terça-feira, 16 de abril de 2013

RN Nuzlocke LG : 17 - Tenente Surge


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 17: TENENTE SURGE

Kari acordou em uma sala branca, se sentindo anestesiada demais para reparar no mundo à sua volta. Aos poucos, percebeu a televisão desligada do outro lado do quarto, a janela grande que a banhava de raios solares e o sofá antigo perto da porta de madeira. Tentou se levantar, e percebeu que estava em uma maca.

 - Oh, que bom, vejo que você está acordada! - Disse uma voz perto da porta. A garota se virou lentamente, e uma enfermeira de cabelo rosado se aproximou, colocando um medidor de pressão em seu pulso.

 - O-o que houve? - Perguntou a garota, sentindo a cabeça girar enquanto o aparelho apertava seu braço.

 - Oh, nós encontramos você desmaiada em uma das praias perto do porto, querida. Imediatamente achamos que você estava naquele acidente terrível do S.S.Anne. Isso procede? - Questionou a enfermeira, desamarrando o aparelho e checando a máquina que estava conectada ao corpo da garota.

Kari se forçou para tentar lembrar, vendo que suas memórias estavam enevoadas. A última coisa que se lembrava era estar andando perto de uma piscina sob um dia ensolarado. - Eu... acho que sim.

 - Ah, por favor, não se esforce tanto! Você é uma das poucas pessoas que acolhemos que está apresentando grandes sinais de melhora. - Disse a enfermeira, anotando em sua prancheta. - Queremos liberá-la, e não mantê-la aqui. Apenas descanse. - Ela saiu, deixando a garota sozinha. Kari olhou para o sofá, e viu sua mochila e o cinto de Pokébolas, junto com um bikini. Oh, céus, eu fui encontrada assim, perguntou a garota a si mesma, enrubescendo.

Ela se sentou lentamente, e se locomoveu até o sofá. Quase tropeçou no caminho, mas chegou até as Pokébolas ilesa. Escolheu uma aleatoriamente e liberou o habitante, revelando Liz.

 - Kari! Que bom, você escapou! - Disse a Wigglytuff, abraçando a garota.

 - Escapar? Do quê?

 - Oh. Você... não se lembra?

 - Me lembrar de quê?

 - Ah, bem... Que bom que você está sentada, pois é uma história bem longa.

Os próximos trinta minutos se passaram, com Liz contando o que havia acontecido no S.S.Anne. Enquanto ela falava, a memória de Kari ia completando as lacunas conforme a história prosseguia. As explosões, Gary, Nala, tudo ia se encaixando e ela ia ficando mais nauseada e cansada.

 - Kari, você está bem? Parece bem mais... pálida. - Disse Liz quando terminou de contar o que houve.

 - O quê? Ah, não, é só... é um bocado para absorver, Liz. - A treinadora se levantou e andou fragilmente até a cama, acompanhada de perto pela Pokémon. - Depois de eu retornar vocês para as Pokébolas... não tem nenhuma pista sobre o que aconteceu?

 - Não... desculpe.

 - Tudo bem. - Kari fitou a tela negra da televisão, parecendo procurar algo que não estava lá. A garota se sentiu subitamente cansada. - Liz, você pode voltar para a Pokébola. Eu acho que vou precisar de um tempo sozinha.

A Wigglytuff concordou com a cabeça. Ela passou a mão pelo joelho da treinadora e retornou para a cápsula, deixando Kari refletir sobre Gary e Nala, até cair em sonhos confusos e hostis.

A garota saiu do hospital uma semana e meia depois, sorrateira no meio da madrugada. Os funcionários a ajudaram nesse processo de modo a fazê-la evitar a imprensa, que estava com um cerco em torno do edifício. Quando finalmente chegou no Centro Pokémon, a garota entendeu a verdadeira gravidade do atentado. 

A explosão do maior cruzeiro de luxo que já agraciou a costa de Kanto jogou por água abaixo os planos da região de se desenvolver. O S.S.Anne era um símbolo de esperança para o governo, que investiu milhões na construção de Vermilion. Sua destruição já havia afastado investidores de projetos civis que não haviam nem terminado, dando a impressão que a cidade e o país estavam sendo deixados de lado. Kari pensou em explicar a verdade para as autoridades, mas duas coisas a fizeram desistir: primeiro, ela não tinha provas nenhumas. Segundo, se colocasse a culpa em Gary, quem sabe o que aconteceria com o garoto. A retaliação do governo contra o grupo internacional que iria perseguir os Rockets estava em níveis gigantescos, proibindo qualquer interferência da organização em território Kantense. Envolvida nesses pensamentos, a garota tentou em vão dormir.

Na manhã seguinte, ela se lembrou do que Kenichi havia dito no navio. Ela não tinha nenhuma forma de resolver o problema nesse momento, então precisaria seguir em frente. E foi o que fez, no início de forma relutante. Havia um problema mais imediato em seu caminho, e ele se chamava Surge, o líder do ginásio de Vermilion.

Surge era líder havia pouco tempo, aproximadamente dois anos. Ele foi incluso na organização devido à estagnação do ginásio de Lavender, fazendo com que o governo de Kanto promovesse o ex-tenente em um lobby que também incluiria mais visibilidade à recém-criada Vermilion e servir como uma proteção simbólica aos rumores de atividades Rockets que infestavam as vizinhas Cerulean e Celadon. Segundo relatos nas redes sociais, Matis Surge era um veterano da  Guerra das Ilhas Laranja com especialização em Pokémon elétricos. Ele ficou com recluso com o fim dos combates, até que foi convidado a ser Líder de Ginásio. Rumores diziam que ele tratava os adversários como o pior tipo de lixo.

Kari se aproximou do ginásio, uma construção extremamente recente, com detalhes em vidro reluzente e arquitetura que assemelhava uma nuvem descarregando raios, formando uma grande torre. A garota olhou para o topo do edifício, sentindo uma familiar sensação no estômago. Sorriu e entrou pelas portas duplas, preparada para a terceira luta por uma insígnia.

Quando entrou, teve um imenso choque de realidade. O átrio era composto por diversas latas de lixo, todas lotadas até a borda de detritos e outras coisas repugnantes. Do outro lado do aposento, duas grandes colunas produziam um campo elétrico entre si, impedindo qualquer um de passar. Kari coçou a cabeça e andou até a energia elétrica, tomando o cuidado de desviar do lixo e não respirar fundo demais.

 - Bem, vejo que todo o dinheiro dos contribuintes foi posto em projetos úteis. - Disse ela, enquanto pulava por uma lata de lixo tombada, chegando finalmente na cerca elétrica. - Alô? Tem alguém aí? - Gritou.

Um homem alto e musculoso saiu das sombras, seguido por seu Raichu. Ele tinha cabelos louros e espetados, no topo de um rosto quadrado. Usava óculos escuros e um colar de indetificação militar, seguido por uma camisa verde apertada, calça camuflada e botas justas. O Tenente Surge parou perto da eletricidade, tão próximo que seus óculos estavam todos brancos pelo reflexo.

 - Olá, recruta. Bem-vinda ao Ginásio de Vermilion. - Ele sorriu, mostrando os dentes brancos.

 - É... podemos lutar agora?

 - NÃO! - Gritou ele subitamente, fazendo a garota saltar. Ele riu alto e continuou: - Eu não tenho tempo para batalhar com qualquer um que me aparece. Apenas pessoas qualificadas passam desta cerca elétrica, e não garotinhas franzinas que se assustam com qualquer coisa. - Completou ele, sorrindo. Kari sentiu o rosto ficar completamente vermelho.

 - Como é? É sua função aceitar competidores, você é membro dos Líderes de Ginásio! Me deixe entrar logo para eu acabar com você!

 - Hah! A garotinha ainda que brigar. - Ele cruzou os braços e levantou os óculos escuros. - No entanto, devo lhe dizer que esse Ginásio não é pra qualquer um, e você não parece digna da minha atenção. No entanto, vou te dar uma chance para provar que a senhorita tem... garra. E humildade, também.

 - O que quer dizer com isso?

Surge indicou com a cabeça o lixo que se encontrava atrás da garota. - Dentro de duas dessas latas há controles remotos. Cada um deles reduzirá a força desse gerador pela metade. Seu trabalho é encontrar o par. No entanto, caso você ache o primeiro e não ache o segundo, o par será desativado, a energia voltará, e mais lixo será regurgitado com dois novos pares em lugares diferentes.

 - O... o quê? Que tipo de... Eu não consigo nem dizer nada sobre isso! Qual é o sentido dessa experiência? - Gritou a garota, se aproximando da grade.

Surge riu e se aproximou ainda mais. - Garra. E humildade. Duas coisas que você aprende no exército, mocinha. É a sua única chance. - Ao dizer isso, ele virou as costas e saiu.

 - Surge? SURGE! - Gritou Kari, mas ele não voltou. Rangendo os dentes, ela se virou para a sala, contemplando novamente a quantidade absurda de lixo fedorento e nojento que a encarava. Suspirando, ela largou a mochila em um canto da sala e começou a observar as latas, procurando os controles remotos. Achou um logo de primeira e se agachou para pegá-lo. No entanto, as latas de lixo regurgitaram, lançando um chafariz de detritos no rosto da garota, que tombou para trás.

 - Acho que você não entendeu o propósito do experimento. Você precisa se sujar. No entanto, não se preocupe, eu já fiz isso para você. - Disse uma voz nos alto-falantes, que a garota imediatamente reconheceu como pertencente do Líder de Ginásio. 

 - SURGE! - Gritou para os alto-faltantes, mas não houve resposta. Furiosa, ela se levantou, observando o corpo. Haviam restos de alimentos jogados em cada centímetro de roupa ou pele. A garota se concentrou para não vomitar e continuou o trabalho, dessa vez colocando a mão no lixo, por mais encolerizada que se sentisse. 

Os minutos se passaram, e logo se transformaram em horas. A garota olhou para o relógio na parede, descobrindo que já estava procurando há quase cinco horas. Suas costas doíam, ela fedia de forma quase insuportável e não havia feito progresso. Cada vez que encontrava um controle remoto, ela errava a lata de lixo seguinte, afundando em mais lixo. Nas três primeiras vezes em que isso aconteceu, ela xingou alto e começou a chutar o lixo, apenas fazendo mais com que mais restos fossem regurgitados em cima dela. O único raio de alívio que sentia era por não ter vomitado ainda, muito pelo fato de que Surge provavelmente jogaria mais lixo em cima dela por causa disso. 

Havia achado outro controle remoto, e olhou pelo quarto procurando desesperadamente seu par, parando apenas para tirar uma gosma verde que pingava de seu cabelo em seus olhos. Usou cada grama de vontade para não pensar no que era aquilo, e andou até o outro lado do quarto. 

 - Ainda aí? - Disse uma voz atrás dela. Kari se virou furiosa, pensando que era Surge quem falava, mas era apenas um homem velho e alto, com um chapéu fedora com um bigode cinza e reto. A garota apenas concordou com a cabeça e voltou ao seu trabalho. Se agachou perto de uma lata de lixo, apenas para o processo de regurgitação acontecer de novo, fazendo com que o controle em sua mão parasse de piscar. - Me diga, querida, qual é o motivo de continuar depois de tanto tempo? Já pensou que talvez não exista um segundo controle remoto?

 - Essa é a minha única chance de conseguir a insígnia. Por mais que eu queira sair daqui e mergulhar no mar, isso não vai me deixar mais perto de ser a Campeã. - Respondeu a garota, revirando o lixo mais próximo.

 - Ah, sim. - Ele continou a observar em silêncio a treinadora com seu trabalho. - Sabe, eu normalmente não converso com os adversários de Surge, mas você já está aqui há horas, e ainda não entrou na arena.

 - Isso é alguma forma de zoação, senhor? Porque eu não estou nem perto de ter o clima para isso.

 - Ah, não. Só estou dizendo que a maior parte das pessoas já teria desistido. 

Kari se levantou e botou as mãos nas costas. - Ah, que ótimo. Que bom para elas.

O homem voltou a observá-la. - Sabe... por favor não desconte sua raiva em Surge. Seus métodos podem parecer ortodoxos, mas...

 - Senhor, eu gostaria de dizer que toda a minha empatia com aquele homem foi evaporada na segunda vez em que restos de comida voaram na minha cara. - Interrompeu a treinadora.

 - Sim, sim, mas... deixe-me contar a história dele. Matis retornou da guerra um homem bastante diferente. Ele se tornou extremamente recluso, e viveu por muitos meses sem qualquer perspectiva de emprego. Essa chance em Vermilion caiu do céu, pois lutar era a única coisa que ele conhecia. No entanto, por um capricho cruel do destino, era também a coisa que ele mais odiava depois da guerra. Portanto, ele tentou fazer com que suas lutas fossem cada vez menos frequentes, causando nesta... atividade.

 - Eu ainda não entendi aonde o senhor quer chegar. - Disse a garota, pegando um controle remoto que piscava. Ela olhou ao redor, escolhendo uma nova lata de lixo. - Se quiser que eu me sinta culpada ou simpatize com o tenente, a chance de fazer isso já passou há muito tempo.

 - Eu não quis dizer isso. Apenas peço que você, com toda a raiva que está sentindo dele, não... mate seus Pokémon. Isso o quebraria. São os únicos companheiros que restaram da guerra.

Kari enfiou as mãos em uma caixa de papelão tombada, levantando-a. Embaixo, piscando palidamente, estava o segundo controle. Ela estava tão cansada que mal se sentiu feliz, apenas aliviada. Pegou o objeto e apertou seu botão. A grade elétrica foi desligada, deixando a sala muito mais escura. A garota se virou para o homem atrás dela, que se apoiava nervosamente na parede. - Vou pensar no seu caso. - Disse, seguindo em frente.

Passou pelos geradores e as luzes se acenderam em holofotes fortíssimos. A garota protegeu os olhos com o braço, ficando cega por alguns instantes. Quando a visão retornou, reparou na gigante Pokébola traçada na areia à sua frente. Era uma arena, e do outro lado Surge a encarava com os braços cruzados.

 - Ora, ora, ora. Veja quem chegou. Preparada para ver todo o seu esforço ir por água abaixo?

Kari encarou-o com uma expressão neutra, falando lentamente: - Surge. Eu não estou com paciência para conversas. Vamos acabar com isso para eu pegar minha insígnia e ir tomar um banho. Ou cinco.

Surge se irritou. - Bem, vejo que toda aquela atividade não resultou em nada, garota. Humildade gera respeito, e é isso o que te falta. Você nunca sobreviveria num combate! - Disse ele, pegando uma Pokébola do cinto.

Kari pensou em mil respostas, várias provocativas, mas estava muito cansada para alimentar uma discussão. Colocou a mão em seu cinto. 

 - Vá, Frente de Batalha! - Surge soltou um Voltorb da Pokébola, que ficou girando pela arena.

 - Liz. - Respondeu Kari com apatia. A Wigglytuff foi lançada no centro da arena.

 - Frente de Batalha, use a Onda de Choque! - O Voltorb disparou uma onda de eletricidade que se espalhou pela integridade da arena. Liz tentou se proteger, mas foi deslocada quase dois metros da posição de onde estava.

 - Quem fala assim? Na verdade, quem nomeia os Pokémon desse jeito? - Perguntou Kari, enquanto sua Wigglytuff acertava um soco em Frente de Batalha.

 - Jargão militar! Você não entenderia... Explosão Sônica! - O Voltorb girou no ar, deslocando o ar à sua volta. Essa distorção acertou Liz em cheio, mas parecia ter menos efeito do que o golpe anterior.

 - Bem, eu entendo de outras coisas... Liz, seu adversário é incrivelmente semelhante a uma bola de futebol! Isso te lembra alguma coisa? E por favor não me obrigue a gritar "Mega Chute". - Acrescentou Kari baixinho, enquanto sua Pokémon desferia uma voadora contra o adversário, que voou longe. 

 - Você acha que isso é tudo? Tiro Certo, eu escolho você! - Surge liberou um Pikachu, que desceu à arena com pequenos relâmpagos saindo de suas bochechas.

 - Sara, vá! - Kari fez Liz recuar e soltou sua Sandslash. Tiro Certo correu em sua direção, mas Sara foi mais rápida. Ela se moveu para frente e o acertou no ar com suas garras. O Pikachu continuou seu movimento e caiu desacordado no centro da arena. No entanto, os movimentos dela ficaram travados por alguns instantes.

 - Há! A estática nos pêlos de Tiro Certo a paralizaram. Agora você não tem mais chance! - Kari estendeu as sombrancelhas enquanto sua Pokémon voltava ao centro da arena.

 - Surge. Por favor. - Isso aparentemente enfureceu o Líder de Ginásio, que gritou cuspindo saliva.

 - Chega deste desrespeito! CÃO BRAVIO, VÁ! - Seu último Pokémon era um Raichu, que realizou um pequeno show de luzes ao sair da Pokébola, soltando raios por toda a extensão da arena. No entanto, nenhum desses golpes afetava a Sandslash.

 - Oh. É só isso? - Perguntou Kari, apática. Surge espumou pela boca, e voltou a gritar.

 - CÃO BRAVIO, ATAQUE RÁPIDO! - O Raichu se moveu em alta velocidade, e investiu contra Sara. O golpe a acertou, mas ela contra-atacou rapidamente com suas garras. - Vamos confundí-los! Estratégia Fantasmas de Kumquat, agora! - Seu Pokémon começou a vibrar, e uma série de clones surgiram ao redor de Sara.

 - O que é isso? - Perguntou Kari, enquanto Sara tentava achar o Raichu original.

 - Cão Bravio é tão rápido, garota, que consegue vibrar o suficiente para gerar cópias de si mesmo. E seu Pokémon nunca será capaz de identificar qual é o verdadeiro! - Surge começou a rir. Sara tentou acertar um dos clones, mas acabou errando e sendo atacada em resposta. Ela caiu no chão e a paralisia começou a tomar conta dela por alguns instantes. Foi o suficiente para seu adversário atacá-la de novo, fazendo-a voar de volta ao centro da arena.

 - Sara, você está bem? - Gritou Kari. A Sandslash se levantou, limpando a areia do corpo.

 - Oh, sim, Kari. Acho que já identifiquei o original quando ele me acertou. 

 - Impossível! Cão Bravio, acabe com ela! - Gritou Surge, ficando mais descontrolado. Um borrão laranja se aproximou de Sara, acertando-a novamente. No entanto, dessa vez ela retornou o golpe, fazendo-o voar até suas cópias.

 - Como diria Liz, oh céus. Acho que acertei.

 - Bom trabalho, Sara. Vamos acabar logo com isso! - Kari viu as têmporas de Surge ficarem brancas antes de ele responder, com claro medo em sua voz. 

 - Você acha que vai acabar comigo? Muitos outros tentaram, garotinha, e muitos estiveram bem perto de conseguir. No entanto, saiba de uma coisa: NÓS SOMOS INVENCÍVEIS. PASSAMOS POR CERCOS E TORTURAS, E APENAS SAÍMOS MAIS FORTES! - Ele retirou uma poção do bolso, espalhando-a sobre o Raichu. - E VOCÊ É APENAS MAIS UMA A CAIR PERANTE MEU TIME! ACABE COM ELA, CÃO BRAVIO!

O Pokémon pulou em cima de Sara, esquecendo qualquer tipo de estratégia. A Sandslash pareceu surpresa, mas contra-atacou várias vezes enquanto o adversário investia contra ela. No entanto, ela voltou a ser paralisada, dando a Cão Bravio uma chance extra.

 - AGORA! - Gritou Surge, enquanto seu Pokémon avançava contra Sara. No entanto, ao acertá-la, ela girou o corpo para fazê-lo acertar os espinhos em suas costas, derrubando-o no chão. - NÃO! - Voltou a exclamar o Líder de Ginásio. Cão Bravio tentou levantar, mas estava derrotado.

 - Oh. Vejo que a "garotinha" conseguiu acabar com você, não? - Disse Kari, retirando uma gosma do ombro. Surge caiu de joelhos, colocando as mãos no chão em seguida.

 - Faça o que você tem de fazer, garota. Apenas... seja honrosa. O espírito de Cão Bravio seguirá em frente, iluminando os... hunf! - Enquanto ele falava, Kari havia se aproximado e chutou no rosto, fazendo-o cair para trás.

 - Isso é pelo lixo. E pare de ser patético. Eu não irei matar seu Pokémon.

Surge segurou o nariz que sangrava. - Não?

 - Não. Eu não concordo com o modo extremista com que vários treinadores hoje em dia batalham. Eu não irei matar os Pokémon adversários. Esse é o caminho que decidi seguir quando comecei a minha jornada, e não planejo mudar tão cedo.

O tenente se levantou, ainda segurando o rosto com a mão esquerda. Ele tirou os óculos escuros e ficou em silêncio, encarando a face da garota. Finalmente deu um sorriso com o canto da boca e fez seu Pokémon voltar à Pokébola. 

 - Você é especial, garota. Acredite, vários treinadores já passaram por aqui, mas nenhum era que nem você. Por isso, acho-a merecedora da Insígnia do Trovão. - Ele retirou do bolso uma pequena caixa preta, e dentro dela havia um pequeno ornamento semelhante a uma flor de girassol, com folhas amarelas e centro dourado.

 - Muito obrigada. - Disse Kari, sorrindo e pegando a Insígnia. Surge cruzou os braços.

 - Bem, eu a aconselho a ir para Lavender agora. Há informações de que os caminhos a Celadon, seu próximo desafio, estão bloqueados, exceto pelo túnel que liga essa cidade a Lavender. Se você for a Cerulean e seguir pela Caverna Rochosa, conseguirá evitar os bloqueios.

 - Vou pensar nisso. No momento, contudo, eu preciso desesperadamente de um banho.

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