quinta-feira, 25 de abril de 2013

RN Nuzlocke LG : 18 - Sonhos


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 18: SONHOS


Haviam chegado a Cerulean no dia anterior, e já estavam na estrada. Caminhavam pela rota 9, uma estrada ao leste da cidade. Localizada entre duas formações montanhosas, o caminho serpenteava pelos obstáculos.

Kari estava imensamente mais feliz do que estava nos últimos dias. Havia conquistado a terceira insígnia, e tinha ensinado golpes novos para seus Pokémon através de CD's chamados TM's, que ofereciam vídeos e instruções. Sua animação estava no auge, e nem os cinco dias de estrada conseguiram freá-la, especialmente por um acontecimento na noite do quarto dia.

O grupo estava começando a montar o acampamento para passar a noite, e haviam sido desafiados por um alpinista que estava vindo da Caverna Rochosa, mais ao sul. Felicia havia acabado de derrotar seus Pokémon quando começou a brilhar intensamente na noite fria. Quando Kari voltou a enxergar, ela havia evoluído em uma Persian.

- Felicia! Você conseguiu! - Exclamou Kari, abraçando-a. A Persian olhou para as próprias patas, parecendo impressionada pelo feito.

- U-uau. Essa... sou eu?

- Isso mesmo, Felicia! Bem-vinda ao clube dos Pokémon completamente evoluídos! Diferente de certo alguém... - acrescentou Zelda em voz baixa, olhando de relance para Kenichi, que resmungou.

- Isso foi uma indireta?

- K-Kari? Eu... Eu queria te perguntar uma coisa.

- Pode falar. - Respondeu a garota.

- Eu... gostaria de batalhar contra um líder de ginásio.

Kari sorriu, e afagou a cabeça da Persian. - Bem, eu vou pensar no seu caso. O próximo ginásio é em Celadon, onde enfrentaremos Pokémon de planta. Estava planejando usar Kenichi e Zelda contra eles, mas quem sabe você não conquista sua posição? - Felicia pareceu recompensada com essa resposta. O grupo aprontou o acampamento para passar a noite, e na manhã seguinte já estavam de volta à caminhada.

Na manhã do sexto dia, estavam em um Centro Pokémon à beira da estrada, localizado bem perto da entrada da Caverna Rochosa. Kari estava adquirindo novos mantimentos quando um estranho grupo de cosplayers desceu do segundo andar do edifício, saindo de forma barulhenta do lugar. Ela estranhou, e perguntou ao funcionário de onde eles vinham.

- Eu também acho estranho. Que eu saiba, não há nenhuma competição de cosplay em Lavender ou qualquer outra cidade próxima. Se eu fosse você, me afastaria deles. Não parecem pessoas... saudáveis. - A garota virou a cabeça, observando um homem barbudo vestido de Charizard. Ela estremeceu e os deixou ter uma vantagem no caminho.

Quando finalmente entrou na caverna, sentiu como se estivesse encarando um buraco negro. A entrada estava relativamente iluminada, mas a partir de quinze passos adentro do lugar a garota não conseguia enxergar suas mãos. A escuridão era tão intimidadora que ela não arriscava dar um passo, pois não tinha certeza nenhuma do que estava à sua frente.

Ela lançou Liz de sua Pokébola, e a Pokémon fez a mão brilhar intensamente, iluminando uma área de quase seis metros de raio ao redor delas.

- Bem, finalmente achamos uma utilidade para esse golpe, não? - Disse a garota. Ela havia ensinado a Wigglytuff essa habilidade através de um TM, e tinha penado em achar uma vantagem dessa atitude. Assim, com uma visibilidade limitada porém suficiente, elas continuaram seu caminho.

Haviam andado por algumas horas. Kari tentava apressar o passo, desejando imensamente sair daquele lugar o mais rápido possível. A escuridão tentava apertá-la tal qual uma mortalha, e o desespero começava a bater na garota. Liz estava suando, se esforçando ao máximo para manter a luz, embora isso pudesse não durar muito tempo.

Depois de quatro horas e meia de caminhada, avistaram uma pessoa. A luz refletiu em sua roupa, e Kari a identificou como um dos cosplayers que estavam no Centro Pokémon. Ela hesitou em passar perto dele, mas uma rápida olhadela no ambiente a disse que era o único jeito. Ela tentou andar de forma rápida e silenciosa, mas o cosplayer percebeu seu movimento e foi ao seu encontro.

- Oh. Veja só quem anda por aqui. - Ele colocou o braço na frente da garota, prendendo-a na parede. Kari sentiu seu bafo de cerveja infestar suas narinas.

- Liz, fique longe. - Ela olhou para trás, e a Wigglytuff congelou seu movimento. Kari se virou para o atacante. - Saia da minha frente. Eu não estou brincando. - Evitando contato visual, ela tentou passar pelo braço do homem, mas ele era mais forte. Sorrindo, o cosplayer colocou a Pokébola no rosto da garota.

- Nananinanão. Sinto lhe dizer, mas você perdeu seus Pokémon. Deixe seu cinto aqui comigo. - Ele estendeu o braço para agarrar a cintura de Kari, que desferiu uma cotovelada no rosto dele. O homem cuspiu sangue, e se virou irado para ela, segurando o nariz.

- O-o quê? Quem você acha que é, sua merdinha? - Kari olhou para Liz. A Wigglytuff estava muito cansada para fugir, e ela não esperava conseguir sair da caverna sem sua luz. Levou as mãos ao cinto, e liberou Felicia.

- Eu vou te dar mais uma chance. Saia daqui. - Felicia rosnou, e o homem lançou um Geodude.

- Sem brincadeiras hoje, Rock. Acabe com ela.

Bem, é por isso que eu não bebo, pensou Kari. - Felicia, cave um ataque! - A Persian usou as patas para criar um caminho por debaixo da terra. O cosplayer cuspiu, ordenando a seu Pokémon:

- Rock! Magnitude! - O Geodude bateu os dois braços com força no chão, e o pandemônio começou. Uma onda sísmica se estendeu pela caverna, fazendo o chão tremer e o teto ruir. Estalactites caíram do teto, e estalagmites se transformaram em pó. Kari foi jogada na parede pelo abalo, batendo as costas com força suficiente para expulsar o ar de seus pulmões.

- Liz! Felicia! - Conseguiu dizer, tentando se manter em pé. A caverna continuava tremendo, e ela não conseguia mais enxergar a arena. Um pedaço do teto caiu entre ela e a Wigglytuff, fazendo-a recuar a Pokémon por segurança. Apalpou a Pokébola da Persian e tentou fazê-la voltar, mas o raio não passava por baixo da terra.

 - Felicia! - Gritou, tentando se aproximar do buraco por onde a Pokémon havia entrado. Gritos riscavam o ar, e a poeira piorava a visão da garota. Mais um abalo a fez cair em cima do cinto, lançando sem querer Zelda para fora. A Golbat olhou em volta, assustada, e se virou para Kari.

- Precisamos sair agora! Já! - Ela agarrou os ombros de Kari, que se livrou e tentou alcançar o buraco novamente.

- Não! Felicia está lá embaixo! Precisamos achá-la! - Mais um pedaço do teto ruiu, caindo bem ao seu lado. O vento levantou pequenos destroços, que espetaram a perna da garota. Zelda olhou em volta, e voltou a segurar os ombros de Kari.

- Eu disse que precisamos sair! Esse lugar todo vai cair! - A garota gritou em resposta, tentando novamente se livrar do aperto. No entanto, Zelda segurou-a, e começou a bater as asas para sáirem do lugar.

- Não! Zelda, não faça isso! Felicia ainda está lá! Felicia! FELICIA! - Ela gritou, mas o estrondo do lugar absorveu sua voz. Seus pés saíram do chão, enquanto a Golbat batia as asas. A garota não conseguia mais ver o que estava acontecendo, mas continou com os braços estendidos, clamando por Felicia, tentando desesperadamente se soltar. A Pokébola da Persian caiu de suas mãos, descendo para o abismo. Aos poucos, iam se afastando da destruição, mas Kari continuava gritando e se debatendo. Felicia havia ficado para trás.

Já era de noite quando saíram da caverna. Duas viaturas policiais estavam paradas em frente à entrada, mas nenhuma alma viva estava próxima. Quando se aproximaram do chão, Kari se desvencilhou violentamente e desatou a andar para frente.

- Ei! Se você acha que iria sobreviver àquele terremoto, pode ficar irritada. Só que isso não iria acontecer, então pode parar com essa revolta. - Disse Zelda, pousando no chão.

Isso foi a gota d'água para Kari. A garota se virou, furiosa, e pisou forte até chegar à Golbat.

- Eu não estou NEM AÍ se eu tinha chance ou não de morrer, se é isso o que você está dizendo! Você não tinha o direito de me tirar de lá, Zelda. Não sem Felicia!

- E então o que eu faria? Esperaria você procurá-la num buraco no meio de um terremoto? Não havia como tirá-la de lá, Kari!

- Então está tudo bem? Você está contente com a morte dela?

- Não OUSE falar isso, ouviu? - A Golbat se aproximou da garota, com os olhos enfurecidos. - Você acha que é fácil para mim? Ver mais alguém morrer? Só que se você morresse, Kari, todos nós estaríamos na sarjeta! A sua jornada não é mais apenas pelo seu bel-prazer, ela é importante para todos nós! Se estamos te seguindo, é porque também queremos ser Campeões! O suficiente para morrermos por isso!

- O que você quer dizer com isso?

- Todos nós aqui temos sonhos. E você é a única coisa que mantém eles possíveis. Então não ouse dar uma de suicida e bote a cabeça no lugar. Não estamos passeando por um mundinho virtual onde tudo dá certo no fim. Essa é a vida real. E eu quero muito ser campeã.

- Eu... por quê vocês querem tanto ser campeões?

- Nós queremos provar a todos que conhecíamos que podemos ser o melhores. Eu não sei se você percebeu, Kari, mas reuniu um bando de desalocados. Kenichi treinou sua vida inteira para esse momento. Liz era considerada fraca e inútil pela família e até mesmo por treinadores que passavam por perto de onde morava. Wanda não sabia o que fazer da vida, até que você deu esse sonho para ela. Sara passou a vida inteira longe dos campeonatos, imersa em seus problemas. Conosco, ela reaviveu uma chama antiga. Eu estou nessa por minha espécie, para provar que podemos ser campeões, e não apenas Pokémon dragões ou afins. Felicia queria uma família, e ela conseguiu, passando a tentar se provar para nós. Cada um está nessa por uma coisa importante, Kari, portanto precisamos de você. É a nossa única chance nessa vida.

Kari ficou em silêncio. - Eu... não sabia.

- É claro que não sabia. Você sempre achou que a força-motriz era apenas do treinador. Que os seus sonhos eram nosso único combustível. Pois não são. São os seus e os nossos. E Felicia morreu por todos. Devemos ser gratos pelo sacrifício dela, e continuar o que devemos fazer.

A garota esfregou seu braço, olhando desconcertada para o lado. - Eu... nunca contei a vocês porque eu decidi ser a Campeã... né?

Zelda ficou em silêncio.

- Eu... sempre tentei fazer um monte de coisas quando era criança. Só que, quando as coisas se... tornavam difíceis... eu desistia. Chorava, corria, saía de perto. Até meus dezesseis anos. Eu não tinha nenhuma habilidade em nada. Gary, por outro lado, era o prodígio. Tudo que ele fazia dava certo. Nada conseguia detê-lo, e tudo que competíamos resultava na minha pessoa correndo e chorando na barra da mãe. Até que... no meu aniversário, minha mãe me levou para ver a final da Liga Pokémon. Foi a batalha em que Lance se tornou o Campeão. Eu nunca vi algo igual. Decidi naquela hora que era isso que faria da minha vida. Então decidi estudar e me aprofundar. Finalmente achei algo que... era boa. Eu entrava nas competições de conhecimento e... vencia. Você não faz idéia do quão feliz isso me deixava. Eu nunca havia ganho nada. E, claro, isso deixou Gary bem irritado. Heh. - Kari fungou, passando a mão no nariz. Seus olhos estavam brilhando. - De repente Pallet tinha esperanças em mim. Quem sabe aquela garota não nos põe no mapa, disseram. Então, quando fiz dezoito anos, me inscrevi. E aqui estou. Não é fácil, sabe? Eu tento dar o meu máximo, mas... tudo me diz para desistir. Ir pra casa. Gary talvez tenha razão, eu... não tenho realmente um motivo para ser a Campeã. Foi apenas a única coisa em que demonstrei... conseguir fazer na minha vida.

- Bem... agora você tem mais motivos, Kari. Não é só pelo seu sonho, que aliás, é algo bastante válido e que se dane aquele mauricinho de cabelo espetado. Agora você sabe que todos nós estamos aqui por alguma coisa, e não vamos te deixar desistir. Seremos heróis.

- Heh. Obrigada, Zelda. - Kari esfregou os olhos. - Há uma torre cerimonial em Lavender. Vamos fazer nossas homenagens a Felicia... e a Gordon também... lá. E então continuaremos nossa jornada. - As duas acenaram a cabeça, e seguiram a estrada.

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