meu lado.

 - Sim, mas ele chegou a conversar com você? - Por favor, que minha suposição esteja certa, rezou a garota. Por favor. - Chegou a se importar com seus problemas? Ou te deixou amargar isso sozinha?

 - Onde quer chegar com isso? - Disparou a elfa. Isso parecia promissor, considerou Amanda.

 - Estou dizendo que Desaad... nunca esteve realmente do seu lado. - Respirou fundo. - Ele só queria te usar, Alana.

 - Não fale do que não sabe! - Se enraiveceu a outra, agarrando o pescoço da outra. - Ele me estendeu a mão quando estive sozinha! Me salvou quando tudo parecia perdido! - Apertou, sentindo a garota engasgar. - Ele sabia de tudo que eu tinha passado, mas nunca, nunca...

 - Nunca te perguntou se você estava bem, perguntou? - Conseguiu soltar Amanda. As duas ficaram em silêncio, e as mãos da elfa diminuíram o aperto.

 - Ele não precisava... - Tentou dizer ela. - Eu sabia... sabia o que ele queria fazer por mim. E eu nunca quis conversar sobre mim mesma.

 - Alana, em algum momento de seu tempo com Desaad... você sentiu que estava melhorando? - A garota colocou as mãos suavemente nos braços da outra, tentando afastá-los de seu pescoço.

 - .... Não. - Admitiu a elfa. Deixou a outra mover seus braços.

 - Se ele fosse um namorado... diria que ele não estava em sintonia com seus sentimentos. - Ela sorriu para reconfortar a outra mulher, mas também havia uma pintada de orgulho no sorriso. Estava certa, no fim das contas. - Só que não era seu namorado. Ele era o líder do seu grupinho, e precisava que todos fizessem o que mandasse. E te deixar sofrendo sozinha parece uma boa forma de manipular seus sentimentos quando precisasse. - Ela ajeitou o corpo, sentindo a perna agonizar. - Agora, só uma pergunta, Alana. - Encarou bem fundo em seus olhos, mesmo apenas enxergando uma órbita verde. - Eu não conheço Desaad, mas você parece conhecer. Você acha que ele sabia que você estava sofrendo por sua família? Mesmo depois de... sei lá quanto tempo vocês passaram juntos?

 - Ele... - Alana abaixou o queixo, e lágrimas desceram por suas bochechas, até pingarem no corpo de Amanda. - Ele sempre sabia o que dizer para Rohr e... sempre soube controlar Jyll. Parecia entender muito de como a gente funcionava. - Sua voz estava cada vez mais embolada e aguda, até que ela encarou a outra garota com o rosto contorcido. - Ele sabia. Ele sabia que eu não estava bem.

 - E mesmo assim não fez nada. - Respondeu a membro da Aurora, também em pesar. Não conseguia imaginar o que a elfa tinha passado, ignorada pela única pessoa que confiava. Hesitou em continuar, mas tinha que revelar tudo que havia suposto, e que parecia mais verdadeiro a cada segundo. - Ele nunca queria que você estivesse bem, Alana. Só queria te manter controlada. Usou seu pesar por sua família para que entrasse no Culto Púrpura, não foi?

 - Foi... - Confessou ela, tentando conter a cascata de lágrimas. - Disse que ia... que ia trazer eles de volta.

 - E foi com isso que te manteve do lado dele. - Apertou a mão da outra. - Sinto muito.

 Alana a encarou, e uma faísca reacendeu em seus olhos. - AAAARGH! - Gritou, caindo para trás com as mãos no rosto.

 - ALANA! - Gritou Amanda, se arrastando para ficar ao lado dela. Dominic havia lhe contado que, sem controle correto, sair do Indramara era um processo extremamente doloroso. Portanto, foi uma surpresa quando a elfa se virou para se levantar, apoiando os braços no chão. Seus olhos estavam sangrando, mas ela ainda assim se virou para a outra garota.

 - Nós temos de ser rápidas. - Disse, se levantando com dificuldades. Piscou várias vezes, limpando o sangue com os dedos. - Não podemos demorar muito, Desaad está prestes a completar seu plano.

 - Então vamos acabar com ele e buscar meus amigos. - A elfa a ajudou a se levantar, passando o ombro por debaixo de seu braço. As duas se equilibraram e começaram a andar na direção da estranha área que Alana estava se dirigindo antes.

 - Desaad deve estar indo para o centro de invocação. Talvez possamos atacá-lo lá. - Ela se virou para o outro lado, apertando com força a cintura da garota. - E... Amanda... me desculpe por tudo.

 A outra arregalou os olhos, mas ouviu a fungada da elfa. Sorriu. - Depois de sairmos daqui, vamos ter uma conversa com a líder da minha guilda. - A mulher se virou temerosa para ela, as lágrimas se misturando com seu sangue empapado. - Vou tentar te colocar na Aurora. Lá eu vou poder te ajudar melhor.

 Alana arregalou os olhos, mas sorriu aliviada. As duas olharam para frente, sentindo a chuva fina começar a cair. E, juntas, seguiram em frente.

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