terça-feira, 15 de outubro de 2013

RN Nuzlocke Y - Capítulo 1: Uma Nova Jornada

RECINTO NERD NUZLOCKE - Y - 
CAPÍTULO 1: UMA NOVA JORNADA

 - Eu acho que você deveria fazer alguma coisa. - Disse uma voz feminina, parecendo tão longe que era quase imperceptível. De fato, todos os sentidos de Kari estavam estáticos, como se a garota estivesse submersa. Não que ela notasse isso, pois seus pensamentos não formulavam uma palavra sequer. Ela estava apenas flutuando, sem direção ou objetivo. No entanto, aos poucos estava sendo tragada de volta ao mundo.

 - Ei, você está bem? - Perguntou uma outra voz, desta vez masculina. O que está acontecendo, foi o primeiro pensamento de Kari. Com isso, o dique se rompeu, e tudo voltou ao normal com um clarão. Ela abriu os olhos, se levantando de forma brusca antes mesmo de perceber que estava deitada. Ao lado, uma garota gritou.

 - Aaarrgh! - Kari notou que estava com os olhos abertos, e encarou o ambiente ao redor. Estava no que parecia um vilarejo rústico, com casas singelas e vegetação forte. Uma garota estava em pé ao seu lado, olhando-a com medo. Ela tinha altura baixa, pele um pouco morena e grandes olhos verde-claro. Seu cabelo era castanho e penteado em uma forma estranha, e vestia uma camisa rosa com frufrus pretos, assim como um mini-short. Ajoelhado ao lado de Kari também havia uma pessoa, um garoto alto e com cabelos negros que desciam pelo rosto, vestido com um casaco azul e calça da mesma cor, assim como seus olhos.

 - O-onde estou? - Perguntou Kari, sentindo a garganta seca. Com um pensamento terrível, percebeu que não se lembrava de nada, exceto pelo próprio nome. Ela tentou se levantar, mas seus membros formigaram em resposta, quase a fazendo cair. O garoto alto a segurou pelo ombro, impedindo-a de se estatelar no chão. Conforme a adrenalina ia caindo, o cansaço ia subindo exponencialmente.

 - V-V-V-Vaniville. - Disse a garota, ainda temerosa. - D-digo... em Kalos. Você sabe que está em Kalos, certo?

 - Eu... - O nome certamente era familiar, mas não conseguia se lembrar de onde. Kari colocou a mão na cabeça e se afastou educadamente do aperto do garoto, que ajudou-a a se levantar.

- Vamos levar ela pra minha casa. - Disse a outra garota, se virando para o rapaz. - Ela está acabada, e as roupas estão todas ferradas. Um banho quente e um prato de comida devem ajudá-la. - Kari olhou para baixo, percebendo o estado lastimável que se encontrava. Sua camisa rosa estava rasgada em diversos pontos, assim como seu short, e a pele estava coberta de ferimentos e sujeira. Uma alça do sutiã estava a mostra, e ela puxou a camisa por cima do ombro, envergonhada.

 - Boa idéia. - Disse o garoto, ajudando Kari a se levantar. - Meu nome é Calem, e essa é Shauna. Nós vamos te ajudar agora, está bem? - Seus olhos pareciam temerosos, mas não demonstrou isso na voz. Kari aceitou o apoio e se ficou de pé, percebendo um Rhyhorn parado em um jardim próximo. A mente da garota explodiu, ligando diversas informações em centésimos de segundo.

 - Rhyhorn, Rhydon, Rhyperior. Pedra e Terra, comumente usados por alpinistas em suas viagens e em corridas de circuitos especiais. - Ela recitou o que vinha primeiro à cabeça, sem conseguir se controlar. Shauna pareceu um pouco mais aliviada.

 - Ah, você sabe sobre Pokémon? - Pergunto ela, também ajudando a garota a andar. - Pelo menos já temos algo em comum. Qual é o seu nome?

 - Eu... - Kari parou, ainda absorvendo a miríade de informações que brotavam toda hora em sua cabeça, com centenas de Pokémon e suas características. Lembranças vagas também surgiam, como ler um livro ou assistir um programa, mas elas eram tão tenuês que se esvaíam tão rápido quanto entravam. O que estava acontecendo ali? - ...  me chamo Kari. - Era a única coisa que tinha certeza.

 - Bem, Kari, vamos te ajudar agora, tudo bem? - Kari não respondeu, mas se deixou ser levada delicadamente.

 Algum tempo depois, estava sentada no boxe, sentindo a água bater forte em suas costas e na parte de trás da cabeça. Ficou esperando as memórias voltarem, ou mesmo acordar daquele sonho estranho, mas nada acontecia. Frustrada, ela se levantou de forma brusca, desligou a água e saiu do boxe, andando com passos firmes até a pia enquanto agarrava uma toalha branca próxima. As roupas que Shauna havia lhe cedido estavam delicadamente dobradas no móvel, mas antes de pegá-la a garota encarou o espelho, vendo seu reflexo encará-la mesmo através do material embaçado.

 Naquele momento uma série de informações foram descarregadas na cabeça de Kari, que caiu no chão gritando.

 - Kari! Você está bem? - Perguntou a voz preocupada de Shauna. A garota, ainda no chão trêmula, estava de olhos arregalados enquanto começava a se lembrar de uma série de coisas.

 - Meu nome é Kari Corlux. - Ela começou a recitar, como se tivesse medo que as informações sumissem sem a verbalização própria. - Tenho dezenove anos. Faço aniversário em vinte e cinco de julho. Nasci em... ngh. - Naquele momento sua cabeça pareceu explodir, e os dados sumiram. Kari tentou desesperadamente fazê-los voltar, mas não havia jeito. Frustrada, pequenas lágrimas encheram seus olhos enquanto ela esmurrava o chão com um soco. Se apoiou nos joelhos e desferiu outro golpe nos ladrilhos, pressionando com força a cabeça no punho trêmulo.

 - ... Kari? - Perguntou novamente Shauna. A garota se levantou, respirando de forma mais calma.

 - Estou bem. Eu... estou bem. - Não se lembrava de ter contado uma mentira pior, mas não se lembrava de muita coisa de qualquer jeito.

 Algum tempo depois, saiu do banheiro. Estava vestida com uma camisa verde-claro e uma calça jeans, assim como um tênis . Havia dispensado um chapéu que haviam lhe havia oferecido, mas aceitou a bolsa preta que agora vestia no ombro. No quarto, Shauna e Calem estavam a aguardando.

 - Você está linda! - Era visível a tentativa árdua de Shauna em melhorar o humor no quarto, mas Kari apenas acenou com a cabeça.

 - Escute, Kari, nós... - Calem retirou um cartão do bolso, entregando-o para a garota. - Encontramos isso em seus pertences. Talvez te ajude em alguma coisa. - Era um retângulo metalizado, contendo o rosto da garota e alguns dados pessoais. Sua mente reconheceu como uma identificação própria para treinadores Pokémon, e enquanto algumas informações faziam sentido com o que se lembrava, outras não eram tão claras.

 - Aqui diz que nasci em Kalos. - Disse ela, olhando para os outros dois. - Vaniville, para ser exata. Eu realmente não me lembro disso. - Calem e Shauna se entreolharam, receosos, e o garoto se adiantou.

 - Kari, nós estávamos pensando... de fato, você parece conhecer um bocado sobre Pokémon... e possuiu um cartão de treinadora oficial. Eu e Shauna estamos partindo em nossa jornada, e pensamos que talvez você devesse nos acompanhar. Talvez seja a melhor forma de recuperar sua memória. - Ele a encarou com seus olhos azuis, parecendo esperar arduamente uma resposta positiva.

 - Eu... - De alguma forma, isso parecia fazer sentido. Por mais que alguns dados no cartão estivessem estranhos, de fato ela tinha alguma ligação com treinar Pokémon. - Concordo. Parece ser a melhor opção. - Os dois pareceram aliviados, e Shauna se levantou alegremente.

 - Perfeito! Agora, alguns amigos nossos estão nos esperando em Aquacorde. Vamos te levar para lá também. - Ela parecia um pouco alegre demais para os padrões de Kari, mas seria rude não agradecer pela hospitalidade. Assim, o trio saiu da cidade, se dirigindo para o norte.

 A estrada adiante era um simples caminho reto, coberto de árvores e flores por todos os lados. Shauna conversava alegremente, enquanto Calem se mantinha quieto, porém definitivamente nervoso. Os dois pareciam ansiosos pela jornada à frente, e uma parte de Kari concordava. Sentia como se tivesse desejado isso há muito tempo, embora agora seus desejos fossem outros. Precisava desesperadamente saber quem era e como viera parar ali. Precisava recuperar sua memória, e a jornada Pokémon parecia ser o único jeito de completar esse objetivo. Sabia inconscientemente dos perigos que iria enfrentar, mas não havia opção.

 Sua identidade estava em jogo, e suspeitava que as apostas para ela eram muito mais altas do que as de Calem ou de Shauna. Não poderia ser derrotada de jeito nenhum. Se fosse obrigada a lutar até se tornar Campeã, assim seria.

 Atrás dela, um pequeno vulto pareceu observá-la por dentre as árvores. Fez um pequeno som, parecido com o estalar de um bico, e voltou para a escuridão das árvores.

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