RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -
CAPÍTULO 34: MEW-2
Finalmente chegaram em Cinnabar, uma ilha vulcânica recente, pequena e cheia. Prédios e casas decoravam cada acre que conseguiam encontrar, dando espaço apenas para vegetações rasteiras e o grande vulcão no centro do lugar. Sophie deixou Kari na praia, e a garota imediatamente se dirigiu até o ginásio.
Lá chegando, estranhou o fato da área parecer vazia. Normalmente havia pelo menos algum tipo de movimento nos arredores de uma construção daquelas, mas desta vez nenhuma alma viva se importava de aparecer. A garota encolheu os ombros e continuou, encarando de frente o prédio. Ele era construído bem perto da única elevação montanhosa de Cinnabar, e parecia adentrar a formação da natureza. Kari se aproximou da enorme porta de metal dupla e bateu várias vezes, gritando enquanto fazia isso.
- BLAINE? BLAINE, APAREÇA! - A garota já não tinha paciência antes de chegar no lugar, irritada por não saber se poderia disputar ou não. Ela odiava ficar no escuro, e parte de si preferia que o ginásio fosse simplesmente fechado, ao invés da complicação enrolada a que se submetera. O pensamento estava em sua cabeça desde que saíra de Fuschia, e havia chegado no ápice naquele momento.
- Ele não irá aparecer. - Disse uma voz atrás dela. A garota se sobressaltou, virando o corpo em sequência. Havia um homem idoso em pé, apoiado em uma bengala de madeira. - Peço perdão por assustá-la. - Adiantou ele. - No entanto, creio que esteja em uma batalha perdida. Blaine se trancou aí dentro faz oito meses, e não sai nem para comprar comida. Eu sou o responsável por alimentá-lo. - Ele levantou a mão, e Kari viu que carregava uma sacola de comida.
- Quem é você? - Perguntou a garota, deixando o velho se aproximar do ginásio.
- Eu era o porteiro daqui. - Disse ele, colocando o pacote em uma fresta na porta. A portinhola balançou audivelmente. - Portanto, posso confirmar que muitos treinadores ficaram bastante irritados. Por muitas semanas houveram confusões na porta do ginásio, e representantes da própria Liga Pokémon vieram para confrontá-lo. No entanto, Blaine, por ser o mais velho e experiente dos líderes de ginásio, conseguiu enrolá-los. Ninguém sabe o que deu nele... - Ele deixou a voz cair, encarando tristemente a porta de metal.
- Então... eu deveria fazer o quê? - Kari sabia que a culpa não era do homem idoso, mas sua tensão estava no limite.
- Vários treinadores começaram a ajudar o Centro de Pesquisa Pré-Histórica daqui. Chegamos a concorrer com o próprio Museu de Pewter em artigos científicos, o que nos dá muito orgulho. - Ele se virou para ela, se ajeitando em sua bengala. - Outros decidiram tomar os mares, onde disseram que iriam treinar até o momento certo. Houveram pessoas que desistiram, também. - O velhinho começou a andar, deixando a garota para trás. - Faça o que quiser fazer. Apenas acho que Blaine não irá responder tão cedo.
Kari ficou sozinha, exalando fúria. Havia chegado tão longe apenas para estancar? E, sobretudo, por algo que estava fora de seu controle? Estava considerando esmurrar a porta de novo, quando algo brilhou em seu campo de visão. Quando virou a cabeça, percebeu que era um rabo rosa e longo sumindo atrás de uma esquina.
Mew? Ela se adiantou, correndo os últimos metros. Quando virou a rua, avistou novamente o rabo rosa sumir à sua frente. Entrou em perseguição, correndo pelas ruelas e pontes até chegar aos arredores de uma grande mansão acabada, onde uma pequena figura estava parada no teto. Quando ela chegou perto da porta, a mancha rosa vibrou e sumiu, deixando-a novamente sozinha. Kari parou para se apoiar nos joelhos e respirar fundo, inclinando a cabeça para descobrir aonde estava.
A mansão à sua frente era gigantesca, cobrindo quase quatro andares e várias dezenas de metros de comprimento. No entanto, parecia ter conhecido dias melhores. Buracos e manchas de incêndio decoravam macabramente as paredes, e não havia uma janela sem vidros quebrados. A garota olhou ao redor, sem conseguir encontrar ninguém. O vento balançou ao seu redor, agitando caibros bambos e cortinas rasgadas. Ela engoliu em seco, apoiando a mão na porta de madeira rachada. Captou uma mancha rosa lá dentro, e quase caiu para trás de susto. A porta se fechou novamente, e ela respirou várias vezes antes de continuar. Bem, pensou Kari, enquanto entrava na mansão. Acho que alguém quer que eu vá para cá. O mistério era muito tentador para afastá-la, e de qualquer jeito, não tinha nada a perder.
Por dentro as coisas pareciam muito piores do que do lado de fora. Móveis estavam estraçalhados por todos os lugares, e a poeira dançava nos raios de sol. A criatura rosada estava no fim de um corredor perpendicular ao átrio. A garota o seguiu, e viu que havia uma escada em espiral que subia no fim da galeria. Continuou para cima, se encontrando em um novo corredor que possuía apenas uma porta de madeira escura, surpreendentemente em bom estado de conservação. O Pokémon misterioso tocou com sua pequena mão a fechadura, que soltou um clique. Ele encarou a garota, seus olhos azuis encarando os verdes sem piscar por um instante que pareceu anos. Finalmente, ele vibrou no ar e desapareceu.
Kari se adiantou, abrindo a porta. Algo fazia os pêlos de sua nuca arrepiarem enquanto ela olhava ao redor. O quarto era pequeno, e possuía apenas uma mesa decorada no centro, um tapete verde embaixo, uma cadeira simples e um grande livro no topo. A garota o pegou, abrindo-o curiosa. Na contra-capa havia um nome escrito à mão, com os dizeres: “A vida de Katsura Blaine, escrita pelo próprio.”.
- Ah! - Se assustou a garota quando as páginas começaram a se mexer em suas mãos, como se um vento estivesse as balançando. Ela deixou o livro cair em cima da mesa, e as folhas se agitaram até pararem em uma página no fim do livro. Ela olhou para os lados, agitada, mas não havia nada de suspeito. Engoliu em seco e se sentou, começando a ler em seguida.
Hoje foi um dia de excelentes novidades. Parecia que estávamos na selva há anos, procurando um fantasma para os Plasmas. Embrenhados na floresta da ilha Sete, eu admito que perdi a noção dos dias, algo que Fuji sempre procurou manter. Felizmente estamos acostumados a esse tipo de vida, e ela sempre nos recompensa no fim. Fuji conseguiu encontrar o tão famigerado Pokémon misterioso. Ele disse que está embrenhado no meio da selva, e é para lá que iremos amanhã.
As páginas se viraram automaticamente, assim que seus olhos terminaram de ler as palavras.
Bem, digamos que tivemos muita sorte e ao mesmo tempo nenhuma. Desde que Fuji avistou Mew, o Pokémon misterioso, se passaram meses. Nunca ficamos tanto tempo em uma missão, e juro que pensei em desistir e encarar nossos chefes. No entanto, Fuji, sempre ele, conseguiu um pouco do pêlo de Mew em um incidente. Já contactei os Plasmas, pedindo para que nos encontrassem. Fuji reclamou, mas não me importa. Já fiquei tempo demais aqui.
As páginas dessa vez balançaram um bocado, chegando até quase o fim do livro.
Hoje é o aniversário de quinze anos da descoberta de Mew. Estive pensando nisso de manhã, e o quanto mudou desde então. Fuji e eu não somos mais uma dupla, e ele está ocupado demais em Lavender me culpando por ter, como disse de forma tão severa, me vendido ao sistema. Acho engraçado ele dizer isso, vendo quantos Pokémon conseguiu salvar naquela cidade isolada simplesmente porque eu nos tirei do mato. Ele chegou até mesmo a fundar um laboratório de pesquisas aqui em Cinnabar, por favor! Não há como discutir o quanto subimos de vida. Hoje, graças aos meus amigos Plasmas e seu braço, os Rockets, sou um líder de ginásio. E além disso, estamos prestes a gerar o Pokémon mais forte que já existiu, totalmente à nossa disposição e bem no laboratório embaixo de minha própria casa. O projeto Mew-2 já nos gerou uma série de problemas ao tentar replicar completamente o DNA de Mew, produzindo aquelas formas estranhas que o pobre Carvalho classificou como um novo Pokémon. De qualquer jeito, o projeto foi remodelado desde então. Decidimos manipular o DNA de forma mais firme, e o resultado está prestes a ser finalizado. O espécime 150, também chamado pelos Rockets que trabalham aqui na mansão como “Mewtwo”, já tomou forma e os níveis psíquicos são altíssimos. Em breve mudaremos o mundo.
As páginas foram até o fim, chegando à última página, a qual continha apenas poucas frases.
Mewtwo era muito poderoso. Fuji estava certo todo esse tempo. Eu vi o horror e a crueldade nos olhos daquela criatura, e... minha mansão está destruída. Os Rockets sumiram. Não sei se consigo aguentar tudo isso.
E não havia mais nada. Kari ficou parada por algum tempo, encarando o livro como se houvessem respostas ocultas na tinta. Olhou ao redor, como se esperasse uma mancha rosa ao seu lado. No entanto, não havia nada. Ela respirou fundo e se virou, saindo da mansão com os pés batendo com força no chão.
Alguns minutos depois, chegou ao ginásio. Foi direto até as portas duplas e bateu com força, gritando a plenos pulmões.
- BLAINE! BLAINE, EU SEI DE TUDO! FUJI, MEWTWO, OS ROCKETS! ME DEIXE ENTRAR! - Ela parou para respirar, com a mão apoiada no metal quente.
De repente, ouviu um clique do outro lado.
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