sexta-feira, 12 de abril de 2013

RN Nuzlocke LG : 16 - A linha


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 16: A LINHA 

 - Gary, o que você está fazendo? - Perguntou Kari. O crepitar das chamas estava em todo o lugar, embora o fogo não fosse visível. Gary estava parado em frente a ela, sorrindo com os braços cruzados.

 - Apenas algumas coisas, Kari. Trabalhando para um grupo interessante, você sabe.

 - Você teve algo a ver com o policial ou o Growlithe que estava aqui? - Perguntou Sara, se colocando entre os treinadores.

Gary estalou os dedos, e seu Kadabra, evolução do antigo Abra, apareceu ao seu lado, com um sorriso parecido com o seu mestre. Kari sentiu seu sangue ferver.

 - Novamente. O que diabos você pensa que está fazendo?

 - Veja, Kari. Vou explicar uma coisa a você. No momento há duas insígnias que não conseguiriam ser obtidas de jeitos convencionais. Os ginásios de Cinnabar e Viridian estão fechados por tempo indeterminado, e ninguém consegue chegar na Elite sem eles. Tudo que estou fazendo é garantir o meu passe para ser o Campeão.

 O cérebro da garota deu uma vasculhada em suas memórias. Sabia que o líder de Viridian estava sumido, e recentemente o líder de Cinnabar havia decidido parar de representar sua função. Ela também se lembrou do membro Rocket na Ponte Dourada, e uma estranha suposição veio à sua mente.

 - Gary... - Começou ela, lentamente. - Você não está com os Rockets... está?

Dito isso, o garoto apenas continuou seu sorriso.

 - Você está maluco? - Gritou Kari. Novos pedaços do teto caíram, e o quarto atrás deles ruiu. No entanto, nada parecia tirar a atenção da garota, que olhava irada para o rival.

 - O investigador. - Disse Sara, falando baixo para si mesma. - Kari, ele se livrou do investigador internacional que estava suspeitando dos Rockets!

 - Oh, puxa, você tem Pokémon inteligentes, Kari! - Disse Gary, batendo palmas lentas e sarcásticas. - Sim, devo dizer que vocês estão certas. Os Rockets precisavam que alguém de fora impedisse que os investigadores chegassem até eles. Então me deram a função de explodir o navio em que ele chegaria, e fizesse de modo a que o próprio investigador levasse a culpa. Assim, o governo de Kanto não teria outra opção a não ser proibir a chegada de novos intrometidos.

 - Então foi por isso que você se livrou dele e do Growlithe? - Sarah parecia perplexada.

 - Mas é claro. Vejam, haverá provas depois, quando recuperarem o corpo, de que o capitão foi morto por veneno. Veneno esse que possui uma cópia no quarto em que nosso querido investigador estava. Inclusive, esse mesmo homem teria encontrado o capitão em uma conversa a sós na cabine, curiosamente sem nenhuma câmera de vigilância. Ah, e o Growlithe dele também sumiu quando as turbinas explodiram. Que coisa, não? Creio que isso não seria o suficiente para uma ação imediata das autoridades de Kanto, mas um pouco de apoio Rocket por debaixo dos panos não fará mal nesse caso.

 - Gary... - Kari não sabia o que dizer. Se sentia em um sonho, ou melhor, em um pesadelo. - Você... passou dos limites. De formas que eu não acreditava que era possível, até mesmo para você.

 - Kari, Kari, Kari... você não vê que estou te dando uma chance? Você pode fugir agora mesmo, voltar para Pallet e fingir que nada disso aconteceu. Meus superiores não querem você avançando pelo continente fuçando tudo que encontra. Nem eu quero que você siga derrotando ginásios. Além do quê... - Ele sorriu da pior forma possível para a garota. - ... todos sabemos que tudo que você quer é desistir.

Se Kari não tivesse se controlado no último instante, teria saltado em cima do rival para espancá-lo até a morte. Respirou fundo, mas continuava tremendo de raiva. - Você não me conhece. E, sinceramente, eu não o conheço mais.

Isso por algum motivo tirou o sorriso do rosto do garoto, fazendo-o perder a compostura. - Você não entende o que está acontecendo, está? Estou te tirando de um mundo que você não pertence! Você é fraca! Irresponsável! Você tenta abocanhar mais do que pode, sempre erra miseravelmente e depois volta pra casa chorando com o rabo entre as pernas! Pare de fingir que é mais do que pretende ser!  - Gritou ele. - Você é apenas uma garota chorona e estúpida, que estará em Pallet quando as coisas se tornarem ruins. Faça um favor a si mesma e a seus Pokémon, e adiante o inevitável. Desista e volte para casa.

Kari abaixou a cabeça e ficou em silêncio, sentido os olhos de todos em si mesma. Fechou os punhos com tamanha força, que suas unhas rasgaram a pele, fazendo o sangue desce quente pelas mãos. Quando voltou a encarar o rival, seus olhos brilhavam de lágrimas e raiva. - Não pense que me conhece. Estou nessa jornada há tanto tempo quanto você, e no entanto já passei por coisas que tenho certeza que você não passou, e conseguiu superar todas. E agora um garoto mimado vem me mandar desistir, depois de ter cometido tantas atrocidades, apenas porque está com medo da garotinha chorona que conheceu há anos conseguir realizar o sonho dele? Gary, eu já conheço os Rockets, e prometi a mim mesma e a meus Pokémon que faria mais da minha jornada do que era me pedido. Eu iria dar o meu máximo para combater as injustiças que eles fazem, e agora elas se extendem a você. Portanto, eu não irei voltar para casa. Eu não irei desistir. Pelo contrário. - Ela deu uma pausa, levando a mão instintivamente ao cinto para pegar suas Pokébolas, que não estavam lá. - Eu vou acabar com você e com seus Rockets. Tenha certeza disto.

O rosto de Gary ficou púrpura de tanto vermelho, e ele também levou as mãos às Pokébolas. - Que seja, então. Vamos fazer isso do jeito mais fácil.

Os dois se encararam, presos no corredor fechado que lentamente ia sendo destruído. Dois amigos de infância, ambos correndo pelo mesmo sonho, agora cruzando uma linha que não poderia ser descruzada. E ambos sabiam disso.

 - HERMES! - Gritou Gary, segurando firmemente a Pokébola.

 - SARA! - Respondeu a garota, enquanto sua Sandslash se ajeitava à sua frente.

  - VÃO! - Gritaram os dois.

O Pidgeotto saiu em velocidade da Pokébola, rapidamente investindo contra Sara. O impacto os fez atingir a pilha de destroços que era a cabine do capitão. A Sandlsash pegou um dos restos do navio e bateu no corpo de Hermes, fazendo-o desmaiar rapidamente. Quando Kari se virou, o Wartotle de Gary já estava em posição.

 - Wanda! - A Beedrill avançou contra Titã, usando o ferrão da mesma forma que havia usado contra a Starmie de Misty. O golpe acertou em cheio o adversário, que se retraiu em sua concha. Wanda deu duas voltas em torno dele, acertando um dos espaços abertos da carapaça, incapacitando o oponente.

Sem nem pestanejar pela perda de metade do seu time em menos de cinco minutos, Gary conjurou seu Kadabra. - Felicia, hora de estrear! - Gritou Kari. A Meowth hesitou por um instante, mas saltou ao encontro de Merlin e abocanhou-o.

Merlin afastou a adversária, envolvendo-a com uma aura rosa. Felicia foi jogada para o outro lado do corredor, enquanto o Kadabra envolvia uma peculiar colher de prata nas mãos, concentrando toda a sua aura no objeto.

 - Isso não é bom! Felicia, acabe com ele antes que isso termine! - Felicia passou por Kari como um raio, mordendo o rosto do adversário bem em cheio. O Kadabra perdeu a concentração e caiu, derrotado.

No entanto, mesmo sem três quartos do time, Gary voltava a sorrir. - Do que você está rindo? - Perguntou Kari.

 - Ah, nada. Exceto pelo meu próximo Pokémon. Talvez seja alguém... familiar. - Ele liberou a Pokébola, e a energia vermelha que saiu dela rapidamente tomou uma forma de roedor. Era um Raticate, pensou Kari, mas parecia extremamente familiar...

O coração da garota parou por alguns instantes, e ela ficou petrificada em sua posição. Não conseguia acreditar em seus olhos, mas parecia ser a mais pura verdade.

Gary havia acabado de liberar Nala.

 - O-o... o que está acontecendo aqui? - Perguntou ela, sem conseguir formular um pensamento seuqer.

 - Bem, foi uma história engraçada. Eu estava saindo de Cerulean quando ela me encontrou. Falou algumas coisas sobre querer ser a Campeã, e que você parecia estar tentando tirá-la do time. Bem forte, Kari, não esperava que você, a querida defensora dos indefesos, poderia fazer isso. - Replicou Gary de forma sarcástica.

 - Nala... é verdade?

O rosto da Raticate estava indecifrável. - Eu lhe disse, Kari, mas você não quis me ouvir. Vou repetir: farei de tudo para ser a Campeã.

 - M-m-mas...

 - Por favor, Kari, vamos deixar as conversas de novela para outra ocasião. Escolha seu Pokémon e vamos terminar a batalha.

 - E-e-eu... - A garota olhou para seu time, todos sem resposta à situação.

 - Ah, então você vai desistir da luta? - Interrompeu Gary.

Kari respirou fundo. Não conseguia colocar ninguém para enfrentar a ex-membro do time, e nenhum deles parecia querer fazer isso. - Certo, eu...

 - CHEEEEEEEEEGUEEEEEEEEEEEEEEEI! - Gritou uma voz ao fundo. Todos se viraram para ver o que estava acontecendo, quando um borrão azul passou por eles, atingindo a Raticate no caminho. O borrão bateu as asas, jogando vento no rosto de Kari, que protegeu os olhos. Sentiu um peso ser colocado em suas mãos, que tinha a textura bem parecida com sua mochila. Quando voltou a enxergar, Zelda estava parada em sua frente, encarando Nala em pose de combate.

 - Zelda?

 - Qual é, Kari? Eu estava ouvindo tudo de bem longe. Vai desistir agora, por causa de uma ex-membro do time? Tenha dó! - Gritou a Zubat, ainda encarando os adversários.

 - Mas...

 - Ela fez sua escolha! Se isso implica em se tornar nossa adversária, que seja! Nós não vamos nos deixar abalar por causa disso. E além do mais... - disse ela, virando a cabeça para encarar o Charmeleon. - ... Pensei que Kenichi iria dar um discurso desses.

Kenichi encarou-a por um tempo, até soltar um sorriso pelo canto da boca. - Bem, tive um momento de perplexidade, assim como Kari, não é? - Perguntou ele, encarando a treinadora. Kari encarou-o e sorriu de volta.

 - Mas é claro. Zelda, vamos acabar com eles! - Gary pareceu perplexo enquanto os adversários se preparavam para a batalha. No entanto, ele rapidamente se recompôs, voltando a se focar.

 - Que seja! Nala, acabe com eles! - Nesse momento, uma enorme explosão acertou o andar de baixo, lançando chamas em todas as direções. Gary e Kari se protegeram do fogo, mas uma densa fumaça negra rapidamente se alastrou pela galeria, impedindo os garotos de respirar.

 - Voltem! Todos! - Kari recuou seus Pokémon, enquanto Gary lançava seu Kadabra e tentava reanimá-lo. A garota terminou de guardar seu time e se virou para o adversário. No entanto, as chamas estavam tão altas, e a fumaça estava tão densa, que mal conseguiu vê-lo. - Gary! - Gritou, mas não havia resposta audível. Ela se virou desesperada para trás, onde uma janela exibia palidamente a luz do dia lá fora.

Kari correu até a janela, procurando alguma rachadura ou algo do tipo. Para seu azar, essa parte do navio parecia intacta. Ela correu até a cabine para procurar algum objeto forte, mas a fumaça já havia chegado em seus olhos, tampando parcialmente sua visão e fazendo-a tropeçar no escuro. Alguma coisa atingiu seu estômago, soltando todo o ar que tinha guardado. Em um movimento involuntário, a garota respirou um pouco, inalando a fumaça negra.

Se sentia terrível, com a cabeça zonza e respiração falha. Tentou tatear pelo chão, mas já não conseguia mais ver a janela. Começou a tossir desesperadamente, mas não conseguia mais recuperar o ar que saía. Seus olhos começaram a turvar, e a fumaça a cobria como um manto. Não posso cair assim, pensou, enquanto tentava ficar em pé. Voltou a cair no chão, e não conseguia mais se mexer.

Eu vou morrer, pensou desesperada. Seus membros já não respondiam, e a escuridão ia se apossando dela. Os sentidos se desligavam um por um.

Finalmente, o mundo ficou negro.

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