sábado, 1 de março de 2014

Aurora: Capítulo 8 - O quarteto

AURORA
CAPÍTULO 8: O QUARTETO

 Sasha levantou a lamparina acima de sua cabeça, obtendo uma visão geral do corredor à sua frente. A galeria seguia para baixo, indo muito mais fundo do que a luz do extrato de Lune conseguia alcançar. Escadas moldadas em pedra negra desciam em espiral aparentemente até o infinito, e suportes de madeira continham a força da montanha, impedindo-a de avançar sobre o túnel. Engenhoso, pensou relutantemente Sasha, levando a mão até um dos suportes. Era sem dúvida um trabalho bastante impressionante. O que fomentava algumas dúvidas em sua mente: toda aquela engenharia não podia ter sido trabalho de simples contrabandistas. Era muito grande, e aquele grupelho de arruaceiros não parecia ser capaz de manufaturar e manter algo assim. Isso deixava Sasha com duas alternativas: Ou os bandidos eram um grupo muito maior do que aparentavam, o que tornaria a missão dela muito mais difícil, ou havia algo mais sinistro ali. A garota procurou se focar na primeira alternativa, evitando pensamentos que a afastassem de sua missão. Era melhor considerar os contrabandistas como inimigos mais formidáveis do que afundar em teorias conspiratórias.

 Atrás dela, ouviu a respiração cansada de Dalan, seu companheiro forçado de missão. Seu cenho se franziu levemente, embora ela não tivesse se virado para o garoto. Se sentiu surpresa por estar decepcionada com o garoto. Talvez tivesse esperado mais dele do que admitia, principalmente ao tê-la enganado daquela forma quando entrou na guilda. No entanto, ele ainda tinha muito a que aprender para ser um membro eficiente para a Aurora. Certos ensinamentos tinham que ser passados e um bom exemplo tinha que lhe ser oferecido. Ainda assim, ele havia acabo de entrar, se lembrou enquanto levantava a lamparina para se certificar de que estavam sozinhos. Se o ensinasse, talvez Dalan se tornasse melhor do que os outros relaxados da guilda. Um membro que não faria seu pai ter vergonha do que restou da Aurora.

 Dalan, por sua vez, não pensava muito. O cansaço era tamanho que todas as suas forças mentais estavam concentradas em fazê-lo andar e não tropeçar nos inúmeros degraus. Sabia que, como usuário de Yullian, quando fosse bombardeado com adrenalina as coisas ficariam mais fáceis, mas até lá cada passo seria uma batalha. O garoto seguiu as escadas em espirais de forma letárgica, e quase se chocou com Sasha, que havia parado subitamente.

 - Shh! - Sibilou ela, levantando o punho cerrado. Dalan olhou por cima do ombro da garota, curioso. A escada em espiral continuava descendo, mas agora ela adentrava um grande área aberta. Os degraus eram agora cercados por corrimãos altos, grandes blocos de um material cinza e liso, e terminavam no piso do que aparentava ser uma caverna natural, com a superfície formada por pedras negras. Dalan e Sasha ainda estavam um pouco acima do topo da caverna, e isso os impossibilitava de analisar por completo a área, com exceção do pequeno perímetro ao redor da escada. - Está vendo aquilo? - Sibilou a garota, apontando com o indicador. Haviam dois homens vestidos de negro, iluminados por lamparinas que carregavam nas mãos, caminhando calmamente pelo aposento abaixo até sumirem do campo de visão dos garotos. - Se essa não for a base deles, com certeza é um lugar cheio de contrabandistas. Precisamos de um plano para seguir em frente e resgatar Amanda.

 - E Wieder. - Complementou Dalan, sentando em um degrau. A adrenalina ia lentamente preenchendo suas correntes sanguíneas, e o cansaço foi sumindo. - Poderíamos atacar esses dois. Parecem estar sozinhos.

 Sasha se virou para o garoto, sentindo a irritação aumentar com aquela ideia simplista. - Você consegue enxergar mais do que um palmo lá embaixo? Parecer estar sozinhos não significa nada no esquema geral. - Sibilou. Ela se apoiou no joelho, aproximando o rosto do rapaz. Era isso, concluiu a garota ao fitar a expressão desconcertada de Dalan. Precisava ensiná-lo como as coisas funcionavam.

 - Escute. - Disse ela, terrivelmente séria. Sasha desceu alguns degraus para ficar de frente ao garoto, com seus olhos azuis no mesmo nível dos castanhos dele. Dalan engoliu em seco, intimidado. - Eu vou te dizer duas coisas, e que isso fique para sempre marcado na sua mente, entendeu? - Ela não esperou resposta. - Um: Nunca, em hipótese nenhuma, iremos deixar um membro da guilda sob ameaça. Se eles estão com reféns, nossa primeira atitude deve ser salvá-los, custe o que custar. Somos a Aurora, e não deixamos ninguém para trás. - Os garotos ficaram sem piscar, enquanto Sasha dava tempo para que o outro absorvesse suas palavras. - Dois: Não estamos brincando. Isso não é um passeio no campo, para depois voltarmos à guilda e tomarmos suco no jardim. É uma missão. E como missão, eu exijo total cuidado. Você pode muito bem morrer hoje, e tudo que você sonhou na vida irá por água abaixo. Então não subestime seu inimigo. Entendeu?

 Dalan acenou com a cabeça, incapaz de demonstrar outra reação. Ela estava certa, concluiu. Havia muito em jogo ali. Sua vida, a dela, e dos reféns. Não era uma simples missão de procurar um gato na cidade. Era vida ou morte. Precisava se ligar disso.

 Sasha limpou a garganta, olhando para trás para ver se não havia nenhum contrabandista por perto. - Preste atenção. - Ela virou o corpo, tentando se esticar para obter um campo de visão mais propício. - Vamos descer no maior silêncio possível, até chegar na base da escada. Depois disso, eu irei correr e procurar os reféns enquanto você fica me dando cobertura. Assim que conseguir resgatá-los, iremos subir e defender uma área mais fácil de proteger. Entendido? - Dalan acenou de forma positiva novamente, embora sua mente estivesse insegura. Sasha deixou a lamparina em um degrau próximo e começou a descer, se agachando para que o corrimão a cobrisse. O garoto a seguiu, nervoso.

 Sem a lamparina, era muito difícil enxergar qualquer coisa. Havia uma luz natural no ambiente, amarelada e tênue que parecia vir de rachaduras no teto da caverna, mas ainda assim era pouca. Quanto mais desciam na escuridão, mais cuidado precisavam ter na hora de descer os degraus. Eles seguravam os corrimãos para ter mais segurança, mas um passo em falso iria causar algo bem pior do que uma queda. Possivelmente alertaria todos os bandidos do local, então era aconselhável andar com bastante calma. Algo que Sasha fez questão de dizer quatro vezes para Dalan durante a longa descida.

 Finalmente, os dois chegaram na base. Sasha pisou no chão, encolhendo com o som das pedras se esmagando e raspando uma nas outras. Ela recuou o pé até o degrau e inclinou lentamente a cabeça para fora do corrimão, pela lateral. Avistou o verdadeiro tamanho da caverna, um aposento gigantesco em comprimento, embora a altura fosse um tanto baixa. Pilares naturais se erguiam nas bordas, deixando o centro vazio. Havia uma superfície elevada no fim, iluminada por doze lamparinas de Lune enfileiradas, e ali estavam Amanda e Wieder, amarrados de costas um pro outro. O problema era que haviam diversos contrabandistas ao redor, aparentemente em discussão sobre o que fazer com os reféns. Sasha contou quinze, mas a caverna estava tão escura que provavelmente haviam outros nas sombras. Recolheu a cabeça e se virou para Dalan.

 - Eu vou agora. Lembre-se da cobertura. - E, antes que o garoto pudesse dizer algo, ela saiu da escada e adentrou as sombras. Dalan ficou observando a plataforma elevada, esperando por qualquer sinal da companheira.

 Sasha, por sua vez, se aproximava rapidamente dos reféns. Precisaria apanhá-los de uma vez, e sair dali antes que os ladrões entendessem o que estava acontecendo. Preferiu ir pelas sombras, se locomovendo na escuridão quase que absoluta enquanto esperava não fazer tanto barulho. Estou quase lá, pensou a garota, a menos de dez metros da plataforma. Quase lá.

 Naquele momento, algo agarrou seu pé, e ela imediatamente tombou. Primeiramente não entendeu o que estava acontecendo, apenas se tocou quando o chão já estava muito próximo. Estava tão rápida que rolou vários metros incontrolavelmente, sofrendo cortes e outros ferimentos pelas dezenas de pedras afiadas, que relutantemente cessaram seu movimento. Sasha ficou inerte por alguns segundos, captando as inúmeras dores que brotavam de seu corpo. De repente, sentiu seus braços sendo levantados, e o rosto sair do chão. Um de seus olhos estava encharcado de sangue que jorrava da testa, então ela abriu o outro. Vários homens se postavam diante dela em semi-círculo, enquanto apenas um se encontrava diretamente à sua frente.

 - Olha só quem caiu na rede. - Disse o homem, aparentemente o líder daquele bando. Ele era alto, com cabelos vermelhos que desciam compridos por debaixo do capuz negro que usava. O contrabandista agarrou a manga de sua roupa, rasgando o tecido. - Ah, quem diria. Mais uma membro de guilda. - Sasha tentou se mover, mas mãos fortes seguravam seus braços. Foi recompensada com um forte soco em seu rosto. Sua cabeça tombou para o lado, cuspindo sangue.

 - Lucius, aqui está. - Disse uma voz masculina, e a garota levantou minimamente a cabeça para enxergar o que estava acontecendo. Lucius, o líder, segurava uma corda fina e transparente nas mãos. Sasha sentiu o rosto ficar vermelho. Era aquilo que a havia capturado?

 - Acho que podemos começar uma série de perguntas, não? - Perguntou Lucius. Ele tinha uma voz suave, que contrastava com sua brutalidade. - De que guilda você é?

 - Vá para o inferno. - Conseguiu dizer a garota. Não iria delatar a Aurora, disso tinha certeza.

 - Não conheço. - Declarou Lucius, levantando as pálpebras. Ele desferiu mais um soco na garota, desta vez no estômago. Sasha tossiu, se curvando para frente. - Eu não tenho tempo para brincadeiras, menina. Conte de onde veio e poderá manter os olhos. - Ele sacou uma faca do bolso, a aproximando do rosto da garota. - De. Que. Guilda. Você. É?

 - Vá... - Começou a dizer Sasha, mas naquela hora ouviu sons de contato atrás de si, e as mãos que a prendiam sumiram. Sem nem pestanejar, ela usou uma das mãos livres para segurar a faca de Lucius, puxando-o para baixo, e em seguida com a outra soltou um forte soco em seu atônito rosto. A garota deu um passo para trás, sentindo alguém ao seu lado. - Havia esquecido da cobertura. Você demorou. - Proferiu.

 - Vocês estavam muito longe. - Disse Dalan, fechando as mãos em punhos. - E de nada.

 - Não há tempo para isso. Os reféns! - Disse ela, disparando para as duas pessoas amarradas enquanto limpava o sangue do rosto. Gritos ferozes e raivosos se proliferaram pela caverna, enquanto os contrabandistas se recuperavam do estupor. Sasha se aproximou de Amanda, que assistia tudo com os olhos arregalados, e começou a desamarrar as cordas que a prendiam. Dalan chegou na plataforma elevada logo em seguida, derrubando um dos pilares de madeira. A lamparina que ficava em cima se chocou contra o chão, despejando todo o seu conteúdo nas pedras. O extrato de Lune brilhou, iluminando com sua luz branca as duas dúzias de ladrões que corriam na direção dos garotos.

 - Vocês três! - Gritou Sasha, terminando de soltar os reféns. - Mantenham o terreno e batam com força! - Um dos ladrões mais apressados pulou na plataforma, e uma pedra voou na direção de sua cabeça, fazendo-o cair. Amanda se agachou para pegar mais duas, e as jogou contra os contrabandistas, que agora invadiam em peso a superfície elevada.

 - Preciso da minha pulseira, Dalan! - Gritou Wieder, pulando para trás para desviar do chute de um homem de cabelos negros Amanda jogou mais uma pedra no rosto do bandido, e o anão o finalizou com um soco no estômago. - Vou ser uma inutilidade sem ela!

 - Vou pensar... no seu caso... - Grunhiu o garoto, tentando se livrar de um bandido que o segurava pelo pescoço. Sasha surgiu e socou o ofensor na nuca, mas agora era ela que era atacada por mais dois homens. Dalan pulou por cima dela, chutando um adversário na boca. Amanda, por sua vez, se afastava do centro da batalha, segurando várias pedras contra si com o braço esquerdo. Ela jogava os projéteis improvisados, acelerando o movimento com seus poderes de vento. O problema era acertá-los.

 Sasha se agachou para desviar de uma das pedras jogadas pela companheira, chutando um homem no baixo ventre. Ele caiu gritando fino, e a garota se levantou para socar seu rosto. Em seguida sentiu seu braço ser puxado para trás, mas Wieder apareceu para golpear o adversário com uma rocha.

 - Wieder, onde estão suas coisas? - Perguntou Dalan, se jogando em cima de um homem que corria na direção de Amanda. Eles caíram no chão, e o garoto deu uma cotovelada nos pulmões do contrabandista, fazendo-o arfar.

 - Do outro lado! - Gritou o anão, em um raro momento livre. O garoto olhou na direção em que os dedos do companheiros estavam apontando, e avistou a trouxa de roupas que Wieder havia pego antes de caírem. Ele imediatamente disparou em direção ao saco, mas dois contrabandistas se colocaram em seu caminho, abrindo os braços e grunhindo.

 Uma pedra voou da escuridão e acertou a cabeça de um dos bandidos, fazendo-o desmaiar antes de cair. Dalan aproveitou a momentânea surpresa do outro para se impelir contra um dos pilares de madeira. O objeto caiu facilmente, e a lamparina em sua ponta acertou a cabeça do ladrão. O extrato de Lune explodiu para todos os lados, iluminando a área em uma profusão de luz branca. O garoto passou pelo homem que ainda estava caindo e agarrou a trouxa de roupas, se sentindo um pouco mais calmo.

 Infelizmente, algo se chocou contra suas pernas, fazendo-o cair no chão. Dalan se virou para cima, bem a tempo de ver uma adaga indo em direção ao seu pescoço. Ele instintivamente agarrou a mão que o atacava, vendo agora que era um homem de pele morena que tentava matá-lo. - Wieder, pega! - Gritou o rapaz, jogando a trouxa de roupas para longe para se concentrar na luta.

 A bolsa voou, e Amanda usou seus poderes de vento para desviá-la em sua direção. À sua esquerda, Sasha impedia que um contrabandista atacasse a outra garota, socando suas costelas.

 - A pulseira está aí dentro! - Gritou Wieder, correndo de dois bandidos. Amanda abriu a trouxa, desviando o olhar com cara de nojo enquanto vasculhava seu conteúdo.

 - Eca, eca, eca, eca, ECA! - Gritou, remexendo nas roupas sujas. Ela finalmente achou o objeto circular, arrancando-o das roupas com violência e se afastando de costas da bolsa enquanto balançava freneticamente as mãos e saltitava nas pontas dos pés, fazendo uma careta. Do outro lado, Dalan conseguia dar uma joelhada no homem que brandia a faca em sua direção, jogando-o para longe em seguida.

 - Jogue isso para Wieder, Amanda! - Gritou ele, correndo de volta para o centro da confusão. A garota jogou o objeto para o anão com agitação, mas Lucius surgiu da escuridão, chutando o ornamento para longe.

 - Filho da -- Tentou gritar Wieder, mas os homens que o perseguiam se jogaram contra ele, derrubando-o no chão. Dalan correu e chutou um deles no rosto, enquanto o anão se desvencilhava do segundo. Enquanto isso a pulseira, de um amarelo sujo porém brilhante, rolava pelas pedras da caverna. Sasha se adiantou e agarrou-a, mas um contrabandista estendeu o braço em sua direção, acertando seu pescoço e a fazendo cair para trás.

 - Pega! - Gritou ela, jogando novamente o ornamento para longe. Ela mirou na direção do anão, mas Lucius novamente surgiu, se colocando no caminho da pulseira.

 - Não! - Gritou Dalan, muito longe para impedir. Ele olhou para frente, desesperado, e avistou Amanda na direção oposta, também distante para alcançar a surpresa. Um plano nasceu instantaneamente na cabeça do garoto, que esticou a mão na direção do objeto. - Amanda, vento! - Gritou ele, e a garota pareceu entender o que ele queria.

 O rapaz se concentrou e disparou uma camada de gelo, expandindo-a de forma a cobrir a distância entre o ornamento e Wieder, que aguardava sem reação. A pulseira rolou pela superfície gelada, adquirindo um movimento mais uniforme. Amanda, por sua vez, impeliu-a com uma lufada de ar, aumentando sua velocidade em níveis consideráveis. O objeto disparou, ultrapassando um atônito Lucius e chegando em Wieder.

 - Finalmente. - Soltou o anão, colocando a pulseira em seu pulso direito. Um brilho pálido e amarelo envolveu sua mão, cobrindo seu corpo por inteiro. A luz aumentou de intensidade, expandindo sua área em um centésimo de segundo. Gás cinzento circulou a região, e uma forma gigante se destacou. Era composta por centenas de pedras de cor amarela suja, que se uniam em um modelo humanoide, de quase três metros. As mãos eram desproporcionalmente grandes, e os pés pareciam botas, sem dedos e maiores do que o resto da perna. O rosto era quadrado, com a boca formada por uma linha negra demarcada por pontas afiadas, e os olhos eram pequenos e de um vermelho forte. Os contrabandistas e os membros da Aurora pararam, atônitos pelo golem de ronatto que se encontrava diante deles. - Oh. Era melhor do que eu sonhava. - Disse a voz de Wieder pela boca da criatura, olhando para suas mãos. -  Beeem melhor do que eu sonhava.

 - R-recuar! - Gritou a voz de Lucius, tropeçando para trás. - S-salvem-se quem puder!

 - Dalan, Amanda! - Disse Sasha, derrubando um contrabandista apavorado. - Precisamos impedir que eles fujam!

 - Deixem comigo! - Gritou Wieder, correndo de forma desengonçada atrás dos ladrões. Eles, amedrontados e distraídos, corriam em bando, enquanto o restante da Aurora capturava os desgarrados. O anão se aproximava rapidamente do grupo, que gritava. - Pernas longas são... estranhas, não? - Perguntando ele, parecendo sorrir. - Talvez eu precise de um tempo para... ugh!

 O golem havia tropeçado sozinho, esticando os braços para frente. Por um acaso feliz do destino, ele caiu em cima dos contrabandistas, que soltaram um último grito de terror que ainda ressoava pela caverna no momento em que eles foram esmagados. Wieder tentou se levantar, mas caiu novamente.

 - Oh, céus. - Resmungou Sasha, capturando o último dos ladrões enquanto Dalan e Amanda corriam para ajudar o anão. Teria um longo trabalho com aquele ali, pensou, mas já estava mais calma. Olhou para os lados, conferindo se não havia mais nenhum desgarrado. Foi apenas quando teve certeza que relaxou, sentando nas pedras. Sua missão havia acabado.

 Horas depois, estavam na carroça que os levaria de volta a Helleon. Sasha estava com o comprovante de missão em suas mãos, adquirido ao chamar as autoridades até a caverna dos contrabandistas para recolher os bandidos. Wieder havia recolhido seus pertences, e girava a recém-adquirida pulseira em suas mãos. Amanda dormia profundamente, se esparramando por cima de quatro bancos, e Dalan tentava acompanhá-la, sentado e com os olhos fechados. Enquanto seu corpo relutava adormecer, conseguiu ouvir Sasha conversando com Wieder.

 - Não ache que irá simplesmente entrar na Aurora desse jeito fácil. - Disse a voz séria da garota. - Ainda teremos muito o que discutir sobre você e sua estranha vontade de se afastar do resto de sua raça.

 - Imagino que eu vá discutir isso com a líder de sua guilda. - Bocejou o anão. - E não com você. - Dalan, mesmo de olhos fechados, conseguia sentir que o rosto de Sasha havia ficado vermelho.

- Vai aprender que não é tão simples assim. - Sibilou a garota. - Só estou te deixando ir para a sede por causa de sua pulseira. Portanto, quando descobrirmos que você não está nos espionando ou algo similar, é bom que treine. A Aurora não tem mais espaço para pesos mortos.

 - Pode anotar isso. - Respondeu Wieder. O silêncio se seguiu à conversa, interrompido apenas pelos costumeiros barulhos da carroça e dos animais silvestres do lado de fora. Dalan se ajeitou na cadeira, exausto demais para se mover novamente. E com isso, finalmente adormeceu.

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