sábado, 7 de setembro de 2013

RN Nuzlocke LG: 46 - Os Dois Rivais

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -

CAPÍTULO 46: OS DOIS RIVAIS

 Kari se levantou com um salto, suando por toda a extensão de seu corpo e respirando delirantemente. O quarto estava escuro, iluminado apenas pela luz do luar que escapava pelas cortinas fechadas. Ela ofegou incontrolavelmente, sentindo o peito subir e descer tal qual um foile por baixo de sua camisa do pijama. Engoliu em seco de forma forçada e se levantou, arrancando bruscamente os lençóis por cima de seu corpo. A garota atravessou o quarto tropeçando e foi até o banheiro, fechando a porta atrás de si. Se ajoelhou perto da privada e vomitou, tremendo fortemente em seguida. Com a mão direita trêmula, apertou o botão da descarga e se apoiou na caixa d'água, se levantando com dificuldades. Andou um pouco para o lado e apoiou as duas mãos na pia, sentindo a cerâmica gelada pela palma das mãos, que ainda não cessaram seu movimento. Inspirou com força, tentando se controlar, e levantou o rosto para encarar sua face no espelho. Estava encharcada de suor, e o cabelo pingava com o líquido. Seus olhos estavam arregalados e a pele estava pálida. Ela abriu a torneira e jogou um pouco de água no rosto, pressionando-o com as mãos enquanto a água chiava. Esperou um pouco, massageando os olhos cansados, até que se sentiu inquieta demais para ficar parada. Foi até o quarto e olhou para o relógio na cabeceira, marcando cinco horas e alguns minutos. Não vou conseguir dormir, pensou ela, indo até o armário. Pegou um casaco de lã e um chinelo no chão, vestindo-os enquanto saía do quarto.

 Andou sem rumo até parar do lado de fora do edifício, sentindo a madrugada fria abraçá-la. Torceu as mãos em busca de calor, mas seguiu em frente, consciente do frio que sentia nas pernas. Se aproximou da pedra em que Sara havia meditado algumas noites atrás e começou a subí-la desajeitadamente. Quando chegou no topo, começou a espanar as coxas e as canelas, limpando a pele da sujeita instalada. Uma luz tenuê captou seu olhar e ela inclinou a cabeça, observando o sol começar a surgir no oeste. Acabou parada, assistindo-o preencher o horizonte em silêncio, banhando as montanhas no limite do Platô Indigo. Quando ele fosse embora, haveria um novo Campeão em Kanto.

 O pensamento fez seu estômago se retorcer, e ela quase vomitou novamente. Inspirou com força o ar fresco, aguardando alguns segundos até voltar ao normal. Era estranho, pensou finalmente depois do enjôo passar. Havia sonhado com esse momento há anos, e mesmo assim era uma surpresa cada vez que se lembrava de que estava perto de realizar seu maior sonho. Não conseguia pôr em palavras. O nervosismo que sentia já era sinal suficiente. Nunca acreditou que chegaria tão longe, de verdade. No entanto, só sabia que deveria seguir em frente. Não poderia parar ou desistir, como muitas vezes fez. Daria o seu máximo para ser a Campeã, não importando o que acontecesse.

 - Acordada tão cedo? - Disse uma voz familiar, e Kari quase caiu de onde estava. Se equilibrou com dificuldades e virou o rosto, enxergando o professor Carvalho parado ao seu lado, com as duas mãos nos bolsos do jaleco branco. A garota sorriu, feliz em reencontrá-lo.

 - Você sempre usa essa roupa? - Perguntou ela.

 - O hábito faz o homem. E pelo menos estou vestindo algo mais decente do que você. - A garota corou e puxou o casaco para mais perto do corpo, ao ponto que Carvalho apenas riu. - Você não mudou nada, Kari. Desde que saiu de Pallet, continua a mesma garota. - Ele parou por um momento para fitar o sol nascente. - Agradeço que você tenha me escolhido para ser seu padrinho. Pode não parecer, mas significa muito para mim.

 - Você que me iniciou nisso, professor. É a escolha mais óbvia. - Disse a garota do alto da pedra.

 - Para alguns... para alguns. Sabia que Gary também me escolheu para ser o padrinho dele? - Perguntou o homem, se virando para ela.

 - Eu imaginei. -Realmente, não conseguia pensar em mais ninguém que Gary escolheria. Por mais que o garoto reclamasse, não havia outra pessoa que tivesse o apoiado de forma mais intensa em toda sua vida.

 - Sim. O que me impede de fazer um discurso particular para vocês, pois você sabe como Gary reagiria. Ele provavelmente diria que o seu foi melhor. - Carvalho se virou, sorrindo e com os olhos fechados. - Portanto, vou dizer algo que serve para os dois. Vocês são o orgulho de Pallet. Desde que eu nasci não tínhamos uma safra tão promissora. Ambos foram tratados como jóias por nós, porque sabíamos do potencial que tinham. Eram crianças incríveis, e logo vimos que poderiam colocar nossa pequena cidade no mapa. Podem não ter percebido, mas cada um de nós estava com vocês em suas jornadas, rezando de longe. Vocês são o fruto de toda uma cidade, e principalmente da força interior de cada um. Ter os dois nessa situação é algo mágico para nós. São excelentes treinadores e excelentes pessoas. E, por mais que apenas um seja sagrado Campeão, saibam que nunca poderíamos estar mais orgulhosos dos dois. - Ele parou, e Kari aproveitou parar enxugar as pequenas lágrimas do rosto. De fato, não conseguia imaginar o quanto ela e Gary significavam para a pequena Pallet, principalmente agora que Kanto inteira estaria assistindo a luta dos dois.

 - Obrigada, professor. - Disse ela com a voz fraca.

 - Nãos seja por isso. - O rosto dele continuava alegre como sempre, mas a garota percebeu um brilho em seus olhos fechados. - Agora, vou procurar por Gary. Devo-lhe contar tudo que eu te disse, ou ele me matará. - Kari pensou em avisá-lo sobre o envolvimento do garoto com a equipe Rocket, mas se controlou. Era uma verdade que ninguém precisaria saber.  - Agora, vá descansar um pouco. Terá algumas horas para a decisão. - Com isso, ele se afastou em direção ao complexo. A treinadora aguardou alguns minutos a mais, observando o sol nascer. Quando ele já era completamente visível no horizonte, a garota desceu da pedra e andou até o quarto, com uma chama ardendo em seu peito.

- SENHORAS E SENHORES, BEM-VINDOS AO ÚLTIMO DIA DO TORNEIO DO CAMPEÃO DE KANTO! - Gritou o auto-falante, transmitindo o locutor que berrava para a platéia. Kari estava com o lado do corpo apoiado na parede, aguardando no corredor que levaria até a arena. Ela entraria pelo lado normal, enquanto Gary viria pelo lado da Elite dos Quatro. No entanto, não era isso em que a garota pensava. Estava se lembrando da menina que saiu de Pallet, tão diferente do que era agora. Se ainda fosse a mesma pessoa, já teria fugido há muito tempo, como quase fez no primeiro dia. No entanto, agora possuía algo a mais. Uma vontade quente, ferrenha, que ardia em sua alma. Havia demorado um pouco para se manifestar, mas lá estava ela. Como no dia em que derrotara os Rockets em Saffron. Seus olhos também queimavam, encarando a luz forte que vinha do outro lado. O céu estava claro e limpo.

Seu nome foi anunciado, e ela começou a andar pelo corredor. Enquanto dava seus passos, memórias começaram a surgir em sua mente. Da rota 1 até a visão do Platô Indigo que tivera perto de Viridian. Do acidente na floresta e de Brock. Do monte da Lua e os Rockets, passando por Cerulean, a Ponte Dourada e a mansão de Bill. De Misty e da dor, Bernard e a perseguição contra o Rocket. De Vermilion, do S.S.Anne, de Gary e de Surge. Se lembrou da caverna escura e da cidade fantasma, assim como a grande Celadon. Erika e, novamente, os Rockets, assim como Fuji. Se recordou de Saffron, de Koga, de Sabrina, e de Giovanni. De Articuno, Zapdos e Moltres. De Blaine e Giovanni. Das ilhas Sevii e do Caminho da Vitória. E, finalmente, da Elite dos Quatro. Havia superado todos aqueles desafios, muito mais do que era esperado. Achou forças de onde achou que não tinha, dor de lugares que não esperava e valores do fundo de si. E conheceu companheiros. Os que haviam partido e os que haviam ficado.

 Olhou para o lado, acompanhada por sua equipe e pelos fantasmas dos que partiram. De Bernard, que mal tivera sua chance. De Nala, que havia salvado sua vida. De Felicia, um doce. De Wanda, que sempre provou seu valor. Também estavam com ela os vivos, os combatentes do dia. Sophie, a novata que não havia falhado uma vez. Sakura, o monstro hiperativo. Zelda, a cabeça-quente que não desistia nunca. Sara, a sábia. Liz, a calma. E Kenichi, o primeiro companheiro.

 Kari entrou com eles no estádio, sendo saudada pelas milhares de pessoas que se esperneavam. Do outro lado, Gary também adentrava o lugar. Os dois se encaminharam até o meio da arena, constituída de apenas uma marcação de cal no chão de terra e uma piscina no círculo central. Os filhos de Pallet se encararam, alheios à platéia gritando. Olharam um nos olhos do outro, vendo seus medos e sonhos refletirem. Não havia mais nada a dizer. Ambos sabiam o quão importante esse título era para o outro. Os dois precisavam provar seu valor, para os outros e para si mesmos. Apertaram as mãos, tentando quebrar os dedos do adversário, e se viraram para voltar aos seus respectivos lugares. Kari ouviu um sussurro de Gary, trazido pelo vento leve. Eu sou o melhor treinador de Kanto. E hoje irei provar. É o que veremos, pensou a garota. Também confiava bastante em seu taco.

 Quando finalmente se posicionaram, respiraram fundo em sincronia. Ao mesmo tempo, pegaram suas Pokébolas em movimentos espelhados. Juntos, começaram a batalha que iria decidir suas vidas.

 - Hermes. - Disse Gary, controlando cada timbre da voz.

 - Sara. - Disse Kari, imprimindo toda a vontade que tinha em suas palavras.

 Silêncio. Até a platéia diminuiu a algazarra enquanto os dois treinadores se encaravam, mesmo com a distância entre eles. O sol os iluminava, enquanto ambos reviviam o caminho e os embates que tiveram com o outro. Não chegariam até ali se não fosse pelo rival. Eram uma máquina, movidos pelo desejo de serem melhores do que o adversário. E hoje, finalmente decidiriam essa batalha que durava anos. Mais silêncio, e as Pokébolas tremiam em suas mãos. Então, o grito de guerra.

 - EU ESCOLHO VOCÊ! - Berraram, imprimindo tudo que tinham ao som e às Pokébolas, que conjuraram os primeiros combatentes. Suas mãos foram instintivamente até a Pokédex em seus pulsos, em um movimento tão natural e instintivo que nem precisava ser narrado. Os dois Pokémon avançaram, e Sara começou a retirar pedaços do chão com a garra enquanto corria. Naquele momento, no entanto, o Pidgeot bateu as asas, jogando areia nos olhos da adversária. Ela levou a mão ao rosto, lançando as pedras que havia retirado em uma direção aleatória, errando seu alvo.

 - Sara! - Gritou a treinadora, e mais uma vez Hermes jogou areia na Sandslash, que tentava esfregar o rosto rapidamente. Ela deve estar quase cega, pensou Kari, sentindo o coração apertar. No entanto, Sara retirou pedaços da arena novamente, desta vez acertando a asa direita do Pidgeot, que caiu no chão. A Pokémon aproveitou o tempo para limpar o excesso de areia nos olhos.

 - Sem descanso, Hermes! - Ordenou Gary, mas antes que o Pidgeot alçasse vôo, Sara já estava pulando em cima dele. O adversário não se intimidou e disparou contra ela, provocando um choque em pleno ar. Logo depois do impacto Hermes já estava novamente em cima, desta vez girando o corpo e fazendo cair uma chuva de penas em cima da Sandslash.

 O Pidgeot mergulhou, e Sara pulou para se chocarem mais uma vez, desta vez derrubando os dois no chão. A Pokémon de Kari tentou arrancar um pedaço do chão novamente, mas Hermes se recuperou antes, jogando-a para longe. Ela caiu perto do centro, e a treinadora sentiu algo estranho no ar. A Sandslash não aguentaria outro golpe. Olhou temerosa para ela, vendo-a se levantar com dificuldades. No entanto, um borrão no céu estava se aproximando.

 - SARA! - Gritou Kari, mas não havia tempo de reação. Hermes a acertou com força novamente, fazendo-a voar uma dezena de metros antes de cair, imóvel. Para a treinadora, o mundo parou. Não, pensava ela. Não, não, não, não. Não pode ser. O grito ficou apertado em sua garganta, e sentiu as lágrimas começarem a se formar no rosto. Por favor, Sara não, rogou ela a quem escutasse.

 Eis que a Sandslash se moveu um pouco, tremendo o braço direito. Kari estancou, observando-a se levantar com esforço. No entanto, Hermes voltava a mergulhar em sua direção. A treinadora pensou em gritar algo, mas Sara apenas girou o corpo, jogando os pedaços da arena embaixo de si no adversário. Ele foi atingido em cheio e caiu, também com extremas dificuldades de se manter em pé. A platéia rugia.

 A garota recuou Sara e colocou Sakura na batalha, enquanto que o rival curava seu Pidgeot. A Jolteon imediatamente despejou uma descarga elétrica gigantesca em Hermes, que desta vez caiu sem chances de se recuperar. Gary estava com um a menos, mas Sara estava muito ferida para ser utilizada novamente. Continuavam empatados.

 O treinador invocou seu Rhydon, e a garota rapidamente trocou Sakura por Liz. A Wigglytuff mal pisou no chão quando começou a invocar um pulso d'água em seus punhos, atirando-o contra o adversário. O Pokémon de Gary recuou com o impacto, mas depois começou a rir.

 - Era só o que me faltava. Uma fadinha querendo brincar com os garotos grandes. - Ele andou na direção dela, e o contraste em seus tamanhos se mostrou extremamente visível. A sombra do Rhydon cobriu a pequena adversária, que não se moveu. - Que tal você dar a volta e fugir, para que eu não tenha que te matar? - Kari rangeu os dentes, prestes a responder, mas sua Pokémon fez isso antes.

 - Peço perdão, mas creio que isso não vá ser possível. Minha treinadora deixou claro que confia em mim, e não irei falhar agora. - Com isso, Liz conjurou outro pulso d'água, atingindo o peito do Rhydon com o projétil. Ele caiu pesadamente no chão, derrotado. Agora Kari tinha a vantagem.

 Isso claramente não era agradável para Gary, que começava a ficar desesperado. - Merlin, vamos virar o jogo! - Gritou, invocando seu Alakazam. Se é para pegar pesado, pensou Kari enquanto recuava Liz, que seja. Assim, lançou outra Pokébola, e Kenichi entrou na partida.

 No entanto, desta vez foi a equipe de Gary que tomou a iniciativa. Merlin colocou as duas mãos na cabeça e um raio rosa foi disparado, atingindo o corpo do Charizard. Ele caiu no chão, grunhindo. Seu corpo tremeu momentaneamente, mas Kenichi abriu as asas, mascarando qualquer fraqueza. Em seguida disparou contra o adversário, derrubando-o com suas garras. Os olhos do Alakazam ficaram rosas, e Kari sabia muito bem o que era aquilo. Um golpe viria no futuro.

 - Kenichi, acabe com ele logo! - Gritou a garota, e o corpo do Charizard começou a brilhar em vermelho. Ele gritou e seu corpo explodiu em chamas, que envolveram o adversário. Quando elas cessaram, Merlin estava derrotado.

 - Titã! - Gritou Gary, e seu Pokémon inicial entrou em combate. Kari recuou Kenichi e lançou Sakura na arena.

 - Sakura, temos que acabar com isso rápido! - Ordenou a garota, com medo do ataque do Alakazam. A Jolteon tremeu, se concentrando para invocar uma pequena nuvem dos céus, que em seguida despejou um relâmpago. No entanto, o Blastoise pulou na água, escapando do ataque.

 - Acho que elas querem um pouco de chuva, Titã! Vamos ajudá-las! - Gritou Gary, e seu Pokémon começou a nadar de forma rítmica na piscina. Nuvens carregadas começaram a se formar ridiculamente rápido nos céus,  e uma chuva torrencial começou a cair. As gotas eram pesadas e doloridas, forçando Kari a proteger a cabeça com o braço esquerdo.

 - Ele está maluco. - Sussurrou ela para si mesma. Com aquelas nuvens, Sakura nunca iria errar seus golpes. - Acabe com ele, Sakura! - Gritou. A Jolteon invocou um trovão, desta vez com muito mais facilidade, que atingiu em cheio o rival. A treinadora se virou para o rival. - O que você pretendia fazer com esse movimento? - Gritou, tentando ser ouvida através da chuva forte.

 Naquele momento, algo frio desceu pelo seu esôfago. O sorriso de Gary apenas confirmou essa questão. Desesperada, a garota se virou para a piscina, rezando com todas as suas forças mentais. Para seu terror, no entanto, o Blastoise continuava em pé.

 - Sakura, você precisa...! - Já era tarde demais. Pokémon aquáticos tinham uma profunda interação com a umidade do ambiente, e a chuva aumentou exponencialmente essa ligação. Titã mirou seus canhões e disparou um jato torrencial, duas vezes maior do que o normal. O jato acertou a Jolteon em cheio, e ela foi arremessada contra a parede do estádio, que rachou com o impacto. O golpe passou do lado de Kari, que observou em transe um borrão amarelo no meio de toda aquela água. A treinadora se virou como num sonho, e correu até onde sua Pokémon havia caído.

 Quando chegou perto o suficiente, caiu de joelhos na lama. O pequeno corpo da Jolteon estava imóvel. Kari estendeu a mão trêmula, com as lágrimas misturadas com a chuva. Sakura, sempre tão animada e agitada, não se levantou. Seu mundo parecia incapaz de girar, até que uma voz cortou o ar e chegou até seus ouvidos. Uma voz agora odiosa.

 - Pronta para desistir, Kari? - Disse Gary, com a voz pingando de desprezo. A mão da garota fechou em um punho trêmulo, e os olhos voltaram a derramar lágrimas, mas ambas agora eram de raiva. Pura e profunda raiva. Virou a cabeça com truculência, sentindo os curtos cabelos molhados balançarem na chuva forte e os dentes trincados. Ela encarou o rival com todo o ódio que possuía dentro de si, levantando de uma vez.

 - Kenichi. Acabe com ele. - Disse ela entre os dentes, invocando novamente seu Charizard. Naquele momento, o golpe do Alakazam se manifestou e acertou o Pokémon, que nem se importou. Havia muito mais em jogo naquele momento.

 - Com prazer. - Disse o Charizard, disparando contra o Blastoise. Ele atravessou a chuva, tão rápido que era apenas uma mancha laranja. Titã tentou se preparar para disparar outro golpe, mas Kenichi foi mais rápido. Derrubou-o no chão apenas com sua garra, arrastando-o na lama por vários metros. No final, suas asas se abriram em vitória, enquanto o adversário continuava caído, derrotado.

 - NÃO! - Gritou Gary, invocando seu Arcanine, ao ponto em que Kari trocou Kenichi por Sophie. A treinadora não estava mais pensando, apenas reagindo ao ambiente. Seus punhos ainda tremiam pelo que acontecera, mas ela andava firme em direção ao seu lugar na arena.

 O Arcanine olhou ameaçador para a Lapras e soltou uma rajada de chamas que engolfaram a adversária. Sophie, por sua vez, aproveitou a umidade da chuva para disparar um possante jato d'água, que derrubou o Pokémon de Gary com apenas um golpe. Faltava apenas um.

 - Kenichi. - Disse Kari, substituindo Sophie pelo Charizard enquanto Gary lançava seu Exeggutor. - Vamos acabar com isso de uma vez por todas. Chega de mortes, chega de quedas. VAMOS SER OS CAMPEÕES AGORA! - Ela gritou do fundo de seus pulmões e Kenichi rugiu, se destacando na chuva que continuava a cair. A treinadora lançou um restaurador nele, enquanto que o Exeggutor disparava uma bomba. Ela atingiu o Charizard, que não se moveu. Naquele instante, o céu começou a se abrir, lançando um raio de luz em Kari e seu Pokémon. Ambos tremiam e trincavam os dentes, e os dois tinham um brilho forte no olhar, tão impressionante que era captado até mesmo na platéia, que estava estática.

 - Não, não... - Disse Gary, dando um passo para trás.

 - Kenichi... - Começou Kari, aumentando o tom da voz em cada palavra. - ... Por todo mundo que nos acompanhou até aqui... por todos aqueles que caíram e pelos que ainda estão conosco... vamos realizar o nosso sonho... agora. - O Charizard começou a brilhar em vermelho, iluminando todo o estádio. - KENICHI! EXPLOSÃO DE CHAMAAAAAS! - Ela continuava gritando quando seu Pokémon explodiu em labaredas, que preencheram toda a arena. Gary caiu para trás, assombrado pela magnitude do ataque, enquanto que Kari se mantinha gritando. Kenichi também gritava, e ambos entregavam tudo de si, explodindo o peito e liberando o que haviam guardado desde Pallet. O grito da vitória.

 No final, o Exeggutor estava no chão. Kari e Kenichi respiravam fundo, e nenhum dos dois parecia ter captado o que havia acabado de acontecer. Foi apenas quando a torcida explodiu e se tornou clara que ambos estocaram, arregalando os olhos. Eles se encararam, e a garota viu o pequeno Charmander estressado e agitado, e o enorme Charizard que estava à sua frente. O Charizard, por sua vez, viu a criança que saiu de Pallet, instável e explosiva, e a mulher que ainda continuava explosiva, mas havia conquistado a força interior. Os dois sorriram, e esse sorriso ficou ainda maior no momento em que o narrador anunciou pelos auto-falantes:

 - SENHORAS E SENHORES... TEMOS UMA NOVA CAMPEÃ DE KANTO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário