terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

RN Nuzlocke LG: 8 - Rockets


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -

CAPÍTULO 8 - ROCKETS

Kari chegou ao Monte da Lua, novamente encharcada pela chuva que continuava a cair incessantemente. Ao seu lado, estava Zelda, a Zubat que havia pedido ajuda há pouco tempo, completamente ferida, e Liz, que pediu para não ficar na Pokébola por algum motivo. Como o Centro Pokémon não curava criaturas selvagens (pois a cura era feita através das Pokébolas), Zelda havia sido capturada por Kari, mas não parecia se incomodar com isso. Ao contrário, ela estava agitada, querendo voltar ao Monte da Lua rapidamente para poder expulsar os Rockets.

O Monte da Lua por dentro era bastante amplo. As rochas marrons decoravam cada centímetro da área interna, que seguia por caminhos esculpidos por mãos humanas, embora alguns locais maiores tivessem sido feitos por causas naturais. Estalactites gigantes pontuavam o teto, enquanto estalagmites ainda maiores decoravam o chão.

Um alvoroço tinha se instalado dentro da caverna, com vários treinadores aglomerados em frente à uma linha de contenção da polícia, mantida por apenas dois policiais trêmulos, um homem calvo e uma mulher novata, ambos vestindo o uniforme azul-escuro. A mulher segurava um megafone, e tentava se sobrepôr ao falatório da pequena multidão.

 - Civis! O Monte da Lua está provisoriamente inteditado por relatos de atividade Rocket. Já contactamos os líderes Brock e Misty, assim como nossa central em Cerulean. Peço para que se dirijam ao Centro Pokémon. - disse a policial.

 - Isso é um bando de merda! - disse um homem gordo, vestindo equipamento de escavação. - Esses Rockets devem estar lá dentro roubando os nossos fósseis! 

O Monte da Lua era conhecido por possuir um grande sítio arqueológico. O próprio Museu de Pewter foi criado como centro de pesquisas para essas descobertas, embora recentemente um laboratório mais avançado tivesse sido montado na ilha de Cinnabar. Muitos prosperavam com a descoberta desses fósseis, e o próprio Brock era constantemente visto nesses lugares.

A multidão voltou a se agitar, embora não tentassem forçar a linha de contenção. Em muitos lugares os Rockets eram considerados uma piada, mas as regiões ao redor de Cerulean e Celadon tinham bastante medo deles, pois eram os locais onde as atividades criminosas persistiam. Era visível que esse medo se prolongava pela Rota 3, que separava Pewter e Cerulean.

 - Precisamos entrar lá desesperadamente. - disse Zelda, pousada no seu ombro. - Esses malditos Rockets estão capturando vários Zubats na caverna. Eu não vou deixar eles pegarem mais ninguém.

 - Sim, mas precisamos de algum modo para entrar. Eu não vou simplesmente furar a contenção polici... ei! - Antes que percebesse, Zelda havia pulado de seu ombro e voado em direção à contenção. Os treinadores, assustados, saltaram para fora do caminho do pequeno míssil azul que adentrou a caverna. Sem pensar, Kari correu pelo espaço vazio e pulou a linha de contenção, somente ouvindo o oficial calvo gritar quando já tinha avançado vários metros.

 - Pare, você é apenas uma criança! - Mas a criança (que ficou realmente irritada com isso, pois já tinha dezoito anos) não parou, e adentrou a caverna escura. Havia corrido por alguns minutos, e não havia sinal de Zelda.

Entraram em uma área circular com teto baixo,de onde cinco caminhos saíam. Kari e Liz haviam chegado pelo sul, e a garota olhou com desespero as estradas negras que pontuavam a área. Andaram até o centro do local, com Kari se irritando a cada passo.

 - Eu juro que vou matar ela. Agora estamos perdidos, Liz. Você tem alguma idéia do que fazer? - disse Kari, colocando a Jigglypuff no chão. Logo percebeu que Liz estava bastante agitada, vasculhando com o olhar cada canto da caverna. Kari estranhou, pois a Pokémon era geralmente bastante calma. - Liz, o que houve? - Ela não respondeu, mas fixou seu olhar no caminho ao norte, e deu pequenos passos até ele. Bizarro, pensou Kari. Antes que a treinadora voltasse a falar alguma coisa, uma mão enluvada surgiu da escuridão e tapou sua boca.

O coração de Kari parou de bater por alguns instantes, enquanto observava Liz andar para a escuridão. Tentou gritar, mas a voz não saía através da luva. Tentou girar o corpo para encarar o ofensor, mas o corpo dele estava muito colado ao dela para ter alguma mobilidade.

 - A garotinha não sabe que estamos fazendo um grande trabalho aqui? Por isso que fizemos questão de ninguém entrar. - A voz era masculina, rouca e aguda, e soltava um bafo de bebida e fumo. Pelo canto do olho, Kari viu um rosto barbado e ruivo, cheirando horrivelmente, bem perto de sua face direita. Ela levou instintivamente a mão direita às Pokébolas no quadril, mas o homem a afastou com um tapa, retirando ele mesmo o cinto.

 - Na-na-não. Nada de Pokémon para você. Não queremos nenhum incidente, não? - Soltou uma risada seca que fez a nuca dela se eriçar em terror. O homem começou a torcer levemente a mão direita de Kari para trás do corpo da garota. Ela imediatamente deu uma cotovelada nas costelas do atacante com o braço esquerdo. Ele ofegou, e ela se livrou do aperto, girando o corpo para encará-lo. 

O homem deveria ter uns trinta anos, com olhos verdes e cabelos ruivos. Seu rosto era fino e barbado, e era baixo, apenas alguns centímetros mais alto que Kari. Ele vestia uma roupa negra, com botas, luvas e cinto cinza e um grande R vermelho bordado no centro do peito e na boina que usava. Ele parou de ofegar, e olhou seco para Kari.

 - Olha, olha, olha. A garotinha quer brigar? - A mente dela funcionava furiosamente. Liz tinha sumido, assim como Zelda. O resto do seu time estava nas mãos do ladrão, então ela não poderia contar com ajuda nenhuma caso o Rocket usasse seus Pokémon. Apenas uma opção surgiu na cabeça dela, que saltou em direção ao seu cinto de Pokébolas na mão do homem. Infelizmente, o homem barbado parecia saber que ela iria tomar esse rumo de ação, e saltou para a esquerda, fazendo Kari cair no chão duro.

Antes que ela tomasse noção do que aconteceu, um forte chute a acertou no estômago, expulsando todo o ar de seu corpo. Sentiu vagamente o sangue quente que inundava a garganta, enquanto arqueava o corpo pela dor e pela busca desesperada por ar. De repente, um pé amassou sua caixa toráxica, provocando uma dor lacinante. Com os olhos lacrimejantes, ela vislumbrou o Rocket através da dor, apoiando o pé em seu peito. 

 - Você realmente não sabe respeitar os mais velhos, garotinha. - Ele se apoiou no joelho, aumentando o peso em cima de Kari, que ofegou. - Sabia que as ordens superiores são de eliminar as testemunhas? - O Rocket colocou a mão no bolso, e tirou uma faca borboleta. - Que tal nos divertirmos um pouco antes disso? - Kari arregalou os olhos, e tentou se agitar para sair do aperto. O homem girou o pé, infligindo dores lacinantes na garota para fazê-la parar. - Não adianta fugir, garotinha. Ninguém vem para te ajudar.

No segundo em que ele falou isso, uma Zubat voou baixo, acertando-o em cheio no rosto, fazendo-o derrubar a faca. Ele colocou a mão na cabeça, e uma voz se propagou atrás dele, tornando o homem sonolento, até que ele caiu.

Kari ficou meio atordoada, quase desmaiando, mas tentou se sentar. As dores no adbômem continuavam, embora estivessem diminuindo. Por sorte não tinha quebrado nada. O responsável pela voz se aproximou. Devia ter um metro de altura, orelhas longas, corpo rosa e barriga branca. No entanto, o pega rapaz em sua testa deixava uma semelhança não-dita com...

 - Liz? - resmungou Kari. Liz olhou para sua treinadora com os olhos marejados, e correu até ela. 

 - Me desculpa, me desculpa, me desculpa! Eu não sabia o que estava fazendo, apenas senti as Pedras da Lua por aqui, e minha mente ficou muito nebulosa. Desculpa, desculpa, você se machucou graças a mim, não é? E se aquele Rocket tivesse se matado? Ah, Arceus...

 - Não se preocupe, Liz, o que importa é que tudo deu certo no fim. - disse Kari, tranquilizando a Wigglytuff até ela voltar para seu estado calmo natural. Jigglypuff's evoluiam com Pedras da Lua, então era normal Liz se sentir atraída por elas. Se virou para a Zubat que havia atacado o Rocket, e viu que era Zelda. A Pokémon não parecia arrependedida por ter abandonado Kari, muito pelo contrário.

 - Certo, um Rocket a menos. Eu descobri que a maior parte já saiu da Caverna, mas um oficial ficou para trás e está reunindo os membros restantes. Se atacarmos agora poderemos livrar o Monte da Lua dessa corja. 

Kari suspirou, e olhou para o Rocket caído, ficando em silêncio por alguns segundos. Finalmente, se levantou com dificuldade, apoiada por Liz. - Certo, mostre o caminho. - disse ela. - Só não ache que vai ficar impune pela sua pressa. Conversaremos sobre isso depois. - Zelda concordou, e alçou vôo. Kari recuperou suas Pokébolas, e gravou o lugar em que o Rocket estava desmaiado para avisar as autoridades mais tarde, e seguiu a Zubat com Liz a seu lado.

 - Tem certeza, Kari? Digo, você parece bem... machucada. - A voz de Liz estava a um oitavo do normal, agora que sua agitação anormal havia passado. Parecia ainda bastante arrependida por ter deixado a treinadora sozinha.

 - Eu vi o que um Rocket pode fazer, Liz. Se todos os outros forem que nem esse, não posso ficar sem fazer nada. - Kari estava confusa em relação à organização de criminosos. Sempre achou que eles eram ladrões bobões, mas o que ela tinha enfrentado era um sádico frio. Talvez os rumores sobre eles tivessem algum fundamento, pensou. De qualquer jeito, descobriria daqui a pouco.

Andaram por algum tempo, até que subiram uma pequena elevação para enxergar a cena mais abaixo. Um oficial Rocket parecia ter acabado de reunir sua equipe, composta por apenas dois outros membros. Um homem com jaleco branco e óculos, pálido e cabelos longos estava no chão perto do líder.

 - Certo. Acho que Lorenzo está perdido na caverna, então vamos continuar sem ele. Nossas procuras pelo espécime 151 foram inconclusivas, e o comando central mandou a equipe principal de volta à Celadon enquanto não coletamos mais dados. No entanto, há algo grande à vista, rapazes, e recebemos novas ordens para fortalecer a Equipe Rocket. Capturem Zubats para batalha enquanto eu converso com esse meu querido amigo-- e dizendo isso, pisou no cientista -- que vai nos dizer onde estão os fósseis para revendermos.

Era demais para Kari. Os Rockets realmente eram uma escória, e continuariam a colocar vidas humanas e de Pokémon em perigo se ela não fizesse nada. Ela não poderia deixar as coisas assim. Pulou por cima da elevação, e saiu deslizando pela descida, liberando Wanda e Nala no caminho. Assim que seus pés tocaram o chão, saiu correndo para o líder, enquanto seu time se dividia para derrotar os capangas. Ela e Nala seguiram em frente, e os Rockets os encararam, assustados. O líder liberou seu Rattata, que foi atropelado pela Rattata de Kari. Trêmulo, ele lançou um Zubat, e Nala saltou para dar uma mordida nele, derrotando-o facilmente. Atrás deles, Wanda e Liz derrotavam os outros, e Zelda voou em direção ao oficial.

 - O que acha agora, hein? Imbecil! Quem você pensa que é para vir aqui e capturar minha família para seus fins terríveis? Eu vou acabar com você! - A Zubat mordia o homem por todo o rosto, até que Kari a fez voltar para a Pokébola. Ela se aproximou do Rocket, que jazia ferido no chão. Ela se agachou, mas ele já havia desmaiado.

 - Liz, quero que você bote todos eles para dormir. De preferência por uma semana. - Ela se levantou e se virou para o cientista, que a olhava admirado. - O senhor está bem? - disse, estendendo a mão.

 - A-a-ah, s-sim, claro. Estou ótimo. - E se levantou sem a ajuda de Kari, espanando as roupas. Sua face direita estava roxa e inchada, e os óculos trincados, mas fora isso parecia saudável. - V-você é policial?

 - Não, apenas uma transeunte. Posso pedir um favor para você? - O rosto do cientista, que até então estava rosto e branco, se pintou de vermelho. - Pode cuidar desses Rockets enquanto eu chamo a polícia? Há mais um ali atrás, mas ele também está desacordado.

O cientista pareceu meio decepcionado, mas concordou silenciosamente. Inclusive, ele deu a Kari um Fóssil, que parecia de uma concha marinha que se enrolava. Ela agradeceu, e caminhou até a saída da caverna, voltando a liberar Zelda. Nala à sua frente estava andando estranho, chegando a cambalear algumas vezes.

 - Nala, você está bem? - No que Kari disse isso, o corpo da Rattata brilhou, iluminando a caverna. Quando Kari abaixou o braço, Nala havia se tornado uma Raticate. Tinha agora 70 centímetros, um corpo mais redondo, rabo rosa e pêlo castanho. Ela olhou para si mesma, e sorriu maliciosamente.

 - Olha só quem evoluiu. - Ao dizer isso, Zelda saiu de trás de Kari e ficou voando em volta de Nala.

 - É só isso? Que triste, isso não é nada comparado a Golbats e Crobats.  - Nala se virou furiosa para ela, e saltou para tentar pegá-la, falhando várias vezes. 

 - Venha então lutar comigo para ver quem vai fazer gracinhas por último! - Zelda fez uma curva no ar, e voou em direção a Nala, pronta para o ataque. No entanto, antes disso, Kari fez as duas voltarem para suas Pokébolas.

 - Eu juro que vou precisar de muita terapia quando tudo isso acabar. - E voltou a caminhar para a saída com Liz e Wanda do seu lado, deixando os Rockets, por enquanto, para trás.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

RN Nuzlocke LG: 7 - Momento de paz


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 7 - MOMENTO DE PAZ

 - Acho que aquele é o Centro Pokémon. - gritou Kari para seus Pokémon, correndo através da chuva pesada que caía incessantemente, seus novos sapatos chafurdando na lama da estrada.

Havia sido uma semana bem longa. Assim que saíram de Pewter em direção ao Monte da Lua, que ficava no caminho de Cerulean, haviam encontrado um dos ajudantes do Professor Carvalho, que a reconheceu e deu sapatos novos, feitos para caminhadas. Depois de agradecer, ela foi se aventurar na Rota 3, e parecia que tinha caído em um hospício.

Haviam vários treinadores espalhados pela rota, que era um pequeno espaço apertado entre duas formações montanhosas, com terra batida servindo como estrada. Só que o estado mental deles parecia um pouco prejudicado. Uns lutavam com os Pokémon que haviam acabado de capturar, sem nem mesmo passar em um Centro Pokémon. Outra treinadora acusou Kari de esbarrar nela, embora estivesse a metros de distância. Já um cismou que Kari deveria desesperadamente usar um short, embora ela já estivesse usando.

 - Ah. Que bom. - disse Liz, a mais nova membro do time. Era uma Jigglypuff, criatura rosada e redonda como um balão, com olhos grandes, membros pequenos e uma espécie de cabelo na testa, formando um pega-rapaz. Kari estava passando perto da montanha quando a ouviu, cantando perto de um pequeno riacho. Liz era bastante calma, e costumava cantar frequentemente. Assim que viu o grupo de Kari passando perto, aceitou entrar na equipe por livre e espontânea vontade.

Atrás deles, Kenichi estava de completo mau-humor. A chama em seu rabo estava completamente apagada, só que isso não o matava, contrariando as crenças populares. Acontecia que, quando a chama era apagada, era como se uma válvula de escape fosse fechada dentro do corpo dos Pokémon da família Charmander, gerando dores abdominais. Logo, ele continuava resmungando, enquanto Wanda voava baixo ao seu lado. Nala fechava o grupo por trás.

Entraram finalmente no Centro Pokémon, encharcado em partes do corpo que nem sabiam que existiam. Kari foi diretamente até o balcão, alugando um quarto para eles. Ela subiu as escadas rapidamente, seguida por Liz. Kenichi, por sua vez, viu uma lareira em um dos cantos do recinto, e correu até ela para reacender sua chama, seguido por Wanda. Já Nala seguiu um caminho solitário até os fundos do Centro. E é aqui que a história se separa em três caminhos por algum tempo.

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Nala

Nala caminhava pelos corredores amplos do Centro, procurando algum lugar para ir. Ela não gostava dessa demora. Aquele treinador, Gary, já devia estar em Cerulean, pensou. Eles tinham que alcançá-lo e eliminar logo a concorrência. O caminho que estavam tentando percorrer era perigoso demais sem um treinador obstinado como ele. Já não bastava terem que lutar sem matar, o que deveria afetá-los em algum momento. Nala refletia, e nem percebia aonde suas pernas estavam a levando, se questionando constantemente se tinha escolhido o caminho certo.

Quando deu por si, estava em uma sala oval, onde treinadores de nível mais avançado comparavam estatísticas e assistiam partidas da Liga. Olhavam-a com cara de desprezo, pensou, enquanto se virava para voltar de onde tinha saído. Sabia muito bem a infâmia que os Rattatas tinham com os treinadores "profissionais". Ela iria mostrar a eles, pensou. Não importa o caminho em que estivesse, iria até o fim, nem que tivesse que trocar de treinador. Com ânimo renovado, voltou à entrada do Centro.

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Wanda e Kenichi

Kenichi colocou a cauda na lareira, segurando-a até ela voltar a pegar fogo. Satisfeito, se afastou e sentou em uma das almofadas espalhadas ao redor das chamas. Wanda se aproximou, beliscando uma fruta.

 - Quem diria, não? Eu e você, na mesma equipe, lutando para sermos Campeões. Parece que foi ontem que eu ficava invadindo o laboratório do Carvalho e você tentava me expulsar. Tanto se passou, não? - disse ela, se aconchegando em outra almofada.

Kenichi resmungou, mordiscando a fruta que Wanda oferecia. - Sabe, eu nunca pensei que você ia querer ser Campeã. Você sempre me pareceu, sei lá...

 - Indecisa? - Wanda completou, sorrindo. - Você tem razão. Passei tanto tempo andando por aí que chegou numa hora em que eu realmente não sabia o que fazer de mim. Mas acho que essa nova vida está servindo para eu me decidir. Posso não gostar tanto das batalhas quanto você, mas ter pessoas pra conversar à noite faz tudo valer à pena.

 - Hm. Que melodrama.

 - Ah, Kenichi, não seja assim. Desse jeito você me magoa, querido. Fale sério, você gosta da minha companhia. Tem tantos problemas para se abrir com os outros que precisa desesperadamente de uma cara conhecida. Tanto que até agora não saiu correndo!

 - C-Cale a boca! Isso não q-quer dizer nada!

 - Hihi. Ah, Kenichi. Às vezes acho que você não se conhece direito. - disse ela, observando Nala se aproximar.

Kenichi ficou pensativo, observando as chamas crepitarem na lareira. Se perguntou se realmente conhecia a si mesmo. Estava tão afeiçoado ao seu modo de agir sem pensar que esses momentos calmos não eram agradáveis. Era tão mais fácil nas batalhas, pensou, se ajeitando na almofada.

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Kari e Liz

Kari saiu do banheiro, com uma toalha enrolada no corpo e outra sendo usada para enxugar seu cabelo. Suas roupas molhadas estavam jogadas na pia, tão encharcadas e emboladas que era difícil diferenciar uma peça da outra. O espelho do quarto estava embaçado do vapor que saiu do banheiro, e o próprio aposento estava ainda meio enevoado.

Ela se aproximou da cama, e notou que Liz estava em cima de um travesseiro, cantarolando baixinha com os olhos fechados. Kari sorriu, e terminou de enxugar o cabelo.

 - Dormiu? - perguntou ela, sentando na beira da cama.

Liz lentamente abriu os olhos, e sorriu. - Não, estou apenas descansando. - Sua voz era suave, e parecia ter uma melodia própria. Kari se sentia mais calma conforme Liz falava, quase tão calma quanto a própria Jigglypuff era.

Kari terminou de se secar, e começou a vestir roupas secas. Enquanto colocava a camisa, deu uma olhada de relance em Liz, que voltava a cantarolar sozinha. Perguntou a si mesma se realmente tinha feito certo ao capturá-la. Ela parecia extremamente frágil para um combate sério.  Tinha praticamente as mesmas dúvidas com Nala, embora ela tivesse se saído bem contra Brock.

Kari suspirou, e se abaixou para calçar os sapatos. Será que ela estava seguindo o caminho certo? Era muito fácil fazer seus planos sob a segurança de Pallet, mas na estrada as coisas eram diferentes. Se fosse a própria vida que estivesse em jogo, ela não teria nenhum problema, mas eram outras vidas. Não adiantava ficar seguindo em frente sem pensar no que estava fazendo. Talvez numa hora ela realmente tivesse que mudar a equipe, ou seu modo de agir.

A treinadora ficou sentada no chão, enquanto cada pensamento batia em seu âmago que nem uma pedra, e a dura realidade a fustigava. Eis que, de repente, o estômago de Liz roncou, acordando Kari bruscamente de sua mente. Quando se virou, a Jigglypuff estava completamente vermelha.

 - M-me desculpe. - disse, encarando a garota com olhos trêmulos. 

Kari por sua vez riu, e se levantou. - Vamos. - disse, estendendo a mão para Liz. - Vamos lá embaixo comer alguma coisa. Deve estar faminta. 

A pequena bola rosa sorriu encabulada, e desceu da cama. Enquanto as duas cruzavam a porta, Kari suspirou. Talvez as coisas estivessem indo do jeito certo. Até agora tudo tinha funcionado perfeitamente. Sentindo seu coração se aliviar a cada passada, ela acompanhou Liz pelo corredor.

No andar de baixo, o átrio estava vazio, com exceção de Kari e sua equipe. Muitos treinadores haviam ficado no Monte da Lua para se abrigar da chuva, e outros haviam voltado para Pewter. Ela estava lendo uma matéria sobre vários treinadores bem-sucedidos que supostamente haviam sido treinados por uma Sandshrew, enquanto a televisão zumbia baixo. Kari olhou para ela, e viu um incêndio em uma mansão de Cinnabar. Muito provavelmente algum dos treinadores de Blaine, pensou, e voltou à sua revista. Sentiu o vento frio e úmido em suas costas, e se virou para a porta. Ela estava aberta, e uma pequena Zubat, criatura tal qual um morcego azul sem olhos e com pernas finas, vinha se arrastando, encharcada no chão. Eles correram até ela, e Kari a segurou nas mãos. 

A Zubat estava terrivelmente ferida, mas ainda se agitava constantemente, até que percebeu com seu radar a figura de Kari, e falou:

 - Você. Você. Eles estão no Monte da Lua. São muitos, ninguém quer enfrentá-los. Aqueles bastardos estão fazendo alguma coisa, mas eles não são confiáveis. Eu tentei impedí-los, mas eram muitos. Preciso de ajuda. Aqueles malditos bastardos -- Argh! - E se curvou, contorcendo devido a um ferimento.

 - Por favor, não se esforce. - Disse Kari, levando-a correndo até a área médica. - O que houve? Quem está no Monte da Lua?

A pequena Zubat falou uma palavra, que quase foi submergida entre os passos altos que ecoavam no recinto, enquanto a treinadora a levava. Poucos ali conheciam o significado daquele pequeno conjunto de letras, e mal sabiam o impacto que ela teria em suas vidas dali para frente, tal qual um rinoceronte raivoso atravessando um mercado lotado. Tal qual um golpe em uma estrutura frágil. Tal qual... um foguete.

Rockets.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

RN Nuzlocke LG: 6 - Brock


Sim, moços. Posso não ter postado nada no carnaval, mas hoje tem!

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 6: BROCK

Pewter era uma cidade rústica, no mínimo. Tinha aproximadamente o dobro do tamanho de Pallet, e era praticamente composta de casas de madeira afastadas uma da outra. No entanto, vários campos de flores embelezavam a visão de quem passava pelos caminhos de pedra cinza que entrecortavam a cidade.

Kari e seu grupo estavam andando por uma dessas ruelas, apreciando a visão calma e relaxante da cidade, que contrastava com os perigos que tinham acabado de sofrer. Depois de alguns minutos, avistaram o Centro Pokémon à distância, envolto por uma multidão. Eles tentaram entrar, mas a densidade de pessoas era tão grande que logo desistiram. No caminho, ouviram algumas frases soltas, falando de Pokémon feridos na floresta ou sobre uma tal explosão em Cinnabar, ao sul de Pallet. No entanto, as informações eram tão variadas que não podiam ser confiáevis, então Kari decidiu se afastar e gastar algum tempo no famoso Museu de Pewter, ao norte da cidade.

O Museu era uma construção grande, com arcos e janelas decorando a superfície branca do longo edifício de dois andares. Dentro, havia uma exposição de Pokémon pré-históricos no andar inferior, e uma exposição sobre a viagem à Lua no segundo, com maquetes da nave usada e descrições das Clefairy, seres que supostamente vieram do satélite natural, colados na nave. Depois de darem uma passada pelo lugar, Kari reuniu seu time à sombra de uma árvore no jardim do museu.

 - Eu não sei se vocês sabe, mas estamos prestes a enfrentar um líder de ginásio agora. Brock, o Colosso. - disse Kari, enquanto se abaixava para sentar na grama.

 - Por favor, Kari. Ele é apenas um treinador como os outros. - disse Kenichi.

 - Acho que você não entendeu. Só enfrentamos treinadores inexperientes. Agora vamos enfrentar um líder de ginásio de pedra. Não temos nenhuma vantagem sobre ele.

 - E qual é o seu plano? - perguntou Nala. - Espero que não seja fugir de medo. E nem me colocar na reserva.

Kari sorriu e se levantou, levando o time de volta à floresta de Viridian.

Dias se passaram, e Kari estava parada em frente ao ginásio de Pewter. Uma imensa construção de pedra retangular se agigantava, com arcos de aço vermelho delimitando a entrada. De cada lado da porta havia uma estátua de um Rhydon, Pokémon parecido com um rinoceronte bípede, feito de pedra e com um chifre em espiral. Esse era o Pokémon símbolo da Liga Pokémon, pois se dizia que o primeiro Campeão usava apenas essa criatura em seu time. Kari virou seus olhos para a porta de entrada, que tinha um pequeno monitor mostrando os nomes dos treinadores que conseguiram derrotar Brock recentemente. O nome de Gary estava lá. Ela ficou fitando as letras por algum tempo, e depois sorriu consigo mesma. Se ele conseguiu derrotar Brock, ela não ficaria atrás. Empurrou a porta dupla e entrou.

O ginásio parecia muito maior por dentro do que por fora, embora a maior parte dele fosse a arena, de quase cem metros de comprimento e quarenta de largura, feita de terra batida e pedras aleatoriamente espalhadas pelo cenário, com o símbolo de uma Pokébola feito de cal no centro. O cal também demarcava os espaços em que os treinadores ficavam, um em cada canto da arena retangular. Kari havia entrado em uma elevação feita de pedra negra, que descia uma série de degraus até chegar à arena. Do outro lado da arena, no topo de uma elevação maior do que a que Kari estava, Brock se encontrava, em pé e de braços cruzados.

Brock devia ter uns vinte anos, e era bastante alto. Tinha a pele morena, cabelos negros e espetados para cima, com olhos bem apertados e sobrancelhas retas. Usava uma jaqueta verde com muitos bolsos por cima de uma camisa laranja, e parecia extremamente imponente, olhando para Kari de cima.

 - Treinadora! Bem-vinda ao Ginásio de Pewter. Meu nome é Brock, e serei seu adversário. - disse ele, descendo lentamente os degraus até o ginásio. - Diga-me quem é você!

 - Meu nome é Kari, da cidade de Pallet! - respondeu Kari, descendo também os degraus, menores em número do que o oponente, até chegar à arena.

 - Hm. Me diga, Kari, qual é o seu sonho? - disse Brock, parando em seu lugar.

 - Ser a Campeã. - disse Kari, sem pestanejar.

Brock jogou a cabeça para trás e soltou uma risada. - Hah! É um sonho alto. Deixe-me dizer uma coisa, criança. - Ele voltou a encarar Kari, com o rosto sério. - O caminho que está tentando percorrer é longo. Vários sofrimentos esperam por você. Morte, dor, cansaço. Ninguem consegue ir até o fim sem eles, e o final feliz provavelmente não será o seu final. Então, me diga: você tem a determinação de uma rocha para manter o seu sonho?

Kari o encarou, e sentiu novamente um fogo queimar dentro de si. Ela sorriu e acenou a cabeça.

 - Bem. Pela minha honra como líder de ginásio, eu não vou deixar você ter um caminho fácil! Seu maior desafio começa aqui! Vá, Geodude!

Brock lançou uma Pokébola, soltando um ser estranho, feito inteiramente de pedra cinza, que levitava um pouco acima do chão. Tinha braços longos, e um rosto nervoso. Kari segurou sua Pokébola, rezando para que sua estratégia funcionasse.

 - Vá, Nala! - ela liberou a Rattata, que logo correu para cima do Geodude. Seus dentes brilharam, e ela fincou-os no corpo do Geodude.

 - Geodude! Melhore sua defesa! - O Geodude brilhou levemente, tentando aumentar a resistência do corpo para soltar Nala, mas ela continou firme em cima dele, voltando a morder.

No entanto, o Geodude se jogou em cima de umas rochas na arena, imprensando o corpo de Nala entre as pedras. Ela caiu, mas correu pra cima do adversário rapidamente, voltando a fincar seu dentes.

 - Geodude! Tire ela de cima de você! - O Pokémon voltou a brilhar, e dessa vez conseguiu soltar Nala de cima dele. No entanto, era claro que a os ferimentos haviam exaurido o ser de pedra. Nala voltou a correr para cima dele, aumentando sua velocidade e se jogando contra o corpo do adversário, fazendo o Geodude desmaiar.

 - Hah. Até que você tem alguma habilidade. Mas me diga: Sua pequena Rattata vai conseguir derrotar... Onix? - E então ele jogou a Pokébola, liberando uma enorme serpente de pedra, de impressionante nove metros, raspando seu chifre no teto do edifício. Suas pequenas pupilas negras pareciam pressionar a arena.

Kari engoliu em seco, e recuou Nala. Pegou uma Pokébola, olhou-a fixamente e liberou Kenichi.

Só que esse Kenichi não era o mesmo de alguns dias atrás. Sua cor era de um vermelho mais forte, e tinha crescido até um pouco mais de um metro.  Suas garras haviam crescido consideravelmente, e uma pequena protuberância semelhante a um chifre crescia atrás de seu crânio. Seus olhos azuis encaravam o colossal Onix com o mesmo fogo que queimava em sua cauda.

 - Que surpresa. Charmeleons são bem raros, crianças. No entanto, fogo não será capaz de afetar Onix. - disse Brock.

Kari sorriu e o encarou. - Temos mais surpresas do que você imagina, Brock. Kenichi, mostre a ele!

As garras de Kenichi brilharam com uma aura metálica, e ele saltou, atingindo o Onix a três metros de altura. O adversário urrou, e quase caiu para trás.

 - Garras metálicas? Devo dizer que não estava esperando por essa. Só que -- os olhos dele, se possível, se estreitaram ainda mais --, ele ainda é um Pokémon de fogo.

O Onix então agarrou com a cauda uma das várias rochas espalhadas pela arena, e jogou-a em cima de Kenichi. O golpe o atingiu em cheio, e o corpo do Charmeleon foi soterrado pela imensa rocha.

O coração de Kari parou de bater.

 - K-Kenichi? - disse ela, se aproximando do limite de sua área. Ele não dava resposta.

 - Sinto muito criança. Esse foi um golpe e tanto. É o fim para você.

Kari não percebeu que havia caído de joelhos, nem as lágrimas que corriam pelo seu rosto. Isso não podia estar acontecendo. Não era assim que a história deveria acontecer. Kenichi prometeu a ela que seriam campeões.

 - KENICHI! VOCÊ NÃO DISSE QUE SERIA CAMPEÃO? - Kari gritou para o monte de rochas.

As rochas não responderam. No entanto, começaram a se mover levemente. O movimento continuou, enquanto Kari olhava aflita. Finalmente, algumas rochas caíram, e Kenichi conseguiu se arrastar para fora.

- Kenichi! - Kari esperou ele chegar até ela, e aproveitou para usar uma poção em spray para curá-lo. As feridas estavam realmente pavorosas, mas a poção conseguiu torná-las aceitáveis. O Charmeleon se virou para a arena, parecendo pronto para outra, mas Kari o segurou pelo ombro.

 - Kenichi, não! Mais uma dessas e você... - ela não conseguiu completar a frase.

Ele virou a cabeça para ela, e sorriu. - Não se preocupe. Ele não vai me acertar novamente. - E voltou a correr contra o Onix.

 - Hm. Estou vendo que seu Pokémon é corajoso. No entanto, não confunda coragem com burrice. Onix, termine com a partida! - O Onix voltou a agarrar uma rocha, e a jogou contra Kenichi. Kari sentiu uma imensa vontade de fechar os olhos, mas manteve seu olhar.

As pedras se aproximaram em velocidade impressionante contra o pequeno lagarto. No entanto, ele saltou de encontro as pedras, e obliterou-a com suas garras metálicas. Ao encostar no chão novamente, o Onix jogou sua cabeça contra ele, esmagando-o no chão. Antes que Kari falasse qualquer coisa, Kenichi aproveitou a proximidade contra o rosto do oponente e atacou-o no olho direito com o mesmo ataque que havia destruído as pedras.

O adversário urrou de dor, com sua voz ecoando na arena, e jogou o corpo para trás, caindo pesadamente. No entanto, logo após cair usou a cauda para agarrar Kenichi, prendendo-o. Só que o golpe foi mal executado, e Kenichi usou as garras para se livrar do aperto, e saltou novamente para os olhos do Onix. Contudo, antes que Kari ou Brock gritassem algo, o Charmeleon parou o movimento na metade. Alguns segundos, que pareceram horas, se passaram. Kenichi recuou lentamente o braço, e olhou para Brock.

 - Me desculpe. Mas a minha treinadora tem uma regra. Sem mortes. - Ao dizer isso, ele se virou para Kari e sorriu. Ela se controlou para não derramar mais lágrimas, e apenas acenou com a cabeça, sorrindo de volta.

O silêncio que se seguiu foi interrompido por uma série de palmas lentas. Brock estava os aplaudindo.

 - Meus parabéns. Foi uma batalha invejável até o fim. - Ele retornou o Onix à Pokébola, e desceu até a arena, se aproximando de Kari. Quando estava próximo o suficiente, retirou uma pequena caixa cinza do bolso interior da camisa, e abriu-o. Dentro, estava um pequeno artefato de metal, esculpido a ponto de parecer uma pedra octogonal. Era a Insígnia de Pewter, prova da vitória de Kari.

Ela pegou, trêmula, a insígnia. O pensamento de que havia derrotado Brock e vencido a primeira grande etapa de sua jornada chegou finalmente à sua mente, e ela quase caiu no chão. Com todas as suas forças, se manteve em pé e olhou para Brock.

 - Eu te subestimei, garota. Você tem um belo futuro pela frente, mas não ache que esse é o fim. Se quiser manter seu sonho, precisa se esforçar ainda mais, e derrotar gente muito mais forte do que eu.

Kari sentiu que, se conseguisse falar, choraria. Logo, apenas sorriu e concordou com a cabeça.

Brock sorriu. - Então está liberada. Siga para Cerulean, onde seu próximo desafio a aguarda.

Kari se virou e saiu do ginásio, com Kenichi do seu lado.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

RN Nuzlocke LG: 5 - A Floresta de Viridian


RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -

CAPÍTULO 5: A FLORESTA DE VIRIDIAN

A floresta de Viridian se aproximava, um mar de árvores quase negras de tão verdes, se estendendo horizontalmente até onde a vista alcançava. Um pequeno edifício de tijolos marcava a entrada do caminho seguro para os treinadores. 

Kari e seus Pokémon estavam caminhando pela Rota 2, que ligava a cidade de Viridian à Pewter, e a cada passo as árvores adiante pareciam mais ameaçadoras e altas. Fique tranquila, pensou Kari, percebendo que estava suando frio. A floresta era conhecida por ser um labirinto natural, mas se ficassem na estrada não teriam com o que se preocupar. Por isso, mantiveram o passo firme pela rota.

 - Acha que aquele treinador vai nos encontrar na floresta? - perguntou Kenichi para Kari, enquanto se embrenhavam na grama alta para garantir um atalho. Nala estava mais à frente, com apenas seu rabo roxo aparecendo por cima da relva.

Kari refletiu. Por mais que esse novo Gary fosse assustadoramente diferente do rapaz implicante que conhecia, sentia que ele ficaria longe dela por enquanto. Provavelmente elaborando novas formas de ser um babaca, pensou. Antes que respondesse a seu Charmander, ouviu um barulho na grama próxima, e uma lagarta laranja com um único espinho na testa pulou em cima de Kenichi, gritando:

 - Kenichi, meu lindo, você está aqui! Que surpresa dos deuses! - disse a Pokémon conhecida como Weedle, se acoplando na cabeça do Charmander. Ele ficou branco, e logo começou a gritar e correr, conseguindo tirá-la da cabeça. A lagarta caiu no chão, e Kenichi apontou o dedo para ela.

 - V-v-v-ocê! Como você está aqui? Como? - disse ele, tremendo.

 - Ah, Kenichi querido, você realmente achou que ficaria longe de mim para sempre? Somos carne e sangue, fofinho. Eu iria até o fim do mundo por você. - E ela pulou novamente em cima dele, que se esquivou e correu um pouco.

 - Ahn. - Kari estava se esforçando para entender a situação. - Vocês dois se conhecem?

 Kenichi se virou irado para ela, e gritou: - Ela é a culpada! Ela invadia o laboratório do Carvalho para pular em cima de mim! Ela é a Jezebel que me fez ficar assim! - Kari novamente olhou para a Weedle, para ver se tinha perdido alguma coisa. Era apenas uma lagarta.

 - Você quer dizer, fresco? - perguntou Nala, sorrindo. - Bem, ela fez um excelente trabalho. - A Rattata se virou para Kari e perguntou: - O que acha de integrarmos ela ao nosso time para ampliarmos nossa diversão?

 - Boa idéia, Nala. - Kenichi gritava ao fundo, enquanto Kari se aproximava da Weedle.  - Qual é o seu nome, pequena? 

 - Meu nome é Wanda, querida. E antes que pergunte, sim, eu quero entrar no seu time!

 - Ótimo. - falou Kari, enquanto Kenichi olhava perplexo a captura. A treinadora se levantou, e se virou para ele, falando: - Eu nunca gostaria de separar duas pessoas tão destinadas ao amor, Kenichi. Você acha que sou o quê, uma megera? 

 - Sim! Sim! Todas vocês!  - gritou, enquanto as garotas caminhavam até o edífico de tijolos. 

Ao chegarem lá, perceberam que o clima se tornou infinitamente mais sombrio. O prédio tinha apenas dois andares, e era escuro e úmido. Dentro, alguns bancos e mesas se espalhavam aleatoriamente, e alguns treinadores eram vistos conversando com seus Pokémon ou comprando antídotos de um funcionário do PokéMart, loja especializada em produtos para treinadores. Kari estava perto da porta de saída, olhando para um mapa rasgado na parede. Nele estava um caminho tortuoso, e especificações para que as pessoas não saíssem da rota de jeito nenhum. Ela engoliu em seco, e saiu do edifício.

A floresta de Viridian era um lugar escuro, já que poucos raios de sol conseguiam perfurar o escudo de folhas que serviam como teto. Vários barulhos de Pokémon selvagens ecoavam da floresta selvagem, mas desde que ficassem na estrada, nada iria atacá-los. Com o tempo, a respiração de Kari foi ficando mais lenta e calma. Não havia realmente motivos para preocupação, pensou. Dezenas de treinadores passavam pela floresta todos os dias, e nenhum acidente ocorreu nos últimos anos. 

Só que o destino gosta de pregar peças, e nesse momento coisas muito importantes aconteciam em Kanto, sendo que as consequências chegaram à floresta de Viridian quase instantaneamente. Kari ouviu um barulho alto atrás de si, e antes que percebesse, uma onda de Pokémon estava vindo do sul. Caterpies, Pikachus, Weedles, Pidgeottos, Kari nem conseguia identificar a maioria. Ela gritou, e levantou os braços para proteger a cabeça. Seus próprios Pokémon pareciam estar imunes à onda de insanidade que varria os selvagens, mas estavam com dificuldades de se manter em pé em meio à onda. Wanda pulou para a cabeça de Kenichi, e Nala saltava de um lado pro outro desviando das manadas. No entanto, Kari não era tão ágil, e acabou sendo acertada na cabeça por um Pidgeotto.

Kenichi virou para trás, e viu desesperado Kari ser arrastada pela manada em direção à floresta selvagem. 

 - Kari! - gritou, mas antes que pudesse mover para ajudá-la, foi derrubado por um Pikachu. Conseguiu se agarrar no chão, mas percebeu que não conseguiria ir até ela no chão. - Kari! - Voltou a gritar.

- Kenichi! Vamos abrir caminho à força! - gritou Nala, e começou a investir contra os Pokémon selvagem. Kenichi começou a fazer o mesmo, mas o avanço era muito lento.

 - Wanda, você tem alguma idéia? - falou Kenichi, enquanto avançava contra um Caterpie. - Wanda? - perguntou novamente, estranhando o silêncio da Weedle. Quando virou a cabeça, viu que ela estava soltando um brilho branco, que ia aumentando de intensidade exponencialmente.

 - Kenichi, querido.  - Falou ela, começando a ficar brilhante demais para ser vista diretamente. - Veja e se deslumbre. - E Wanda saltou da cabeça dele. No ar, parecia que ela tomava outra forma, virando o que parecia um casulo oval no meio do brilho intenso. No entanto, essa forma foi rapidamente mudada para a de uma abelha, tomando contornos mais definidos conforme o brilho ia cessando.

 - Wanda? - perguntou Nala, enquanto pulava em cima de um Metapod que vinha carregado pela onda.

Wanda havia evoluído. Esse processo era estimulado nos Pokémon pela experiência em batalhas, e ela acabou vendo Kenichi e Nala batalharem um bocado nos últimos segundos. A evolução havia a transformado em uma Beedrill, uma abelha de membros longos, com um metro de altura, dois braços e duas pernas, sendo que os braços continham espinhos únicos onde ficariam as mãos. Wanda logo aproveitou suas novas asas, e voou em direção até onde Kari estava, esquivando de Pidgeottos e Butterfrees. Esticou o braço em direção a ela, e conseguiu pegá-la pela mochila, levando-a até o topo de uma árvore. Juntas, esperaram a manada passar.

Quando ela passou, a floresta estava em péssimo estado. Algumas árvores haviam caído, e havia diversos objetos espalhados pelo chão, mas a bizarra agitação havia cessado. Ficaram algum tempo cuidando de Kari, que ficou encharcada de sangue devido ao ferimento na cabeça causado pelo Pidgeotto. Felizmente, era uma ferida leve, e logo ela recuperou a consciência.

 - W-Wanda? - foi a primeira coisa que falou, ao ver a Beedrill olhando-a. Wanda inclinou a cabeça e apertou os olhos, parecendo sorrir. 

 - Pode falar, querida. Eu estou magnífica. E o melhor de tudo, consegui o amor do meu querido Kenichi.

 - O quê? - perguntou Kenichi.

 - Ah, você acha que eu não percebi seu... fascínio pelo meu novo corpo?  Você ficou sem palavras quando eu evoluí. 

 - N-N-N-Não! Cale a boca!

 - Ah, Kenichi. Venha cá, dê um abraço nessa nova Wanda. - disse ela, estendendo os braços.

 - S-Saia de perto de mim! - Kenichi voltou a correr, e Kari percebeu que estavam bem perto da saída. Aliviada, se levantou e começou a andar cambaleante até o edifício de tijolos que indicava a saída. Tinha imensas dúvidas sobre a onda de Pokémon selvagens que tinha acabado de ocorrer, mas talvez soubesse mais sobre o ocorrido em Pewter. Com isso, seu sorriso esvaneceu. Pewter, a Cidade de Pedra, estava depois daquele prédio.

E Brock a aguardava.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

RN Nuzlocke LG: 4 - O Rival

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN - 

CAPÍTULO 4: O RIVAL

Viridian era uma cidade bucólica, como logo Kari e seu grupo perceberam. Era um pouco maior que Pallet, mas possuía diversos jardins de flores, cuidados pelos próprios habitantes. Um detalhe da estética de Viridian era que boa parte das casas possuía telhados verdes, refletindo o espírito mais natural da cidade, conquistado pela proximidade à Floresta de Viridian. Kari havia andado por algum tempo, até que achou um Centro Pokémon, rede pertencia a uma série de estabelecimentos administrados pela Liga, oferecendo aos treinadores abrigo e tratamento para os Pokémon.

Assim que Kari entrou no Centro, percebeu que estava exausta. A viagem havia sido cansativa, com muitas noites mal-dormidas e caminhada excessiva. Assim, fez seu registro, subiu até o segundo andar, entrou no quarto e caiu na cama, acordando apenas no dia seguinte.

Quando voltou ao térreo, tratou de ir até o restaurante para seu café da manhã, e acabou entreouvindo dois homens conversarem na mesa ao lado:

 - Soube que o rastro do líder do ginásio parou em Saffron. A polícia parece achar que os Rocket estão envolvidos no desaparecimento dele. - disse um homem de bigode grisalho, paletó marrom e chapéu fedora.

 - Hm. Isso não pode ser bom para os negócios locais. Fico me perguntando dos motivos da Elite Quatro não se intrometer no assunto. - disse um homem idoso e careca, mas com uma longa barba. Os dois voltaram a suas refeições, enquanto Kari meditava sobre o que havia acabado de ouvir. Sabia que o líder do ginásio de Viridian havia sumido fazia alguns meses, mas a polícia já deveria ter achado-o. Pelo visto teria que seguir para Pewter e torcer para que ele estivesse de volta antes que Kari voltasse à Viridian.

Terminou seu café, e tratou de sair logo. O caminho para a Elite Quatro, a Estrada do Triunfo, tinha seu início bem perto de Viridian. Ela planejava dar uma pequena olhada antes de seguir norte. Liberou Kenichi e Nala e saiu da cidade.

Depois de algumas horas caminhando por uma rota separada pela ravina ao sul e a floresta ao norte, haviam chegado nas portas do lugar. Uma construção vermelha massiva se agigantava, com pilares brancos segurando o teto. As portas de vidro, também gigantes, continham o símbolo da Pokébola em alto-relevo branco, e eram tão limpas que apenas o símbolo se destacava. O grupo ficou olhando para o colosso por algum tempo, até que Kari falou:

 - Da próxima vez que olharmos para essa construção, estaremos a um passo de nos tornarmos Campeões. - disse, olhando para cima com os olhos brilhando.

 - Ou quatro passos. - reiterou Kenichi. - Só que não vai importar. Eu vou derrotar toda a Elite! - E, dito isso, soltou labaredas para o ar, algo que ele havia aprendido a fazer recentemente.

Um barulho de folhas veio de trás deles. Quando se viraram, viram um Mankey, animal semelhante a um macaco bege, com membros longos, rabo comprido, corpo redondo e focinho de porco. O Pokémon parecia assustado pelas chamas soltadas por Kenichi. Kari logo se agitou, pois Mankeys eram raros e com potencial absurdo. Estendeu o dedo para ele, e gritou:

 - Acho que achamos nosso novo membro. Nala, vá!

Nala começou a correr atrás do Mankey, que se assustou e voltou a entrar na grama alta, sendo perseguido pela Rattata. Kari e Kenichi correram atrás, mas logo perderam eles de vista.

 - Droga, droga! - reclamou a garota, enquanto afastava tufos de grama do caminho com violência. Como havia os perdido de vista, perguntou a si mesma. Kenichi vinha a seu lado, procurando farejar os fugitivos, mas havia muitos outros aromas no ar. No entanto, logo em seguida ouviram um grito atravessando o ar. Ao identificar a voz de Nala, Kari correu em disparada para a origem do barulho, sentindo o coração praticamente vibrar em seu peito.

Chegarem finalmente em uma clareira, onde viram Nala e um treinador segurando o Mankey com o pé. Quando se aproximaram, Kari sentiu o estômago gelar, ao ver que o Pokémon estava ensanguentado, claramente morto. Ao levantar os olhos para ver o treinador, outro golpe. Era Gary.

 - O que você pensa que está fazendo? - perguntou Kari, sentindo o pulso acelerar ainda mais.

 - Eu estava correndo atrás do Mankey, quase o derrubando, quando esse imbecil o matou! Estava tão perto de derrotá-lo! - disse Nala, visivelmente irada. Kari voltou a olhar para Gary. Havia um Pidgey, pássaro marrom e bege com listras negras nos olhos, em seu ombro. Seu bico estava pingando sangue.

 - Estranho. Tudo que eu fiz foi treinar meus Pokémon. Não vejo o motivo de tanta revolta. - disse ele, com a voz doce e encolhendo os ombros.

Kari mordeu a língua. Conseguia ver até onde a retórica dele ia. Gary iria argumentar que não sabia que Nala era um Pokémon de treinador, e que não poderia concluir que o Mankey era o alvo de Kari. No entanto, tinha toda a certeza de que ele sabia, de alguma forma.

 - Você está me dizendo que realmente não fez isso para me prejudicar, Gary? Que cometeu esse ato, que já é desprezível por si só, por acaso? - O sangue de Kari borbulhava.

 - Ah, não me diga que realmente está seguindo o caminho pacifista, Kari. Ele não combina com você. E respondo a sua primeira pergunta com outra: você realmente acha que estou tentando te atrapalhar? - Gary sorriu de forma sinistra em seguida, encarando-a com seus olhos castanhos. - Está aí uma excelente sugestão.

O Pidgey de Gary levantou vôo, fazendo círculos em torno de Nala, que dava passos para trás, olhando-o atenciosamente com seus olhos vermelhos. Kari logou elevou a voz.

 - Gary, o que diabos você pensa que está fazendo? - Assim que disse isso, o Pidgey passou a milímetros de seu rosto, o suficiente para as penas arranharem seu nariz. Kari protegeu seu rosto, olhando para Gary e Nala enquanto o Pidgey continuava no seu vôo baixo.

 - Estou te fazendo um favor, Kari. Você não tem capacidade para empreender nessa jornada. Apenas vou derrotá-la e fazer você voltar chorando para Pallet.

Depois disso, Kari viu apenas vermelho. Tinha dado uma chance para Gary, mas tudo que ele queria era tirá-la da jogada. Hora de mostrar a que veio.

 - Nala! Vamos derrotar esse Pidgey! - Kari apertou os comandos em sua Pokédex. Nala pareceu sumir por alguns instantes, e quando apareceu estava em frente ao Pidgey, atacando-o. O pássaro caiu no chão com ela.

 - Hermes! Tire esse rato de cima de você!  - O Pidget voltou a alçar vôo, e se lançou em investida contra Nala. No entanto, ela se jogou para o lado no último segundo. Hermes foi rápido e cancelou o mergulho, mas antes que voltasse para cima Nala atacou-o novamente.

 - Hermes! Pare de sacanagem e termine essa luta! - Gary estava espumando. O Pidgey voltou a investir contra Nala, acertando-a desta vez. O impacto fez Nala voar em direção a uma elevação, e Hermes foi logo atrás. No entanto, ela aproveitou o obstáculo se aproximando e usou-o como trampolim, evitando o Pidgey vindo em sua direção. Ele então voltou a subir, mas antes de completar o movimento Nala seguiu correndo pela elevação e acertou-o, fazendo-o desmaiar.

 - Droga! - Gary retornou Hermes para a Pokébola, e logo em seguida lançou Titã. Kari fez Nala recuar e liberou Kenichi para a batalha.

Kenichi logo avançou, arranhando Titã, que usou da cauda para desestabilizar o adversário novamente. Kari tentou lançar chamas contra ele, mas percebeu que o Squirtle estava muito forte para ser derrotado por um golpe que tinha vantagem. Titã voltou a usar a cauda, fazendo Kenichi cair. No entanto, ele aproveitou a queda e utilizou-a como força extra para arranhar o Pokémon de Gary no rosto, tirando sangue. Kari logo ficou preocupada, mas felizmente ele não havia acertado os olhos, em vez disso o espaço entre eles.

A partida estava terminada ali, no entanto. Titã tentou investir contra Kenichi, mas o sangue em seu rosto o fez acertar o lado do adversário ao invés do centro de gravidade. Kenichi desviou parcialmente, e logo arranhou-o novamente, colocando-o no chão.

Gary recolhou seu Squirtle, e lançou um olhar feroz para Kari. Por um instante, ela poderia ter jurado ter visto lágrimas, mas o instante passou. Gary virou o rosto, e tratou a caminhar para Viridian. O vento levou as palavras dele para Kari, uma simples frase: "Sorte".

Ele desapareceu no oeste, caminhando em direção ao pôr-do-sol. Kari ficou olhando, e esperou alguns minutos até seguir o mesmo caminho.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

RN Nuzlocke LG: 3 - A primeira rota.

Yada, yada, yada, vamos que tem mais.

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -

CAPÍTULO 3: A PRIMEIRA ROTA


 - Certo. Precisamos definir certas regras.

Algumas horas se passaram desde que haviam saído de Pallet, e a noite havia chegado. A rota 1, como chamavam, era uma grande estrada de terra cheia de desvios e curvas que contornava pequenos conjuntos de árvore e grama alta, mas no geral seguia uma reta. Seus caminhos alternativos levavam ao breu das florestas inexploradas de Kanto, onde nenhum treinador em sã consciência ia. Havia um certo movimento na estrada, com mercadores e treinadores indo de Pallet a Viridian e vice-versa. Inclusive, um homem bondoso de Pallet, que trabalhava na cidade vizinha, havia reconhecido Kari e lhe dado uma Poção, um restaurador físico em spray para Pokémon. Ela havia andado um pouco desde então, mas sentou com as costas viradas para uma das pequenas ravinas que contrastavam o cenário da rota, soltando Kenichi de sua Pokébola.

 - Que regras? - disse Kenichi, enquanto se espreguiçava.

 - Você deve saber dos perigos que uma batalha Pokémon pode causar. - disse Kari, parecendo desconfortável.

Kenichi adotou uma expressão sombria. - Sim, claro. Todos sabem. Batalhas de verdade vão até a morte. 

 - Sim. E é por isso que não iremos fazer isso.

Kenichi olhou para Kari com confusão e raiva. - O que você está dizendo? Vamos deixá-los nos matar, mas nós iremos apenas lutar para desmaiá-los?

 - Não. Nós iremos lutar para ganhar.

 - Como iremos ganhar se lutarmos que nem mariquinhas? Você acha que isso é um jogo? Precisamos dar o nosso máximo!

 - E você acha que só conseguiremos fazer isso tentando matar? - Kari se levantou, e sentiu que estava se estressando novamente.  Se sentou, jogou a cabeça para trás e contou até dez. Quando voltou, estava mais calma. - Escute, minha mãe era uma treinadora. Perdeu quase todos os seus Pokémon em uma batalha. Por favor, vamos fazer desse jeito.

Kenichi ficou calado por alguns instantes, olhando para Kari. Finalmente, ele olhou para baixo e resmungou: - Certo. Podemos fazer isso.

Kari sorriu, e se levantou novamente. - Certo. A outra regra é fácil. Vamos tentar nos controlar nas discussões, pelo menos na frente de outras pessoas.

 - Ei, foi você que começou! Quem mandou me colocar na Pokébola de forma tão mal-educada, sua bruxa?

- Do que você me chamou?

E é claro que esse foi o estopim de mais uma briga. Ela teria durado mais tempo, mas o barulho que causavam acabou atraindo outros Pokémon. Uma Rattata, criatura semelhante a um rato, com apenas trinta centímetros, corpo roxo, barriga bege e olhos vermelhos, passava perto, viu essa cena pitoresca e logo pulou em cima deles, atacando-os.

Para Kari e Kenichi, parecia que essa Rattata tinha sido invocada do mais puro ar, pois não haviam percebido sua aproximação. Eles se afastaram instintivamente, e o atacante se postou entre eles.

 - O que diabos é isso? - gritou Kari, segurando o pulso para comandar Kenichi.

 - Você! Treinadora! - falou a Rattata. Tinha um voz aguda e estridente, e estava bem agitada. - Preciso de treinadores fortes para ser a Campeã! E você tem a sorte de ser a escolhida!

Bem, temos alguém bem disposta aqui, pensou Kari. - Kenichi, ataq-- Antes que ela pudesse dar o comando, percebeu que Kenichi estava bem longe. - O que houve?

 - E-e-e-e-u não luto com garotas. - disse o Charmander, se postando atrás de uma árvore.

 - Como?

 Kenichi engoliu em seco. - Não vejo motivos para lutar com mulheres. Você pode tomar conta disto, Kari?

 - Por acaso você tem medo de garotas. - disse a Rattata, se virando para ele.

Kenichi não respondeu. 

 - Sério? Seu bichinha! Como é que você tem medo de garotas quando andou comigo sem falar nada todo esse tempo? - gritou Kari.

 - Cale a boca! Além do mais, você não é um Pokémon! - gritou Kenichi de volta.

 - Isso não faz o menor sentido! - Antes que Kari pudesse dizer mais coisas, a Rattata pulou em cima dela, derrubando-a no chão.

 - O.K. Está óbvio que vocês realmente precisam de ajuda. Meu nome é Nala, e vou fazer de vocês Campeões.

Ah, que ótimo, pensou Kari. Outra maluca.  - Antes, preciso combinar umas coisas com você. - Depois de algum tempo conversando, capturou-a.  Que jeito de capturar meu primeiro Pokémon, falou Kari consigo mesma. Levantou a cabeça, e viu Kenichi se aproximando.

 - Kenichi, precisamos resolver esse problema. - Disse Kari, com a voz mais tenra que tinha.

 - Sim, eu sei. - Kenichi parecia envergonhado.

 - Felizmente, eu sei como te ajudar. - Kari se agachou e colocou a mão na cabeça dele.

 - Como?

Kari então pegou a Pokébola de Nala e jogou. Ela se materializou, pulando em cima de Kenichi. - Psicologia extrema! - gritou Kari.

Kenichi começou a correr e a gritar, mas Nala continuava pendurada nele, gritando também: Fresco! Fresco! 

Esse processo de pseudopsicologia durou alguns minutos, até que Kenichi e Nala caíram de uma ravina, se voltando contra Kari depois. Novamente começaram a discutir, dessa vez com um membro a mais, até que o sol voltou a surgir.

Dias se passaram na estrada, com o grupo derrotando e se defendendo de animais selvagens que os atacavam fora do caminho de terra. Até que, na manhã do quinto dia, uma cidade foi iluminada no horizonte.  Kari estava no alto de uma pequena colina com seus Pokémon, observando o conjunto de casas ao norte e a estrada reta que levava até elas. Olhou pra baixo, e viu seus Pokémon também olhando à frente. Sorriu, e começou a descer a elevação. 

Viridian estava à espera.