domingo, 7 de julho de 2013

RN Nuzlocke LG: Capítulo 33: Lendas vivas

RECINTO NERD NUZLOCKE - LEAF GREEN -

CAPÍTULO 33: LENDAS VIVAS

- Estou te dizendo, Kari. Precisamos cuidar do seu cabelo. - Disse Sophie, avançando contra as ondas que se punham em seu caminho. Estavam no meio da rota 20, um caminho que passava pelo mar aberto. Kari estava sentada no casco com as costas apoiadas no pescoço da Pokémon, lendo uma revista de atualidades enquanto escutava música com apenas um fone de ouvido, distraidamente. Estavam nadando pelo sul de Fuschia, se encaminhando para a ilha de Cinnabar. A garota apenas murmurou em concordância e virou a página.


- Você está me ouvindo? -Reclamou a Lapras, parando seu movimento bruscamente. Kari quase caiu em resposta, tendo que se segurar desesperadamente nas protuberâncias do casco para não afundar na água. A revista deslizou lentamente pela superfície rochosa e caiu delicadamente no mar, boiando e finalmente afundando.


- Sophie, qual é o seu problema? - Gritou a treinadora, se esforçando para voltar até onde estava.


- Você não estava me escutando. Logo, tive de tomar medidas drásticas para chamar sua atenção. Não me culpe, pois a culpa é totalmente sua. - Disse calmamente a Lapras, voltando a nadar lentamente. - E antes que você tente dar um ataque. - Adicionou ela, sentindo o que vinha pela frente. - Devo lhe lembrar que estamos no meio do oceano, e sua única companhia e forma de locomoção sou eu. Posso muito bem ficar parada até você decidir cooperar.


A garota a encarou, irada, até que se acalmou forçadamente. Infelizmente a Lapras estava certa. - O que você queria? - Resmungou, apoiando as costas no pescoço comprido da Pokémon, ajeitando os ombros.


- Eu estava falando do seu cabelo. Há quanto tempo você não cuida dele? - Kari passou a mão por seus fios, encontrando-os duros e embaraçados. Se envergonhou um pouco.


- Acho que você tem razão.


- É claro que tenho razão. Veja, seu corte é muito bonito e talvez seja uma coisa que chame a atenção de um possível interesse romântico. - Kari sorriu, até a Lapras continuou. - Eu cuidaria mais dele, já que sua personalidade e seu corpo não devem atrair ninguém que não esteja desesperado. E lembre-se: ainda estamos sozinhos no meio do oceano. Cuidado com o que vai fazer. - Acrescentou, e a garota voltou a se sentar. A treinadora encarou o mar com a testa franzida. Já estavam no mar havia três dias, e mais um pouco disso iria deixá-la louca. Se perguntou novamente quanto tempo demoraria para chegarem a Cinnabar.


Nadaram por mais algumas horas, felizmente em silêncio. O sol já começava a se pôr no oeste, lançando um tom alaranjado ao oceano. Naquele momento, perceberam que vários nadadores e seus Pokémon estavam indo na direção oposta a deles, parecendo apressados. Pararam uma garota loira, perguntando o que estava acontecendo.


- Há uma tempestade vindo. - Disse ela, agarrada à sua Seadra. - Todos os treinadores devem voltar à Fuschia e aguardar até que ela passe. - Kari considerou ficar mais tempo sozinha com Sophie, e estremeceu.


- Não há outra forma? - Perguntou a garota. Sua Lapras se adiantou.


- Que eu saiba, as ilhas Espuma do Mar estão próximas. Talvez possamos ficar lá até as coisas melhorarem. - A nadadora pareceu empalidecer.


- Ah, vocês não irão gostar de ir para lá. - Começou ela. -  Faz alguns meses que... histórias vêm daquele lugar. O frio na região aumentou drasticamente, e dizem que há um Pokémon que ninguém jamais viu antes aterrorizando o lugar. - Sophie riu em desprezo.


- Aterrorizando o lugar? Querida, nós queremos conquistar a Liga Pokémon. Uma história de fantasma não irá nos assustar. O que acha, Kari? - Perguntou, se virando para trás. A garota acenou com a cabeça, concordando. Quanto mais tempo demorassem, pior seria para todos. Principalmente para ela.


- Bem, é a vida de vocês. Não sou eu quem vou me responsabilizar. - Disse a nadadora, se afastando deles. A Lapras alterou o caminho, seguindo a noroeste de onde estavam. Ao longe, a tempestade era claramente visível, uma mancha negra e raivosa se aproximando. As ondas começaram a ficar mais agitadas, e Sophie aumentou a velocidade. Quando Kari e sua Pokémon chegaram à praia das ilhas Espumas do Mar, pequenas gotas de água já caíam rapidamente. A treinadora recuou Sophie para a Pokébola e entrou numa caverna próxima, correndo para evitar a chuva.


Dentro da formação natural, o frio era tremendo. As paredes estavam cobertas de gelo grosso, e a respiração da garota automaticamente fazia névoas geladas ao seu redor. Kari começou a tremer assim que colocou os pés na caverna, esfregando as mãos nos braços enquanto tremia incontrolavelmente. Pensou em voltar para o ar livre, mas a chuva apertou no momento em que girou o corpo. As coisas estavam ruins dos dois lados.


Ela começou a andar pelo cenário, olhando ao redor. Percebeu que haviam figuras no gelo, e quando se aproximou percebeu que eram Pokémon. Dewgongs, Seels, Golbats... não havia nenhuma forma de vida fora das prisões de cristal. Kari sentiu o coração apertar e algo frio descer pela garganta. Havia realmente algo de estranho nas Espumas do Mar.


Um grito agudo surgiu à frente, e ela se virou assustada. Uma mancha azul estava se aproximando, tão rápida que parecia um borrão. A garota correu para longe, sentindo o vento quase levantá-la quando a figura passou. Ela caiu no chão, estendendo os braços para proteger o rosto. Levantou a cabeça e olhou para cima, sem conseguir acreditar no que estava vendo.


Em frente a ela estava um Pokémon semelhante a um pássaro, com uma envergadura tão grande que poderia conter uma dúzia de pessoas deitadas. Suas penas azuis eram majestosas e brilhantes, e todo o corpo parecia exalar cristais de gelo. O lendário Pássaro do Gelo, Articuno, estava a encarando com seus olhos frios e vermelhos.


Kari não se moveu de início, tentando compreender a situação. Para ela, a Trindade dos Pássaros era apenas uma lenda esquecida. Articuno deveria pertencer a um livro de contos, e não à realidade. No entanto, lá estava ele, pousado em uma rocha, tão frio que o objeto congelava ao menor toque. O Pokémon lendário inclinou a cabeça e soltou outro grito que ecoou fundo na caverna. O som apavorou Kari, que sentiu como se uma mão fria a estivesse apertando pela garganta. Com os olhos arregalados, ela viu Articuno se preparando para avançar.


A garota saltou para o lado, evitando o pássaro que acabou acertando a superfície, destruindo-a no processo. Um pequeno terremoto se seguiu ao ataque, despedaçando o chão embaixo dos pés de Kari. Ela caiu, balançando os braços no ar enquanto virava para baixo, encarando o riacho semi-congelado que corria vários metros abaixo. Mesmo com a força do vento que agia em seu corpo, ela colocou a mão no cinto, agindo quase que por instinto.


- KENICHI, VÁ! - Gritou ela, lançando a Pokébola para sua frente. Seu Charizard foi invocado no cenário, e a treinadora caiu em cima dele. Kenichi acompanhou um pouco a descida até conseguir planar pelos ares, olhando para os lados e evitando os destroços do andar superior.


- O que está acontecendo? - Gritou ele. Antes que Kari pudesse responder, um grito agudo foi ouvido de longe. Os dois se viraram e perceberam o Pokémon Lendário no encalço deles.


-Kenichi, ele é Articuno, da Lendária Trindade dos Pássaros! Se quer meu conselho, VAMOS FUGIR! - O Charizard nem questionou esse pedido, disparando pela caverna. Raios de gelo tentavam os alcançar, mas Kenichi manobrou para os lados, desviando às vezes por um triz. Kari se mantinha agarrada ao seu pescoço, tremendo com o vento frio e forte. - Por cima! Por cima! - Gritou ela. Seu Pokémon se alçou para o teto, mirando a abertura destruída. Antes que alcançasse, porém, Articuno disparou um raio de gelo no buraco, tapando-o completamente.


Kenichi conseguiu desacelerar a tempo, girando o corpo e abrindo as asas para apoiar os pés no cristal, ficando de ponta-cabeça. Kari quase caiu no processo, sentindo as pernas balançarem sem suporte no ar gélido.


- Kari, não vamos conseguir fugir daqui sem luta. Eu vou acabar com ele! - O Charizard mergulhou, planando até ficar de frente para o Pokémon Lendário, do outro lado da caverna.


- O quê? - Questionou a garota. - Kenichi, devo-lhe dizer que estamos encontrando uma espécie de lenda na nossa frente. Há um motivo para ele ser chamado assim. - Seu Pokémon pousou em uma pedra e abriu as asas, soltando vento quente pelas suas narinas.


- Kari, não se preocupe. Um dia vão falar a mesma coisa de nós. - A treinadora não conseguia enxergar o rosto do Charizard, mas por algum motivo sabia que ele estava rindo. Engoliu em seco, se ajeitando no pescoço dele. Realmente, não havia outra escolha.


- Espero que você sabia o que está fazendo. - Não houve resposta do outro lado, enquanto o pássaro de gelo gritava. Ele e o Charizard dispararam ao mesmo tempo, voando um de encontro ao outro e ambos lançando raios elementares de sua boca. - VAAAAI! - Gritou Kari, se esforçando para ficar de olhos abertos. Um jorro de chamas estava à sua frente, tão grande que o adversário não era visível do ponto onde estavam. Fogo encontrou o gelo no ar, lançando névoa quente para o teto da caverna. O jato vermelho atravessou o outro, acertando Articuno em cheio. As chamas logo se esvairiram, e a região ficou enevoada demais para conseguirem ver alguma coisa.


- O que houve? Vencemos? - Perguntou Kenichi. Kari olhou para os lados, tentando enxergar alguma coisa. Um vulto grande apareceu em seu campo de visão, e ela apertou os olhos para poder ver melhor. Conseguiu perceber o Articuno ferido, pousado em uma grande rocha. No entanto, havia mais alguém com ele. Uma figura pequena, parecida com um gato com cauda longa, estava com a pequena pata encostada na cabeça do pássaro. Mesmo através de toda a névao, Kari conseguiu notar seus olhos, grandes e azuis, a encarando. Algo frio desceu pela sua espinha e ela piscou. Quando reabriu os olhos, eles não estavam mais lá. Ao redor da treinadora e de seu Pokémon, o gelo começava a derreter, causando chuva na caverna.


- O que foi isso?- Perguntou Kari, estupefata. Havia algo a mais naquele... ser que tinha visto. Ele não parecia normal. Seria um Pokémon? Ou algo a mais? Se lembrou da descrição de Fuji sobre suas pesquisas, e sua mente ficou com mais dúvidas.


Havia Mew aparecido diante deles? E, se tivesse, o que teria feito? Onde estava Articuno e o que ele tinha feito com o Pássaro?


A chuva artifical caía ao redor da garota e do Charizard, quase tão volumosa quanto a de verdade que tempestuava o lado de fora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário